A China é o segundo maior mercado do mundo quando falamos em cinema. É normal vermos alguns filmes do ocidente que não estavam indo muito bem na bilheteria ter uma recuperação surpreendente ao chegar no oriente. The Wandering Earth é uma ficção científica adaptada do conto literário de mesmo nome do autor chinês Cixin Liu, que ficou conhecido por ter sido o primeiro de seu continente a receber o prêmio de Melhor Romance no Hugo Awards (com o seu “O Problema dos Três Corpos”). O filme foi feito com aproximadamente $50 milhões e tornou-se um sucesso rendendo quase $350 milhões de bilheteria apenas em seu país de origem. Com tudo isso, é óbvio que a curiosidade do público ocidental aumentou, e aqui no Brasil o filme foi distribuído pelo serviço de streaming da Netflix, com o título traduzido para Terra Á Deriva.
O filme muda alguns elementos do material original para inserir mais ação, mas justifica a mudança com um drama bem construído. A premissa do filme é promissora: o desespero da humanidade aumenta quando o sol se expande em uma velocidade inesperada. Para evitar a destruição iminente, um plano para tirar a Terra do sistema solar é colocado em prática, e com a ajuda de imensos propulsores e todos os engenheiros que o planeta precisar, assistimos as últimas tentativas da raça humana.
Por ser uma empreitada que exige séculos de execução, cada geração tem seu papel. O astronauta Liu Peiqiang (Wu Jing) precisa deixar seu filho Liu Qi (Qu Chuxiao) na Terra, para que possa seguir sua missão na estação espacial que auxiliará a Terra na viagem para um lugar seguro. Anos depois, quando Peiqiang completa seu trabalho e pode voltar para seu planeta, descobre que um Liu Qi já adulto está em sua própria missão depois de ser pego roubando um caminhão e forjando documentação para comemorar o ano novo chinês com sua irmã adotiva, Han Duoduo (Jaho Jinmai).
Frant Gwo assina a direção. Mesmo com poucos filmes no currículo, faz um excelente trabalho aqui. Além de encontrar um ótimo elenco (incluindo Mike Sui, que interpreta Tim e serve de alívio cômico. Felizmente, bem encaixado) e desenvolver alguns visuais impressionantes, Terra Á Deriva é o tipo de obra que consegue construir drama envolvente no meio da ação incessante. Há a culpa de Peiqiang em deixar seu filho para trás com o sogro, Han Ziang (Ng Man-tat). O longa abre com o monólogo do pai sobre a importância do que está prestes a fazer e uma excelente linha de diálogo envolvendo uma estrela, que retorna no roteiro da maneira mais satisfatória possível. A relação deles é a base do filme, e Gwo sabe quando repetir uma cena através de flashback ou inserir emoção sem soar forçado. A inteligencia da direção e da montagem em estender as cenas de tensão ao limite sem perder o impacto é outro ponto alto.
O filme apresenta três núcleos narrativos diferentes: a estação espacial, a superfície da Terra e o seu subterrâneo, onde a maior parte da população tem vivido por conta do frio extremo da superfície. Como mencionei antes, o roteiro é um destaque. É curioso ver como a obra carrega cinco roteiristas e ainda assim não é um desastre (geralmente, muitas mãos no mesmo roteiro gera uma bagunça na produção); pelo contrário, o enredo dessa história é extremamente consistente e aproveita cada elemento apresentado, até mesmo em seus primeiros minutos, onde introduz temas e obstáculos importantes para futuras resoluções.
Com um roteiro sólido e um diretor capaz de executar visuais impressionantes (alguns eu poderia emoldurar facilmente), fica a responsabilidade do departamento de efeitos especiais em manter a qualidade. Mesmo que não seja perfeito e tenha aquele clássico problema de textura quando envolve o maquinário pesado das grandes estruturas de metal, há espaço para vários elogios ao trabalho da equipe em desenvolver os propulsores e os equipamentos militares da Terra. Não só fizeram um bom trabalho junto da direção de arte com uma identidade visual distinta, mas pelo uso de objetos obtidos através da impressão 3D, bastante convincentes.
Terra Á Deriva já está disponível na Netflix brasileira e indico fortemente que assista antes que saia do catálogo. É um excelente trabalho que funciona em todos os níveis, com sequencias de ação angustiantes na superfície e debates sobre culpa e arrependimento nos minutos derradeiros da humanidade.
Ficha Técnica Título Original: Liu lang di qiu Direção de Frant Gwo Roteiro de Gong Geer, Junce Ye, Yan Dongxu, Frant Gwo, Yang Zhixue Duração: 2h 5min
Ainda é um mistério para mim como este filme foi parar nos cinemas, ainda mais nos cinemas brasileiros. Deixe-me explicar: Com a demanda cada vez maior por produções que tenham um enorme chamariz para atrair o público, se o seu filme quiser ter uma boa distribuição, ele precisa de algo que chame a atenção. Por mais que Cópias — De Volta à Vida (ou a mais conveniente versão original, Replicas) tenha um ator conhecido como Keanu Reeves no papel principal, isso não é o suficiente, porque além de ser uma produção menor, ela é uma ficção científica, o que infelizmente não é o gênero favorito do grande público.
Geralmente, um filme desses é escondido em alguma plataforma de streaming ou lançado direto em formato digital ou físico sem grande alarde para não chamar atenção. Por isso eu fico impressionado como um filme tão ruim continuou sendo lançado pelo estúdio em mais de 2.000 cinemas, e isso só nos Estados Unidos. Bem, esse é um debate complicado que podemos ter depois, mas agora vamos focar no filme. Cópias é mais uma grande mistura de elementos sci-fi jogados sem razão alguma no meio de uma trama genérica sobre intriga corporativa. A premissa abre a possibilidade para incontáveis narrativas, mas o filme decide seguir o caminho mais previsível.
O cientista Will Foster (Keanu Reeves) estuda a possibilidade de transferência de consciência orgânica para um corpo sintético. Os testes ainda não renderam resultados satisfatórios, mas ele não desiste. Depois de um acidente de carro, Foster perde sua mulher e filhos, mas consegue usar seu conhecimento para trazê-los de volta. Esse experimento secreto atrai a atenção de pessoas que podem colocar sua vida e a de sua família em risco.
O problema do filme não é ter todos os elementos mais batidos do mundo para a construção da trama (acidente de carro, corporação do mal…), mas sim não saber usá-los. Eu não vejo problema algum em ter um roteiro simples e direto ao ponto, mas se você não for consistente com cada uma das coisas que apresenta, o resultado é um produto vazio e tedioso. Cópias erra em quase todos os aspectos, o primeiro deles sendo a direção de Jeffrey Nachmanoff, que não só depende demais de movimentos de câmera desnecessários, como o excesso do ângulo holandês (dutch angle para o pessoal internacional), presente em cenas onde não só destroem a tensão que o longa tenta construir, mas distraem pela maneira nada natural com a qual Nachmanoff aborda as cenas, deixando o filme consistente apenas na fotografia e as composições que focam mais em tomadas fechadas e muitos cortes, talvez por conta de sua experiência trabalhando mais em séries.
E por falar em cortes, não posso deixar de mencionar o problema de montagem desse filme, que mata a família de Foster nos primeiros minutos, dedica um bom tempo no laboratório e depois tem um desenvolvimento apressado que termina em uma grande perseguição de filme de ação (onde poderiam aproveitar para criar um paralelo visual interessante com a cena do acidente no primeiro ato, mas nem isso souberam fazer). O nosso pouco tempo convivendo com a família antes do experimento faz com que ela não seja importante, entregando que todos os membros foram claramente sacrificados para o Deus da narrativa preguiçosa. É curioso ver como Stephen Hamel, um dos roteiristas (ao lado de Chad St. John), também é um dos produtores do drama Passageiros, de 2016, que teve uma narrativa “fraca” que poderia ter sido consertada facilmente com uma simples mudança na montagem. O canal Nerdwriter já fez um vídeo inteiro sobre esse caso, então indico para quem quiser saber mais.
Tirando Keanu Reeves, que não está se esforçando nem um pouco, o elenco conta com nomes que o público pode não conhecer mas tiveram seus rostos em produções maiores. Alice Eve já esteve na ponte da Enterprise interpretando uma versão mais nova de Carol Marcus em Star Trek: Além da Escuridão. Aqui ela faz a esposa de Foster; sem personalidade alguma, ela é só a esposa de alguém. O mesmo acontece com John Ortiz, que está presente em várias produções grandes com um papel pequeno. Aqui ele tem um personagem mais importante, mas infelizmente caricato e mal escrito. A única exceção é Thomas Middleditch, mais conhecido por protagonizar a série Silicon Valley, que parece estar mais confortável como o Ed, o amigo e parceiro de laboratório de Foster. Convenhamos que ele é constantemente escalado para o papel de “nerd inteligente e ansioso”, mas de todos os estereótipos que esse filme traz, pelo menos Middleditch faz questão de executar bem o seu.
Como se já não bastasse a direção preguiçosa, o roteiro inconsistente e cheio de diálogos ruins, e o elenco sem vontade, Cópias não se garante nem mesmo nos efeitos especiais, que parecem ter saído de uma produção barata do começo do século, caindo até um pouco no vale da estranheza com um robô sem textura ou atenção ao detalhe o suficiente para me dar pesadelos. Esse é mais um filme genérico e previsível que poderia ter sido lançado direto em algum streaming e ainda assim, não recomendaria.
Ficha Técnica Título Original: Replicas Direção de Jeffrey Nachmanoff Roteiro de Stephen Hamel e Chad St. John Atuações de Keanu Reeves, Alice Eve, Thomas Middleditch e John Ortiz
Já faz um tempo desde a última lista, então vamos direto ao ponto porque a década de 1990 foi uma loucura. Tivemos uma saturação de narrativas envolvendo computadores e distopias, mas alguns acabaram se destacando. Aqui vou listar vários filmes da década, mas apenas os em negrito são as minhas indicações genuínas para melhor representar o momento. Vamos lá!
Vou começar tirando logo a escolha mais óbvia do caminho: Matrix. Lançado no fim da década, esse foi o filme que melhor capturou alguns de seus elementos mais marcantes, como roupas de couro, óculos escuros e hackers, muitos hackers!!!. Tudo bem, o filme pode não ter envelhecido bem nesse departamento, mas até hoje conquista com um ótimo roteiro (pelo menos o primeiro filme) e alguns conceitos visuais inteligentes tão impressionantes que toda a industria decidiu copiar ou parodiar, como o bullet effect, a câmera lenta no meio da ação que estava em TODO LUGAR depois desse filme, até em Shrek e Kung Pow.
Mas por mais que Matrix tenha sido um sucesso estrondoso na época, eu vou escolher um outro filme, bem menor em escala e orçamento, que também aborda os mesmos temas existenciais sobre escolha e destino. Dark City: Cidade das Sombras é a história de um homem sem memória, tentando descobrir o que aconteceu com sua esposa e como fugir de uma terra sem sol.
O longa foi lançado apenas um ano antes mas possuía várias similaridades com o Matrix, desde o visual sujo e escuro até o conceito envolvendo um mundo controlado por “máquinas”, mas com uma vestimenta menos exagerada por parte do protagonista. Ainda que tenham paralelos, Cidade das Sombras se destaca por uma edição que estranhamente casa perfeitamente com a atmosfera do filme, com vários cortes por minuto, mas surpreendentemente consistentes. Além disso e do ótimo elenco, temos a música e o design de produção, com sons e uma arquitetura incrível que ajudaram ainda mais no tom noir do longa.
A década de 1990 foi ótima também para o ator Arnold Schwazenegger, que não só esteve em vários filmes de ação com ótima bilheteria. Ele esteve em dois grandes títulos que marcaram os fãs de ficção científica, o primeiro deles foi O Vingador do Futuro, em 1990, que adaptava o conto literário “Lembramos para você a preço de atacado”, do autor Philip K Dick. O filme, como esperado, fez sucesso e mesmo que não seja uma representação muito fiel do material original, agradou o público com uma trama e representação intrigantes do futuro pelo diretor Paul Verhoeven.
Além desse longa, Schwazenegger retornou para a continuação de sua franquia mais famosa, estrelando O Exterminador do Futuro 2: O Julgamento Final (1991). Agora comandado por James Cameron, que fez um trabalho impressionante com os efeitos especiais, principalmente no antagonista da trama, o androide T-1000, interpretado por Robert Patrick. O filme segue a mesma premissa do anterior, mas se destaca pela forma como desenvolve a relação entre o Exterminador e o pequeno John Connor. Tirando toda a ação e os efeitos que até hoje se sustentam, o filme tem a Sarah – fodona – Connor, uma personagem memorável interpretada por Linda Hamilton.
E por falar em Paul Verhoeven, eu sempre arranjo uma maneira de mencionar Tropas Estelares (1997), só que desta vez ele realmente merece estar aqui. Entendo como pode ser uma obra polarizante com uma abordagem política problemática, mas eu acho que a falta de sutileza funciona muito bem com a proposta mais satírica de Verhoeven, que vai na contramão de tudo que a obra original de Robert A. Heinlein representava. É uma pegada bem mais bizarra e estúpida, mas com seus momentos de humor negro que acabam acertando a ferida direitinho.
Aproveitando o tom mais cômico, a década de 1990 teve algumas obras que acabaram se transformando em comédias, mesmo sem a intenção — Ou essa era a intenção o tempo todo e fizeram um péssimo trabalho, como na péssima adaptação de O Juíz (1995), baseada nos quadrinhos do Juíz Dredd; ou o hilário de tão ruim O Demolidor(1993), com um futuro distópico tão mal elaborado que chega a dar pena. Esses dois últimos foram estrelados por Sylvester Stallone, que aparentemente não teve a mesma sorte de Schwazenegger no sci-fi.
Outro filme mal recebido foiMarte Ataca! (1996), a sátira política e social de Tim Burton que era bizarra demais até para ele, seja na trama boba e desconexa ou no elenco, que era cheio de atores renomados, como Jack Nicholson e Gleen Close, que se meteram em cenas nem um pouco merecedoras de seu currículo.
Deixando de lado os desastres, vamos para os que funcionaram. O primeiro deles é MIB: Homens de Preto (1991), o sucesso estrelado por um Will Smith no auge da carreia. Eu nem vou me prolongar falando desse porque é provavelmente um dos mais queridos dessa lista e um dos mais mencionados de qualquer uma envolvendo a década de 1990. Então, para trazer algo diferente, venho indicar Galaxy Quest, que ficou conhecido no Brasil como Heróis Fora de Órbita (1999).
É uma pena uma comédia tão bem construída como essa ser tão esquecida pelo público, mas o motivo talvez seja na quantidade de referências que você precisa entender para realmente apreciar a obra. Esse é um filme que brinca com os bastidores de um grupo de atores de uma série de ficção científica que até hoje enche os corredores das convenções de fãs, mas não se dá nem um pouco bem. É uma piada com todos os desentendimentos que costumam acontecer nos bastidores de séries, e no filme o elenco é claramente uma paródia dos atores e atrizes da franquia Star Trek. E eu falei tanto em elenco que esqueci de mencionar que esse longa tem um que eu amo, com Sigourney Weaver, Alan Rickman e Sam Rockwell. Por eles vale a pena aturar a cara do Tim Allen, uma pessoa que ainda levanta um mistério para mim: como alguém contrata um ator tão ruim? (desculpem por essa, mas ninguém é fã dele mesmo, então não sei nem para quem estou me desculpando).
Seguindo em frente, temos as já esperadas adaptações cinematográficas de séries de TV, como o último filme incluindo a equipe clássica da Enterprise, Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida (1991), que considero uma das melhores aventuras da tripulação em um longa. Mas também temos o contrário, quando um filme se transforma em uma série. Esse é o caso de Stargate, a Chave Para o Futuro (1994), que se transformou em uma obra cultuada por tantos fãs ao ponto de render uma série para a TV, e em seguida, alguns spin-offs.
O filme foi dirigido por Roland Emmerich, que ficaria mais famoso dois anos depois com seu Independence Day (1996). Depois desse ele assumiu de vez a identidade de diretor de longas sobre catástrofe, seguindo com o péssimo Godzilla (1998) e o tedioso O Dia Depois de Amanhã (2004). Ou seja, por mais que Stargate tenha nascido, o cinema poderia ter se saído bem sem Emmerich. Mais uma vez, desculpem-me os fãs dele.
Espera aí! É uma lista dos melhores. Vamos voltar ao caminho certo com Gattaca (1997), o thriller sci-fi estrelado por Ethan Hawke, que também não recebe a atenção que merece. É um filme com um ótimo elenco e um dos enredos mais bem construídos dessa lista, então merece estar aqui. Outro longa que é um pouco esquecido e merece ao menos uma menção honrosa é o competente O Enigma do Horizonte (1997), que pode não ser lá essas coisas mas ajuda em um dia tedioso.
Voltando rapidamente para as distopias que amamos tanto, eu não iria esquecer Os Doze Macacos (1995). A obra dirigida por Terry Gilliam tem uma das premissas mais absurdas e ao mesmo tempo envolventes da década, e o filme ainda tem no elenco nomes como Bruce Willis e Brad Pitt, ambos entregando personagens e algumas de suas melhores performances. A produção se transformou em um clássico do gênero e rendeu uma série para a TV de mesmo nome, mas que infelizmente não trazia a essência e o tom que fizeram do original tão diferente.
Não seria uma lista justa sobre os filmes mais impactantes e relevantes da década sem a presença de Jurassic Park: O Parque dos Dinossauros (1993). Um dos maiores feitos da carreira de Steven Spielberg, este é um filme gigantesco, e não só pelas criaturas que o habitam, mas pelo tremendo trabalho por trás das câmeras, no desenvolvimento da trama, no elenco carismático, nos efeitos visuais impressionantes e na música de John Williams que é uma das coisas mais belas que já tocou os ouvidos de qualquer ser humano.
Um filme atemporal que poderia depender completamente de seus efeitos especiais, mas faz mais que isso e aborda a relação humana como seu elemento principal, deixando o fascínio apenas como uma parte do que faz deste filme provavelmente um dos melhores do cinema e facilmente o melhor da década de 1990. Nada é maior que Jurassic Park!
E aí, o que achou da lista? Que filmes ficaram faltando para você? Johnny Mnemonic? Armageddon? O 5º Elemento? Tank Girl? Rocketeer?ExistenZ? Star Wars Episódio 1: A Ameaça Fantasma? Eu sei que alguns ficaram de fora, mas não foi tão fácil assim escolher os meus favoritos, então coloque aí nos comentários o seu! Com exceção de Star Wars Episódio 1, esse não vale.
Eu sou do time que adora o filme Tropas Estelares (1997), de Paul Verhoeven. Completamente exagerado e ridículo em abordagem, e com aquela crítica escancarada sobre a abordagem militar como pano de fundo. O filme é bem diferente do material original que rendeu a adaptação cinematográfica, o livro homônimo de Robert A. Heinlein, que trata tudo com mais seriedade. Com isso em mente, dá pra ver que Guerra do Velho, de John Scalzi, é uma obra literária cheia de paralelos com a escrita de Heinlein, mas com um tom que lembra muito mais a adaptação cinematográfica de Verhoeven.
Em um futuro onde a humanidade conquistou o espaço com suas naves e viagens interestelares, tudo que precisam conquistar agora é território, ou seja, planetas que já são habitados por raças alienígenas. Temos a tecnologia, temos a vontade e a verba, mas precisamos de soldados, e não é qualquer soldado. Para se alistar você deve ter no mínimo 75 anos. Isso vem como uma boa notícia para John Perry, que não tem mais a companhia de sua esposa, então decide comemorar seu aniversário se alistando.
“No meu aniversário de 75 anos fiz duas coisas: visitei o túmulo da minha esposa, depois entrei para o exército. Visitar o túmulo de Kathy foi a menos dramática das duas”.
Essa é minha primeira leitura de qualquer obra de Scalzi, e pelo que vi, foi seu primeiro romance publicado. Isso pode explicar um pouco alguns problemas do livro que são justificados pelo “amadorismo” do autor. O excesso de conveniências ou situações com pouco peso dramático e honestidade são um incômodo, mas pequenos comparados ao que o livro tem de bom em sua proposta. Deixando logo o negativo no ar, posso seguir para o que faz de Guerra do Velho um bom trabalho.
De começo, destaco o protagonista. Carismático e complacente, John Perry é o principal motivo para esse primeiro livro funcionar do início ao fim. Independente da quantidade de missões que recebe e a forma simplista com as quais alguns conflitos são resolvidos, não se deve desconsiderar o personagem, que tem atitude sem soar arrogante e é engraçado sem ser ácido demais. Isso me leva a outro ponto positivo da obra, os diálogos ágeis e ótimas quebras de expectativa. Logo na primeira interação do livro, entre Perry e a recepcionista das Forças Coloniais de Defesa (FCD), temos uma amostra do que está por vir, em uma situação cheia de tiradas rápidas, desentendimentos e piadas bem construídas.
Não falta ação para Perry e os outros recrutas, o livro é uma mina de sangue espirrando para todos os lados e criaturas com lâminas nos braços. O texto de Scalzi não é minucioso como muitos do gênero, preocupados em desenvolver com precisão cada elemento do ambiente, por exemplo, mas ele detalha o suficiente para situar o leitor e deixar claro quem é quem, onde estão e como estão. Um problema nessa abordagem mais objetiva do autor surge quando entram as já mencionadas conveniências ou quando características do próprio protagonista parecem não possuir relevância narrativa, como o fato dele ter sido um escritor antes de se alistar. Traços de personalidade são essenciais na construção de um personagem, mas criá-los sem que isso seja aproveitado pode ser um desperdício de oportunidade, e acontece aqui em alguns momentos.
A trama é bem intrigante, é o típico livro onde fica difícil largar um capítulo no meio sem saber no que vai dar. Reviravoltas são esperadas, e felizmente aqui são todas úteis para a narrativa, não apenas um jeito de surpreender o leitor. Uma delas pode dividir opiniões de primeira, mas quando você descobre para onde as coisas estão indo e o debate filosófico que isso rende, dando mais peso dramático, talvez considere uma boa decisão.
Guerra do Velho é um dos lançamentos mais divertidos da editora Aleph, responsável também por um ótimo acabamento gráfico e uma das melhores artes de capa que eu já vi. Scalzi entrega uma obra leve e sem muita pretensão, mais interessada em criar um laço forte entre o leitor e o protagonista. É uma estratégia sensata, mas não se deve esquecer que no meio de todos os diálogos bem pensados e personagens carismáticos, precisamos de um argumento mais consistente e menos conveniente, com riscos e drama mais realistas, sem que afete o já acertado tom bem humorado e absurdo da obra.
Ainda assim, vale a pena a leitura, e estou doido para ler a continuação, AsBrigadas Fantasma.
Charlie Kaufman é um dos meus roteiristas preferidos. Ele não é tão conhecido quanto merecia, principalmente por conta dos projetos que escolhe, mas é um dos melhores. Filmes como Quero ser John Malkovich (1999) e Adaptação (2002) deixam bem clara a sua proposta: narrativas sobre a condição humana com uma abordagem íntima e sem medo de ser extremamente metalinguística. Adaptação é dirigido por Spike Jonze, mas o enredo chega a ser uma análise sobre o processo criativo de um roteirista. O longa é estrelado por Nicolas Cage, que interpreta dois personagens, cada um servindo como contraposto para a visão do outro sobre a abordagem de um texto. Um dos fatos curiosos está no nome deles, Charlie e Donald Kaufman. Pode soar egocêntrico, mas o roteirista utiliza o filme como uma ferramenta para debater suas neuroses e dilemas sobre o próprio trabalho. Como ser original em uma industria que preza o contrário?
Uma das vantagens do roteirista foi envolver-se com bons diretores, como Jonze, com quem colaborou por anos. Depois disso, até George Clooney quis uma colaboração, o convidando para fazer o roteiro adaptado para o seu primeiro filme por trás das câmeras, o subvalorizado Confissões de uma Mente Perigosa (2002). O próprio Kaufman não demorou para dirigir seus próprios projetos, tendo agora liberdade para levar à tela o texto da maneira que imaginou desde o começo. Com isso vieram algumas obras incríveis como Sinédoque, Nova York (2008) e Anomalisa (2015). Mas antes que pudesse seguir este caminho, escreveu o roteiro de Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças (2004), dirigido por Michel Gondry, um diretor francês mais acostumado em filmar curtas, mas com um olhar diferente para representações visuais. Até hoje eu considero essa uma das melhores colaborações do cinema, e uma das mais criativas.
A ideia do filme veio de um amigo de Gondry, que imaginou um mundo onde você poderia simplesmente apagar alguém da sua memória usando uma tecnologia capaz de visitar suas lembranças e fazer com que você não precise mais lidar com o que aquela pessoa significou para você. Tendo este argumento em mente, a tarefa de Kaufman foi construir o roteiro. O que já poderia ser a premissa para uma ficção científica intrigante acabou sendo um estudo sobre as relações humanas.
Joel Barish descobre que sua namorada, Clementine Kruczynski, passou pelo procedimento. Ele sabe que as coisas não estavam indo bem, mas também não consegue acreditar no que aconteceu, então decide fazer o mesmo para que não sinta mais a dor da perda. Entramos na cabeça de Joel e assistimos o processo. Ele vê Clementine esvair-se de sua mente, mas com ela vão também os bons momentos. Enquanto analisa seu comportamento e passa mais um tempo com a mulher que ama, Joel percebe que talvez tenha cometido um erro.
Um dos grandes acertos do filme é o elenco. Joel é interpretado pro Jim Carrey, mais uma vez mostrando ser capaz de um atuação dramática genuína, como fez em O Show de Truman e o pouco apreciado O Mundo de Andy. Aqui ele tem uma das suas performances mais consistentes, com um personagem de comportamento mais contido e receoso. Do outro lado, Kate Winslet faz Clementine, que considero até hoje seu melhor papel, mesmo com Titanic no currículo. Sua personagem é um dos pontos mais interessantes do filme, e eu vou chegar lá daqui a pouco.
Além da dupla principal, o elenco conta com Elijah Wood, Kristen Dunst, Mark Ruffallo, David Cross e Tom Wilkinson. Esse é o tipo de filme onde cada personagem tem um papel importante na trama, existindo para servir o propósito do roteiro. E esse vai ser o foco desse debate, mostrar como Charlie Kaufman e Michel Gondry fizeram uma das obras mais originais da década passada.
Não é sempre que a direção anda de mãos dadas com o roteiro. Há diretores como David Fincher, que adoram mexer no texto original, mas ele pelo menos compensa no resultado final, com um trabalho impressionante. Mas surgem casos onde o texto é tão bom que o maior desafio do diretor é procurar a melhor maneira de executar as ideias do roteirista. Gondry viu nas páginas de Kaufman uma porta para experimentar com a câmera. Por ser uma narrativa que envolve personagens tendo suas memórias apagadas, uma das decisões mais inteligentes do longa foi a edição fragmentada e a continuidade inconsistente (propositalmente), que não atrapalha a montagem e consegue entregar a sensação de incerteza e a angústia do casal protagonista.
Conhecemos partes do ambiente através de transições criativas, fazendo com que cada episódio da vida do casal pareça mais presente, como se não os pudesse ser deixado para trás. Saímos da livraria onde Clementine trabalha e com um simples jogo de luz e o beneficio de ter os cenários conectados, paramos na casa de Rob e Carrie, os amigos de Joel, que estão ouvindo ele contar os exatos acontecimentos de quando esteve na livraria e não foi reconhecido por sua ex-namorada. Essa técnica é usada constantemente, seja no consultório da empresa responsável pelo procedimento ou indo de um acontecimento mais importante para outro completamente mundano, como os personagens comendo enquanto assistem televisão.
O conceito de memória fragmentada é representado também no texto e na narrativa visual do filme constantemente, seja no gelo rachado onde o casal deita para observar as constelações ou no próprio nome da clínica responsável pelas operações, chamada Lacuna. Um título apropriado levando em consideração o significado da palavra, que indica uma falha ou ausência de alguma coisa, exatamente o que acontece com o protagonista ao longo do filme.
A ciência de Brilho Eterno entra em território de ficção por conta de todo o maquinário e supervisão necessário para que o procedimento seja um sucesso, mas a pesquisa de Kaufman e Gondry é boa o suficiente para trazer alguns debates sobre memória. O filme lida com um tipo de amnésia induzida, e por mais que ainda não seja possível, há ligações com estudos neurológicos reais, como o de Eleanor Maguire, que trouxe melhores resultados para o debate, concluindo que pacientes sofrendo de amnésia não conseguem imaginar novas experiências, ao contrário de outros pacientes, que conseguem utilizar seus circuitos neurais para construir um retrato do futuro, como elaborar um piquenique na praia com os amigos e detalhar componentes como a temperatura e a textura da areia mesmo sem estar lá.
– Há risco de dano cerebral? – Bem, tecnicamente falando, esse tipo de procedimento já é um dano cerebral.
Nossa percepção de passado e futuro são mais complexas do que imaginamos, e é por isso que no filme, quando Joel começa a perceber como Clementine desaparece rápido, fica desesperado pedindo para continuar com alguma coisa dela. A nossa história não é contada apenas através dos bons momentos, são os erros que costumam nos ensinar. Podemos ver como as relações moldam nossos pontos de vista, e é por isso que temos os amigos de Joel, Carrie e Rob, para fazer o exemplo. Eles são um casal monótono e sem surpresas, e mesmo com pequenos desentendimentos, no fim esquecem tudo para se divertir com um simples avião de brinquedo.
Brilho Eterno se vale de uma equipe talentosa. A edição de Valdís Óskarsdóttir e a direção de arte de Ellen Kuras, com a decoração mais realista e mundana das casa cobertas por colchas remendadas e roupas batidas, são alguns dos motivos para este filme ter uma apresentação tão marcante. Isso sem esquecer o trabalho de Gondry por trás da câmera. O diretor fez questão de adotar uma abordagem mais clássica, limitando os efeitos especiais do VFX à elementos que realmente precisavam da técnica, como um carro que cai e invade o plano, ou a destruição da casa de praia no clímax do filme. Para o resto da obra, temos efeitos visuais práticos, que deixam a cena mais natural mesmo que envolva imagens surreais, como o banho que Joel toma na pia da cozinha ou toda a sequencia onde ele muda de tamanho enquanto se esconde embaixo de uma mesa. Para realizar a última cena, por exemplo, Gondry usou perspectiva forçada para fazer com que os objetos e atores tiverem proporções diferentes, montando o cenário estrategicamente para que cada canto tivesse seu próprio tamanho. Esse tipo de técnica é bastante comum e foi usada por outros diretores como Peter Jackson, durante as gravações de O Senhor dos Anéis, nas cenas envolvendo os hobbits.
Gondry teve a chance de experimentar, mas não sozinho. O roteiro de Kaufman permite que a direção do filme seja a mais criativa possível sem perder o essencial: o foco nos personagens. Brilho Eterno é a jornada de um casal debatendo suas diferenças e descobrindo suas próprias falhas enquanto avaliam a relação. Joel é contido e tímido, mas tem o péssimo hábito de julgar as pessoas e fazer comentários inconvenientes para magoar sua namorada. Já Clementine é um caso mais curioso. Sua personagem é impulsiva e poderia cair facilmente na categoria de Manic Pixie Dream Girl (basicamente essa é uma convenção narrativa onde a história coloca uma personagem feminina com personalidade “forte” como uma maneira do protagonista masculino fugir de sua realidade e ter todos seus problemas resolvidos, como acontece em Scott Pilgrim Contra o Mundo ou 500 Dias Com Ela, por exemplo), mas ela tem identidade e sofre as consequências por seus atos, o que faz dela um comentário ácido de Kaufman para um estereótipo antes mesmo dele existir. Não é a primeira vez que o roteirista usa seu trabalho para dar uma alfinetada na maneira que a industria vem conduzindo suas narrativas.
A maioria dos caras pensa que sou um conceito, ou que eu os completo, ou que eu os faço viver. Mas eu sou só uma garota ferrada que está procurando por sua própria paz de espírito. Não me faça ser responsável pela sua.
Além deles, seguimos as tramas pessoais da equipe responsável pelo procedimento, que está na casa de Joel finalizando o processo enquanto ele dorme. Patrick (Elijah Wood) e Stan (Mark Ruffallo) se preparam para mais uma noite de trabalho, com comida e cerveja, mas Patrick precisa sair para ver uma garota. Logo descobrimos que ele está saindo com Clementine, o que já é completamente inapropriado; Para piorar, ele está usando os objetos abandonados por Joel para tentar conquistá-la. Com a saída do amigo, Stan passa a noite com Mary (Kristen Dunst), a recepcionista por quem está apaixonado. Podemos ver como Kaufman desenvolve várias relações ao mesmo tempo para nos mostrar todos os pontos de vista possíveis, mas ainda mais para revelar como todos lidam com a inveja e a rejeição.
Assistindo as cenas deletadas, há muita informação que poderia ser deixada no resultado final, mas também vemos o caso contrário. Algumas partes realmente não funcionariam muito bem, como a presença de Naomi, uma ex-namorada de Joel. Nas gravações ela foi interpretada por Ellen Pompeo e tinha até uma subtrama própria, mas nunca chegou a fazer parte da obra no final. Ainda que fossem momentos que serviam para explorar mais do lado de Joel sem Clementine, podemos ver como Naomi apenas distrairia do foco do filme.
Essa foi uma boa decisão, mas o filme tem um outro trecho deletado que seria melhor deixada no corte final, envolvendo Mary e a revelação de que ela já usou o procedimento para apagar da memória um aborto. É uma cena difícil de assistir mas que faz falta quando vemos a sua reação mais raivosa no terceiro ato, ou ao escutar alguns diálogos, como o do Dr. Howard dizendo que ela “queria o procedimento”, ou na ocasião que começa a divagar com Stan sobre sua vida: “É lindo. Você olha para um bebê e ele é tão puro e livre e inocente. E os adultos são, tipo, essa bagunça de tristeza e fobias. E o Howard faz com que tudo isso vá embora”.
Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é um projeto que acerta todas as notas. Um enredo bem construído e inteligente ao lado de uma direção criativa e sem medo de experimentar, isso sem contar o excelente trabalho de toda a equipe envolvida no design de produção, montagem e até a música, que não mencionei ainda mas foi composta por Jon Brion. Aqui ele colabora para a atmosfera melancólica do longa, e se isso não for o suficiente, ainda temos o cantor Beck com sua bela e depressiva versão de Everybody´s Got to Learn Sometime, da banda The Korgis, concluindo o filme com uma sequencia de Joel e Clementine correndo na praia enquanto a câmera faz vários cortes que não nos deixam esquecer que talvez o casal já tenha passado pelo procedimento mais vezes que imaginamos. Pode ser uma resolução pouco otimista, mas é como a própria música diz: arriscamos e erramos, mas uma hora todos aprendem. Ou pelo menos tentam.
Como é imensa a felicidade da virgem sem culpa. Esquecendo o mundo e o mundo esquecendo-a. Brilho eterno de uma mente sem lembranças! Cada oração aceita e cada desejo realizado. (“De Eloisa Para Abelardo”; POPE, Alexander)
Fontes e Referências:
–Uma curiosidade: existe um site da clínica, com a sua história, funcionários e alguns clientes: Você pode visitar o Lacuna Inc.
No começo de Abril tivemos os indicados deste ano ao Hugo Awards, uma das principais premiações de ficção científica e fantasia. Os finalistas foram indicados pelos membros da World Science Fiction Society, responsável pela Worldcon, uma das convenções anuais mais aguardadas pelos fãs do gênero. E dando uma olhada nas categorias, podemos ver um aumento no número de mulheres e minorias, principalmente por conta de um mercado com mais opções e um espaço relativamente maior para artistas negligenciados há muito tempo. Vou listar aqui de acordo com o site Tor.com. e comentar naqueles que eu já li/assisti.
Melhor Romance
The Calculating Stars, by Mary Robinette Kowal (Tor)
Record of a Spaceborn Few, by Becky Chambers (Hodder & Stoughton / Harper Voyager)
Revenant Gun, by Yoon Ha Lee (Solaris)
Space Opera, by Catherynne M. Valente (Saga)
Spinning Silver, by Naomi Novik (Del Rey / Macmillan)
Trail of Lightning, by Rebecca Roanhorse (Saga)
Comentários: Eu estou bem atrasado nas minhas leituras esse ano, mas ouvi apenas coisas boas de Trail of Lightning e The Calculating Stars, provavelmente os que tem a maior chance de ganhar por conta de todos os prêmios no qual foram indicados recentemente.
Melhor Novela
Artificial Condition, by Martha Wells (Tor.com Publishing)
Beneath the Sugar Sky, by Seanan McGuire (Tor.com Publishing)
Binti: The Night Masquerade, by Nnedi Okorafor (Tor.com Publishing)
The Black God’s Drums, by P. Djèlí Clark (Tor.com Publishing)
Gods, Monsters, and the Lucky Peach, by Kelly Robson (Tor.com Publishing)
The Tea Master and the Detective, by Aliette de Bodard (Subterranean Press / JABberwocky Literary Agency)
Comentários: Finalmente peguei a série Binti no meu Kindle e posso me atualizar, então você provavelmente vai ler sobre ela por aqui no futuro. Gods, Monsters, and the Lucky Peach está sendo bastante aclamado e tem enorme chance de levar.
Melhor Noveleta
“If at First You Don’t Succeed, Try, Try Again,” by Zen Cho (B&N Sci-Fi and Fantasy Blog, 29 November 2018)
“The Last Banquet of Temporal Confections,” by Tina Connolly (Tor.com, 11 July 2018)
“Nine Last Days on Planet Earth,” by Daryl Gregory (Tor.com, 19 September 2018)
“The Only Harmless Great Thing”, by Brooke Bolander (Tor.com Publishing)
“The Thing About Ghost Stories,” by Naomi Kritzer (Uncanny Magazine 25, November- December 2018)
“When We Were Starless,” by Simone Heller (Clarkesworld 145, October 2018)
Comentários: The Last Banquet of Temporal Confections é uma noveleta bem intrigante, com uma narrativa envolvente. Esse foi o único da lista que li, mas os próximos já estão aqui separados para poder avaliar antes da premiação. O mais legal dessa categoria é que alguns indicados são bem fáceis de achar para ler gratuitamente.
Melhor Conto
“The Court Magician,” by Sarah Pinsker (Lightspeed, January 2018)
“The Rose MacGregor Drinking and Admiration Society,” by T. Kingfisher (Uncanny Magazine 25, November-December 2018)
“The Secret Lives of the Nine Negro Teeth of George Washington,” by P. Djèlí Clark (Fireside Magazine, February 2018)
“STET,” by Sarah Gailey (Fireside Magazine, October 2018)
“The Tale of the Three Beautiful Raptor Sisters, and the Prince Who Was Made of Meat,” by Brooke Bolander (Uncanny Magazine 23, July-August 2018)
“A Witch’s Guide to Escape: A Practical Compendium of Portal Fantasies,” by Alix E. Harrow (Apex Magazine, February 2018)
Melhor Série
The Centenal Cycle, by Malka Older (Tor.com Publishing)
The Laundry Files, by Charles Stross (most recently Tor.com Publishing/Orbit)
Machineries of Empire, by Yoon Ha Lee (Solaris)
The October DayeSeries, by Seanan McGuire (most recently DAW)
The Universe of Xuya, by Aliette de Bodard (most recently Subterranean Press)
Wayfarers, by Becky Chambers (Hodder & Stoughton / Harper Voyager)
Melhor Artigo / Ensaio
Archive of Our Own, a project of the Organization for Transformative Works
Astounding: John W. Campbell, Isaac Asimov, Robert A. Heinlein, L. Ron Hubbard, and the Golden Age of Science Fiction, by Alec Nevala-Lee (Dey Street Books)
The Hobbit Duology(documentary in three parts), written and edited by Lindsay Ellis and Angelina Meehan (YouTube)
An Informal History of the Hugos: A Personal Look Back at the Hugo Awards, 1953- 2000, by Jo Walton (Tor)
www.mexicanxinitiative.com:The Mexicanx Initiative Experience at Worldcon 76(Julia Rios, Libia Brenda, Pablo Defendini, John Picacio)
Ursula K. Le Guin: Conversations on Writing, by Ursula K. Le Guin with David Naimon (Tin House Books)
Comentários: Esse é complicado. Por mais que eu tenha adorado o vídeo-ensaio de Lindsay Ellis sobre a produção da trilogia Hobbit, existe aí a presença de um artigo sobre o próprio Hugo, o que rende aquela chance por ter ligação com o evento; e de outro lado, também temos um documento de Ursula K. Le Guin, que faleceu no último ano. Então, não dá pra saber quem vence.
Melhor Narrativa Gráfica
Abbott, written by Saladin Ahmed, art by Sami Kivelä, colours by Jason Wordie, letters by Jim Campbell (BOOM! Studios)
Black Panther: Long Live the King, written by Nnedi Okorafor and Aaron Covington, art by André Lima Araújo, Mario Del Pennino and Tana Ford (Marvel)
Monstress, Volume 3: Haven, written by Marjorie Liu, art by Sana Takeda (Image Comics)
On a Sunbeam, by Tillie Walden (First Second)
Paper Girls, Volume 4, written by Brian K. Vaughan, art by Cliff Chiang, colours by Matt Wilson, letters by Jared K. Fletcher (Image Comics)
Saga, Volume 9, written by Brian K. Vaughan, art by Fiona Staples (Image Comics)
Comentários: Eu AMO Saga, mas admito estar um pouco atrasado na leitura. Paper Girls e Monstress são duas ótimas obras criativas que merecem seu espaço aqui, mas se tivesse que escolher entre um dos dois, seria facilmente a belíssima Monstress. Por mais que Black Panther: Long Live the Kingseja escrito por Nnedi Okorafor, o que é um destaque, não acho que tenha impressionado tanto quando os outros mencionados.
Melhor Dramatização, Longa (Melhor Filme)
Aniquilação, directed and written for the screen by Alex Garland, based on the novel by Jeff VanderMeer (Paramount Pictures / Skydance)
Vingadores: Guerra Infinita, screenplay by Christopher Markus and Stephen McFeely, directed by Anthony Russo and Joe Russo (Marvel Studios)
Pantera Negra, written by Ryan Coogler and Joe Robert Cole, directed by Ryan Coogler (Marvel Studios)
Um Lugar Silencioso, screenplay by Scott Beck, John Krasinski and Bryan Woods, directed by John Krasinski (Platinum Dunes / Sunday Night)
Sorry to Bother You, written and directed by Boots Riley (Annapurna Pictures)
Homem-Aranha no Aranhaverso, screenplay by Phil Lord and Rodney Rothman, directed by Bob Persichetti, Peter Ramsey and Rodney Rothman (Sony)
Comentários: Algumas ótimas escolhas. Pantera Negra foi um sucesso e merece destaque pelo que conseguiu fazer com uma narrativa menor dentro de um universo compartilhado tão grande; Um Lugar Silencioso com certeza impressionou muita gente por termos John Krasinski se provando um bom diretor e promessa por trás das câmeras; Aniquilação é a adaptação de Alex Garland de um livro bastante adorado, e além disso o filme teve a tarefa de ser o sucessor do pequeno, mas bem construído, Ex-Machina. Todos são bons, mas não se nega o brilhantismo de Sorry to Bother You e Homem-Aranha no Aranhaverso. Os mais impressionantes da lista por conta da enorme criatividade na narrativa visual e uma abordagem completamente diferente do que estamos acostumados. Se qualquer um dos dois levar, posso morrer feliz.
Melhor Dramatização, Curta (Melhor Episódio de Série)
The Expanse: “Abaddon’s Gate,” written by Daniel Abraham, Ty Franck and Naren Shankar, directed by Simon Cellan Jones (Penguin in a Parka / Alcon Entertainment)
Doctor Who: “Demons of the Punjab,” written by Vinay Patel, directed by Jamie Childs (BBC)
Dirty Computer, written by Janelle Monáe, directed by Andrew Donoho and Chuck Lightning (Wondaland Arts Society / Bad Boy Records / Atlantic Records)
The Good Place: “Janet(s),” written by Josh Siegal & Dylan Morgan, directed by Morgan Sackett (NBC)
The Good Place: “Jeremy Bearimy,” written by Megan Amram, directed by Trent O’Donnell (NBC)
Doctor Who: “Rosa,” written by Malorie Blackman and Chris Chibnall, directed by Mark Tonderai (BBC)
Comentários:The Good Place tem o costume de aparecer nas premiações com mais de uma indicação, e dessa vez não foi diferente. O problema é que esta provavelmente foi a temporada mais morna para o público, diminuindo as chances de levarem esse ano. Dirty Computer é o único da lista que não é um episódio de série, mas entra no formato de dramatização, por ser um grande álbum conceito da cantora Janelle Manáe, ambientado em uma sociedade futurista. Ele está disponível do Prime Video e pode ser assistido, por enquanto. Eu assisti e achei interessante, mas nada que seja melhor que os outros indicados. The Expanse é uma maravilha de série e eu vivo falando bem dela para todos, então nem preciso dizer qual o meu favorito da lista, mas não podemos negar que a última temporada de Doctor Who teve alguns episódios marcantes para o público, e eles estão indicados aqui, com uma enorme chance de levar, principalmente levando em conta todas as polêmicas envolvendo boicote por termos uma protagonista feminina pela primeira vez na série. Quando esse povo vai aprender?
Melhor Fanzine
Galactic Journey, founder Gideon Marcus, editor Janice Marcus
Journey Planet, edited by Team Journey Planet
Lady Business, editors Ira, Jodie, KJ, Renay & Susan
nerds of a feather, flock together, editors Joe Sherry, Vance Kotrla and The G
Quick Sip Reviews, editor Charles Payseur
Rocket Stack Rank, editors Greg Hullender and Eric Wong
Melhor Livro de Arte (Conceito Visual, Design…)
The Books of Earthsea: The Complete Illustrated Edition, illustrated by Charles Vess, written by Ursula K. Le Guin (Saga Press /Gollancz)
Daydreamer’s Journey: The Art of Julie Dillon, by Julie Dillon (self-published)
Dungeons & Dragons Art & Arcana: A Visual History, by Michael Witwer, Kyle Newman, Jon Peterson, Sam Witwer (Ten Speed Press)
Spectrum 25: The Best in Contemporary Fantastic Art, ed. John Fleskes (Flesk Publications)
Spider-Man: Into the Spider-Verse — The Art of the Movie, by Ramin Zahed (Titan Books)
Tolkien: Maker of Middle-earth, ed. Catherine McIlwaine (Bodleian Library)
Comentários: Eu já dei uma olhada em alguns desses, mas apenas online. Por mais que The Books of Earthsea, sobre Terramar, seja bem bonito, e Tolkien: Maker of Middle Earth fale com meu lado fã do autor, não tem como eu querer um desse em mãos mais do que o de Aranhaverso. Até hoje fico louco com os visuais e impressionando com cada detalhe, então o livro com toda a parte de conceito visual do filme é minha escolha óbvia.
Prêmio John W. Campbell Award para Melhor Escritor
Katherine Arden (segundo ano elegível)
S.A. Chakraborty (segundo ano elegível)
R.F. Kuang (primeiro ano elegível)
Jeannette Ng (segundo ano elegível)
Vina Jie-Min Prasad (segundo ano elegível)
Rivers Solomon (segundo ano elegível)
Lodestar Award para Melhor Livro YA (Young-Adult)
The Belles, by Dhonielle Clayton (Freeform / Gollancz)
Children of Blood and Bone, by Tomi Adeyemi (Henry Holt / Macmillan Children’s Books)
The Cruel Prince, by Holly Black (Little, Brown / Hot Key Books)
Dread Nation, by Justina Ireland (Balzer + Bray)
The Invasion, by Peadar O’Guilin (David Fickling Books / Scholastic)
Tess of the Road, by Rachel Hartman (Random House / Penguin Teen)
Comentários: Children of Blood and Bone foi lançado no Brasil como “Filhos de Sangue e Osso”, e é um dos livros mais populares da lista. Eu não cheguei a ler qualquer um dos indicados nesta categoria, mas alguns parecem bem interessantes, como The Invasion e Tess of the Road.
Este ano o Hugo Awards tem uma lista de indicados bastante diverso. É interessante ver a quantidade de mulheres nas principais categorias, o que mostra como a premiação segue um caminho mais aberto para representações e pontos de vista diferentes.
Assim que os vencedores sairem, voltamos com a lista. Enquanto isso, hora de atualizar as leituras.