Poucos nomes servem como símbolo de esperança e compreensão como Picard, um dos personagens mais importantes da ficção científica e da televisão, interpretado por Patrick Stewart na série Jornada nas Estrelas: A Nova Geração, que teve sete temporadas entre os anos 1987 e 1994. Mesmo sendo mais aclamado na pequena tela, a última vez que vimos Jean-Luc Picard foi no filme Jornada nas Estrelas: Nemesis, de 2002, e desde então sentimos saudade do capitão da Enterprise.
Felizmente, quase duas décadas depois, tivemos a confirmação de que Patrick Stewart retornaria ao papel, estrelando uma nova série intitulada apropriadamente como Jornada nas Estrelas: Picard. No Brasil, teremos episódios todas as semanas através do serviço de streaming Prime Video, da Amazon, e já temos o primeiro, intitulado Remembrance, para analisar.
Há vários obstáculos no caminho que podem atrapalhar o desenvolvimento de Picard, incluindo a necessidade de atrair uma nova audiência para um personagem já estabelecido, sem contar que os fãs já possuem uma série da franquia Jornada atualmente, Discovery, com uma abordagem mais dinâmica e voltada para a estética dos filmes de J.J. Abrams, o que pode ser um problema, já que uma série focada em Picard parece demandar um tratamento mais introspectivo, com atenção maior aos diálogos e as atuações.
O resultado final é um híbrido entre a ação rápida da timeline Kelvin (criada para distinguir os filmes de J.J. Abrams, que apresentavam uma “linha temporal alternativa”) e da série Discovery, com toques de A Nova Geração, dando espaço para momentos de reflexão e silêncio. Talvez nem todos concordem com essa decisão, mas particularmente considero um compromisso necessário, desde que tenhamos um enredo e personagens consistentes.
Da mesma forma, Picard se beneficia dos avanços tecnológicos e o orçamento atual da televisão para entregar um visual cinematográfico, com uma câmera melhor, capaz de dar mais atenção aos detalhes, além de um tratamento melhor nas cores e uma estética limpa. A direção do primeiro episódio fica por conta de Hanelle M. Culpepper, que usa seu repertório em séries como Flash e a própria Discovery, para trazer um dinamismo para as sequências de ação, com coreografias mais elaboradas, como as empolgantes batalhas com Phasers. É um pouco estranho ver tanta ação em volta de Picard, mas faz parte do compromisso mencionado no parágrafo anterior.
Começamos a série com um Picard aposentado, conhecido como o ex-almirante que abandonou a federação para liderar uma frota de resgate depois do surgimento de uma supernova que acaba destruindo o planeta Romulus. O que já era uma missão arriscada, logo transforma-se em tragédia depois de um grupo de sintéticos se rebelarem, causando também a destruição do estaleiro de Utopia Planitia, localizada em Marte. Além de ligar com as repercussões de suas ações, Picard conhece Dahj, uma jovem procurando refúgio ao lado do ex-almirante.
Não há uma série sem Patrick Stewart, e o ator entrega tudo com uma performance mais contida e melancólica, um homem arrependido com uma vida solitária, acompanhado apenas de seus dois ajudantes romulanos e um cachorro, apelidado de Número Um. Mesmo mais velho, Stewart não esquece como é interpretar o personagem, que até em seu ponto mais baixo, serve como uma luz no meio de todo o embate político e a possível ameaça envolvendo as origens de Dahj, interpretada por Isa Briones.
No elenco também somos apresentados ao personagem de Alison Pill, a cientista Agnes Jurati, que auxilia Picard em uma busca sobre o passado de seu amigo, Data, papel reprisado por Brent Spiner. No fim, conhecemos também Narek, personagem de Harry Treadaway. Como é apenas o primeiro episódio, o que temos é uma grande introdução ao universo da série, sem muito espaço para o desenvolvimento dos personagens, então ainda é cedo para avaliar como cada um está indo, se bem que até o momento todos parecem bem confortáveis, principalmente os veteranos Stewart e Spiner.
Com a bela composição musical de Jeff Russo, conhecido por seu trabalho em Fargo, Legion e – mais uma vez – Discovery, ótimos visuais e uma trama promissora, Remembrance é um ótimo ponto de partida para essa nova jornada.
Agora, vamos para a parte em que analisamos alguns aspectos específicos do episódio:
MAKE IT SO – Referências, Teorias e Easter Eggs – SPOILERS!
- O episódio começa com a música Blue Skies, de Ervin Berlin. Para os fãs de Jornada, a música ficou mais conhecida por conta do filme Nemesis, quando Data cantou a música durante o casamento de William T. Riker e Deanna Troi. A importância da música para o episódio está ligada diretamente a importância de Data para a trama, já que ele é, aparentemente, o pai de Dahj.
Enquanto a música toca, assistimos Picard jogando poker com Data, mas no fim descobrimos que é tudo um sonho. As partidas de poker eram comuns entre os membros da Enterprise em A Nova Geração, e mesmo sumindo por um tempo, Picard decidiu voltar para participar dos jogos no último episódio da série.
- Na sequencia, podemos ver um pouco mais de Chateau Picard, a vinícola da família Picard, agora comandada pelo ex-almirante, que passeia ao lado de seu cão, Número Um, uma referência ao seu antigo primeiro imediato, William T. Riker, que ele chamava por Número Um.
Voltando para casa, Picard pede para o replicador de comida o seu chá favorito, Earl Gray. Dessa vez, descafeinado.
- No mesmo dia, Picard recebe uma equipe de reportagem em seus aposentos. Eles debatem a missão de resgate pela qual foi responsável, e é visível que a federação e algumas pessoas de alta patente não ficaram felizes com a ação.
A destruição de Romulus é um ponto importante para o universo de Jornada por conta da criação da linha temporal Kelvin (explorada nos filmes Star Trek, Star Trek: Além da Escuridão e Star Trek: Sem Fronteiras), resultado direto dos eventos envolvendo a supernova.
- Em mais um de seus sonhos, Picard caminha pela sua vinícola e encontra Data, pintando um quadro. Esse é um dos hobbies que o personagem adota durante A Nova Geração, como uma maneira de expressar artisticamente.
Ao acordar, Picard visita o prédio de “Arquivos da Frota Estelar”, onde ficam guardados documentos e outros objetos de seu tempo atuando como capitão da Enterprise. A sala está recheada de referências, como uma réplica da Enterprise, um Bat’leth (arma de batalha Klingon) e o banner de comemoração “Captain Picard Day”, do episódio The Pegasus, quando as crianças da nave decidem fazer uma festa celebrando o capitão.
Mas a grande revelação da cena é uma das pinturas de Data, onde Dahj pode ser vista, e a obra é intitulada “Filha”. No episódio The Offspring, de A Nova Geração, em uma das tentativas do personagem em se aproximar da humanidade, Data cria uma “filha” chamada Lal. O experimento não dá certo e ela precisa ser desativada, mas o androide mantém sua memória e faz uma pintura dela.
- Continuando sua investigação, Picard vai ao instituto Daystrom, onde conversa com a doutora Jurati. Ela revela como tem mantido as partes do andróide B-4, uma versão inferior de Data, atualizado com suas memórias depois de se sacrificar pela tripulação em Jornada nas Estrelas: Nemesis.
Durante a conversa, Jurati menciona Bruce Maddox. No episódio The Measure of a Man, da segunda temporada, Maddox é um ciberneticista interessado em desmontar Data para estudar seus componentes e criar novas versões do androide, mas não tem sucesso.
- No fim do episódio, somos introduzidos a uma instalação dos Romulanos e ao personagem Narek. Mas com a câmera se distanciando, descobrimos que ela está localizada dentro de um cubo Borg desativado.
O que achou do episódio?
Picard está de volta e a série parece mais promissora do que alguns imaginaram, principalmente depois de acabar com algumas teorias que estavam preocupando os fãs.
Semana que vem tem mais, até lá. Engage! 🖖