Possíveis spoilers.
Terminamos o episódio anterior com a chegada de Eric Morden, o Mr. Nobody. O vilão não mede esforços para impressionar logo de cara e é responsável por uma sequencia envolvendo um burro flatulento e um buraco que suga uma cidade inteira com toda sua população (hilário como representaram isso através da contagem de habitantes em uma placa), incluindo uma barata histérica. Alan Tudyk mais uma vez prova porque é a escolha certa para qualquer projeto, e aqui ele tem dois trabalhos difíceis: atuar e narrar. E nos dois, ele é ótimo. Durante o episódio, podemos ver o tamanho do seu poder, ou pelo menos o que ele permite que vejamos.
Nobody é intimidador e suas habilidades de moldar “tempo e espaço” impulsionam a narrativa desenvolvendo os membros da Patrulha, ao criar simulações que revelam os maiores medos e frustrações dos personagens. E sobre a narração, esse é um dos aspectos que melhor funciona por conta de toda a atmosfera absurda e o olhar atento do antagonista sobre a trama. É como se Eric soubesse a temporada inteira e esteja revelando os detalhes aos poucos para a própria série (não vou mentir, isso pode ser verdade). Mas vamos falar mais sobre isso daqui a pouco — hora de focar no que foi introduzido no episódio.
Joivan Wade interpreta Victor Stone, o Cyborg. Eu admito geralmente me preocupar com a introdução de personagens mais populares em séries onde a lógica não existe, com medo deles se destacarem de uma maneira estranha, talvez se desvencilhando do tom da produção, mas eu não sei o que acontece com Patrulha do Destino para conseguir realizar com perfeição tudo que tenta, incluindo a apresentação de Victor. Em apenas um episódio tivemos uma jornada por dentro de um burro, uma cidade destruída e uma história de origem (duas se contarmos as revelações sobre Crazy Jane), e ainda assim cada um desses elementos é executado muito bem, principalmente a trama de Cyborg (é a primeira vez que me importo com o personagem desde a animação original de Teen Titans). É um alívio ver algo tão positivamenteridículo e divertido, ainda mais vindo de pessoas que escreveram séries mais genéricas como The Vampire Diaries ¯\_(ツ)_/¯.
Neste episódio, a equipe procura pelo Chief, o Dr. Niles Caulder, raptado por Eric. Essa promete ser a trama principal ao longo da temporada, e com a presença de Mr. Nobody, temos uma ameaça constante pairando à cabeça dos heróis. As subtramas continuam fortes, como a evolução da relação de Cliff e Jane, ou o receio de Larry e Rita em participar de toda a loucura. Jane tem o tempo e a história de origem que não recebeu no primeiro episódio, e isso foi uma boa decisão, porque aqui temos a oportunidade de focar em algumas de suas personalidades e na manifestação de seus poderes. As tentativas de Cliff em se aproximar de Jane talvez sejam as cenas mais frustantes quando levamos em conta tudo que aconteceu com ele e o dilema que passa por conta de sua filha. Fraser pode estar emprestando apenas sua voz para o personagem, mas há uma tristeza convincente que me faz apreciar mais o ator.
Também é um episódio sobre arrependimentos, como visto no monólogo de Cyborg sobre uma promessa que fez para sua mãe. Joivan Wade é carismático e um pouco arrogante, mas também prova seu valor moral sem aceitar propostas fáceis e ameaças vazias. Enquanto isso, Rita revive seus dias de glória e Larry pilota mais uma vez. A intenção é ser uma tortura mental da parte de Eric, mas isso não impede os dois de aproveitarem o momento, rendendo boas sequencias cômicas (nada tão histérico quanto uma barata desesperada, claro). Toda a representação visual do interior do burro é outro atestado de como o design de produção da série está de parabéns, e a ideia de materializar as palavras de Jane e transforma-las em armas foi uma das coisas mais quadrinhos que já vi na TV.
Por falar em quadrinhos, Eric chega a mencionar Grant Morrison. Eu geralmente acho referências e menções gratuitas algo desnecessário e sem graça (essa coisa de “ser fã e querer service” não faz sentido algum), mas Mr. Nobody é um dos personagens mais estranhos e intrigantes no qual o roteirista já colocou as mãos, e as marcas registradas de metalinguagem e ridículo levado a sério do autor são traduzidas perfeitamente para a tela. Agora é esperar por mais personagens maravilhosamente estúpidos como Danny, a rua ambulante (será que os eventos desse episódio servem como uma forma de origem para a personagem?) ou a Irmandade do Dadaísmo. Ansioso por mais e preparado para episódios cada vez mais abstratos e Morrisonianos.
Ficha Técnica:
Donkey Patrol, S01E02
Direção de Dermott Downs
Roteiro de Neil Reynolds e Shoshana Sachi
Atuações de Diane Guerrero, April Bowlby, Alan Tudyk, Matt Bomer, Brenda Fraser, Timothy Dalton