Depois de ter feito uma lista com os Melhores Filmes Sci-Fi da Década, é chegada a hora de indicar também algumas das melhores produções feitas para a televisão. Felizmente, algumas das séries mais assistidas e premiadas atualmente são ficção científica, então não vou perder tempo e separar aqui algumas (pode ser minissérie ou telefilme) já exibidas desde 2010. Tenha em mente que não é um TOP 10, aqui a intenção é te mostrar algumas coisas que talvez você esteja perdendo, e outras que você provavelmente já assiste mas merecem elogios.
Vamos começar pela mais popular do momento: Black Mirror (2011 — ).
Você provavelmente já ouviu alguém falar algo como “caramba, isso é tão Black Mirror”. Então, independente de você achar isso irritante ou não, não podemos negar o impacto que a série teve no público. No formato de antologia, a série criada por Charlie Brooker é o sonho de qualquer fã de distopias e narrativas onde a tecnologia toma um rumo mais assustador e angustiante do que o normal. Quem assiste não consegue esquecer as loucuras que já aconteceram em Black Mirror. Se tiver estômago fraco, pode pular o primeiro episódio e assistir ele depois, a ordem não vai mudar em nada a experiência e conexões entre as histórias só são feitas (de forma bem vaga também) lá para a terceira temporada, então vá sem medo de ser feliz e assista na ordem que quiser.
Outra queridinha do público tem sido The Handmaid´s Tale (2017 — ).
As pessoas tem um fascínio por distopias, e isso talvez não seja apenas uma questão de preferência, mas sim um reflexo dos nossos tempos. Afinal, as melhores distopias são aquelas que não parecem estar muito longe assim da nossa realidade — pelo menos tematicamente. Em The Handmaid´s Tale, um grupo de fanáticos religiosos tomou conta do Estado e todas as regras mudaram. As maiores vítimas disso foram as mulheres, que perderam todos os seus direitos e agora servem apenas para agradar seus homens, seja limpando sua casa ou, como no caso da protagonista, June (Elisabeth Moss), sendo barriga de aluguel para a esposa infértil de seu Senhor.
Essa é uma série triste e desesperadora, um pouco difícil de assistir por conta disso e pelos paralelos assustadores que andam tendo com as notícias de assédio e figuras politicas pregando discursos sexistas sem sofrer muita represália. Mas se por um lado é pesado e realista, de outro é uma narrativa muito bem construída, direção de arte excepcional e atuações magníficas, principalmente de Elisabeth Moss. Não é à toa que ganhou vários prêmios logo na sua primeira temporada.
Para fechar a trindade de séries sci-fi mais assistidas atualmente, não posso deixar de lado minha queridinha: Westworld (2016 — ).
Se você já imaginou como seria poder visitar um lugar onde é permitido atirar para matar e fazer sexo “até morrer” e jamais sofrer as consequências, talvez esteja procurando Westworld, o maior parque interativo do mundo. Totalmente inspirado no cenário faroeste, você pode participar de várias aventuras. Na série seguimos Dolores (Evan Rachel Wood), uma anfitriã (é como chamam os sintéticos do parque) tentar sair de sua rotina e descobrir cada vez mais detalhes sobre o mundo que habita.
Eu já fiz até uma matéria sobre a série e como ela brinca com suas rimas narrativas, então serve como leitura complementar (fica a dica).
A força da rima em Westworld
Crítica da segunda temporada.medium.com
Tudo bem. Já falamos das que você provavelmente já conhecia, então daqui pra frente mencionarei séries que talvez sejam muito bem recebidas pela crítica, mas não tem um público do tamanho das anteriores.
Não é só de Black Mirror e Doctor Who (1963 — ) que vive a Inglaterra. As produções britânicas tem surpreendido bastante com títulos como Utopia(2015), Humans (2015)e a antologia baseada na obra de Philip K Dick,Electric Dreams (2017 — ). Utopia e Humans são ótimas e você deveria assistir o mais rápido possível, mas Electric Dreams, que também tem um envolvimento norte-americano na produção, surpreende com a qualidade técnica e o elenco, com nomes como Bryan Cranston, Steve Buscemi e Janelle Monáe.
A primeira temporada tem dez episódios e cada um é completamente diferente do outro. Ao contrário de Black Mirror, onde temos um tema recorrente que permeia todos os episódios, em Eletric Dreams as decisões narrativas são menos restritas.
Antes de fazer essa matéria considerei deixar as animações com sua própria lista. Mas isso seria injusto. Não considero animação um gênero próprio. Você pode ter ação, comédia ou drama animados. É mais questão de técnica, e este formato tem um charme diferente e merece um espaço e respeito maior do público. Já falei aqui sobre a divertida Final Space(2018 — ), por exemplo, mas nada que tenha saído essa década talvez tenha sido mais comentado e debatido do queRick and Morty (2013 — ).
Criada por Dan Harmon (gênio por trás da série Community) e Justin Roiland, Rick and Morty conta as aventuras de um cientista que se envolve em todo tipo de atividade moralmente questionável, e o pior de tudo é que ele leva seu neto como testemunha. Seja rompendo o tecido da realidade, invadindo outras dimensões ou visitando um planeta onde tudo tem a forma de espiga de milho, essa série não usa o absurdo apenas como piada e levanta temas mais sérios à superfície. Se você terminar um episódio tendo uma crise existencial é só a reação natural causada pela animação.
Voltando para os live action e lembrando que uma lista não precisa ser apenas de séries de sucesso — nem precisei mencionar Star Trek: Discovery (2017 — )porque Star Trek é Star Trek, e independente de qual seja sua opinião sobre Discovery, é claro que vamos assistir — , também temos algumas canceladas, porém bem atraentes, como o caso de Dark Matter (2015–2017), que trazia uma premissa intrigante e era bem executada, mas foi uma das vítimas dos cancelamentos absurdos do canal SyFy. Outro cancelamento prematuro foi o de Almost Human (2013–2014), com sua abordagem mais leve, um drama de ação policial com ótimos personagens. Karl Urban como protagonista? Claro que eu quero! Mas, sabe como é a vida…
Felizmente, há casos de produções que se mantém seguras, como Orphan Black (2013–2017) e KillJoys (2015 — ); já o futuro de The OA (2016 — ) é, até o momento, uma incógnita. O que mais preocupa alguns fãs atualmente é a excelente série The Expanse (2015 — ), que foi cancelada pelo SyFy (olha ele aí de novo), mas foi renovada pela Amazon. Só não se sabe — ainda — por quanto tempo.
The Expanse começa devagar, mas já mostra seu potencial com um bom elenco (Nathan Lane nunca decepciona) e efeitos especiais de qualidade. Você entra por isso e acaba ficando pelo enredo cheio de conspirações e debates políticos e sociais que te fazem lembrar o que a ficção científica tem de melhor para oferecer. Pode não ter a fama que merece, mas nunca deixa de prezar uma narrativa de qualidade. Sério, assista.
Por falar em cancelamento, vamos fechar com um que me doeu na alma: Dirk Gently´s Holistic Detective Agency (2016–2017). Criada por Max Landis (o pobre coitado não dá uma dentro, vive tendo projetos cancelados) e estrelada por Elijah Wood, Dirk Gently é uma ~leve~ adaptação da obra de Douglas Adams de mesmo nome sobre o investigador particular que utiliza os meios menos convenientes possíveis para resolver os quebra-cabeças que encontra. Mesmo não sendo tão fiel ao material original, o mesmo tom é mantido, a comédia é ótima e a trama se desenvolve da maneira mais louca e divertida possível. Começa confuso mas garanto que vale a pena ficar assim por um tempo, porque a conclusão sempre compensa.
São apenas duas temporadas — o canal BBC decidiu não renovar a série — mas são imperdíveis. Houveram poucas comédias sci-fi para a TV nessa década, tirando essa só consigo lembrar de The Orville (2017 — ), que ainda não assisti, mas pelo menos o gênero está sendo bem representado com Dirk Gently.
O que achou da lista? Temos bastante coisa sci-fi legal da televisão. Eu sei que provavelmente deixei algumas de fora, mas a vida é como o canal SyFy: tem horas que te deixa feliz, mas na maioria das vezes te dá um chute na bunda.
Se você quiser indicar alguma série, é só vir nos comentários que eu adoro conhecer coisas novas.