Depois de ser cancelada injusta e prematuramente pelo canal SyFy quando acabou de entregar uma ótima terceira temporada, The Expanse conseguiu um novo lar no serviço de streaming da Amazon, o Prime Video. O mais impressionante não é apenas o fato de ter sido renovada para uma quarta temporada, mas por continuar com uma base de fãs forte e críticas positivas sendo uma série de ficção científica mais “pesada” no meio de tantas produções de maior nome.
Com essa mudança, alguns poderiam ficar preocupados com o rumo tomado pela série, ainda mais com a redução de episódios por temporada, indo de treze para dez (como foi em seu primeiro ano), ou ter que mexer nos cenários e agendas de elenco. Felizmente, a maioria dessas preocupações foram desnecessárias e tivemos um ótimo retorno para uma das melhores séries da atualidade.
Com o surgimento do Anel, um portal criado por conta da Protomolécula, tudo está diferente. Alianças improváveis e uma “corrida espacial” fazem com que a situação fique mais complexa do que o imaginado. Através do portal, foram descobertas novas possibilidades, milhares de planetas potencialmente similares ao nosso. O primeiro deles é Ilus IV, chamado de Nova Terra pelas Nações Unidas, formado por um gigantesco continente e ilhas separadas por um oceano, mas o problema está nas diferentes nações e facções que assumem o território sem compreender os mistérios envolvendo sua existência.
Para contribuir com a exploração e decidir a disputa pelo território é designada a tripulação da Rocinante. Holden, Naomi, Amos e Alex estão de volta, mas ainda que a ameaça da Protomolécula pareça estar chegando ao fim, eles continuam em risco. Enquanto isso, do outro lado do Anel, Bobbie lida com dilemas familiares e éticos, Dummer e Ashford mantém a diplomacia entre os belters (habitantes do cinturão) e os inners (habitantes dos planetas do sistema solar: terráqueos e marcianos, na maioria dos casos), e Avasarala enfrenta novos desafios, não só em sua vida política, mas pessoal.
Para a quarta temporada, a quantidade de episódios reduzida acabou contribuindo para uma temporada mais concisa, usando a corrida contra o tempo para criar sequências de ação muito bem executadas, como a retirada de todos os ocupantes de Ilus, que resultou em uma cena angustiante por conta da música e os efeitos especiais do desastre “natural” que atinge o planeta. Por conta da maior parte da temporada se passar em alguns pontos de Ilus, além da tensão constante, o drama é muito bem desenvolvido.
Mas não é sempre perfeito. A alternância entre núcleos dramáticos, indo do impasse militar por conta dos representantes de cada nação procurando território em Ilus para os jogos políticos de Avasarala e as descobertas de Bobbie, pode dar a sensação de tramas paralelas um pouco deslocadas, talvez por conta dos temas sobre dilema, traição e orgulho não se aplicarem em todos os arcos de personagens. Esse é apenas um detalhe quando consideramos o enorme trabalho da série em desenvolver cada um desses núcleos com cuidado, sem deixar de lado a atenção aos detalhes que vem acompanhando The Expanse desde o início.
Com a mesma (ótima) qualidade de roteiro, a quarta temporada continua surpreendendo com novas revelações, seguindo em frente com a narrativa e introduzindo novos personagens, como o chefe de segurança Adolphus Murtry, interpretado por Burn Gorman, que colabora para deixar a situação em Ilus ainda pior com uma sede de vingança depois de perder parte de sua tripulação, aparentemente por conta dos belters que chegaram antes. Ainda que pequenas instâncias de conveniência atinjam o roteiro, sobretudo quando um tipo de cegueira coletiva atinge os ocupantes de Ilus, não é algo que distraia o público.
Por falar no elenco, é bom saber que ainda temos Thomas Jane retornando como Miller por mais uma temporada, para perturbar a mente de Holden com suas teorias e pistas. Shohreh Aghdashloo é uma atriz magnífica, facilmente a melhor da série, e não deixa de lado seus insultos e a boca suja, ainda mais suja com as liberdades que a série teve depois de assinar com a Prime Video. Se na última temporada Cara Gee foi um dos destaques, dessa vez David Strathairn, intérprete do comandante Ashford, tem seu merecido espaço para brilhar.
Mesmo com o orçamento modesto, a série sempre se destacou por efeitos especiais mais do que competentes, e agora que recebeu um melhor investimento, pode exibir grandes sequências de ação espacial, com naves manobrando no fogo cruzado ou as grandes arquiteturas reveladas pela Protomolécula. O design de produção nunca foi tão complexo e a fotografia nunca foi tão bela quanto nessa temporada, principalmente em Nova Terra, com planos abertos revelando sua geografia, dando atenção aos seus desertos e estruturas.
The Expanse termina mais um ano trazendo ficção científica de qualidade, não só por conta de sua precisão científica ou ótimos visuais, mas também pela combinação perfeita entre elenco e roteiro, o que sempre funciona se bem feita, e a dessa série funciona como poucas.