Possíveis Spoilers!
Despite Yourself é considerado por alguns o melhor episódio da primeira temporada, agora temos New Eden como um novo ponto alto de Discovery. Os dois episódios tem algo em comum: Jonathan Frakes. O veterano de Star Trek,mais conhecido por interpretar o comandante William Riker em Nova Geração(em outras palavras, meu ST favorito), também é responsável por dirigir os episódios, assim como já dirigiu de outros spin-offs e filmes da franquia. É interessante ver como sangue novo pode ser injetado por alguém que já viu e fez tanto pela série.
Em New Eden, a tripulação da USS Discovery decide atender um chamado de emergência do planeta Terralysium, habitado pelos sobreviventes da Terceira Guerra Mundial, o que revela que a mensagem foi enviada há mais de duzentos anos. Michael, Pike e Owosekun tornan-se os emissários da Discovery para a missão de desligar o chamado.
A premissa abre o clássico debate entre religião e ciência que já vimos mais de uma vez, mas quando o feijão com arroz é bem feito, merece o elogio. Os habitantes de Terralysium agora seguem uma crença baseada nos antigos ataques e tem uma vida mais “primitiva”, pré-dobra, mas ainda assim um membro dessa sociedade não está convencido e acredita que há naves espaciais e alienígenas lá fora.
Uma das coisas que esse episódio acerta em cheio é na abordagem desses temas e como a tripulação lida com eles, de forma imparcial e respeito pela primeira diretriz, até quando decidem revelar informações em um ponto importante. Na nave, Michael, Pike e Saru debatem sobre as implicâncias de interferir na cultura alheia, e é um daqueles momentos mais focados em diálogo que são um dos diferenciais de Star Trek. A trama também volta a abordar a rede de micélios e insere um possível obstáculo para a alferes Tilly, mas esses acabam sendo os pontos fracos do roteiro que nem valem a pena ser abordados com mais detalhes.
Com esse episódio dá pra ver um pouco mais como a série vai tratar Pike, que é um personagem importante do cânone, mas que até agora teve pouquíssimo espaço em tela (The Cage é a única vez em que ele realmente estrelou um episódio, tirando esse ele foi um coadjuvante ou menção), e até agora ele tem se apresentado como um líder mais calmo e compreensivo, uma linha mais Picard que Kirk, mesmo que no episódio anterior, Brother, tenha algumas falas menos inspiradoras, como o momento em que incentiva Burnham a se divertir sem se preocupar com quebrar algumas coisas no caminho. Vamos torcer para o Pike de New Eden ser o molde para o que virá no futuro.
Ainda sobre os personagens, é bom ver como estão dando mais atenção aos coadjuvantes. A decisão de levar Owosekun na trama principal foi uma boa ideia, assim como deixar Tilly e Stamets em um arco próprio. Por New Eden ter Pike como um protagonista mais evidente, fica a preocupação de que talvez Michael perca um pouco de sua importância em futuros episódios, mas com a chegada de Spock essa preocupação deve ser algo desnecessário. E isso deve ser um lembrete para quem ainda não entendeu: independente do que você sinta por Michael, ela é a protagonista, e a principal promessa de Discovery é seguir a jornada da personagem.
New Eden também tem um dos melhores trabalhos de design de produção da série, e isso pode ser visto na construção da pequena vila em Terralysium, com sua catedral constituída de belos vitrais que contam a história da Guerra. Geralmente, as missões de campo tem um bom trabalho desse departamento, mas sempre vale a pena mencionar. E se Discovery pode se vangloriar de algo, são os efeitos especiais, com representações visuais que impressionam, como a “manobra de Tilly”, que pode ser um pouco boba e conveniente na teoria, mas na prática é um dos melhores momentos da série.
Como é esperado, o episódio traz várias referências, como menções ao autor Arthur C. Clarke e talvez Elon Musk (Tilly estudou na Musk Junior High), sem contar um pouco de Shakespeare, que é sempre bem vindo em Star Trek, seja por um Kinglon ou não. Por último, pesquisei sobre uma lápide com o nome de “J.Scott”, que estava ocupando a maior parte de uma tomada, e talvez seja uma homenagem póstuma ao responsável pelos efeitos especiais de Nova Geração e Deep Space Nine, Steven J. Scott.
Frakes trouxe mais uma vez um pouco do espírito que todos gostam na franquia, com muita exploração, uma pequena aventura fechada e debates instigantes. Ele estará de volta para mais um episódio esta temporada, e até lá vamos continuar debatendo sobre os ataques dos anjos vermelhos e torcendo para que os próximos episódios continuem deste nível para cima.
Ficha Técnica:
New Eden, S02E02
Direção de Jonathan Frakes
Roteiro de Akiva Goldsman e Sean Cochran
Atuações de Sonequa Martin-Green, Doug Jones, Anson Mount, Anthony Rapp e Mary Wiseman