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Watchmen | A God Walks Into Abar – S01E08

Em seu penúltimo episódio, Watchmen decide revelar grande parte de seus mistérios, mas acima de tudo, procura apresentar uma história de amor, por mais peculiar que seja. Depois dos eventos do episódio anterior, An Almost Religious Awe, assistimos a relação de Angela e Jon (Dr. Manhattan), ou Angela e Cal, alternando entre passado e futuro, por mais que esses conceitos sejam a mesma coisa para Manhattan, para entender melhor a dinâmica entre o casal e a importância dela. 

Em uma abordagem mais delicada, com a trilha melancólica de Trent Reznor e um roteiro com ótimos diálogos, A God Walks Into Abar é mais uma aula de narrativa que a série nos apresenta, e assim como fez em This Extraordinary Being, se aproveita da noção de tempo para criar uma montagem ágil, com transições inteligentes entre cenas e linhas temporais. 

Mesmo com a tarefa de um roteiro que amarra a maioria das pontas soltas da série, é um grande mérito desse episódio conseguir construir uma narrativa própria sobre a natureza dos relacionamentos e dedicar a maior parte de seu tempo em algo tão íntimo, o que destaca mais a boa escrita da série e não a limita a apenas grandes reviravoltas para manter o público curioso para a próxima semana. 

Além de todo o excelente trabalho em executar com sucesso uma trama desse tamanho, com tantos detalhes e informação, e de ter a responsabilidade de se manter fiel à proposta do que foi criado por Alan Moore nos quadrinhos, há um investimento visivelmente maior nos efeitos visuais e na direção desse episódio, com uma câmera mais arriscada e preocupada em entregar apenas pequenos elementos do que Manhattan pode interpretar, mas sem vergonha de expor alguns visuais impressionantes que eu não esperava em um episódio para a televisão, principalmente na sequência de “criação de mundo” em Europa. 

Agora, tenho algumas coisas que preciso mencionar, então vamos para:

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • Antes mesmo de mencionar todos os eventos do episódio, vale lembrar que quase todos os núcleos dramáticos são introduzidos com uma música que tenha a palavra “azul” no título, como Rhapsody in Blue, de Gershwin, que abre o episódio, ou Mr. Blue, da banda The Fleetwoods.

    E por falar nisso, a primeira referência está logo na exibição do título do episódio da semana, quando Dr. Manhattan surge na Terra durante um evento em comemoração ao Vietnam e o próprio Manhattan, então ele entra em um bar com o nome “Mr. Eddy’s Bar”, que pode ser uma referência direta ao Comediante, Edward Blake, que é chamado de Mr. Eddy por uma jovem vietcongue que ele engravidou. Os dois brigam e ela acaba cortando o rosto dele, o que termina tragicamente com a jovem sendo assassinada com um tiro da arma do “herói”. Toda a sequência acontece em um bar, durante um evento similar ao que estamos vendo na série.

    Nos quadrinhos, a história de origem de Jon Osterman, Dr. Manhattan, é contada em detalhes e através de uma narrativa não linear, na quarta edição. É nela que encontramos a maioria das referências que esse episódio usou, e encontramos mais uma logo nos primeiros minutos, quando Manhattan pega duas cervejas no balcão do bar e leva para Angela, que está sentada sozinha lembrando a data da morte de seus pais. Ele provavelmente aborda ela dessa maneira porque foi assim que sua primeira namorada, Janey Slater, o conquistou: comprando uma cerveja. 
  • Durante sua conversa com Angela, Jon explica o que fez durante os anos que passou fora da Terra depois dos eventos do quadrinho, e através de um excelente trabalho de efeitos visuais, temos a explicação, assistimos Jon criar vida em Europa, uma das luas de Júpiter. Podemos ver o surgimento de vegetação e da água, na qual o personagem caminha, e os primeiros indícios de vida humana, inspiradas na imagem de um casal que Jon presenciou tentando fazer sexo, quando ainda era uma criança imigrante. Esse casal virou o molde para o Sr. Phillips e a Sra. Crookshanks, que de algum jeito acabam ficando com Adrian.

    Também descobrimos porque a mansão em Europa pode ser vista também na casa de Angela, e isso é porque essa foi a mesma moradia na qual Jon cresceu. 

    Voltando ao passado, o garoto observa enquanto seu pai conserta um relógio, e assim entendemos ainda melhor o título da peça de Adrian, “O Filho do Relojoeiro”. Na HQ podemos ver mais da relação entre os dois, e como a bomba atômica em Hiroshima influenciou o futuro de Jon. Com o ataque ao Japão, o pai de Jon decide que ser um relojoeiro é a profissão do passado, enquanto o futuro está no estudo da ciência atômica, e assim Jon acaba se formando com um Phd em física atômica, o que rende uma vaga nos laboratórios de Gila Flats, uma instalação para testes de partícula atômica, localizado em Arizona.

    Depois de ser pego observando Sr. Phillips e a Sra. Crookshanks na cama, Jon é chamado pelos dois para uma conversa, mas o casal é gentil e revela que está apenas tentando ter um filho. Eles entregam uma bíblia para Jon, e as ilustrações no interior são feitas pelo próprio Dave Gibbons, desenhista do quadrinho original. É óbvio que Alan Moore não participaria da produção da série (anos se dando mal nas mãos da DC Comics podem traumatizar qualquer um), mas Gibbons não vê problema nisso. 
  • Voltamos ao presente, e Jon continua conversando com Angela. Ele narra a primeira grande briga entre os dois, onde ela questiona a humanidade do personagem, e ele diz que a última vez que sentiu medo foi em 1959, durante o experimento em Gila Flats no qual ficou preso em uma câmera de campo intrínseco, o que deu origem ao Dr. Manhattan.

    Depois da briga, Manhattan vai até a Antártida, onde fica localizado o quartel general de Ozymandias, chamado Karnak, inspirado nos templos dedicados aos deuses egípcios. Podemos ver no interior os escombros e o que sobrou dos eventos do quadrinho, onde Adrian matou a equipe de pesquisa que o ajudou em seu plano final nas HQs, e tentou matar Jon, sem sucesso. Adrian ainda está lá, assistindo em suas telas como o mundo tem sido afetado pela sua paz mundial orquestrada. Os dois ex-Watchmen conversam e lembram dos eventos finais do quadrinho, repetindo alguns diálogos, como Manhattan dizendo o quão decepcionado está com Adrian. Também é revelado nessa cena que o próprio Adrian é responsável pelas chuvas de lula, que em suas palavras serve para “manter a paz”. 
  • Para manter sua relação com Angela, Jon decide algo drástico e aceita um plano de Adrian para que suas memórias sejam afetadas ao ponto dele esquecer que seja o Dr. Manhattan. Isso o fará o mais mortal possível. Durante o diálogo, Jon pergunta quanto tempo demoraria para criar um dispositivo capaz disso, e Adrian responde dizendo que já o fez, há trinta anos, explicando que tentar destruí-lo era o plano B. Essa é mais uma ligação com uma fala do personagem nos quadrinhos, quando Adrian revela que seu ataque com a lula gigante não vai acontecer, mas já aconteceu, há 35 minutos.

    Ainda na conversa entre os dois, dando uma olhada na mesa de Adrian podemos ver um dos bonecos da linha de brinquedos que Veidt produziu durante os eventos da HQ.

    Assim, os dois terminam sua interação quando Adrian oferece o dispositivo para Jon, mas não antes de perguntar sobre sua utopia e a chance dela ser real. Jon diz que é real, mas não na Terra, então manda Ozymandias para Europa, onde pode comandar pessoas mais inocentes e capazes de manter o paraíso, mas é claro que para Adrian isso não é o suficiente. 
  • De volta ao bar, Jon tenta provar para Angela que consegue criar vida fazendo um ovo surgir em suas mãos. Esse é mais um indício do tema geral da série, que usa constantemente imagens de ovos para fazer uma alusão ao dilema da galinha e do ovo e qual dos dois veio primeiro. É tudo um grande paradoxo, o que mais tarde no episódio acaba sendo uma informação essencial. 

    Assim, finalmente continuamos de onde o episódio anterior parou, com a consciência de Jon voltando aos poucos. Ele está confuso e caminha pela casa de Angela, então começa a falar sobre o que deve ser feito, mas sem entregar todos os detalhes, já que sabe o que acontece em seguida.

    Jon pergunta sobre um relógio quebrado e descobrimos como Angela sobreviveu ao ataque da Kavalaria no passado, graças aos poderes de Manhattan, que a salvou por instinto. Mas o mais estranho da conversa entre os dois é quando Jon fica parado no meio da piscina e diz que ficar ali por alguns instantes é “importante para depois”. Essa é a única indicação forte de que talvez ele tenha sobrevivido ao ataque que está por vir.
  • Angela aproveita a presença de Jon e sua habilidade de estar em todos os momentos de sua vida simultaneamente, então pede para perguntar ao seu avô, Will, como ele sabia sobre Judd Crawford ser um membro dos Ciclopes e o uniforme da Klu Klux Klan em seu armário. Um Will do passado não faz ideia de quem Judd Crawford seja. Assim entendemos que Angela é a responsável por tudo e acabou de criar um paradoxo temporal, repetindo a temática da “galinha e do ovo”. Esse tema também pode ser encontrado nos quadrinhos, já que Alan Moore é fascinado por narrativas envolvendo simetrias, tanto que um dos capítulos de Watchmen se chama “Terrível Simetria”.

    Os dois não tem tempo para discutir isso porque Jon diz para Angela que a Kavalaria está em sua porta, esperando para destruir Manhattan, e ele não pode impedir. Isso faz com que Angela corra para defendê-lo, e esse é o momento em que ele percebe que a ama.

    Angela vai em direção aos membros da Kavalaria e quase perde a luta, mas Jon decide ajudá-la e é capturado pela arma que o teleporta para o esconderijo da Kavalaria. Voltamos ao bar, e Angela termina a noite aceitando o convite de Jon para um jantar. 
  • E como se já não houvessem muitas revelações neste episódio, temos uma cena pós crédito envolvendo Adrian, que está sofrendo sua punição: ter tomates esmagados em seu rosto até que mude de ideia e decida ficar naquele paraíso com os clones. Em sua cela, lê o livro Fogdancing, escrito por Max Shea, um personagem da HQ que também é responsável por várias edições do quadrinho Cargueiro Negro. Adrian é o responsável pela morte de Shea.

    Para terminar de vez o episódio, Adrian recebe a visita do Guarda Phillips, que o entrega mais um bolo de aniversário, mas dessa vez com a ferradura que tanto esperava, por algum motivo. Assim, ele começa a gargalhar e riscar a ferradura no chão. Ou ele vai usar isso para fugir ou talvez seja apenas a deixa para algo que está por vir, já que ao longo da série pudemos ver que Adrian sempre reagir ao receber a ferradura com um “Não está na hora”. Então, será que agora é a hora?

Falta apenas um episódio, mas talvez o teaser da próxima semana tenha confirmado que haverá uma segunda temporada, isso porque podemos ler “Season Finale” ao invés de “Series Finale”, o que confirma que essa não era apenas uma minissérie, mas uma primeira temporada. Por enquanto, vou me manter otimista, mas preferia que fosse apenas uma história contida.

Ainda precisamos saber mais sobre Will, que ficou com as crianças enquanto Angela ia ao encontro da Kavalaria; também não sabemos o verdadeiro propósito do Relógio do Milênio; e será que Dan vai surgir nos minutos finais?

O tempo está acabando, tic toc.

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Rick and Morty | One Crew Over the Crewcoo´s Morty – S04E03

O título do episódio dessa semana, One Crew Over The Crewcoo´s Morty, é uma referência ao livro e meu filme favorito, Um Estranho No Ninho (One Flew Over The Cuckoo´s Nest), lançado em 1975, estrelado por Jack Nicholson. Mas a piada está apenas no trocadilho, isso porque ao contrário dos episódios anteriores, o título não está ligado diretamente ao tema principal, e o que temos na verdade é uma grande homage (Dan Harmon prefere esse termo no lugar de paródia, já que tecnicamente não é uma mesmo) da franquia 11 Homens e Um Segredo, com direito a música, referências diretas e um Rick agindo como George Clooney com um pirulito na boca e a repetição da frase “seu filho da mãe; conta comigo”, que me fez rir mesmo sendo repetida o episódio inteiro. 

Em sua busca por um artefato capaz de separar táquions, Rick descobre que foi trapaceado por um “artista da falcatrua” chamado Miles Knightly (dublado por Justin Theroux, da série The Leftovers). Ao lado de Morty, Rick vai atrás de Knightly, que é o palestrante convidado de honra de um evento para trapaceiros chamado Heist Con. Mas por não querer dar a satisfação de entrar na palestra como um fã, decide reunir seu próprio grupo de trapaceiros para participar do evento como profissionais.

Para isso, Rick reúne Glar, Angie Flint e Truckula, cada um com personalidades ridículas e aleatórias, uma das brincadeiras que Harmon gosta de fazer para mostrar como personagens secundários nunca recebem o tratamento que merecem. Mas o que começa como um simples plano de Rick para envergonhar Knightly e pegar seu artefato acaba virando uma trama desnecessariamente complexa (no sentido cômico) sobre reviravoltas, traições e planos mirabolantes. 

“Suas vaias significam nada, eu já vi que tipo de coisa deixa vocês felizes”
“Suas vaias significam nada, eu já vi que tipo de coisa deixa vocês felizes”

A premissa desse episódio é simples, mas é a execução que acaba sendo uma loucura. A introdução de vários personagens, assim como o ritmo rápido e a montagem dinâmica fizeram com que até mesmo se você estivesse um pouco confuso com a sequência de eventos, não ficasse de fora da piada. One Crew Over The Crewcoo´s Morty é bem similar em sua abordagem à um episódio da segunda temporada da série Community, outra criação de Dan Harmon, no genial Conspiracy Theories and Interior Design, onde o conceito de que a maioria das narrativas sobre “conspiração” seguem a mesma premissa e exploram pouco do potencial (Community chega a ter um episódio inteiro na sexta temporada, brincando com filmes de trapaça, mas esse não é tão inteligente quanto o de conspirações, então decidi deixar esse como referência principal). 

O episódio dessa semana faz várias piadas com roteiros de obras que focam em assalto e trapaça mas não passam do conceito e esquecem de explorar o subgênero. Com diz Rick, “tudo que precisei fazer foi inserir o algorítmo de dois filmes sobre o assunto que eu nem me dei ao trabalho de assistir”. Mas a trama não se limita à zombar de filmes do gênero e temos a exploração do absurdo que a série sempre faz muito bem, revelando como uma simples birra entre duas pessoas com um ego gigantesco pode resultar em uma catástrofe em questão de minutos. A destruição e falta de esperança acabam virando algo trivial quando o foco está em Rick tentando provar um ponto, não importa como.

Além de ser o episódio mais engraçado até agora, e um dos que mais me fez rir na série inteira, aqui vão algumas referências que valem a pena mencionar. 

  • Quando Rick chega no evento Heist Con, consegue desviar de um segurança e evitar ser capturado por ele por conta de seu jaleco, que parece criar vida e atacar o funcionário do evento. Antes do jaleco fazer a ação, Rick dá o comando para que a peça de roupa “Fala igual Doutor Estranho”, uma clara piada com a capa mágica do personagem da Marvel, que tem vida própria. Mas há uma segunda piada em cima disso, que é o fato de Dan Harmon ter sido um dos roteiristas responsáveis por revisar o roteiro do filme antes das filmagens acontecerem. 
Rick And Morty
  • Na segunda tentativa de criar um grupo de trapaceiros, Rick convida Elon Musk, o empreendedor e filantropo responsável por empresas como a SpaceX e a Tesla Motors. No episódio, ele é retratado com presas e é chamado de Elon Tusk (presa, em inglês), para fazer a piada de que ele não é o original, mas uma versão de outra realidade. Ainda assim, ele tem alguns dos trejeitos do Elon Musk original, sem contar que o personagem acabou sendo dublado pelo próprio. 
Rick and Morty
  • Em meio a introdução de tantos personagens, a maioria deles descartados antes mesmo do episódio terminar, finalmente tivemos o retorno do adorado Mr. Poopybutthole, que foi introduzido no episódio Total Rickall, da segunda temporada. Ele sofreu por um tempo por conta de um acidente envolvendo Beth e sua arma, mas parece estar bem melhor agora, atuando como professor em uma universidade. É claro que talvez sua carreira esteja em risco depois de ter espancado seus alunos por conta de Rick, mas isso são detalhes.
Rick and Morty
  • Além de mencionar e fazer várias alusões aos filmes da franquia Onze Homens e Um Segredo, Rick usa o nome David Lynch, quando quer dizer que alimentou um de seus robôs com filmes que não fazem sentido algum. Essa é uma piada com a filmografia experimental de David Lynch, o diretor responsável pela série Twin Peaks e filmes como Veludo Azul e Cidade dos Sonhos (no qual Justin Theroux, que faz a voz do personagem Miles Knightly, atuou).
  • E por falar em Miles Knightly, é impressão minha ou a roupa dele é basicamente uma réplica do traje que Freddie Mercury usou em algumas apresentações durante a turnê do álbum A Kind of Magic, com a Queen?
Rick and MOrty

Rick passa mais um episódio se vingando de alguém, será que é apenas uma premissa que os roteiristas adoram ou uma prévia de algo que está por vir?

Até o próximo episódio!

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Watchmen | An Almost Religious Awe – S01E07

Chegando mais próximo de sua conclusão, a primeira temporada de Watchmen vem mostrando como é capaz de mesclar o material original de Alan Moore com seus derivados pela DC Comics e o longa de Zack Snyder, mas criando algo novo e impactante. Em An Almost Religious Awe, sétimo episódio da temporada, Angela ainda lida com seu passado, enquanto a investigação de Laurie fica mais arriscada e Adrian Veidt prepara sua defesa. 

As alternâncias entre passado e presente continuam importantes, e se formos considerar as revelações desse episódio, a noção de tempo talvez seja o detalhe que devemos prestar mais atenção. Mas antes de irmos para as teorias e referência, preciso mencionar algumas informações relevantes listadas no PeteyPedia (o site onde o agente Petey cataloga suas evidências). 

A primeira informação é um indício forte da revelação final do episódio: em um arquivo secreto sobre a origem de Sister Night, Petey menciona filmes famosos por parodiar ou homenagear a cultura de super-heróis, e um deles se chama O Superman Negro, uma paródia de Dr. Manhattan. No relatório, também é mencionado um crítico chamado Mr. Ebert, uma referência ao famoso crítico cinematográfico Roger Ebert, que morreu em 2013 mas mantém um legado através de seu site.

Petey termina seu texto dizendo que Will Reeves comprou o cinema onde esteve quando o ataque de Tulsa tomou conta, e vem passando o filme Sister Night desde 2017, quando Angela começou a usar a máscara. Ele menciona o termo “milagre termodinâmico”, algo que Jon dizia nos quadrinhos, mas na série ele provavelmente ouviu de Laurie durante a viagem de carro que fizeram até o Relógio do Milênio alguns episódios atrás. 

O segundo documento, ainda mais estranho, é um relatório médico de 2009, no nome de Calvin Jelani, o marido de Angela. No preenchimento do relatório, podemos ver que Cal apenas conheceu seu pai, que de acordo com ele morreu de um ataque cardíaco e tinha alzheimer, mas quanto à mãe e os avós, nada sabe. Ele também não tem filhos ou irmãos. 

Mas fica mais curioso quando lemos a descrição do médico sobre o estado de Cal, escrevendo que ele foi encontrado por Angela visivelmente confuso, com uma pequena contusão na testa (não mais visível), e agora apresenta lapsos de memória e sintomas de transtorno dissociativo e perda de identidade. Nas anotações finais, diz que o paciente é passivo e quieto, e gostou muito de um boneco de Dr. Manhattan que estava na sala de consulta. 

Se você terminou esse episódio na dúvida, o PeteyPedia com certeza deixou as coisas mais claras. Então, vamos para…

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • O episódio abre com um documentário sobre a origem de Jon Osterman, que viria a se tornar Dr. Manhattan, e seu envolvimento na guerra do Vietnam. É revelada uma imagem de Jon quando criança, além da calçada onde a loja de seu pai ficava, além de seu impacto cultural, criando a bateria de lítio capaz de manter a energia renovável que Veidt tanto almejava. É logo em seguida que temos o primeiro vislumbre de Manhattan atuando na guerra.

    A câmera se distancia do documentário, revelando uma locadora em Saigon, onde uma jovem Angela Abar tenta comprar um filme da onda blaxploitation chamado Sister Night, o que deixa clara a principal inspiração da personagem para seu alter ego fantasiado. Entre os filmes da locadora também temos uma adaptação do livro Fogdancing, escrito por Max Shea, um personagem da HQ que também é responsável por escrever várias edições do quadrinho Cargueiro Negro.

    Nas ruas de Saigon, Angela caminha ao som de Living in America, de James Brown, entre as pessoas fantasiadas de Manhattan durante uma comemoração do “herói”, e fica assistindo uma pequena apresentação envolvendo um fantoche do cientista azul. Essa imagem faz referência a um diálogo nos quadrinhos entre Jon e Laurie, onde ele comenta como todos somos fantoches, mas ele consegue ver suas cordas. Isso também pode ser uma alusão visual à capa da oitava edição do quadrinho The Doomsday Clock, a mais recente tentativa da DC em inserir Watchmen no seu universo padrão. 
  • Voltamos ao presente, onde Angela continua seu tratamento para tirar os resíduos de Nostalgia da sua corrente sanguínea e de seu cérebro. Lady Trieu e ela conversam bastante sobre o verdadeiro propósito do Relógio do Milênio, o que descobrimos no fim do episódio. Mas o que eu quero ressaltar aqui é uma outra referência aos quadrinhos, mais voltada para sua iconografia, com a personagem Bian fazendo um teste de empatia com Angela usando cartões, o que é bem similar ao tratamento de Rorschach pelo Dr. Malcolm Long na HQ. Na cena, Angela lembra quando começou a sonhar em trabalhar na polícia.

    Nesse ínterim, Pirate Jenny e Red Scare ficam de tocaia esperando por Angela, enquanto Cal tenta visitá-la, mas é barrado na entrada. Cortamos para Petey, que investiga o bunker de Looking Glass e encontra o grupo da Kavalaria que tentou pegá-lo de surpresa, mas não contavam com a inteligência do personagem. Além disso, Laurie visita a Sra. Crawford e acaba capturada pela Kavalaria. 
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  • Agora, para o “365º dia em julgamento do Povo contra Adrian Veidt”. Adrian espera pelo Guarda, que agora atua como o juiz de seu caso. A Madame Promotora é, obviamente, uma das várias Sra. Crookshanks, e através de sua apresentação para o júri, o público que não tem afinidade com os quadrinhos pode descobrir ainda mais informações sobre o plano de Veidt que causou o clímax da HQ, envolvendo a lula gigante e o assassinato de milhões de pessoas.

    Quando o juiz percebe que os clones presentes não podem julgar Adrian por seus atos, pede para que tragam uma vara de porcos para definir o destino do acusado, que é declarado culpado. A cena é bizarra, como todas envolvendo o personagem, e parece ter saído direto do filme Chinatown, onde um pastor invade um tribunal com suas ovelhas (essa provavelmente não é uma referência, mas lembrei na hora). O mais curioso da cena, na verdade, é que Adrian parece realmente decepcionado pelo resultado do julgamento, o que é estranho considerando como ele parecia ter tudo ensaiado e sob controle o tempo inteiro. 
  • Angela procura por seu avô, mas acaba encontrando o que não deveria, mas parece estar cada vez mais perto da verdade. Descobrimos o destino de Laurie, que vai parar no esconderijo da Kavalaria. Lá, o senador Keene começa seu discurso sobre uma América cada vez mais “distante de suas origens” e como “é extremamente difícil ser um homem branco na América agora” ¬¬’. Laurie revira os olhos para os comentários idiotas do senador, mas não deixa de ficar preocupada com o verdadeiro plano da Kavalaria: capturar Dr Manhattan e transformar os membros supremacistas em novos “deuses”, assim como Jon
  • Mais uma volta ao passado, dessa vez temos o retorno de June, a ex-esposa de Will e avó de Angela. Assistimos June tirando Angela do orfanato e prometendo uma vida diferente para a criança, mas para continuar a onda de desgraça na vida da personagem, a idosa colapsa no meio da rua assim que pede um táxi para levar a menina para casa.

    Angela se desconecta dos cabos que Lady Trieu estava usando para drenar a Nostalgia de Angela e colocar em um elefante (?). Essa cena é indicada no começo do episódio, quando entre os filmes da locadora em Saigon, há uma fita de um desenho animado chamado Trunky, sobre um bebê elefante. Agora não lembro de elefantes nos quadrinhos, a não ser que você considere a logo do restaurante de comida indiana Gunga Dinner, que é basicamente um elefante rosa. Rorschach vivia comendo lá.

    Investigando o Relógio do Milênio, Angela encontra uma sala escura onde Lady Trieu guarda todas as gravações de todas as caixas telefônicas que espalhou pelo mundo para que as pessoas pudessem mandar suas orações para o Dr. Manhattan. Além da referência visual aos quadrinhos, no qual Adrian e Manhattan conversam separados por um globo, a conversa entre Trieu e Angela traz a maior revelação da temporada, de que Jon está entre nós, caminhando em Tulsa. Isso não parece impressionar Angela, que vai embora. 
  • Chegando em casa, Angela conversa com Cal, e temos a reviravolta de que seu marido era esse tempo todo o próprio Dr. Manhattan, ou um representação dele, já que nos quadrinhos o personagem diz que no futuro pretende criar novas formas de vida. Angela acerta a cabeça de Cal com um martelo e retira de lá um pequeno símbolo de hidrogênio, o mesmo que Manhattan carrega desenhado em sua testa.

    Enquanto assistia, imaginei que Cal fosse apenas uma pessoa criada por Manhattan e que Angela estivesse falando com ele através do marido, mas se observarmos com atenção, no reflexo do olhar de Angela, podemos ver a silhueta de Cal, agora brilhando com uma forte luz azul, se levantando do chão lentamente, confirmando que ele é na verdade o próprio cientista. 

Você esperava por essa reviravolta?
Em retrospecto, agora faz ainda mais sentido não termos revelações sobre o tal “acidente” de Cal, ou porque o casal não teve filhos biológicos, e coloca bastante sentido na cena em que Laurie comenta para Angela sobre uma visita que fez a sua casa e achou Cal “interessante”. Parece que a série foi mais esperta do que eu imaginei (coloquei todas as minhas fichas no garoto Topher, que estava literalmente fazendo uma construção igual a do Manhattan em um episódio), e estou adorando o caminho que ela está tomando.

Semana que vem tem mais. Faltam apenas dois episódios.
Nos vemos em breve.
Tic. Toc. Tic. Toc.