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O Mundo Resplandecente | O poder do conhecimento

Estudar os primórdios da ficção científica é uma das tarefas mais árduas de qualquer pesquisador. Muitas coisas acabaram se perdendo no caminho, enquanto outras são simplesmente negligenciadas pela história, e esse é o caso de O Mundo Resplandecente (originalmente intitulado The New World, Called The Blazing World), escrito por Margaret Cavendish originalmente em 1666, que ficou por séculos na escuridão e voltou a causar interesse apenas em 1925 por conta de uma menção no livro Um Teto Todo Seu, de Virginia Woolf.

Amante da filosofia e duquesa de Newcastle-upon-Tyne, a autora explora temas pertinentes ao seu tempo nesta obra, dando atenção maior ao debate filosófico através de sua protagonista, uma mulher que desvenda um novo mundo acessado pelo Polo Norte. Ela tenta se adaptar ao novo ambiente e compreender seus habitantes, o que consegue e logo torna-se imperatriz daquele povo. É neste lugar que adquire conhecimento inestimável sobre natureza e ciência.

Uma figura interessante do século XVII, Margaret Cavendish é uma das escritoras mais prolíficas de seu tempo, principalmente quando consideramos os obstáculos de outras escritoras femininas, tendo seus textos desprezados no círculo literário. Muitas passaram a vida assinando suas obras com pseudônimos masculinos para conseguir ter suas páginas lidas, mas Cavendish fazia questão de assinar suas publicações com o próprio nome.

Enquanto o fim último da racionalidade é a verdade, o da imaginação é a fantasia.

Margaret Cavendish, Duquesa de Newcastle - PETER LELY, 1665
Margaret Cavendish, Duquesa de Newcastle – PETER LELY, 1665

Mundo Resplandecente tornou-se objeto de estudo também por conta de sua característica utópica, o que faz com que o livro possa ser considerado a primeira ficção científica escrita por uma mulher, antes mesmo de Frankenstein, de Mary Shelley em 1818, mesmo que a segunda carregue mais elementos referenciais para o gênero — ainda que tenhamos estas informações, é impossível saber exatamente onde ele começou de verdade, mas são bons indicativos do que pode ter contribuído para a FC que temos hoje.

Felizmente, a editora Plutão (voltada para lançamentos virtuais de clássicos da FC) pôde apresentar para o público o trabalho de Cavendish, traduzido pela doutoranda em teoria e crítica literária, Milene Cristina da Silva Baldo, em sua dissertação de mestrado para a Unicamp em 2014. Essa versão vem com três prefácios, um de Milene e os seguintes da própria duquesa para edições diferentes, cada um essencial para contextualizar melhor o leitor que está prestes a encarar conceitos e pensamentos pelos quais Cavendish tem fortes opiniões.

“Em O Mundo Resplandecente, conhecimento é poder” (Milene Baldo)

Pela época em que foi publicada originalmente, é previsto que a escrita seja um pouco mais arcaica do que o público atual esteja acostumado, mas uma das particulares desta utopia é a facilidade de imersão na experiência da protagonista, constantemente fazendo perguntas sobre filosofia, religião e até matemática — assuntos de alto interesse da autora — em diálogos que tomam uma grande parte do texto e revelam a paixão de Cavendish pelo debate e a descoberta.

Mundo Resplandecente é um importantíssimo documento para qualquer estudioso ou apenas leitor de ficção científica interessado em conhecer mais sobre os primórdios de um gênero onde tudo é possível. Margaret Cavendish traz uma abordagem audaciosa, confirmando a importância da mulher na sociedade em uma época em que outras escritoras não tiveram a oportunidade de se entregar para a literatura por completo.

Capa O Mundo Resplandecente

A Descrição de um novo mundo chamado Mundo Resplandecente, 1666;
Editora Plutão, 2019;
Tradução de Milene Cristina da Silva Baldo;
Arte de Paula Cruz;
180 Páginas.

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