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Star Wars Precisa Mudar – Episódio I: A Caixa de Mistérios Contra-Ataca

Quando J.J. Abrams foi definido como o diretor de Star Wars: O Despertar da Força, de 2015, eu fiquei um pouco preocupado. Considero Abrams um diretor competente, mas apenas quando está responsável pelos elementos visuais, longe de roteiros, isso porque ele emprega uma técnica narrativa em suas produções que não me agrada nem um pouco, mas já vamos chegar nisso. Minha preocupação não era comigo mesmo, não sou muito apegado ao universo de Star Wars, mas com o rumo que a franquia poderia levar.

O Despertar da Força foi o retorno da série de filmes depois de uma década, e a pressão era grande em cima do estúdio, que tinha o trabalho de agradar todos depois da recepção amarga da trilogia de prequels (Episódios I, II e III), além de conquistar um novo público consumidor querendo seu próprio Star Wars. O estúdio precisava de alguém capaz de apelar para a nostalgia dos fãs mais antigos e renovar a space opera de George Lucas para uma nova geração, e não há nome mais apropriado para tomar conta dela que Abrams, responsável pelo remake de outra franquia espacial clássica, Star Trek, em 2009.

A abordagem de Abrams para Star Trek não foi das melhores, mas ao menos trouxe de volta o interesse pela franquia, e agora temos novamente uma série de sucesso pela CBS, Star Trek: Discovery, e spin offs já começaram a brotar. Na época, o próprio Abrams costumava admitir não ser um grande amante da série, sendo mais fascinado por Star Wars, então podemos imaginar que seu trabalho em Trek serviu como um currículo para a franquia que realmente gostava. Assim, a recepção de O Despertar da Força pelo público foi mais que positiva, arrecadando bilhões em bilheteria. 

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Com a confirmação da continuação, Os últimos Jedi, a direção ficou por conta de Rian Johnson, mais conhecido por seu filme Looper: Assassinos do Futuro, de 2012. Dessa vez, o público parece ter se dividido entre aqueles que sentiram falta da reverência ao material clássico de Abrams, e os impressionados pela subversão de Johnson, mostrando que a série pode seguir em frente e sobreviver com novas tramas, mas o que parece ter incomodado mesmo foram algumas decisões de elenco e execução de alguns personagens. Mas também já vamos chegar lá.

Para “consertar” a visão de Johnson e retornar para um longa que agrade mais o público, Abrams retorna para a direção e entrega A Ascensão Skywalker, que surpreendentemente acaba dividindo ainda mais os fãs, com uma metade feliz pelo retorno ao estilo J.J. Abrams, e outra incomodada pelo filme negar os eventos de Os últimos Jedi.

Essa é uma contextualização básica da recepção da nova trilogia de Star Wars, e agora que assisti tudo posso dizer o que realmente me incomoda na franquia, principalmente nos últimos anos. Vamos por partes:

A Caixa de Mistérios de J.J. Abrams

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“Eu nunca fui bom com desfechos. Eu sei como começar uma história, mas terminar é difícil” (ABRAMS, 2019)

J.J. Abrams foi um dos palestrantes do famoso evento TED Talks em 2007, e foi durante sua apresentação que introduziu ao público um conceito que costuma chamar de “Caixa de Mistérios”, uma técnica narrativa onde “o mistério é mais importante que o conhecimento”. Seu processo consiste basicamente de pegar uma “questão fundamental”, que nos levará a um questionamento, e depois outro, e por aí vai. É uma boa tática para atrair o interesse do público, principalmente se você quiser convencer alguém de uma premissa, mas há um problema na técnica de Abrams, que fica tão interessado em criar suspense e mistérios, mas acaba esquecendo do resto, resultando em tramas mal executadas. 

O seu trabalho como co-criador de Lost, ao lado de Damon Lindelof e Jeffrey Lieber, foi o primeiro a chamar atenção considerável do público. Cada temporada foi desenvolvida usando a “Caixa de Mistérios” de Abrams, e a recepção negativa de grande parte do público e crítica se dá por conta da conclusão da série, que parece ter amarrado suas pontas da maneira mais “conveniente” possível. Esse caso pode ser apenas uma coincidência, mas se estiver procurando um exemplo de péssimo uso da técnica do diretor, é só assistir Star Trek: Além da Escuridão

Por mais que continue com o bom elenco do primeiro filme e seja uma aventura divertida e com boas sequências de ação, o enredo de Além da Escuridão poderia ser melhor resolvido sem todo o mistério que envolvia a verdadeira identidade de um personagem interpretado por Benedict Cumberbatch. Depois de tantas informações sobre bastidores, e considerando o repertório limitado de Abrams da franquia, as teorias sobre o personagem “secreto” de Cumberbatch revelaram o quão óbvia era a solução para o mistério. E mesmo que você não saiba quem ele é de antemão, o filme passa a sua maior parte escondendo a identidade do personagem, mas no fim isso não é algo que afete os temas do longa, vira apenas referência.

Com O Despertar da Força, Abrams teve a chance de brincar com sua “Caixa de Mistérios”, introduzindo novos personagens, uma protagonista com passado desconhecido, novos planetas, novos conflitos e obstáculos. Isso tudo funciona, e assim acabamos com um filme satisfatório, agradando os fãs de longa data e os recém chegados. Mas no fim, Abrams não assumiu riscos, apenas fez o que faz de melhor, estabelecer elementos da trama, só que isso não é o suficiente. Até mesmo Lawrence Kasdan, roteirista dos episódios V: O Império Contra-Ataca e VI: O Retorno do Jedi, foi chamado para tomar conta do argumento de O Despertar da Força, então as várias similaridades com os filmes clássicos, incluindo a trama sobre explodir a estrela da morte, não são coincidência.

O Controle de Qualidade de Kathleen Kennedy

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George Lucas vendeu a sua empresa, LucasFilm, para a Disney em 2012. Com seu afastamento da franquia, Lucas indicou Kathleen Kennedy para o cargo de presidente da nova LucasFilm. Kennedy tem sido a voz de Star Wars na última década, e por mais que a mudança na liderança pareça uma boa ideia para alguns, descontentes com o próprio Lucas, nada mudou de verdade. 

Star Wars costuma ser alvo de críticas recorrentes por suas tramas recicladas ou um universo “pequeno demais” onde todos parecem ser parentes. Essas críticas se aplicam exclusivamente ao filmes, isso porque a franquia se estende por livros, quadrinhos e séries de TV, mas uma das decisões da Disney, agora dona da LucasFilm, foi uma mudança total no que é considerado cânone.

Ignorar grande parte do universo expandido da série acabou limitando ainda mais a franquia, tornando-a refém dos dramas da família Skywalker, perdendo a chance de explorar novos personagens. Para piorar a situação, Kennedy desconsidera completamente qualquer material de Star Wars que não sejam os filmes, e usa isso como uma desculpa para mostrar como “é difícil achar novas ideias para a franquia”. 

“Cada um desses filmes é particularmente difícil de fazer. Não há material original. Não temos quadrinhos. Não temos grandes romances. Não temos coisa alguma além de contadores de história apaixonados se unindo para falar sobre o que o próximo filme pode ser” (Kennedy, 2019)

Ainda que não esteja interessada em seguir um rumo diferente com a franquia, Kathleen Kennedy costuma elogiar constantemente o filme Os Últimos Jedi

Episódio III: O Despertar da Força para Rian Johnson

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Rian Johnson tomou conta da direção da continuação de O Despertar da Força, e entregou o polarizante Os Últimos Jedi, em 2017. Por mais que parte do público esteja indignada com a subversão de expectativa causada pelas decisões criativas de Johnson, mesmo sob o olhar das limitações da Disney e Kennedy, o filme foi um sucesso de bilheteria e crítica, reforçando o poder da franquia, mas isso não é o suficiente para os fãs. 

O filme tinha a tarefa de continuar todos os pontos da trama deixados em aberto por J.J. Abrams, como a verdadeira identidade dos pais de Rey e seu encontro com Luke Skywalker, assim como os planos de Snoke e a Primeira Ordem. Para Johnson, a solução foi simplesmente acabar com todos os questionamentos e surpreender o público, positivamente ou não, mostrando o desprezo de Luke pelo seu próprio sabre de luz, revelando que os pais de Rey foram apenas catadores que a abandonaram, e tirando do caminho a ameaça de Snoke. 

Com uma narrativa sobre a importância de fracassar e aprender a seguir em frente, Os Últimos Jedi não é bem recebido por uma grande parcela dos fãs, e o próprio J.J. Abrams mostrou seu descontentamento dizendo que não acha que as pessoas estejam interessadas em ir ao cinema para descobrir que nada importa.

Mesmo com uma boa bilheteria e crítica, a recepção do público fez com que Kennedy e Disney decidissem chamar J.J.Abrams de volta para dirigir o último filme da trilogia, A Ascensão Skywalker.

Eu tenho um mau pressentimento sobre isso, mas tudo será esclarecido no Episódio II deste texto, onde finalmente falamos do novo filme, mais bastidores e o que Star Wars, e a Disney, vem fazendo de errado.

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