Distribuído pelo serviço de streaming Amazon Prime Video, A Vastidão da Noite (The Vast of Night, 2019), explora uma noite na pequena cidade fictícia de Cayuga, onde um apresentador de rádio e uma operadora de telefone captam uma frequência misteriosa e decidem investigar, mas esse é só o primeiro dos absurdos que a noite separou para eles.
O filme já está disponível no Prime Video, mas infelizmente não tem recebido a atenção merecida, então decidi trazer uma rápida crítica para indicar essa obra independente e cheia de estreantes na equipe, mas muito bem executada.
Apenas um autor foi capaz de compreender a verdade por trás da vida, do universo e tudo mais. Infelizmente, ele nunca divulgou a descoberta, estava ocupado demais com a data limite para entregar seus projetos. Douglas Adams é o alquimista responsável pelo melhor, ou pelo menos o mais popular, casamento entre comédia e ficção científica da literatura.
Desenvolvido originalmente como um programa de rádio para a BBC em 1978, O Guia do Mochileiro das Galáxias foi traduzido para várias mídias, tendo uma adaptação seriada em 1981 e um longa-metragem de 2005, mas foi através de sua “trilogia” de cinco livros que a história teve uma vida mais longa, e foi onde o autor dedicou a maior parte da sua carreira. Com uma proposta absurda e uma execução ainda mais louca, Douglas Adams criou um fenômeno literário e um marco da cultura pop.
Há tantos elementos essenciais para a obra que fica difícil poder sintetizar uma simples premissa, mas eu vou tentar. Tudo começa com Arthur Dent, um britânico infeliz e entediado que faz uma enorme descoberta: a Terra está para ser destruída por uma raça alienígena, os Vogons, que pretende tirar o planeta do caminho para construir uma supervia intergalática. Mas Dent é salvo da destruição por Ford Prefect, outro alienígena infiltrado no planeta para estudar os humanos e registrar as suas observações no “Guia do Mochileiro das Galáxias”, a mais bem-sucedida enciclopédia jamais publicada pelas editoras de Ursa Menor.
Assim, acompanhado de Ford e levando consigo apenas o roupão de banho que estava vestindo, Arthur segue em uma jornada espacial, conhecendo figuras cada vez mais excêntricas. Uma delas é Zaphod Beeblebrox, o presidente do Governo Imperial Galáctico que acabou de roubar a nave Coração de Ouro, equipada com um gerador de improbabilidade infinita, um conceito tão bizarro que precisou de um capítulo próprio para ser definido. Com ele, viajam a humana Tricia McMillan, apelidada de Trillian, e um depressivo Marvin, o “andróide paranóico”.
Como deu para notar, a proposta do autor não é apenas uma sátira dos elementos narrativos da ficção científica, como também é uma grande piada com o cotidiano da vida na Terra, usando do bom e velho humor britânico para expressar da forma mais trivial possível a importância de coisas como toalhas, poesia alienígena ou o número 42. Douglas Adams tira inspiração de dois grandes patrimônios culturais para os ingleses, a ciência de Doctor Who e a comédia do grupo Monty Python, dois projetos com o qual ele já chegou a colaborar com seus textos.
Mesmo brincando com o gênero, alguns conceitos de Douglas para a obra acabam reforçando sua habilidade de construir mundos loucos, porém consistentes. Idéias como o peixe-babel, um aparelho auditivo que traduz qualquer língua através das ondas sonoras, é um dos exemplos que mostra como o autor não só usa a ciência como alvo das piadas, mas procura uma maneira inteligente de introduzi-la na narrativa. O que ele faz de brincadeira, muitos escritores sequer fazem questão de salientar em suas histórias, e isso é mais um indício de como a comédia pode ser um excelente recurso para elaborar uma crítica, mesmo que a principal intenção seja fazer o público rir.
Por mais que os personagens de Guia sejam memoráveis e divertidos, a escrita de Douglas brilha mais quando está construindo as situações cômicas na qual insere esses personagens, mas o autor não entrega, e nem parece ter a intenção, uma carga dramática eficaz. Se por um lado é impossível parar de rir com a narrativa, a leitura pode ser comprometida pela forma que negligencia entregar arcos dramáticos mais complexos para seus personagens. É compreensível que Adams queira usar seu livro mais como uma análise bem humorada de figuras políticas, da burocracia do cotidiano ou o absurdo e aleatoriedade da existência, mas desenvolver melhor seus personagens poderia deixar a obra ainda mais completa.
O Guia do Mochileiro das Galáxias pode não levar a sério os próprios questionamentos que levanta, mas a diversão está em apenas levantar essas perguntas, que nem sempre passam pela nossa cabeça, mas depois de ler o primeiro livro da série, jamais desaparecem. Toda a trilogia de cinco carrega seus pontos positivos e negativos, mas a jornada é tão rápida, divertida e despretensiosa que você só quer voltar para o início de novo e aproveitar o texto de Douglas Adams, o melhor no que faz.
“Somos alienígenas, trabalhamos de forma misteriosa. Não podemos ser julgados por padrões humanos”.
Toda vez que surge uma nova animação, principalmente uma com temática sci-fi, já corro para assistir. No caso de Solar Opposites, a expectativa é ainda maior por conta dos nomes envolvidos na produção. Desenvolvida por Mike McMahan e Justin Roiland, o primeiro sendo um dos roteiristas e o segundo o co-criador de Rick and Morty, respectivamente, é óbvio que há uma cobrança por parte dos fãs.
Em Solar Opposites seguimos o cotidiano de uma família alienígena que precisou fugir de Schlorp, seu planeta-natal utópico que acabou atingido por um asteroide. Mas na procura por um novo lar, sua nave cai na Terra, onde eles agora vivem e reclamam dos costumes e rituais humanos. Os aliens Korvo e Terry são os guardiões de dois replicantes infantis, Yumyulack e Jesse. A interação entre eles acaba sendo similar a de um casal cuidando de suas crianças adotivas, assim temos Korvo e Terry procuram maneiras de se adequar a nova vida, enquanto Yumyulack e Jesse são matriculados em uma escola para aprender mais sobre os terráqueos.
A animação tem uma proposta comum de comédias situacionais (sitcoms). A primeira que me veio em mente foi a divertida Uma Família de Outro Mundo (3rd Rock From the Sun, no original), e é claro que Alf, o Eteimoso também explora essa premissa. Mas por termos alguém como Justin Roiland por trás da série, não conte com o tom leve e descontraído das produções que acabei de mencionar. Essa nova animação é insana, escatológica e cheia de humor negro.
Ao longo da curta temporada de apenas oito episódios, grande parte da comédia vem das tentativas – sem sucesso – dos alienígenas em se adaptar ao estilo de vida dos humanos. Situações absurdas como ter uma crise existencial ao perceber que um mascote da TV não é real ou ficar indignado com a forma como os humanos se satisfazem ao assistir um truque de máquina faz com que a solução dos alienígenas seja usar todo tipo de ferramenta ou tecnologia extraterrestre (como eles dizem, “baboseira sci-fi”) para tentar compreender as pessoas.
Vale mencionar que a maior parte dos humanos da série servem apenas como vítimas para os planos dos protagonistas, ou seja, há uma boa quantidade de violência e sangue na temporada. Mesmo que não seja oficial, Solar Opposites pode ser visto como um spin off de Rick and Morty, não só por compartilhar parte da equipe criativa, incluindo os animadores, mas pelo tom indiferente e anarquista das tramas.
Por mais que tenha algumas ótimas piadas e desenvolva bem as suas regras e limitações, talvez a falta de alguém como Dan Harmon (com quem Roiland criou Rick and Morty) tire um pouco do brilho dessa nova série. Harmon é responsável pela maior parte do humor metalinguístico e referencial de toda produção em que se envolve, e sua habilidade de elaborar comentários inteligentes e ácidos sobre a estrutura narrativa da TV seriam bem-vindos aqui.
Essa nova série está constantemente fazendo menções e inserindo piadas sobre outros programas, de clássicos como Quinta Dimensão até o sucesso Harry Potter. Chegam a colocar um Justin Roiland animado logo no primeiro episódio como easter egg. Mas nada disso parece ser o suficiente e na maioria das vezes essas referências soam vazias e sem razão. Se por um lado conseguem brincar com os roteiros e personagens de Gilmore Girls de um jeito que contribua para a narrativa, por outro tentam fazer um meta-comentário sobre o serviço de streaming Hulu, onde a animação é exibida, mas repetindo a mesma crítica em diversos episódios. Uma vez é engraçado, duas tudo bem, mas quase todo episódio tem uma piada assim, e essa repetição não contribui para o enredo, apenas distrai e nos lembra de algo que já sabemos. Harmon faz isso com um propósito, Roiland parece um pouco perdido nessa parte.
Continuando nas similaridades entre projetos, já que é inevitável compará-los, a dublagem mantém a mesma qualidade, mas fica difícil distinguir Korvo de Rick, já que os dois são personagens inteligentes dublados por Roiland e tem a mesma atitude sarcástica e arrogante. Mas isso pode ser mais um problema na construção dos personagens, que mesmo tendo características distintas, não tem arcos dramáticos atraentes o suficiente, resultando em conclusões pouco satisfatórias.
Outro indício de que os personagens principais precisam de mais do que apenas traços definidores é o fato de uma subtrama sobre humanos encolhidos e aprisionados no quarto dos aliens por vezes rouba a atenção e parece mais intrigante do que a trama principal. Nessa subtrama, temos uma narrativa clássica sobre ascensão e queda de distopias, o que é simples mas eficaz, principalmente porque os roteiristas parecem estar se divertindo mais ao criar uma nova civilização em volta desses humanos prisioneiros, com ratos servindo de locomoção ou M&Ms como moeda de troca, ao invés das aventuras de Korvo, Terry, Yumyulack e Jesse. O núcleo distópico é tão divertido e engraçado ao ponto de ter um episódio inteiro dedicado exclusivamente a ele, o que é bom mas nos faz lembrar que a trama secundária é envolvente que a principal.
Solar Opposites pode ter seus defeitos, mas é quando explora o caos do cotidiano que realmente brilha, e isso porque Justin Roiland é excelente em humor improvisado. Terminamos a temporada com algumas pontas soltas, e por mais que essa não tenha sido uma das animações mais marcantes do ano, talvez eu volte para mais no futuro. Por enquanto, vale a pena assistir: são apenas oito episódios e eles passam voando.
Essa não é uma matéria comum por aqui, mas passei tempo demais sem poder combinar duas grandes paixões da minha vida: a ficção científica e a música da Queen, a maior e melhor banda que já existiu (comprovado cientificamente). Brincadeiras à parte, é curioso notar como os integrantes da banda foram inspirados e também conseguiram influenciar os gêneros da ficção científica e fantasia.
Uma das características que melhor representa a Queen é a forma como cada membro carrega gostos e interesses diferentes, mas de alguma maneira consegue trazê-los organicamente para o repertório da banda. Freddie Mercury, Brian May, Roger Taylor e John Deacon já se arriscaram em diversos estilos musicais, e eu não estou exagerando quando digo que foram muitos.
Além do clássico hard rock e heavy metal casando com elementos de ópera e balé, músicas como The March of the Black Queen, Bohemian Rhapsody e Innuendo foram o máximo da experimentação, com assinaturas de tempo incomuns para as rádios. A banda também já brincou com o punk em Sheer Heart Attack (Freddie já chegou a se desentender com o cantor Sid Vicious), trocou os seus instrumentos padrões por guitarras espanholas, maracas e campana em Who Needs You, e eu não sei explicar o que acontece em Mustapha, onde Freddie Mercury canta inglês, árabe, persa e outra língua inventada. Faz parte da banda explorar novas loucuras para inserir em seus álbuns, e eu mencionei apenas os primeiros exemplos que me vieram na cabeça.
Mas vamos ao que interessa. Mesmo que Queen seja o maior acontecimento da história da música (nem um pouco hiperbólico), esse é um site sobre ficção científica, e é hora de lembrar como esses dois mundos se encontram.
A primeira coisa que devemos notar é que os próprios integrantes da banda sempre tiveram um pé na ciência. O baterista Roger Taylor tem um diploma em biologia e o guitarrista, Brian May, possui um PhD em astrofísica. May chegou a colaborar com a NASA no projeto New Horizons, que tinha como um de seus objetivos fotografar e estudar Plutão.
E como se isso não fosse o suficiente, a carreira solo dos dois é ainda mais ligada à ficção científica. Os dois primeiros álbuns de Roger Taylor foram intitulados Fun in Space (Diversão no Espaço) e Strange Frontier (Estranha Fronteira), enquanto May se envolveu em projetos musicais com nomes como Star Fleet (Frota Estelar) e 1984 (referência direta ao livro de George Orwell), sua primeira banda.
Seguindo uma linha cronológica, a primeira ligação da banda com o gênero está no álbum A Night At The Opera (1975).
Queen já havia criado uma narrativa de fantasia entre seus álbuns Queen (1973)e Queen II (1974), mas foi só com A Night at the Opera, título inspirado no filme de mesmo nome estrelado pelos Irmãos Marx, um grupo conhecido por várias comédias clássicas, que a banda teve sua primeira música com temática de ficção científica.
Escrita e cantada por Brian May, a canção ´39 traz a banda inteira cantando em harmonia a história de um grupo de astronautas que embarca em uma viagem de um ano. Mas ao retornar, percebem que por conta da dilatação temporal, centenas de anos já se passaram. A música segue o ponto de vista desses astronautas, que agora percebem como todos que deixaram para trás estão velhos ou mortos.
Para contrastar a narrativa melancólica, May decide seguir com um arranjo folk, ao estilo das músicas skiffle, que mesclam jazz, blues e country. Nas apresentações ao vivo, Freddie Mercury geralmente cantava no lugar de May, que ficava ocupado no violão. Pessoalmente, prefiro a versão do álbum, mas esse ao vivo com Roger Taylor berrando é o que melhor representa a atmosfera da canção:
O próximo exemplo não está em uma música, mas sim em uma ilustração. Além do álbum News of The World (1977) trazer hinos da banda, como We Will Rock e We are The Champions, a primeira coisa a chamar atenção é a sua arte de capa.
A arte revela um robô gigante segurando a banda em suas mãos mecânicas e ensanguentadas, com uma expressão aparentemente triste. Para quem acha essa capa aleatória, ela tem a ver com a paixão do baterista Roger Taylor pelas clássicas revistas de ficção científica que você podia encontrar em qualquer banca na década de 1950 e 60.
A ilustração do robô gigante apareceu pela primeira vez na capa da revista Astounding Science Fiction, e a arte original foi feita por Frank Kelly Freas. O artista chegou a explicar a imagem, dizendo que ela representa um robô acidentalmente destruindo um ser orgânico, mas triste por não poder consertar. A edição da revista trazia a história The Gulf Between, do escritor Tom Godwin, sobre uma civilização futurista onde os robôs podem trabalhar como qualquer ser humano, mas devem seguir as regras sem questioná-las.
24 anos depois do lançamento da revista, a banda contratou Freas para recriar a imagem, dessa vez trocando o humano da capa original pelos integrantes da banda.
Agora podemos seguir para as trilhas sonoras. Por mais que Queen esteja presente em incontáveis filmes, não foram muitos para os quais eles prepararam uma trilha sonora original. A primeira delas foi para o filme Flash Gordon (1980), longa inspirado no herói das tiras de jornal criado por Alex Raymond.
Principal concorrente de Bucky Rogers, Gordon é um homem forte e corajoso, que acaba preso no planeta Mongo, comandado pelo tirano Ming. As histórias eram simples e logo se transformaram em uma ópera espacial maior e mais épica. Em questão de adaptações, Flash Gordon teve séries, animações e mais de um filme, mas o mais conhecido continua sendo a versão de 1980, que contava com a trilha sonora original feita por Queen.
O álbum Flash Gordon (1981) tem uma arte de capa incrível e Brian May queria criar a música mais explosiva e heróica que imaginou. Além da faixa-tema, Flash’s Theme, o álbum trazia ótimas canções como The Hero e a melhor versão da Marcha Nupcial que você já ouviu.
Foi durante a turnê desse álbum que Freddie Mercury inventou de se apresentar montado em cima dos ombros de Dart Vader. É engraçado quando você lembra que a letra da música Bycicle Race contém o verso “I don’t like Star Wars” (“Eu não gostou de Guerra nas Estrelas”).
O próximo álbum da banda seria Hot Space (1982), um dos mais arriscados. A ideia do baixista John Deacon em criar uma mistura de funk com disco não agradou os outros membros, mas seguiram com a proposta mesmo assim. O resultado foi um dos álbuns mais criticados da banda, mas ainda assim contendo faixas excelentes como Under Pressure.
Não há referências sci-fi nas letras das canções, mas o clipe da música Calling All Girls, de Roger Taylor, é uma paródia do filme THX 1138 (1971), uma distopia escrita e dirigida por George Lucas antes de ficar conhecido com Star Wars. O videoclipe é considerado um dos mais raros da banda, mas finalmente começou a receber atenção ao aparecer em DVDs da banda e no seu canal do Youtube.
Mas se Calling All Girls não fez sucesso, a banda conseguiu compensar isso com o lançamento do álbum The Works (1984), um dos seus mais vendidos. Além de ter músicas como Machines (Back to Human), uma das primeiras vezes que a banda decidiu usar sintetizadores, com o propósito de dar o ar futurista que o álbum pedia, a maior referência ao gênero está no videoclipe de Radio Gaga, música escrita por Roger Taylor.
Com visuais inspirados no clássico filme do expressionismo alemão, Metrópolis (1927), dirigido por Fritz Lang, Queen estava de volta ao topo e decidiu gastar um pouco mais com esse vídeo, recriando cenários e a fotografia do filme. O clipe foi dirigido por David Mallet e não teve uma produção tão simples.
Com o lançamento de uma versão restaurada do filme Metrópolis, a música Love Kills, de Freddie Mercury, foi usada. Em troca, ele recebeu a permissão para usar imagens do filme no clipe da banda, mas eles ainda tiveram que comprar os direitos de exibição do governo alemão.
Cinco anos depois de Flash Gordon, a banda lança o álbum A Kind of Magic (1986). A arte de capa é horrível, mas esse acaba sendo um dos maiores sucessos da banda, incluindo a faixa-título, escrita por Roger Taylor. Esse também foi um lançamento inovador, porque além de ser o primeiro gravado digitalmente pela banda, traz faixas comuns ao lado de músicas originais criadas para o filme Highlander (1986), composições como Princes of the Universe, escrita por Mercury; One Year of Love, de Deacon; e Who Wants to Live Forever, de Brian May.
A turnê do álbum foi a de maior sucesso da banda, rendendo apresentações memoráveis como as de Budapeste e do Estádio Wembley, em Londres. Os shows foram gravados em película 35mm e lançados em alguns dos DVDs e Blu-rays mais vendidos da música.
A música Who Wants to Live Forever é uma das mais belas do catálogo da banda, mas seu clipe não foi tão impactante quanto o de Princes of the Universe, este aproveitando imagens e cenários de Highlander, tendo até a presença do ator principal, Christopher Lambert, recriando a batalha final do filme, com Freddie Mercury.
Eu posso ter esquecido uma coisa ou outra, mas já valeu a pena passar esse tempo escrevendo sobre Queen, o que acabou sendo uma desculpa para passar o dia ouvindo todos os álbuns.
Essa são algumas das principais ligações que você pode encontrar entre a banda e a ficção científica. Se eu esqueci de mencionar algo, deixe nos comentários. Até a próxima.
Em um futuro de carros inteligentes e impressoras 3D capazes de replicar comida em segundos, a tecnologia mais cobiçada pela sociedade é uma realidade virtual onde você pode salvar a sua consciência antes de morrer e continuar sua segunda vida em hotéis de luxo. Acessível para poucos, o serviço Lakeview é o paraíso na terra (ou em um disco rígido), e Nathan Brown (Robbie Amell) acaba de chegar ao lugar, mesmo que não seja da maneira que imaginou.
Nathan é um jovem programador procurando por investidores, mas depois de sofrer um acidente de carro, recebe a chance de ser integrado ao serviço pós-vida digital. Relutante, acaba aceitando a oferta de sua namorada, Ingrid Kannerman (Allegra Edwards), rica o suficiente para pagar o procedimento. Agora, vivendo em uma realidade controlada por computadores, mesmo tendo um avatar físico e outras consciências com quem conversar, Nathan se sente mais sozinho do que nunca. Mas as coisas mudam quando ele conhece Nora Antony (Andy Allo), uma das atendentes trabalhando para manter Lakeview e seus clientes satisfeitos.
Essa é a longa premissa de Upload, nova série original do serviço de streaming Amazon Prime Video. Criada por Greg Daniels, responsável por séries como The Office e Parks & Recreation (há referências das duas ao longo da temporada, incluindo uma participação especial), é difícil não encontrar similaridades entre a proposta de Upload e o episódio San Junipero, da terceira temporada do já popular Black Mirror. Mas o conceito de viver em uma realidade pós-vida adaptada não é algo novo para a ficção científica.
Temos autores como Philip K Dick, que já tocaram no assunto, explorando temas como consciência e livre-arbítrio, o que Upload faz de forma propositalmente superficial, já que pretende seguir uma abordagem mais leve e descontraída para um tópico tão complexo. É por isso que a execução dessa primeira temporada talvez seja tão similar ao de comédias como The Good Place, criada por Michael Schur, amigo de longa data de Daniels.
O maior destaque positivo da série está na construção de mundo. Todos os elementos inseridos nesse possível ano 2023 não estão longe da realidade, mas tem algumas características exageradas para criar situações cômicas, como os aplicativos de namoro repetindo suas indicações ou drones de entrega jogando todas as embalagens de uma vez no mesmo ponto.
A realidade virtual de Lakeview é onde os roteiristas realmente brincam com a proposta da série e criam piadas envolvendo problemas cotidianos, como os usuários que não podem aproveitar o café da manhã fora do horário. Além disso, temos tramas incitadas por conta de problemas no sistema, sejam eles glitches, renderização incompleta ou a velocidade de fotogramas inconsistente, o que faz com que a comédia também tenha um propósito narrativo.
Mas é exatamente na comédia que temos o primeiro tropeço. Com um enredo que tenta balancear comédia, drama, elementos de ficção científica e até uma subtrama envolvendo a misteriosa morte do protagonista, não sobra espaço para muitas risadas, e o ritmo acaba sofrendo por conta disso, deixando tudo mais inconsistente e sem direção. Em certo ponto, uma policial é esfaqueada e uma piada é inserida logo em seguida, mas essa rápida sequência acontece durante um dos momentos mais tensos e dramáticos do episódio. Esse é apenas um dos exemplos da execução fraca de Upload.
Outro problema está no elenco, que não começou com o pé direito ao apresentar Robbie Amell como o protagonista, Nathan. Amell consegue ser charmoso, mas não entrega bem os diálogos mais cômicos, e quando se trata de drama, assisti-lo chorando pode ser um trauma completamente diferente (ele chega ao ponto de cobrir o rosto com um travesseiro para esconder a atuação).
Mas assim como humor, atuações entram em um território mais subjetivo, e é possível que alguém goste da atuação rígida e mecânica de Amell (eu não me aguentei). Também podem ser um incômodo coadjuvantes como Andrea Rosen, que interpreta a chefe do departamento de atendimento aos clientes; e Elizabeth Bowen, atuando como Fran Booth, uma parente de Nathan que decide investigar sua morte sem autorização alguma; essas duas extremamente caricatas e servindo apenas de alívio cômico.
Com exceção do protagonista e esses coadjuvantes genéricos, sobra para atores como Andy Allo, interpretando a assistente Nora, a difícil tarefa de manter o público investido emocionalmente no drama principal. E é Allegra Edwards, no papel de Ingrid Kannerman, quem merece elogios por alternar naturalmente entre uma personagem caricata e extravagante para um lado mais humano e vulnerável. Essas duas são as maiores surpresas positivas do elenco, e é uma pena terem que atuar ao lado de pessoas como Robbie Amell.
Upload tem vários problemas, alguns deles podem te tirar completamente da série, mas essa primeira temporada tem seus momentos e sabe se divertir com as regras do seu mundo. Pode não ser imperdível, mas pode te entreter caso não tenha algo melhor para assistir.