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Mrs. Davis | Jesus vs Inteligência Artificial, Ciência vs Religião

“Redirecionando, 1042… Redirecionando, 1042, Sandy Springs…”

Em uma era de remakes e adaptações, uma obra original é sempre bem-vinda. Mrs. Davis”, nova minissérie original do streaming Peacock (o mesmo que tentou emplacar aquela adaptação de Admirável Mundo Novo), chegou sem fazer muito barulho, com uma proposta muito mais do que original e um tanto inusitada: que tal misturar religião cristã e ficção científica?

Tornando-se uma das adições para TV mais cativantes dos últimos meses, a série criada por Tara Hernandez (The Big Bang Theory) e Damon Lindelof (The Leftovers, Lost, Watchmen) tem conquistado o público. Estrelada por Betty Gilpin (Glow), que trabalhou com Lindelof em A Caçada (The Hunt, 2020), a minissérie Mrs. Davis aborda diversos assuntos, mas tentarei fazer um resumo muito breve da premissa.

Em um mundo comandado pela inteligência artificial denominada Mrs. Davis, a freira Simone (interpretada por Betty Gilpin), tenta viver desconectada em um convento afastado da modernidade, desfrutando de seu dom único: a capacidade de visitar Jesus Cristo (interpretado por Andy McQueen) em um restaurante no plano celestial. Simone culpa Mrs. Davis pela morte de seu pai, um famoso mágico, e tem uma relação pra lá de complicada com sua mãe, interpretada magnificamente por Elizabeth Marvel (Manifesto). Assim, Simone evita qualquer contato com a tecnologia que supostamente é a fonte de todas as suas dores.

No entanto, após várias tentativas frustradas, Davis alcança Simone e negocia sua autodestruição em troca de que ela embarque em uma missão para encontrar um objeto mítico, ao qual apenas ela poderia ter acesso. A partir daí, Simone precisa se juntar a um antigo conhecido, Wiley (interpretado por John McDorman), em uma missão cheia de absurdos, em que religião e ciência se misturam de forma super criativa.

A minissérie não tem medo de explorar alguns terrenos “polêmicos” enquanto faz comentários pertinentes, sem se limitar aos temas iniciais, trazendo arcos muito interessantes sobre a relação entre pais e filhos, o uso descontrolado das inteligências artificiais no nosso dia a dia e qual papel a religião ocupa no mundo moderno. Os primeiros episódios jogam o espectador nesse mundo sem muitas explicações, deixando para eles a tarefa de entender como as engrenagens da narrativa funcionam. Essa é uma das marcas de Lindelof, algo que fez com maestria em Watchmen e The Leftovers.

Outra peça fundamental de Mrs. Davis é a escolha do elenco, pela qual eu tenho que dar meus parabéns, são escolhas fantásticas. O grande destaque aqui realmente fica para Betty Gilpin, que não economiza em lágrimas e expressões, mas todo o elenco também está muito bem. Dando a impressão de que é apenas mais uma obra descompromissada, a minissérie tem momentos emotivos marcantes, principalmente quando se aproxima de sua reta final, como uma cena esplêndida no último episódio entre as personagens de Andy McQueen e Betty Gilpin. E ainda conta com a agradável aparição surpresa de Shohreh Aghdashloo, a eterna Chrisjen Avasarala de The Expanse, em um papel um tanto inesperado.

Divertida, irreverente e inteligente, Mrs. Davis é uma pérola e, com certeza, merece atenção. Planejada como uma série limitada, a obra se fecha satisfatoriamente em seu oitavo e último episódio. Infelizmente, a série ainda não conseguiu distribuição no Brasil, mas deve chegar em breve devido à boa repercussão dos episódios finais.

Mrs Davis (2023) – Minissérie
Peacock, 8 Episódios de aprox. 40 – 50 Min.
Criada por Tara Hernandez e Damon Lindelof
Com Betty Gilpin, Jake McDorman, Andy McQueen, Chris Diamantopoulos, Katja Herbers, Elizabeth Marvel e outros.

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Olá, Amanhã! | Crítica da Primeira Temporada

Se você balançar uma árvore de séries de ficção científica, são grandes as chances de cair alguma produção com a estética cyberpunk ou uma ópera espacial estilo Battlestar Galactica ou The Expanse (que eu adoro, à propósito), mas não é todo dia que cai algo com uma ambientação retrofuturista. Claro que há exemplos, como o clássico Os Jetsons ou algo mais recente em Loki, que trouxe muito desse subgênero capaz de imaginar um possível futuro ambientado em um possível passado, principalmente nas sequências do protagonista nas instalações da agência TVA, que mesmo controlando toda a linha temporal do universo, é administrada através de muita papelada e modelos de computadores comuns do século passado.

Com muito do seu apelo envolvendo uma mescla do estilo art déco com a nostalgia pela estética das décadas de 1950 e 60, há temas que podem ser explorados em narrativas retrofuturistas que vão além da ficção científica das máquinas alimentadas por energia nuclear ou a tecnologia retrô, com máquinas de escrever, aquelas tvs de tubo gigantes, telefones de disco, e outras imagens que as futuras gerações vão precisar pesquisar para visualizar o que estou escrevendo.

O retrofuturismo também pode ser uma forte ferramenta de crítica política e social, principalmente considerando o contraste entre a cultura do século passado e o que vivemos – ou está por vir -, fazendo comentários sobre os costumes conservadores da época, como o “papel” da mulher nas relações sociais, o que pode render uma narrativa complexa sobre sexismo e abuso doméstico, se for bem trabalhado e não cair em um território insensível ou sensacionalista. O retrofuturismo costuma explorar os conceitos de burocracia, corrupção corporativa e a manipulação da mídia através da propaganda, temas bem trabalhados em obras como Brazil, de Terry Gilliam. 

Considerando o cenário atual de crise econômica, ascensão de ideologias fascistas, violência contra minorias e desastres ambientais, uma série ambientada em um mundo retrofuturista tem todas as oportunidades para ser combustível tanto de nostalgia, quanto de crítica social. Assim, a série Olá, Amanhã!, distribuída pelo serviço de streaming Apple+, tinha potencial para ser uma grande obra de ficção científica, com apoio de um bom orçamento e ótimo elenco.

No mundo retrofuturista de Olá, Amanhã!, acompanhamos o cotidiano de Jack Billings (Billy Crudup), um carismático vendedor que lidera uma equipe profissional na missão de realizar os sonhos de seus clientes através de uma nova vida, convencendo-os a comprar uma residência na lua. A proposta é grande, mas a lábia de Jack e seus parceiros é maior, ao ponto de negociarem o impossível. Entre promessas absurdas, dívidas de jogos, familiares ausentes e uma cidade cheia de habitantes excêntricos, é apenas questão de tempo para algum desastre acontecer.

Levando em conta os elementos mencionados anteriormente, a série tem de tudo para construir um bom enredo e personagens envolventes, mas adianto que esse não é o forte da série. Há um excelente trabalho de ambientação por conta dos departamentos de figurino e fotografia, além do design de produção, com a arquitetura da cidade e os automóveis clássicos. É uma pena a série fazer tão pouco com essa ambientação, que é ótima, mas não parece afetar tanto a construção de mundo e a narrativa geral, em alguns episódios parece ser apenas um véu de apelo estético bem feito, mas de pouca interação com as personagens.

Billy Crudup em Hello Tomorrow

Outra oportunidade desperdiçada é o elenco de qualidade, que foi limitado a personagens sem muita dimensão, resumidos em alguma característica ou chamariz que tem graça nos primeiros minutos, mas logo se esgota. Billy Crudup e Haneefah Wood são os que recebem mais atenção do roteiro e possuem personagens mais envolventes, com tramas, subtramas e dramas pessoais bem estabelecidos. Embora seja ótimo assistir os dois – e algumas das melhores cenas dessa primeira temporada envolvem alguns embates e trocas de diálogo entre a dupla -, a série se apoia demais na sua muleta de “cidade cheia de habitantes excêntricos”, o que faz com que quase todo o resto do elenco seja obrigado a representar personagens que não vão além da sua caricatura, deixando atores e atrizes mais que competentes, como Hank Azaria e Alison Pill, representando papéis tão limitados que seus arcos se repetem mais de uma vez ao longo de dez episódios de apenas meia hora, e a sensação é de que o ritmo lento da série não ajuda.

Geralmente, adoro séries com um ritmo mais vagaroso, como acontece com Outer Range ou Invasão, mas Olá, Amanhã! parece confusa com suas próprias intenções, e por vezes parece emular a construção de tensão e a atmosfera misteriosa de produções como Ruptura (Severance), que também é da Apple+, mas trabalha com sucesso seus personagens caricatos (no bom sentido: eles são uma caricatura na superfície, mas muito melhor trabalhados). Talvez minha maior decepção com as personagens foi a presença de Matthew Maher, um ator tão engraçado e carismático que tentou ao máximo trazer algum charme e identidade para seu papel, mas ainda sofreu com o enredo repetitivo e caracterização preguiçosa.

Olá, Amanhã! tinha tudo para ser a próxima grande série de ficção científica da Apple+, mas não consegue construir bem seu mistério e personagens da mesma forma que as concorrentes do seu próprio serviço de streaming. Bem ambientado, ótimo apelo visual e um elenco de primeira, mas nenhum desses elementos consegue atingir seu potencial em uma história tão repetitiva que cansa.

Dewshane Williams, Hank Azaria e Haneefah Wood em Hello Tomorrow

Olá, Amanhã! / Hello, Tomorrow (2023) – Primeira Temporada
Apple, 10 Episódios de aprox. 30 Min.
Criada por Amit Bhalla e Lucas Jansen
Com Billy Crudup, Haneefah Wood, ALison Pill, Nicholas Podany, Dewshane Williams, Hank Azaria, Matthew Maher e outros.

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Duna: Parte 2 | Analisando o Trailer – Referências e Teorias

Finalmente, está entre nós o primeiro trailer oficial de Duna: Parte 2, a aguardada continuação dirigida por Denis Villeneuve. Nessa LIVE, Daniel Milano (Portal Farcaster) e Roberto Honorato comentam as referências, easter eggs e teorias que podemos encontrar nesse trailer.

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