Se tem um diretor que eu defendo com todas as forças é John Carpenter. Ao lado de Sam Raimi, ele fez alguns dos filmes que eu mais tenho ligação emocional, seja por nostalgia mesmo ou o charme despretensioso deles. Estranho que até hoje eu nunca tinha assistido Eles Vivem em sua totalidade. Era sempre um pedaço aqui e ali no TCM (acho), mas nunca de cabo a rabo. Então, como esse ano decidi fazer pequenos textos sobre todos os filmes do gênero sci-fi (e derivados) que assisto, seja a primeira vez ou não, pensei em começar com um que eu sempre deixei na lista e nunca assisti.
Eles Vivem foi lançado em 1988. Carpenter já tinha lançado obras como Os Aventureis do Bairro Proibido e O Enigma de Outro Mundo, então acho bem engraçado como ele parece ter decidido um caminho bem mais orgânico para Eles Vivem. No fim, ele acabou com aquela pegada mais, por falta de palavra melhor, trash. Mas daqueles bons, e quando digo bons quero dizer do tipo que parecem ter sido feitos com amor, e não por uma equipe sem imaginação tentando se tornar cult com um filme que foi claramente pensado para ser adorado por ser ridículo, como Birdemic ou até mesmo algumas continuações de Sharkanado (e eu gosto de Sharkanado, que fique anotado).
Eles Vivem está mais para a franquia Evil Dead, com seu humor e situações absurdas que extrapolam tudo com uma rapidez inimaginável. Além disso, tem os diálogos que parecem ser todo composto de frases de efeito e falas sem sentido, mas que casam com o momento. É como se fosse um The Room (o do Tommy Wiseau, não confunda com a Brie Larson prisioneira, porém Oscarizada), mas aqui a trama é mais clara e menos poluída de subtramas desnecessárias.
O filme segue o operário Nada (é o nome dele mesmo), interpretado pelo finado Roddy Piper (descanse em paz, amigão), que encontra um par de óculos pretos capaz de revelar informações segredas que nós, humanos comuns, não vemos. Onde percebemos um outdoor de lingerie, os óculos revelam um outdoor sem imagem, apenas com um texto que resume a mensagem principal do anúncio, como “Você foi feito para reproduzir e ter filhos”. Ao olhar em volta, Nada percebe que não são é só a publicidade, mas as pessoas, pelo menos a maioria delas, na verdade é uma versão cadavérica do que deveriam ser (ver a foto de destaque da matéria).
A crítica é bem óbvia, e já vimos isso em vários lugares. “Estamos sendo consumidos pelo que consumimos”. Sabe como é, esse tipo de coisa. O diferencial é que Carpenter sabe disso e brinca constantemente com o formato, satirizando e jogando a mensagem na nossa cara, para depois sair correndo e filmar sequencias insanas de tiroteio incensante, piadas mal feitas (propositalmente), romance, amizade, e tudo que você espera em um filme, só que da maneira mais boba possível. Você tem que entender a proposta primeiro, senão fica difícil aguentar mais de cinco minutos de dois caras se espancando em um beco por um motivo idiota. Se você já gosta de coisas do tipo, como as obras que mencionei anteriormente, vai se sentir em casa. Se é do tipo sério, que precisa de explicação e uma história mais dramática, provavelmente não vai passar dos primeiros dez minutos.
É uma obra divertidíssima, rápida e dinâmica, com personagens engraçados e uma trama louca que agrada qualquer fã de um cinema mais independente e sujo, coisa que eu amo de coração. Indico fortemente.