Damian Chazelle é um nome relativamente novo na industria cinematográfica mas tem feito bastante sucesso com seus filmes, como os aclamados Whiplash(Em Busca da Perfeição, 2014)e La La Land (Cantando Estações, 2016). É curioso como depois de se envolver na direção de projetos voltados para uma veia mais musical (até seu primeiro longa, Guy and Madeline on a Park Bench, tem a música como personagem) decidiu partir para a produção de um longa sobre a exploração espacial. Em O Primeiro Homem (First Man, 2018), Chazelle visita o momento histórico da corrida espacial que levou o homem à lua. O diferencial aqui está no fato de que, surpreendentemente, não temos muitos filmes com um foco na vida pessoal do astronauta Neil Armstrong — na verdade, não consigo sequer pensar em algum que tenha essa proposta.
Ryan Gosling interpreta o astronauta. O ator já se provou mais do que competente em vários filmes e aqui ele está tão bom quanto sempre foi, sua performance contida combina com a frustração do personagem, mesmo com poucas expressões ele consegue provar seu ponto. Ainda assim, o destaque no elenco vai para Claire Foy, no papel de Janet, esposa de Neil. Ela carrega as cenas com sua atitude apreensiva, e como grande parte do longa se passa na casa da família Armstrong, ela tem uma presença forte nessa narrativa. O casal passa por todos os imprevistos da preparação para a missão espacial, o que infelizmente quer dizer que devem saber lidar com a perda, esse que é um tema presente em todo o longa.
A alternância de sequencias entre os testes da Nasa e o drama familiar dos astronautas é perfeitamente equilibrado. Chazelle tem uma boa noção de ritmo e estabelece uma boa conversa entre os dois núcleos principais, isso permite sairmos da tensão de estar dentro de uma cápsula espacial minúscula para depois nos encontrarmos em um ambiente aberto e confortável em um quintal tomando cerveja. Há um desconforto em toda a experiência de Neil, ele não sabe o quanto mais pode aguentar das pessoas que acabam sofrendo ao longo dos testes. Não bastando os acidentes letais, ele lida com a pressão pública, com as incertezas da população.
Em O Primeiro Homem há espaço (sem trocadilho, mas se quiser, sinta-se em casa) para pontos de vista. O que sinto falta em alguns filmes do gênero é a ausência de alguns elementos que prejudicam um pouco o contexto no qual o filme é inserido. É pertinente a atenção dada aos movimentos sociais da época e o cenário político, isso tira o enredo de um território mais superficial. Claro que isso abre caminho para vários momentos icônicos, curiosidades e referências, como os protestos civis em ascensão em meados da década de 1960. Na televisão pode-se ver entrevistas com celebridades, estudiosos e até mesmo autores de ficção científica como Kurt Vonnegut e Arthur C Clarke — não vou mentir, fiquei feliz ao ver isso, mesmo que apenas por alguns segundos. Vale mencionar aqui também a representação de Buzz Aldrin por Corey Stoll, ele acerta os maneirismos e dá uma versão um pouco mais caricata do astronauta que serve de alívio cômico diversas vezes.
Dessa vez, Damian Chazelle tenta se arriscar um pouco mais na direção, com os planos fechados, por exemplo, que deixam os ambientes já apertados ainda mais angustiantes. Mas quando estamos no espaço e o homem pode dar seus primeiros passos, a câmera se afasta e revela a imensidão do inexplorado. Aqui eu devo mencionar como o filme toma seu tempo e respeita o silêncio, não só por questão de realismo e obediência das leis da física mas por conta do fascínio (nosso e dos personagens).
Seja na terra ou na lua, o filme tem um tratamento visual primoroso, com aquele aspecto mais granulado da imagem, comum da gravação em película, que é bom e ajuda na textura e a aparência estética da década na qual o filme se passa. Ao lado do diretor de arte, Linus Sandgren, Chazelle usou o mais comum 35mm na maior parte do filme, mas para as tomadas espaciais preferiu o efeito IMAX do 70mm. O resultado é uma experiência sensorial marcante.
O Primeiro Homem mostra que Damian Chazelle pode sair de sua zona de conforto e que filmes sobre exploração espacial ainda tem potencial para novas narrativas.