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Asteroid City (2023, Crítica) | Wes Anderson explora a natureza da narrativa

Wes Anderson tenta se reinventar com meta-comentário

Não tente entender a história. Apenas continue contando-a.

O cinema de Wes Anderson tem algumas marcas registradas tão evidentes que já chegaram a viralizar ou virar piada até entre quem nunca assistiu um filme do diretor.  Muitas pessoas resumem a linguagem dele em personagens excêntricos e uma fotografia colorida com bastante atenção em uma composição simétrica, até mesmo a tipografia das legendas dos seus filmes viraram referência para trends das redes sociais. Por mais que muito disso seja engraçado e real, e ele use mesmo essas técnicas, essa é uma leitura mais limitada de todos os seus aspectos técnicos, já que ele tem um ritmo cômico mais específico, e a direção dos atores envolve mais humor corporal do que lembram.

Nos seus últimos filmes, Wes Anderson parece estar cada vez mais confortável com essa linguagem, dando muito mais atenção para precisão técnica, ao ponto de ignorar qualquer tipo de naturalismo em seu cinema para abraçar completamente o meta-comentário, que ele tem trabalhado por anos, e tem ficado mais forte desde O Grande Hotel Budapeste, e com seu novo filme isso tem se mostrado um elemento ainda mais importante para ele.

Asteroid City é ambientada em uma versão retro futurista dos anos 1950, e conta duas histórias paralelas, uma delas sendo a encenação de uma peça sobre eventos bizarros em uma convenção de ciências na fictícia Asteroid City, a outra sobre os bastidores da criação dessa mesma peça. A peça nos apresenta o protagonista Augie Steenbeck, um fotógrafo de guerra levando seu filho para a convenção de ciências. Nos bastidores, assistimos o ator que interpreta Augie tento dúvidas sobre sua personagem e os rumos da produção.

Scarlett Johansson e Jason Schwartzman em Asteroid City Novo Filme de Wes Anderson
Scarlett Johansson e Jason Schwartzman

Trazendo muito do que já é esperado de Anderson, o filme tem um grande triunfo na exploração do conceito de estrutura narrativa, e a brincadeira do diretor em estar constantemente movendo a câmera para reenquadrar um plano é sempre divertido, assim como quando provoca o espectador com as mudanças na razão de aspecto, alternando a tela widescreen e colorida que representa a peça entre o preto e branco e a configuração do tamanho das telas das TVs da década.

Asteroid City está rodeado de boas propostas, com temas que podem ir desde alegorias à pandemia, até comentários mais sarcásticos sobre o papel dos Estados Unidos nas guerras e a exploração atômica. Contudo, a decisão de Anderson em abandonar o seu lado mais realista e se entregar ao surreal pode arriscar um pouco a efetividade de um possível arco dramático para as personagens, assim como o enredo, que está cheio de boas ideias, mas não parece saber conectá-las de uma forma mais coesa. Criativo, com certeza, mas os testes do diretor com o conceito de narrativa correm o risco de comprometer o lado mais emocional por uma virtuosidade na sua própria linguagem que é admirável, mas não parece estar completamente refinada.

Ainda falta algum elemento em Asteroid City para que ele pareça menos artificial em sua apresentação, e com certeza essa experimentação narrativa de Anderson tem todo seu mérito e merece atenção do mesmo jeito, principalmente o uso de técnicas diferentes, incluindo animação em stop motion (em uma das melhores sequencias do longa) ou adesão aos conceitos de outras mídias, mas não consigo deixar de imaginar o quão poderoso poderia ser esse filme se ele também fosse um pouco mais delicado com alguns núcleos dramáticos e tramas que poderiam render grandes momentos de reflexão, e por isso as melhores cenas acabam sendo as de pequenas interações entre esses “atores” sobre suas vidas e como enxergam seus personagens.

Jason Schwartzman

Em certo ponto do filme é reforçada a ideia de que “Não tente entender a história. Apenas continue contando-a”, o que seria um ótimo conselho direto do diretor para o espectador, se a história não se empenhasse tanto para passar essa ideia, ao invés de simplesmente tentar contar uma história mais simples.

Asteroid City (2023)
Direção de Wes Anderson
Roteiro de Wes Anderson e Roman Coppola
Atuações de Scarlett Johansson, Jason Schwartzman, Tom Hanks, Bryan Cranston, Jeffrey Wright, Edward Norton, Maya Hawke, Sophia Lillis…
1h 45 min.

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