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Black Mirror (S05E01)| Striking Vipers

Para sua quinta temporada, Black Mirror finalmente retorna ao formato original de três episódios, o que indica roteiros escritos com mais calma e atenção aos detalhes, principalmente considerando que todos são responsabilidade de Charlie Brooker, o criador da série.

Danny e Karl não se vêem há anos, mas isso muda depois de um reencontro no aniversário de Danny, que não parece completamente satisfeito com sua vida, já casado e entediado com as pessoas em volta. Karl tem o presente perfeito, uma nova edição de Striking Vipers, o jogo favorito deles na juventude, agora com uma tecnologia inovadora de realidade virtual. O que começa como uma forma de diversão logo se transforma em um drama sobre descobertas e a complexidade de nossas relações, seja com os outros ou nós mesmos.

Anthony Mackie e Yahya Abdul-Mateen II interpretam Danny e Karl, respectivamente. Foi bom termos dois atores competentes como eles para o episódio, que se dedicou em desenvolver o drama de cada personagem com cautela por conta dos temas que aborda. É um pouco difícil falar sobre essa temporada sem revelar informações importantes da trama, então indico que assista os episódios antes de ler.

Striking Vipers é dirigido por Owen Harris, o mesmo responsável por San Junipero, da terceira temporada, que também contava com um debate parecido e foi executado muito bem. Harris repete um pouco da sua estrutura narrativa (o que deve ser considerado mais um aspecto do roteiro de Brooker, mas ainda assim funciona), o que felizmente foi uma decisão inteligente. O episódio passa seu primeiro ato desenvolvendo os laços entre os personagens, explorando e construindo as dinâmicas antes da parte “tecnológica” fazer parte da história. Isso é necessário, estamos falando de uma narrativa onde um olhar cínico poderia estragar completamente a experiência.

Nicole Beharie é Theo, a esposa de Danny

Além da dupla principal, Nicole Beharie é Theo, a esposa de Danny. Mesmo sendo coadjuvante, tem sua própria relevância narrativa, lidando com as mudanças que podem afetar seu casamento. E como passamos algumas sequências dentro do mundo virtual do jogo, temos Pom Klementieff (Mantis, de Guardiões da Galáxia) como o avatar de Karl, Roxette; Ludi Lin faz Lance, o avatar de Danny. O jogo parece uma mistura de Street Fighters com Tekken, e os dois lutadores virtuais tem várias semelhanças com alguns personagens famosos como Chun Li ou Ken e Ryu, até mesmo em alguns golpes característicos, como os chutes consecutivos de um ou o “gancho voador” de outro.

Ainda que seja um episódio com ótimas referências visuais (placas neon com Game Over ou as composições que lembram os lugares remotos onde os lutadores se encontram nestes jogos), Striking Vipers se destaca pelos personagens e um ângulo pouco explorado em narrativas envolvendo relacionamentos como o de Danny, Karl e Theo.

Filmes como Moonlight ou Carol carregam uma identidade própria, uma direção mais delicada, onde a conversa sobre a descoberta sexual dos personagens revela muito sobre quem são. Black Mirror tem feito isso com cuidado, San Junipero foi uma das adições mais envolventes do catálogo da série, e agora Striking Vipers chega com sua abordagem mais parecida com o que foi feito em Moonlight, envolvendo homens negros e a representatividade da comunidade LGBTQ+. Pode não ser tão sutil na forma como a trama se desenrola, mas ainda assim abre uma conversa sobre um tema cada vez mais relevante.

Ficha Técnica:
Black Mirror, S05
Criada por Charlie Brooker
Direção de Owen Harris
Roteiro de Charlie Brooker

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