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Cópias – De Volta à Vida | Desperdiçando Oportunidades e Tempo

Ainda é um mistério para mim como este filme foi parar nos cinemas, ainda mais nos cinemas brasileiros. Deixe-me explicar: Com a demanda cada vez maior por produções que tenham um enorme chamariz para atrair o público, se o seu filme quiser ter uma boa distribuição, ele precisa de algo que chame a atenção. Por mais que Cópias — De Volta à Vida (ou a mais conveniente versão original, Replicas) tenha um ator conhecido como Keanu Reeves no papel principal, isso não é o suficiente, porque além de ser uma produção menor, ela é uma ficção científica, o que infelizmente não é o gênero favorito do grande público.

Geralmente, um filme desses é escondido em alguma plataforma de streaming ou lançado direto em formato digital ou físico sem grande alarde para não chamar atenção. Por isso eu fico impressionado como um filme tão ruim continuou sendo lançado pelo estúdio em mais de 2.000 cinemas, e isso só nos Estados Unidos. Bem, esse é um debate complicado que podemos ter depois, mas agora vamos focar no filme. Cópias é mais uma grande mistura de elementos sci-fi jogados sem razão alguma no meio de uma trama genérica sobre intriga corporativa. A premissa abre a possibilidade para incontáveis narrativas, mas o filme decide seguir o caminho mais previsível.

O cientista Will Foster (Keanu Reeves) estuda a possibilidade de transferência de consciência orgânica para um corpo sintético. Os testes ainda não renderam resultados satisfatórios, mas ele não desiste. Depois de um acidente de carro, Foster perde sua mulher e filhos, mas consegue usar seu conhecimento para trazê-los de volta. Esse experimento secreto atrai a atenção de pessoas que podem colocar sua vida e a de sua família em risco.

O problema do filme não é ter todos os elementos mais batidos do mundo para a construção da trama (acidente de carro, corporação do mal…), mas sim não saber usá-los. Eu não vejo problema algum em ter um roteiro simples e direto ao ponto, mas se você não for consistente com cada uma das coisas que apresenta, o resultado é um produto vazio e tedioso. Cópias erra em quase todos os aspectos, o primeiro deles sendo a direção de Jeffrey Nachmanoff, que não só depende demais de movimentos de câmera desnecessários, como o excesso do ângulo holandês (dutch angle para o pessoal internacional), presente em cenas onde não só destroem a tensão que o longa tenta construir, mas distraem pela maneira nada natural com a qual Nachmanoff aborda as cenas, deixando o filme consistente apenas na fotografia e as composições que focam mais em tomadas fechadas e muitos cortes, talvez por conta de sua experiência trabalhando mais em séries.

E por falar em cortes, não posso deixar de mencionar o problema de montagem desse filme, que mata a família de Foster nos primeiros minutos, dedica um bom tempo no laboratório e depois tem um desenvolvimento apressado que termina em uma grande perseguição de filme de ação (onde poderiam aproveitar para criar um paralelo visual interessante com a cena do acidente no primeiro ato, mas nem isso souberam fazer). O nosso pouco tempo convivendo com a família antes do experimento faz com que ela não seja importante, entregando que todos os membros foram claramente sacrificados para o Deus da narrativa preguiçosa. É curioso ver como Stephen Hamel, um dos roteiristas (ao lado de Chad St. John), também é um dos produtores do drama Passageiros, de 2016, que teve uma narrativa “fraca” que poderia ter sido consertada facilmente com uma simples mudança na montagem. O canal Nerdwriter já fez um vídeo inteiro sobre esse caso, então indico para quem quiser saber mais.

John Ortiz

Tirando Keanu Reeves, que não está se esforçando nem um pouco, o elenco conta com nomes que o público pode não conhecer mas tiveram seus rostos em produções maiores. Alice Eve já esteve na ponte da Enterprise interpretando uma versão mais nova de Carol Marcus em Star Trek: Além da Escuridão. Aqui ela faz a esposa de Foster; sem personalidade alguma, ela é só a esposa de alguém. O mesmo acontece com John Ortiz, que está presente em várias produções grandes com um papel pequeno. Aqui ele tem um personagem mais importante, mas infelizmente caricato e mal escrito. A única exceção é Thomas Middleditch, mais conhecido por protagonizar a série Silicon Valley, que parece estar mais confortável como o Ed, o amigo e parceiro de laboratório de Foster. Convenhamos que ele é constantemente escalado para o papel de “nerd inteligente e ansioso”, mas de todos os estereótipos que esse filme traz, pelo menos Middleditch faz questão de executar bem o seu.

Como se já não bastasse a direção preguiçosa, o roteiro inconsistente e cheio de diálogos ruins, e o elenco sem vontade, Cópias não se garante nem mesmo nos efeitos especiais, que parecem ter saído de uma produção barata do começo do século, caindo até um pouco no vale da estranheza com um robô sem textura ou atenção ao detalhe o suficiente para me dar pesadelos. Esse é mais um filme genérico e previsível que poderia ter sido lançado direto em algum streaming e ainda assim, não recomendaria.

Ficha Técnica
Título Original: Replicas
Direção de Jeffrey Nachmanoff
Roteiro de Stephen Hamel e Chad St. John
Atuações de Keanu Reeves, Alice Eve, Thomas Middleditch e John Ortiz

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