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O poder da fala em “Star Trek: A Nova Geração”

Se tem uma série que contribuiu para transformar a ficção científica em um dos gêneros mais intrigantes na televisão é Jornada nas Estrelas. Revolucionária em vários aspectos (alguns deles já mencionei no meu texto sobre Uhura e seu impacto cultural), essa é uma franquia que trouxe algumas das melhores narrativas que já passaram pela TV ou cinema — dependendo de qual filme você estiver assistindo, é claro.

Todo fã de Jornada tem um spin-off favorito, olha que não falta opção, e por mais que eu adore a equipe da versão clássica ou a abordagem mais séria de Deep Space Nine, encontro o equilíbrio perfeito em A Nova Geração. Ótimos personagens e um enredo excepcional renderam alguns episódios memoráveis e uma aula de como uma boa história sci-fi deve ser escrita. Um desses episódios é Darmok, o segundo episódio da quinta temporada, escrito por Philip LaZebnik e Joe Menosky e dirigido por Winrich Kolbe.

Uma das características mais curiosas da série é a exigência de Gene Roddenberry, criador do universo Trek, em evitar conflitos na trama, mantendo consistente a proposta utópica da franquia de um futuro onde não há fome ou a necessidade por posse. Isso faz com que a vida dos roteiristas seja um inferno, afinal como escrever qualquer história sem conflito? É uma das noções básicas de qualquer estrutura narrativa, mas não é como se fosse tão extremo assim, ainda temos conflitos básicos em Jornada nas Estrelas, seja internos ou externos, envolvendo geralmente as relações entre o homem e a natureza, ou ele mesmo. O próprio dilema envolvendo a primeira diretriz, o princípio de que nenhum membro da federação deve interferir no desenvolvimento de outras civilizações, já é um conflito em si, por vezes fazendo com que os personagens entrem em um impasse que pode afetar a dinâmica geral.

Com um foco maior em executar a trama de maneiras mais inteligentes, onde um diálogo tem mais poder que qualquer raio laser disparado por um phaser, não faltam episódios onde a tripulação da Enterprise simplesmente não possui um antagonista principal direto — até mesmo os Borg, mesmo que antagonistas, servem mais como inimigos involuntariamente, já que seu papel é assimilar e aprender, evoluir e sobreviver. Talvez o maior adversário da franquia, ou o mais popular, seja Khan, mas não falaremos dele aqui.

Picard sendo assimilado no especial "The Best of Both Worlds"
Picard sendo assimilado no especial “The Best of Both Worlds”

Considerando a maneira como Jornada desenvolve sua trama, um episódio sempre me vem em mente, e é Darmok, da quinta temporada de Nova Geração. Essa é uma história que mostra a importância da comunicação, tornando-a uma das ferramentas essenciais para a vida. No episódio, a Enterprise se aproxima do território de uma raça conhecida como Filhos de Tamar, aparentemente pacífica, que está tentando entrar em contato com a frota. Mas quando Picard tenta sua abordagem diplomática rotineira, é transportado pelos tamarianos para um planeta próximo, El-Adrel IV, acompanhado de Dathon, o capitão da nave dos Filhos de Tamar. Tudo parece uma grande armadilha para que Picard e Dathon combatam até a morte, mas aos poucos descobrimos as verdadeiras intenções da raça e a importância em escolher Picard para o “combate”.

Picard é um estudioso, apaixonado por arqueologia e história, ele é a pessoa perfeita para a missão dos tamarianos, que arriscaram tudo confiando no capitão da Enterprise. Quando ele começa a falar com Dathon, escuta coisas como “Darmok e Jalad em Tanagra” ou “Shaka, quando as muralhas caíram”, o que não faz sentido algum para nós, mas Picard percebe a peculiaridade no discurso da raça, que se comunica por metáforas inspiradas em sua própria mitologia. Dathon usa nomes como Darmok, Jalad ou Shaka, mas essas são figuras de uma cultura única, o que impossibilita uma tradução universal. Assim, os dois passam a maior parte do tempo tentando conversar e se unir contra uma criatura misteriosa na superfície daquele planeta.

Enquanto as duas tripulações se preocupam com seus capitães, compreendemos a ideia dos tamarianos, colocando os dois líderes em uma situação de perigo para que desenvolvam uma ligação e tornem-se companheiros. É na batalha que os laços são forjados com mais força, como aconteceu quando os guerreiros Darmok e Jalad “trabalharam juntos” para sobreviver em Tanagra (daí o Darmok e Jalad em Tanagra), mas desta vez temos Picard e Dathon em El-Adrel.

Dathon ensina Picard
Dathon ensina Picard

Essa é uma maneira diferente de primeiro contato, sem contar arriscada, e por isso temos um dos melhores episódios da franquia, com um roteiro tenso e bem executado, sem contar a perfeita atuação de Patrick Stewart em pequenos momentos maravilhosos, consolando seu novo amigo e contando algumas de nossas próprias histórias, incluindo o épico de Gilgamesh, que carrega vários paralelos com a relação dos dois capitães.

Darmok é o tipo de episódio que melhor representa Jornada nas Estrelas, uma série sobre respeito e compreensão, onde outra cultura é aceita de braços abertos. Os tamarianos se sacrificaram por algo que consideravam o mais importante: compartilhar suas histórias e contribuir para a construção de uma nova.

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Cinema

Ataque ao Prédio | Defendendo o bairro de alienígenas

Alguns filmes simplesmente passam despercebidos por algumas pessoas, e esse é o caso de Ataque ao Prédio, que não recebeu a atenção merecida quando foi lançado mas agora deve estar na lista de indicações de qualquer um. É uma produção pequena, com pouco orçamento (algumas páginas tiveram que ser retiradas do roteiro por conta disso), mas com uma proposta que funciona muito bem.

Sam (Jodie Whittaker) vive em um dos bairros mais violentos de Londres, tanto que uma noite é assaltada por uma gangue local, mas essa vira a menor de suas preocupações quando uma criatura cai dos céus e faz com que ela se una aos criminosos para evitar uma invasão alienígena. A gangue é formada por jovens que não parecem saber muito bem o que estão fazendo, mas ainda assim tentam salvar a cidade, independente da quantidade de traficantes e policiais atrás deles.

Dirigido por Joe Cornish, o longa tem uma premissa simples mas o enredo não se limita a ação e comédia, tendo ótimos diálogos com comentários ácidos sobre a negligência e a brutalidade policial e até uma alfinetada na maneira como as produções norte-americanas assumem o “protagonismo” de seu país durante invasões alienígenas. Você pode notar a maneira como o filme abraça o dialeto urbano de Londres, cheio de gírias e piadas envolvendo a tentativa de todos os jovens em assumir uma identidade intimidadora naquele ambiente.

Ataque ao Prédio

Parte do que faz a comédia funcionar tão bem é o elenco. Jodie Whittaker costuma ser creditada como a protagonista, mas ela divide esse título com um John Boyega pré-Star Wars, interpretando Moses, o líder da gangue do bairro. Moses tem uma jornada significativa, descobrindo seu papel no mundo e a importância de assumir responsabilidades, tentando deixar de lado sua antiga imagem para provar ser mais que apenas um criminoso. Seus amigos Pest (Alex Esmail), Jerome (Leeon Jones), Dennis (Franz Drameh) e Biggz (Simon Howard) servem mais como alívio cômico – Pest sendo outro personagem com alguma mudança pessoal mais relevante. Além deles, Luke Treadaway e Nick Frost tem uma participação pequena, mas são ótimos de ver.

Outro mérito do filme é a criatividade da equipe na criação do design das criaturas alienígenas, utilizando efeitos práticos e uma boa noção de luz e sombra para mostrar apenas o necessário, deixando pouquíssimos exemplos de efeitos computadorizados, como nas sequências onde várias criaturas eram visíveis (considerando o fato que não haviam trajes o suficiente nos bastidores para interpretá-las).

Ataque ao Prédio

Ataque ao Prédio tem um ritmo rápido e dinâmico e é inteligente na hora de empregar a música, um excelente trabalho da equipe de montagem, o que fez com que as situações cômicas e as cenas de ação sejam impactantes, mesmo com as restrições orçamentárias. É uma experiência divertida e rápida (o filme tem apenas uma hora e meia) que provavelmente agrada até aqueles fascinados por um pouco de gore, porque não falta sangue alienígena jorrando na câmera. Indicação sólida que espero agradar vocês.

Ficha Técnica
Título Original: Attack The Block (2011)
Direção de Joe Cornish
88 Minutos

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Cinema

Viagem à Lua | A Chegada da Ficção Científica no Cinema

Traçar a origem da ficção científica é uma tarefa complexa em vários meios, mas quando falamos sobre cinema, é comum considerar Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, no original), de 1902, dirigido por Georges Méliès, o precursor do gênero na sétima arte. Ainda que tenhamos alguns filmes (na época apenas curta metragens) onde elementos fantasiosos sejam encontrados da narrativa, nenhum foi tão dedicado a uma jornada épica assumindo tantos princípios da ficção científica como a obra de Méliès.

O que pode parecer apenas um filme de treze minutos com uma premissa simples envolvendo um grupo de exploradores em missão à lua que se depara com os habitantes de nosso satélite natural, é na verdade um dos maiores feitos da história do cinema. Para entender melhor o filme e sua importância, devemos abordar Georges Méliès, a figura responsável por transformar imagens em movimento em uma expressão artística única.

Considerado por muitos (inclua cineastas do calibre de Martin Scorsese nesta afirmação) como um mágico do cinema, Méliès foi essencial para o avanço do cinema como arte, contribuindo com soluções inteligentes para realizar efeitos visuais em uma época onde a edição de películas era um conceito inovador. O uso de sobreposição e a experimentação com técnicas de stop-motion também tornaram-se populares por sua conta, além de ser creditado como um dos primeiros, se não o primeiro, a utilizar storyboards em suas produções. Vale mencionar que o diretor chegou a se dedicar ao árduo trabalho de colorir cada fotograma à mão para que o público pudesse ter uma experiência de como o filme seria com um visual mais vibrante. 

Francês, nascido em 1961, Méliès sempre mostrou interesse pelo teatro e trabalhou por um tempo desenvolvendo espetáculos ilusionistas, mas foi apenas quando atendeu uma das apresentações cinematográficas dos Irmãos Lumière que ficou fascinado, se deparando com a invenção do cinematógrafo. Os Lumière recusaram vender o aparelho para Méliès, que via o potencial da descoberta para entreter o público, mas os irmãos consideravam sua novidade uma contribuição puramente científica, não artística.

Fotograma de Viagem à Lua
Fotograma de Viagem à Lua (1902)

É curioso como a dupla é geralmente creditada como a responsável por inventar o cinema, mas nem sempre o ilusionista francês recebe a atenção merecida. Felizmente, Méliès comprou um dos dispositivos do eletricista Robert William Paul (outra figura pertinente para a história do cinema) e começou a exibir seus filmes no teatro Robert Houdin, mas não demorou para arriscar e utilizar a tecnologia de maneira revolucionária, tirando a câmera do lugar e escolhendo ângulos que favoreciam a narrativa. A criação dos Lumière evoluiu graças aos filmes de Méliès, e nenhum foi tão impressionante até o momento como Viagem à Lua.

Como mencionada anteriormente, a trama do filme é bem simples, mas o impressionante aqui não é o enredo em si, mas a narrativa visual do diretor. Se em 1968 o público ficou admirado com 2001 — Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e a maneira como tivemos uma elipse de milênios que serve como transição para a sequência inicial dos nossos ancestrais em contato com o monolito, imagine como foi a reação das pessoas ao ver um enorme projétil sendo lançado de um canhão e atingindo o olho da lua logo em seguida. Essa imagem não é icônica apenas por seu apelo visual, mas pelo magnífico esforço de Méliès em executar sua obra usando técnicas completamente inovadoras para a época.

Não há registros da recepção exata do público na época, mas o filme foi tão bem aceito que logo foi encomendado por vários lugares interessados em exibir a obra. Vários negativos da película foram roubados e copiados, e até Thomas Edison se envolveu nisso, removendo o nome do diretor nos créditos. 

Ao longo dos anos, várias imitações de Viagem à Lua foram surgindo, como o caso mais gritante de todos, Excursion dans la Lune(1908), de Segundo de Chomón, um plágio descarado da obra de Méliès, carregando tomadas idênticas e recriando a sequência do projétil sendo lançado ao espaço, desta vez sendo engolido pela lua. Chomón não foi o único, mas dedicou parte da sua carreira tentando fazer filmes envolvendo viagens fantásticas, e mesmo com essa “mancha no currículo” teve suas próprias contribuições para a sétima arte, como o excelente Le voyage sur Jupiter (1909)e o processo de colorização desenvolvido em conjunto com a Pathé, uma das maiores companhias de produção cinematográfica do mundo.

Fotograma de Viagem à Lua (1902)
Fotograma de Viagem à Lua (1902)

Com dificuldade para se manter relevante em uma indústria em crescimento, Méliès abandonou o cinema. Muitos de seus filmes foram perdidos, alguns queimados e o que restou foi restaurado por estudiosos alguns anos depois, surpreendendo o diretor, que pensava ter sido esquecido. Você pode saber mais sobre isso assistindo o filme A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, uma grande carta de amor para Méliès e os primórdios do cinema.

Viagem à Lua é uma obra que resistiu ao tempo e fascinou as pessoas, uma adaptação dos textos de Júlio Verne interpretada por um visionário essencial para a história do cinema e da ficção científica.

Assista o filme: 

Assista também os filmes de Segundo de Chomón!
Excursion to the Moon (1908): https://bit.ly/2GqkvSq
A Trip to Jupiter (1909): https://bit.ly/2Y9ocC3

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Cinema

Filmes para comemorar os 50 anos da chegada à lua

50 anos da chegada do homem à lua.

Há 50 anos tivemos um dos maiores momentos de nossa história. Foi em 20 de Julho de 1969 que Neil Armstrong transmitiu a icônica declaração: “Esse é um pequeno passo para o homem, um enorme salto para a humanidade”. E como os filmes adoram representações e grandes feitos para fascinar o público, é óbvio que o pouso lunar seria um dos assuntos mais abordados pela sétima arte. Assim, decidi separar alguns filmes com a temática para assistir e entender um pouco mais dos bastidores desse evento. Nem todos são maravilhas cinematográficas, mas trazem algo para o debate, seja lidando diretamente com o primeiro pouso na lua ou com acontecimentos que desencadearam o evento. Vamos lá.

O Primeiro Homem (2018)

Um dos mais recentes da lista é o longa dirigido por Damian Chazelle. Primeiro Homem traz um ângulo diferente sobre a exploração espacial, dando um foco maior no cotidiano dos astronautas que logo estariam à bordo da Apollo 11. É uma boa escolha para compreender as preocupações de todos os envolvidos na missão.

Seja na terra ou na lua, o filme tem um tratamento visual primoroso, com aquele aspecto mais granulado da imagem, comum da gravação em película, que é bom e ajuda na textura e a aparência estética da década na qual o filme se passa. Ao lado do diretor de arte, Linus Sandgren, Chazelle usou o mais comum 35mm na maior parte do filme, mas para as tomadas espaciais preferiu o efeito IMAX do 70mm. O resultado é uma experiência sensorial marcante. Leia a crítica do filme aqui.

O Primeiro Homem

Os Eleitos: Onde o Futuro Começa (1983)

Um dos melhores desta lista, Os Eleitos foi escrito e dirigido por Philip Kaufman e o resultado é uma das obras mais envolventes sobre a exploração espacial, focando no alistamento da equipe responsável pelo Projeto Mercury. O filme mescla muito bem o drama com a comédia e o resultado é uma sátira sobre a maneira como a Nasa e o governo dos EUA tentaram desesperadamente superar os russos na corrida espacial. Ainda assim é uma das produções mais emocionantes sobre o assunto, com um ótimo elenco composto por nomes como Ed Harris, Dennis Quaid e Barbara Hershey, sem esquecer a maravilhosa trilha sonora de Bill Conti.

Os Eleitos: Onde o Futuro Começa

Estrelas Além do Tempo (2016)

Muito se fala sobre os homens envolvidos na missão para a lua, mas Estrelas Além do Tempo explora a vida de três matemáticas que foram essenciais para as pesquisas da Nasa. Além de serem mulheres, elas são afro-americanas e sofrem constantemente com o sexismo e racismo da época.

O filme foi dirigido por Theodore Melfi, que fez um trabalho competente em retratar a ambientação da década, mas o destaque está no elenco, com as atrizes Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe interpretando Katherine G. Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, respectivamente. A obra concorreu ao Oscar em três categorias e merece ser assistido por conta da atenção dada às heroínas que infelizmente passaram anos sem receber a merecida atenção.

Estrelas Além do Tempo

Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo (1995)

Ron Howard não é um dos meus diretores favoritos, mas Apollo 13 é um longa que merece ser assistido. Ele narra mais uma jornada da humanidade, desta vez indo à bordo da Apollo 13, na missão que ficou conhecida pelos obstáculos que enfrentou para retornar os astronautas em segurança ao seu planeta de origem.

Aqui decidi colocar um filme que se passa depois da primeira missão espacial por abordar um lado contrário da Apollo 11, onde os membros tiveram que lidar com problemas durante a viagem em si. Esse é outro caso onde a direção é decente e o roteiro é bom, mas é o trabalho de montagem e o elenco que realmente fazem o filme funcionar, com estrelas como Tom Hanks, Bill Paxton, Kevin Bacon e, mais uma vez, Ed Harris, que esteve em Os Eleitos.

Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo

Lunar (2009)

Agora vamos para o futuro, um onde a humanidade precisa de recursos encontrados apenas na lua. Assim somos introduzidos a Sam Bell, interpretado por Sam Rockwell, que passa três anos isolado em uma instalação lunar para recolher matéria prima. Sua única companhia é o computador inteligente, GERTY, e a solidão toma conta do personagem, fazendo com que tenha alucinações.

Sam Rockwell é um grande ator, um dos meus favoritos, e ele é capaz de manter sua atenção durante o filme inteiro com seu personagem adquirindo cada vez mais camadas no desenvolver da trama, mesmo que esteja apenas falando sozinho.

Lunar (2009)

Viagem à Lua (1902)

Le voyage dans la lune, de Georges Méliès, é essencial nesta lista por ser um dos primeiros filmes a fascinar o público com a possibilidade do que a humanidade pode conquistar, e com a magia que o cinema pode criar. Utilizando técnicas inovadoras de sobreposição, pintura e stop-motion, Méliès foi pioneiro na arte e decidiu trazer uma de suas várias adaptações das obras de Júlio Verne, desta vez sobre um grupo de homens lançados ao espaço em uma cápsula que atinge a lua no olho e resulta em uma perseguição envolvendo criaturas da superfície da nossa estrela.

Méliès foi um gênio da sétima arte capaz de seduzir o público com seus visuais que remetem uma ambientação onírica, cheia de figuras fantasiosas e interpretações abstratas. Um filme belíssimo que moldou o jeito como vemos o cinema e aumentou nosso interesse em alcançar o espaço.

Viagem à Lua (1902)

Para Toda a Humanidade (1989)

É claro que eu não deixaria de mencionar um documentário sobre o assunto. Existem vários, mas acho que nenhum captura tão bem o sentimento de fazer parte dos bastidores das missões Apollo como For All Mankind. O diretor, Al Reinert, destaca o elemento humano neste documento que reúne as partes que ele considerou as mais emocionantes de todo o projeto espacial, dando atenção aos astronautas e a cabine de controle.

Visuais inacreditáveis e relatos dos envolvidos fazem deste filme uma experiência como poucas, venha pela curiosidade de saber mais sobre o processo dos astronautas e fique pela impressionante jornada.

Para Toda a Humanidade (1989)

Menções honrosas para o pouco conhecido, mas envolvente, The Dish (2000), e para a comédia Moonwalkers (2015). E antes de me despedir, deixo com vocês o trailer de Apollo 11, um novo documentário com imagens remasterizadas sobre a missão espacial que estamos comemorando.

Deixe nos comentários qual seu filme favorito sobre o assunto!

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Literatura

Neuromancer | A Realidade Virtual de William Gibson

Não é difícil entender como Neuromancer tornou-se um clássico.
O livro de William Gibson tem um enorme peso na história da ficção científica, principalmente por conta de todos os elementos que contribuíram para a construção do imaginário do gênero, como a introdução de conceitos sobre ciberespaço antes mesmo da popularização da internet (o livro foi lançado originalmente em 1984) ou a maneira como explorou e virou uma referência cyberpunk.

Na obra de Gibson, o virtual substitui o cotidiano da vida real. Seguimos Case, um hacker talentoso, porém infeliz em todos os outros sentidos, lidando com as consequências de ter usado suas habilidades para roubar um de seus empregadores. Como se não bastasse estar impossibilitado de acessar a matrix (em outras palavras, a rede global de computadores), o hacker descobre estar sendo caçado. Assim, com a oportunidade de recuperar seu acesso e consertar o passado, Case segue em uma missão arriscada.

O que Neuromancer faz é estruturar um mundo com componentes quase arquétipos para o cyberpunk, ajudando na sua popularização. As concepções triviais da tecnologia diegética, assim como a qualidade de vida precária, estão presentes ao longo do enredo. Tudo isso por conta do texto bastante descritivo de Gibson, que faz questão de capturar as minúcias do ambiente e das sensações dos seus personagens. É uma decisão arriscada com chance de dividir alguns leitores que talvez se distraiam com a narrativa do livro, como aconteceu comigo.

“O céu sobre o porto tinha cor de televisão num canal fora do ar”

Arte de Josan Gonzales
Arte de Josan Gonzales

Esse é o primeiro romance de William Gibson, que até o momento trabalhava com contos. É impressionante ver seu uso de uma linguagem capaz de mesclar gírias, termos tecnológicos e filosóficos, sem contar todo o impacto cultural causado pela obra, uma conquista inquestionável. Não são apenas todos os termos cunhados pelo autor, mas os temas que explora envolvendo inteligência artificial, consciência e até terrorismo virtual, se mantêm relevantes até hoje. É claro que nenhuma expressão artística tem a obrigação de ser atual, muitas vezes o debate com os obstáculos de seu tempo é exatamente o que faz de algumas obras uma representação perfeita de nossa evolução, conquistando assim o atemporal.

Mas embora seja um documento importante para qualquer um interessado em compreender a construção da ficção científica como a conhecemos, Neuromancer por vezes se equilibra em uma corda bamba narrativa, beirando o desnecessário com descrições longas e redundantes (mesmo levando em conta a estrutura inovadora), possivelmente resultado das constantes reescritas de Gibson por não ter certeza da conclusão de sua história. Também temos bastante tensão mas pouco peso dramático, com um aspecto distante e insólito. Isso não tira nenhum dos méritos mencionados no parágrafo anterior, mas por focar mais em apresentar os fundamentos de seu mundo e estabelecer conceitos instigantes, Gibson acaba caindo em uma armadilha construída pelo seu próprio estilo, deixando o enredo quase previsível, principalmente considerando as influências noir nas características básicas dos personagens, esses delegados a diálogos repetitivos e monótonos.

Em Neuromancer podemos encontrar similaridades com a abordagem textual de Philip K. Dick, conhecido por explorar temas arriscados e experimentar com uma estrutura que serve para “desnortear” o leitor, alternando entre tempo e espaço constantemente. Infelizmente, não é toda vez que isso funciona e em algumas instâncias as transições tendem a ser abruptas demais, o que pode afetar negativamente o ritmo da leitura.

O clássico de William Gibson merece todos os créditos por ter introduzido milhares de leitores a um dos subgêneros mais envolventes da ficção científica, e devo mencionar sua inteligência para debater temas tão pertinentes, mas a maneira como constrói o drama de seus personagens (alguns quase caricatos) e depende demais de seu próprio estilo acabam tirando um pouco do brilho do que poderia ser uma leitura menos trabalhosa e um tanto enfadonha para alguns.

Neuromancer

Ficha Técnica:
Neuromancer, de William Gibson; Lançado originalmente em 1984;
Editora Aleph, 2014;
Tradução de Fábio Fernandes;
Arte de Josan Gonzales;
416 Páginas.

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Cinema Quadrinhos

Homem-Aranha 2 | A Força do Personagem

Essa matéria foi publicada originalmente no site Rima Narrativa.

Está na hora de falar do amigão da vizinhança e aquele que é, sem duvida alguma, seu melhor filme até o momento.
Na última década tivemos algumas adaptações e produções originais de qualidade. A Marvel já nos surpreendeu com filmes como Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia, além de Vingadores, obviamente. A Fox, mesmo recebendo muita reclamação, é responsável por alguns bons X-Men, além do divertido Deadpool e o surpreendente Logan, que deixou muitos fãs chorando na saída do cinema. E a DC, por mais que tenha alguns filmes de qualidade discutível, é responsável por aquele que é considerado por muitos como “O maior filme baseado em quadrinhos do cinema”: The Dark Knight.

Mas eu queria dedicar esse tempo com vocês para debater um que, mesmo sendo bastante adorado, não parece receber toda a atenção que merece: Homem-Aranha 2.

Homem Aranha 2

Esse é o filme que melhor representa para mim o que chamados de “filmes de super-herói”, e posso arriscar dizer que é o meu favorito de todas as adaptações de quadrinhos.

Eu vou explicar.

Lançado em 2004, Homem-Aranha 2 é uma das melhores continuações de uma franquia no cinema. Com personagens envolventes, ótima ação e um enredo ainda melhor (mesmo toda a franquia tendo uma premissa parecida, o que não quer dizer muita coisa quando analisamos a narrativa mesmo).

Conte quantas vezes você não olhou para relógio em vários filmes esperando as cenas de ação e o personagem uniformizado te salvar daquela trama chata. Na maioria das vezes, isso acontece porque você não se interessa o suficiente pelo personagem, o filme não tenta criar uma conexão forte entre a pessoa e o herói, e na maioria das vezes, quando cria uma, ela é bem rasa e fica só no roteiro. Mas Homem-Aranha 2 é sobre Peter Parker, ele é o verdadeiro herói, com ou sem o uniforme.

No filme, Parker está tendo problemas para separar todas as suas vidas: trabalhando como entregador de pizza (it´s pizza time!) e tirando fotos da ameaça aracnídea para o Clarim Diário (o aluguel não se paga sozinho), dedicando mais tempo para os estudos, sua tia, vida amorosa…  e claro, ele é o amigão da vizinhança.

Homem Aranha 2

Ao longo do filme, podemos ver um Peter cada vez mais desmotivado, tendo que lidar com o ódio de seu melhor amigo, Harry, pelos acontecimentos do primeiro filme (o pai de Harry morreu durante uma batalha com o Aranha), e Mary Jane parece um sonho cada vez mais distante. Além disso, sua tia May sente o peso da perda de seu marido. Peter decide largar o seu lado Aranha e aceita que só poderá ser completo se focar no lado Parker. O filme toma seu tempo e dedica uma boa parte na vida dele.

Enquanto muitas adaptações por aí tentam fugir do formato estabelecido pelos quadrinhos, anunciando seu realismo ou o quão sombrio são, Homem-Aranha 2 abraça todas as coisas mais inocentes e até um pouco bregas das revistas e mantém no filme. Frases de efeito, vilões exagerados, cores vibrantes e momentos absurdos. O que impressiona é que tudo isso funciona aqui porque sabemos que o importante é criar um bom filme, sabendo usar todos esses elementos de forma inteligente.

O longa abre com uma sequencia perfeita ilustrada por Alex Ross (sim, se liga no nível) com a trilha de Danny Elfman. Aqui temos um dos melhores trabalhos de Elfman, e a melodia é tão boa que você reconhece nos primeiros segundos.

Esta abordagem mais inocente não compromete o drama e os momentos mais sérios, e por isso o enredo é um ponto alto, dando tempo para cenas importantes desenvolverem-se organicamente. O filme também se arrisca bastante, não só aceitando estes elementos exagerados, mas também experimentando e brincando com o formato, o que infelizmente vejo cada vez menos em produções do gênero.

Um grande acerto do filme foi manter Sam Raimi na direção. Raimi sabe bem como é ser criativo com pouco orçamento. Responsável por filmes como a trilogia Evil Dead e o primeiro longa de Darkman, ele se mostrou um daqueles diretores para se ficar de olho. E seu trabalho com o Aranha foi provavelmente o melhor de sua carreira, foi onde mostrou tudo que aprendeu ao longo dos anos, com um visual mais limpo e atenção aos detalhes.

Raimi tem um estilo único, principalmente a forma como usa a câmera. Ele é um dos poucos que consegue colocar uma cena de tentáculos metálicos esquartejando uma equipe médica inteira em um filme cheio de comédia e aventura sem comprometer o tom. As várias maneiras de mostrar isso sem que pareça gráfico demais para o público é um dos motivos para eu gostar tanto de Raimi na direção, com a ajuda de uma montagem ágil e dinâmica, é claro. Mas a maior vitória de Raimi foi com os personagens. Homem-Aranha 2 valoriza cada interação e diálogo. Algumas cenas chave entregam o coração do filme.

Uma das minhas favoritas é quando Peter tem seu primeiro encontro com Otto Octavius para conversar sobre sua pesquisa. A principio é apenas uma parte do filme que serve para apresentar Otto e sua esposa, mas para Peter, este é um dos momentos mais importantes. Ele não está por conhecer seu ídolo, mas também é a primeira vez que ele consegue conversar com alguém que o entende, e a cena é toda montada como se fosse um jantar de família, não apenas um encontro casual. Peter se sente bem naquele meio, ele nunca chegou a conhecer seus pais e seus pais não tiveram a oportunidade de ver Peter crescendo. 

Aqui Otto é a figura paterna que Peter sempre quis ter, alguém para motiva-lo. Ele chega até a dar bronca em Peter sobre a quantidade de faltas na faculdade e dá conselhos amorosos para o jovem. Esse tipo de interação, por mais simples que pareça, é necessária e uma das que faz o filme muito mais humano e convincente. Quando você percebe o que Otto representava para Peter, a sua despedida no último ato tem um sentido ainda maior.

Homem Aranha 2
“Nunca se deve guardar alto tão forte quanto o amor em segredo”

A relação de Peter com MJ também está diferente. Ela precisa de Peter ao seu lado, e dá várias chances para que ele se esforce mais. Está claro que ela não está feliz na sua relação atual, chegando até a tentar reencenar com seu namorado o beijo que teve com o Aranha no primeiro filme, mas não sente a mesma coisa. Enquanto isso, Peter está se esforçando para voltar a ser quem era, estudioso e assíduo, além de um bom sobrinho.

Sobre a tia May, já é triste ver a pobre senhora forçando Peter a aceitar dinheiro para pagar o aluguel, mesmo que ela não tenha muito para dar, e é doloroso ver o que acontece com o dinheiro: o senhorio do apartamento onde Peter mora arranca da mão dele (vale mencionar que o nome do senhorio é Ditkovitch, referência ao roteirista clássico do Aranha, Steve Ditko). Este é o tipo de decisão narrativa que evidencia como Peter anda se sentindo. Todas as poucas alegrias que tem vão embora como se ele nem estivesse ali. É só lembrar das cenas onde ele vai comprar as flores para a peça de MJ ou tentar pegar uma taça de bebida na festa.

São estes pequenos momentos que fazem o filme mais humano, estas pequenas decisões que transcendem o personagem para algo mais convincente. Ver a evolução de Peter Parker, de um jovem cheio de duvidas para um homem que sabe que deve fazer o certo, mesmo que isso resulte em magoar aqueles próximos dele. Aqui ele finalmente entende que com grandes poderes vem grandes responsabilidades.

Homem Aranha 2

O filme ainda acha espaço para situações cômicas memoráveis. Jk Simmons como JJ Jameson talvez seja uma das decisões de casting mais certeiras da história do cinema. A entrega de pizza para “Dra Brennan” (Emily Deschanel) e “Ash” (Bruce “Deus” Campbell) como segurança do teatro também são hilárias. Mas como este é um filme de super-herói, tem que ter ação. E deixei o melhor para o final.

Raimi sabe muito bem o que deixar ou não no seu enquadramento. Ele tem uma ótima noção de espaço e ritmo. Assim como fez em Evil Dead, deixou muitas sequencias de Homem-Aranha memoráveis. Estas cenas ainda se sustentam, até mesmo quando o CGI se torna bem óbvio. Raimi tem o costume de usar efeitos práticos, então a maior parte da ação foi realmente executada por atores ou dublês. Eu poderia falar do salvamento da tia May, da entrega de pizza, da batalha no banco, mas é claro que você só está pensando na cena do trem.

Homem Aranha 2

Essa é facilmente a minha batalha favorita de um filme de super heróis. É logo depois dele decidir voltar com o uniforme, então o Aranha está realmente motivado. A luta é frenética e a trilha de Elfman é uma maravilha. No fim, ele salva o trem e é salvo pela população. Nesta cena, perde a máscara, algo recorrente no filme que reforça o tema de alter ego. Peter vive tentando esconder sua máscara, deixar de lado sua parte heroica. O círculo se fecha quando o próprio Peter tira sua máscara para Otto, ele quer que o vilão se lembre do homem que foi.

As maiores batalhas do filme são as internas, Peter sabe que não se sente bem sendo outra coisa além de um herói, por isso cenas importantes como a tia May jogando os quadrinhos de Peter fora, a lembrança de tio Ben no carro e a confissão para MJ no final são tão importantes. Homem-Aranha 2 é o filme perfeito para quem procura todas as emoções que um filme pode entregar de uma vez só, nunca forçado, nunca fora de lugar. Talvez seja difícil ter algo tão equilibrado no futuro, principalmente com os estúdios pensando cada vez mais em criar uma linguagem uniforme entre seus universos compartilhados. Então, por enquanto, não consigo pensar em filme que melhor represente uma adaptação dos quadrinhos do que este.

E se você é daqueles que leva notas do Metacritic e Rotten Tomatoes em consideração, esse filme está muito acima da média. Merecidamente, claro.

Homem-Aranha 2 tem muuuuito mais coisas para serem analisadas, mas aí vamos ficar o dia inteiro aqui. Por enquanto é só, mas como eu provavelmente não vou calar a boca sobre Homem-Aranha nesse site, daqui a pouco estarão ouvindo mais sobre o assunto.

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Lista: Os Melhores Filmes Sci-Fi da Década (1980)

Que saudade de fazer listas para o site! 
Já passamos por três décadas diferentes (20102000 1990) e está na hora de chegar em uma das melhores para a ficção científica, onde alguns clássicos essenciais para o gênero foram lançados. Para não perder tempo e poder falar de cada um deles, vamos começar (lembrando que haverão várias indicações, mesmo que elas não recebam um grande destaque no texto, se estiver em negrito, vale a pena assistir).

Como pode ter notado pela ordem de envio das listas aqui no site, elas são postadas em ordem decrescente. Mesmo que ainda não tenha explorado a década de 1970, decidi começar as indicações com algumas continuações que mantiveram a qualidade do filme original. Aqui eu separo longas como O Império Contra-Ataca (1980),o favorito de muitos fãs da franquia Star WarsJornada nas Estrelas II: A Ira de Khan (1982), que finalmente trouxe mais popularidade para Star Trek na telona, ainda mais considerando a recepção pouco calorosa do público para o primeiro filme, agora com uma trama melhor e o vilão mais marcante da série, Khan, interpretado pelo ótimo Ricardo Montalbán. Mas se eu tenho que escolher uma continuação que não só manteve a qualidade da franquia como renovou a abordagem trazendo mais ação ao horror espacial, fico com Aliens, O Resgate (1986), desta vez dirigido por James Cameron.

Aliens, O Resgate (1986)
Aliens, O Resgate (1986)

E por falar em James Cameron, a década de 80 foi uma das melhores para sua carreira. Além de uma sequencia satisfatória para o Alien de Ridley Scott, Cameron dirigiou O Segredo do Abismo (1989), com uma premissa simples mas eficaz envolvendo uma equipe tentando resgatar um submarino nuclear desaparecido. Mesmo que este tenha sido um filme mais do que competente, uma das maiores criações de Cameron havia surgido há alguns anos, com OExterminador do Futuro (1984), que abriu caminho para uma das franquias mais rentáveis do cinema, principalmente quando teve sua continuação em 1991. O filme foi um sucesso entre a crítica e bilheteria, catapultando a carreira de Arnold Schwarzenegger como o carismático T-800.

Schwarzenegger teve uma das agendas mais ocupadas da década, estrelando doze filmes, alguns clássicos da ficção científica, como O Sobrevivente (1987), uma distopia onde a humanidade é fascinada por um programa televisivo onde os participantes correm por suas vidas. O ator foi o principal motivo para o filme ser lembrado até hoje, mas eu decidi escolher outro para representar o que ele fez de melhor nesta época, o explosivo O Predador (1987), que teve algumas das cenas de ação e diálogos exagerados mais marcantes do cinema e originou uma criatura tão adorada pelo público que logo começou a rivalizar com o queridinho Alien, rendendo uma franquia própria de Alien vs. Predador.

O Predador (1987)
O Predador (1987)

Outro nome marcante para a década foi John Carpenter. Mais conhecido por seus filmes de terror, Carpenter se envolveu em alguns projetos sci-fi como Starman: O Homem das Estrelas (1984) e Eles Vivem (1988), uma obra divertidíssima, com personagens engraçados e uma trama louca envolvendo um óculos que pode mostrar a verdade por trás de todas as mensagens envolvendo o consumo desenfreado da população.

Ele também dirigiu Fuga de Nova York (1981), mais uma FC de ação que não poderia faltar nessa lista, estrelada por Kurt Russell, que no ano seguinte também seria o protagonista de uma das maiores obras de Carpenter, o suspense O Enigma de Outro Mundo (1982), um dos maiores clássicos da década, com um enredo excepcional, personagens memoráveis e efeitos visuais impressionantes até hoje.

O Enigma de Outro Mundo (1982)
O Enigma de Outro Mundo (1982)

Outro diretor conhecido por seu uso de efeitos visuais e a mistura de elementos de vários gêneros é David Cronenberg. Ele começou a década com Scanners (1981), o filme com a bizarra premissa de pessoas com a habilidade de ler e explodir mentes, o que ficou imortalizado na imagem da cabeça de Louis Del Grande sendo destruída de dentro para fora. Logo depois, lançou o ainda mais absurdo Videodrome (1983), envolvendo uma viagem louca sobre o poder da mídia.

O diretor começou a atrair cada vez mais a atenção do público e cresceu de verdade com a chegada do remake de um clássico com Vincent Price da década de 1950, A Mosca (1986). Uma obra-prima do horror com toques de ficção científica, esse é o primeiro grande sucesso da carreira de Cronenberg, estrelando Jeff Goldblum interpretando um cientista que falha em um de seus experimentos e acaba sofrendo uma mutação assustadora. Se você quer ter uma aula de efeitos visuais (práticos), faça uma dobradinha com A Mosca e O Enigma de Outro Mundo.

A Mosca (1986)
A Mosca (1986)

Agora saindo um pouco do terror e suspense, vou focar em alguns filmes mais leves, como comédias, e nesse caso não dá para evitar Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica (1989), a história de dois adolescentes usando uma máquina do tempo para fazer um trabalho de história e passar de ano. Esse filme é um guilty pleasure de muitas pessoas, então mesmo que não seja indispensável, merece uma menção por ser uma jornada divertida com Keanu Reeves e George Carlin no elenco.

E já que estamos em guilty pleasures, porque não mencionar alguns que podem não ser grandes filmes mas tem uma característica ou outra que merece sua atenção, como o longa de Flash Gordon (1980), bastante datado para a própria época mas com a banda Queen encarregada pela trilha sonora, o que já deixa a experiência mil vezes melhor. Outro que pode não ser perfeito mas chegou a render uma continuação anos depois foi Tron (1982), que não tem o melhor roteiro do mundo mas deixou o público surpreso com alguns avanços técnicos para a sétima arte.

Mas há um filme que divide muitas opiniões entre os fãs do material original e cinéfilos em geral: o épico dirigido por David Lynch, Duna (1984). Baseado na obra de Frank Herbert, Duna é um filme bastante fiel em todos os pontos principais da trama, mas com efeitos visuais que não envelheceram tão bem quanto outros longas da época e um ritmo que não agrada todos. Particularmente, considero um filme competente com bons visuais (ainda que o problema dos efeitos se mantenha), mas nada que chegue perto da grandiosidade do livro.

Duna (1984)
Duna (1984)

Aqui é onde eu indico um filme muito bom que merecia bem mais atenção, e o longa da vez é Viagens Alucinantes (1980). Dirigido por Ken Russell, essa obra foi bem arriscada para seu tempo, com uma montagem diferente e abordagem incomum dos temas. É uma premissa aparentemente simples envolvendo um cientista estudando a mente humana, mas logo nos encontramos em uma experiência que vai ficar pra sempre na sua cabeça. Com visuais inesquecíveis, Viagens Alucinantes inspirou outras FC como Stranger Things ou The OA. Assista, vale a pena!

Viagens Alucinantes (1980)
Viagens Alucinantes (1980)

Antes de seguir para a trindade sci-fi da década de 80, vou destacar mais um FC de ação que deu origem a outra franquia de sucesso: Robocop (1987). Comandado por Paul Verhoeven, que no ano seguinte estaria dirigindo O Vingador do Futuro (Schwarzenegger de volta), Robocop é mais um exemplo que usa elementos da ficção científica para desenvolver um ótimo filme de ação. Se não fosse pela ambientação e o enredo amarrado do longa, ainda assim teríamos Peter Weller como Alex Murphy, o policial que sofre um acidente e tem seu corpo reconstruído para dar lugar ao maior combatente da lei de uma Detroid futurista.

Robocop (1987)
Robocop (1987)

Com tantos filmes de ação e terror nesta lista, parece que não sobra espaço para uma diversão em família. É por isso que deixei dois grandes sucessos de crítica e bilheteria para esta parte da lista, começando com E.T.: O Extraterrestre (1982), de um Steven Spielberg que já estava bastante famoso por conta de Tubarão e Indiana Jones, mas não perdeu o fôlego e continuou com filmes que estiveram no topo das bilheterias e agradaram toda a família.

Mas se tem um lançamento que marcou ainda mais a geração é o de um diretor até o momento pouco conhecido, que conseguiu ter Spielberg na produção do filme que faria sua carreira. O diretor é Robert Zemeckis e o filme é De Volta Para o Futuro (1985). Uma das produções mais charmosas e atemporais do cinema, esse é o tipo de filme impossível de odiar, com uma direção competente, um roteiro intrigante, elenco perfeito, efeitos visuais de qualidade e muita música boa. Michael J. Fox e Christopher Lloyd trouxeram um coração para o filme como poucos conseguiram até hoje, o que faz dessa obra um dos maiores clássicos da história do cinema.

De Volta Para o Futuro (1985)
De Volta Para o Futuro (1985)

Existe algo maior que De Volta para o Futuro? Por mais que este seja um dos filmes que melhor represente a época, decidi deixar para o final aquele que praticamente trouxe grande parte do apelo estético de um subgênero inteiro, no caso o cyberpunk, com Blade Runner (1982). Com conceitos visuais inspirados no que seria um filme de Duna por Alejandro Jodorowsky e temas explorados no livro de Philip K Dick, Adroides Sonham com Ovelhas Elétricas?, Ridley Scott provou mais uma vez ser um gênio no que faz e um dos nomes mais importantes para a ficção científica, tendo lançado o filme sobre o caçador de androides apenas três anos depois de Alien, O Oitavo Passageiro.

Uma experiência única estudada até hoje por conta de seus temas e iconografia, Blade Runner é celebrado como uma das maiores obras do gênero, precursor de várias características que logo tornariam-se obrigatórias para o gênero e parte do imaginário do público. Um filme necessário que merece destaque como a maior obra sci-fi da década.

Blade Runner (1982)
Blade Runner (1982)

O que achou da lista? 
Diga nos comentários que filmes ficaram faltando para você. As Aventuras de Buckaroo Banzai (1984); Cocoon (1985); Repo Man (1984)?

Há tantos filmes que não couberam aqui por pouco, então deixei apenas os que considero essenciais para compreender melhor a década em que foram lançados. Fiquem atentos para a próxima lista — enquanto isso leiam as anteriores e deixe nos comentários seus favoritos. Até a próxima!