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Nausicaä do Vale do Vento (1984) | Miyazaki mostrando seu potencial

Se tivesse esperado mais um ano para ser lançado, Nausicaä do Vale do Vento (Kaze no tani no Naushika) seria o primeiro longa oficial de Ghibli, o estúdio japonês de animação aclamado pela crítica e público (mesmo não sendo um sucesso de bilheteria no nível Disney), com produções como Meu Amigo Totoro (1998) e A Viagem de Chihiro (2001). Independente, Nausicaä foi responsável por atrair ainda mais atenção para o nome de Hayao Miyazaki, que depois se tornaria um dos diretores mais influentes do país.

Baseado no mangá de mesmo nome, de autoria do próprio Miyazaki, que basicamente lançou o material como uma forma de dar visibilidade para a produção do filme, Nausicaä do Vale do Vento é um anime com algumas características únicas que logo fariam parte do repertório do diretor, como os debates sobre natureza e críticas ao abuso de poder; sem esquecer sua decisão em manter uma personagem feminina (bem construída) como protagonista, uma prática que, mesmo não sendo uma exclusividade, acabou se tornando uma marca registrada.

Nosso mundo está poluído demais, corremos risco de todos os lados, seja a guerra entre os povos ou criaturas gigantescas, parasitas, capazes de destruir cidades inteiras em questão de segundos. No meio disso, temos a princesa Nauticaä, uma inteligente aventureira que gosta de ajudar todos da sua vila, sem discriminações, mas quando a vida de seus amigos passa a ser ameaçada, ela tem a experiência necessária para seguir em uma missão cheia de naves, explosões e inimigos. O filme tem um enredo bem simples, porém competente e charmoso, entregando talvez muita informação, mas esse é um detalhe que podemos relevar por conta dos personagens e a audaciosa jornada da protagonista, que fornece um mundo criativo e intrigante, com elementos que ficam melhores em uma segunda assistida.

Nausicaä do Vale do Vento

A direção de Miyazaki alcança resultados incríveis quando tem a intenção de criar um espetáculo visual, com suas batalhas, seja ela aérea ou com uma espada empunhada. Sua aptidão ao construir os elementos da cena é uma das razões deste filme funcionar, com mil coisas que podem ser ditas em uma plano estático, ou em um movimento rápido demais para nossos olhos. Os rasantes da protagonista insinuam momentos de introspecção, por isso a ação, quando se aproxima, tem um peso maior. Sequencias como esta são fundamentais para Miyazaki, e é compreensível sua raiva ao descobrir que parte importantes do filme foram cortadas e o longa foi exibido como uma versão editada para os EUA e Europa, que recebeu o título de “Warriors of the Wind”.

Como mencionado, o filme tem um problema com o excesso de informações. O argumento, por mais que seja compreensível e aceitável, não tem uma narrativa tão atraente quanto a visual, há componentes com pouco aproveitamento. A trama principal funciona e alguns diálogos fortalecem uma cena ou outra, como as interações entre Nausicaä e seus companheiros, alguns bem inusitados. E por falar em companheiros, em certo ponto da história, temos a introdução de um personagem que não contribui substancialmente para a jornada, com exceção de ser um pouco conveniente.

Nausicaä do Vale do Vento

Com bons personagens, debates pertinentes (por mais “batido” que seja) e animação de encher os olhos, Nausicaä do Vale do Vento é um enorme passo na carreira de Miyazaki, que um ano depois começa a moldar uma geração de pessoas apaixonadas pela sétima arte e a força de produções animadas, que você já deve saber, requer talento, muita criatividade e jamais deve ser subestimada.

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