Os irmãos Strugatsky são uma dupla de autores soviéticos que podem não ser tão populares na ficção científica quanto um Asimov ou Philip K Dick, mas tem grande influência no gênero, não só pela narrativa de seus livros, mas pelas adaptações que eles já renderam pra TV e cinema. Talvez a obra mais conhecida deles seja a novela Piquenique na Estrada, que se transformou no filme Stalker, um clássico do diretor Andrei Tarkovski. Outras traduções pro cinema que se destacam são filmes como Os Dias de Eclipse, que foi dirigido pelo Aleksandr Sokurov e traz muita experimentação dele, também tivemos a distopia É Difícil ser um Deus, que chegou a ser adaptado mais de uma vez. Todos possuem algum elemento de ficção científica, seja alteração da realidade por um acidente espacial, ou um mundo que os alienígenas invadiram, mas logo abandonaram. Já o longa Hotel do Alpinista Morto é uma obra que traz, além do scifi, o mistério de uma narrativa investigativa, com uma atmosfera absurda e única que pode agradar qualquer fã de Twin Peaks ou Arquivo X.
O cinema da União Soviética era gigante, a maioria vindo do lado russo, mas pouco se fala sobre as produções que saíram da Estônia, ainda mais quando prestamos atenção na ficção científica. A maioria dos filmes do gênero eram curtas, e por isso Hotel do Alpinista Morto se destaca como – provavelmente – o único longa de ficção científica do país. Mesmo sendo único, o filme consegue ser uma obra-prima que compensa essa ausência e representa muito bem o potencial do cinema soviético, e por isso virou um clássico do leste europeu.
Como já mencionei, o filme é baseado em uma obra homônima da dupla Arkady e Boris Strugatsky, mas ao contrário de outros livros mais populares deles, que eram mais voltados pra ficção científica filosófica e introspectiva, Hotel do Alpinista Morto carrega um mistério mais voltado para o thriller policial, ainda que continue sendo, em essência, um scifi mais cabeça.
A trama acompanha o oficial Glebsky, que parte em uma missão urgente envolvendo um resort isolado entre montanhas congeladas chamado hotel do alpinista morto, que levou esse nome exatamente por conta de um acidente com um aventureiro que morreu ao cair de um penhasco, uma memória sempre presente por conta do enorme quadro na entrada do hotel, representando o homem morto. Quando chega no local, o oficial percebe eventos e pessoas estranhas, mas não faz ideia de qual crime deve solucionar. Antes que pudesse ir embora e desistir do caso, Glebsky fica preso no local por conta de uma avalanche que corta as conexões do lugar com o resto do mundo, e é nesse cenário que a investigação começa de verdade, quando vítimas surgem e eventos misteriosos passam a acontecer, fazendo com que todos os hospedes virem suspeitos.
E você pode estar se perguntando onde entra a ficção científica nisso tudo!?
Parte da surpresa do filme envolve exatamente o elemento scifi, o que pode dar uma dica do que está por vir. Costumo evitar entregar spoilers muito grandes da trama, a não ser que seja necessário. Aqui é difícil estragar a experiência revelando detalhes da história porque esse filme é muito mais sobre a própria jornada do que a conclusão. Ainda assim, ele tem uma baita conclusão, do tipo que deixa uma certa ambiguidade em elementos estabelecidos no começo, mas deixa outros aspectos bem claros para o espectador, incluindo uma cena de quebra da quarta parede que explica muita coisa e deixa ainda mais interessante essa experimentação do diretor.
Então, o filme tecnicamente entrega muito do que está por vir logo no começo, e foi uma boa decisão, porque com certeza muita gente poderia assistir esse filme e chegar na parte que ele abraça total a ficção científica e dizer algo do tipo: “Nossa, mas isso veio do nada”. Felizmente, isso é bem executado e quando o grande mistério é revelado, já não parece mais tão aleatório introduzir conceitos mais inesperados.
Enquanto Stalker é dirigido por Tarkovsky e se apoia mais em um debate existencialista, aqui temos a direção de Grigori Kromanov, e ele procura uma abordagem com comentários mais voltados para questões sociais e políticas. Claro que os dois filmes têm uma mistura de tudo isso, mas o diferencial do filme de Kromanov é a mescla de gêneros, experimentação na técnica e o excelente trabalho de fotografia, figurino e som.
O longa carrega muito da estética que viria a ser mais popular nos anos 80, principalmente no figurino e cenário, com cores contrastantes e aquela pegada psicodélica que deixa tudo mais bizarro, em combinação com a fotografia obscura do hotel, com muitas sombras e o uso de espelhos pra criar mais confusão nessa atmosfera misteriosa – uma técnica que vimos ser bastante utilizada em outra indicação aqui do canal, o pouco conhecido, mas bastante influente, Mundo Por um Fio.
Tão importante quanto o trabalho de direção de arte é a música. A trilha sonora de Sven Grünberg também tem bastante presença, carregada de sintetizadores que lembram algo no nível das melhores bandas de música eletrônica, sem contar um pouco das composição que bandas como a Goblin fez para os filmes do Dario Argento.
Grande parte da magia desse filme está nessa parte técnica, como a edição fragmentada de algumas sequencias que deixa uma montagem mais confusa, com a intenção de enganar o espectador e fazer você se perguntar sobre o que acabou de ver. Por isso esse é o tipo de longa que vale a pena assistir mais de uma vez, mas não só pela estética, também por todos os temas que ele levanta, principalmente considerando o período em que foi lançado, mesmo que a ambientação também seja um pequeno mistério. Através do protagonista temos muitos debates sobre as contradições da justiça e os limites da lei, com um personagem que acredita estar fazendo o certo em seguir as regras, mas não avalia suas próprias questões morais sobre os eventos bizarros do hotel.
Esse pode ser uma das poucas referências do cinema de gênero da Estônia, mas consegue ser um clássico da ficção científica, que pode ser um pouco difícil de encontrar pra assistir, mas é uma experiência que merece imersão total e uma tela grande com a direção de arte belíssima e o som estalando com a trilha do Grünberg no talo. Uma inesquecível pérola scifi que não pode ser ignorada.
Não existe uma pessoa que não tenha pelo menos ouvido falar em Breaking Bad. É um fenômeno da TV, sucesso em streaming e continua conquistando novos fãs. Breaking Bad é um marco cultural, isso não tem como negar. Mas eu queria lembrar vocês de outra série essencial para a história da TV, e que tem mais a ver com Breaking Bad do que alguns imaginam. Talvez, ao lado de Twin Peaks, essa seja a série que melhor definiu os anos 90, e como você já sabe desde o título desse vídeo, estou falando de Arquivo X.
Finalmente, está entre nós o primeiro trailer oficial de Duna: Parte 2, a aguardada continuação dirigida por Denis Villeneuve. Nessa LIVE, Daniel Milano (Portal Farcaster) e Roberto Honorato comentam as referências, easter eggs e teorias que podemos encontrar nesse trailer.
2022 foi um dos anos em que eu menos assisti filmes, mas não deixei de lado a ficção científica. De forma geral, foi um ano bem positivo pro gênero, na TV tivemos a estreia de Ruptura, a conclusão de The Expanse e finalmente uma produção de Star Wars que eu gostei. Quanto ao cinema, esse foi um ano bem diverso, com obras originais marcantes, franquias clássicas se renovando com sucesso (prey) – outras nem tanto (jurassic) – e produções independentes que chamaram bastante a atenção.
Como faço todo ano, esse é meu ranking de todos os filmes de ficção científica que assisti em 2022, os piores e os melhores! Com as mesmas regras de sempre. Primeiro, entra aqui todo filme que foi lançado originalmente em 2022, seja no cinema, plataforma de streaming ou festival. Ou seja, tem filme aqui com a data de 2020, mas porque só chegou nas salas do Brasil após dois anos, ou filmes que podem estar agendados para 2023, mas foi exibido em algum festival e eu consegui assistir, então antecipo logo por aqui.
Como vou destacar apenas as obras que valem a pena algum comentário, vamos direto pras menções desonrosas, aqueles filmes que eu não consegui terminar de tão ruim, ou só evitei assistir mesmo.
E também mencionar rapidamente os que eu deixei de lado porque não consegui assistir por falta de tempo ou acesso ao material.
Na lista do que NÃO assisti ainda, ficam filmes como Cryo, Deus, Lola, Next Exit, Rubikon, The Antares Paradox e Viking.
Esses são os que eu não pude ver por falta de acesso ou não deu tempo mesmo. Tem apenas dois filmes que comecei e larguei, e acho que ninguém vai se importar muito com eles, que são Don’t Worry Darling, aquele desastre da Olivia Wilde, e o caça-níquel de nostalgia Jurassic World Dominion, que eu só tentei ver pela Laura Dern, mas não aguentei o núcleo do Chris Pratt e os diálogos feitos por um algoritmo.
Ah, e como é de costume, eu não incluo filmes de super-herói porque eles viraram meio que um gênero próprio, então não tem Pantera Negra, Batman ou Adão Negro, por mais que sejam bons ou ruins, eles só não entram porque não fazem parte do meu corte particular pra lista.
Dito isto, vamos finalmente para o que vale, a lista de Assistidos de 2022, em ordem de pior para melhor.
Para a alegria de muitos fãs, a adaptação do clássico de Frank Herbert, Duna, pelo diretor Denis Villeneuve, foi indicado ao Oscar 2022 em dez categorias. Enquanto gravo esse vídeo, a premiação ainda não aconteceu, então não sabemos todas as categorias que o filme pode ter vencido, MAS já é um grande feito e vitória para um gênero que costuma ser geralmente ignorado em grandes premiações mais prestigiosas. Ainda assim, admito que não estou otimista demais porque, tirando categorias técnicas e raros casos de roteiro e atuação, nunca tivemos um filme de ficção científica ganhando o principal prêmio de Melhor Filme do Ano nos Oscars.
Por mais que a premiação tenha sofrido com uma queda de audiência nos últimos anos, muito disso por conta da péssima administração nos bastidores do que o interesse do público, ela ainda tem um grande impacto na indústria cinematográfica e influência no público geral. O que tem de estúdio por aí que esperou alguma indicação ou vitória no Oscar pra finalmente anunciar seu filme nem dá pra contar.
Mas ainda que tenha esse obstáculo de audiência, os Oscars continuam sendo uma premiação de prestígio e muitos produtores consideram a validação por parte da academia um grande feito. É por isso que filmes de herói, como Marvel e DC, vivem procurando formas de serem indicados. Não vou entrar no mérito de filmes de arte ou não, ou em todo o problema da Disney monopolizando as salas de cinema, mas é curioso como filmes de herói conseguem uma bilheteria estratosférica, mas nunca são reconhecidos pelos Oscars, sendo que eles devem representar a indústria e, queira ou não, os filmes de herói fizeram bastante sucesso.
Você pode não gostar dos filmes de boneco, eu mesmo tenho meus problemas com alguns deles – talvez mais com o sistema do que os filmes em si -, mas convenhamos que desde que O Cavaleiro das Trevas recebeu 8 indicações, mas não foi sequer indicado Melhor Filme, dava pra ver como a premiação era mais parcial com esse tipo de filme. Tudo bem que o filme levou de Melhor edição de Som e entregou a vitória póstuma pro Heath Ledger como ator coadjuvante, mas por mais que eu tenha gostado de Quem quer ser um Milionário?, e o Danny Boyle é um dos meus diretores favoritos, é difícil não aceitar que O Cavaleiro das Trevas acabou sendo o filme que ditou o tom de várias obras – não só de herois, mas de ação – dos anos seguintes. É só lembrar a fase de entrevistas com diretores que prometiam um filme “realista e sombrio”.
É curioso como Birdman, um filme que comenta a indústria de super heróis, foi aclamado pelas premiações e venceu o prêmio de Melhor Filme – enquanto Logan, obra que também procura analisar o próprio gênero enquanto apresenta uma despedida bem construída através de uma narrativa western, e tem algumas das melhores atuações das carreiras de Hugh Jackman e Patrick Stewart, recebeu apenas uma indicação de roteiro adaptado. Talvez se o filme fosse vendido como um longa em plano sequência, como foi Birdman, talvez animasse mais a galera votante do Oscar, que adora um chamariz narrativo ou nostalgia pela antiga hollywood e a segunda guerra mundial – não duvido nada que alguns conservadores até sintam saudade desse último, MAS seguindo em frente.
Voltando para a ficção científica, temos o caso de Argo, que venceu a categoria principal em 2013. O enredo apresenta uma história de ficção científica dentro da história principal, um drama político sobre um agente da CIA em uma operação para resgatar reféns norte-americanos no Irã. É curioso como dentro da narrativa a ficção científica contribuiu para ajudar os agentes em uma missão arriscada, mas o filme só levou o prêmio mesmo porque o gênero estava em segundo plano, o que venceu foi o drama político. No mesmo ano tivemos A Viagem, das irmãs Wachowski, um filme que dividiu bastante as críticas e o público, mas ele é bem melhor que O Lado Bom da Vida, então podia ter roubado o espaço dele na categoria – se bem que todo mundo sabe que o vencedor moral daquele ano foi Django Livre.
A História da Ficção Científica no Oscar
Quando a gente para pra perceber alguns filmes clássicos da ficção científica que não receberam indicações na categoria principal, dá pra perceber a clara indiferença da academia por filmes de gênero. Na maioria das vezes, são lembrados apenas nas categorias de efeitos especiais ou maquiagem.
Duas adaptações de obras de um dos pais da ficção científica moderna, H.G.Wells, se tornaram um marco do gênero no cinema, mas nas premiações da academia receberam apenas um prêmio, na mesma categoria, de Melhores Efeitos Especiais – o primeiro sendo para A Guerra dos Mundos de 1953, e no começo da década seguinte, A Máquina do Tempo, de 1960. Hoje os dois filmes são considerados essenciais para quem tem o interesse em conhecer melhor a ficção científica no cinema, e é uma pena não terem sido reconhecidos por uma instituição que deveria entender sobre a sétima arte. Planeta Proibido, outro clássico da época, também recebeu o prêmio na mesma categoria, mas é triste lembrar que O dia em que a Terra Parou não foi lembrado em categoria alguma.
Mas isso foi algo mais recorrente na década de 1950, as décadas seguintes foram diferentes, obviamente.
Só que não.
Nos anos seguintes tivemos uma sequência de filmes sendo reconhecidos em outras categorias, mas continuaram vencendo apenas em efeitos especiais, e em raros casos, em direção de arte. É como se a Academia nem tivesse os assistido – o que é uma possibilidade considerando alguns vencedores na história do Oscar – e parece que eles só viam ficção científica como uma desculpa para diretores colocarem aliens e naves na tela.
Na década de 1960, Viagem Fantástica venceu em direção de arte e efeitos visuais e em 1969, Planeta dos Macacos conseguiu um prêmio honorário por maquiagem para John Chambers – o que, vamos considerar, é pouco para um filme tão importante quanto esse. O roteiro é do Rod Serling, criador de Além da Imaginação, em um dos seus melhores trabalhos, e ele merecia ao menos ter sido indicado.
No mesmo Oscar de Planeta dos Macacos tivemos uma das obras primas de Stanley Kubrick, 2001: Odisseia no Espaço. Ele conseguiu indicações em algumas categorias importantes, como “direção”, “roteiro” e “direção de arte”, e com certeza merecia vencer em todas, mas como você já deve estar imaginando, o filme venceu apenas uma categoria. Efeitos visuais.
O próprio Stanley Kubrick, um dos diretores mais conhecidos e reverenciados da indústria, também é um dos menos premiados nos Oscars, e nunca levou uma estatueta por melhor direção. A única que recebeu, em toda sua carreira, foi a de efeitos visuais em Odisseia no Espaço.
É ainda mais decepcionante lembrar que Kubrick conseguiu quebrar parte da maldição do scifi nos oscars com Laranja Mecânica, em 1971. A obra foi indicada em direção, roteiro, edição, e finalmente, em melhor filme. Foi a primeira vez que uma ficção científica teve a chance de receber o principal prêmio da noite.
E é claro que perdeu.
Mas pelo menos neste ano o grande ganhador foi Operação França, então Laranja Mecânica não perdeu para um filme qualquer.
Em seguida, chegamos na década de 70, e a mesma coisa: todos receberam apenas prêmios de efeitos visuais. Isso aconteceu com Fuga do Século 23, e até o Alien de Ridley Scott. Já Contatos Imediatos do Terceiro Grau, um dos clássicos do Spielberg, conseguiu várias indicações, em “atriz coadjuvante”, “direção”, “direção de arte”, “som”, “edição”, “efeitos visuais” e “trilha sonora original”, mas só venceu em edição de som. Também, seria um crime se perdesse nessa categoria.
Isso começou outra tendência. Além de premiar scifi com efeitos visuais, os Oscars passaram a colocar o gênero na categoria de som o tempo todo.
Na década de 80, isso aconteceu com Aliens: O Resgate, Robocop e De Volta para o Futuro. Quanto à Blade Runner, ele esteve presente nas categorias de efeitos visuais e direção de arte, mas saiu de mãos vazias.
Entre os anos 70 e 80, apenas dois filmes se destacaram ao ponto de receber indicações em categorias principais, incluindo a de melhor filme: mais um do Spielberg, o charmoso e divertido E.T. e um tal de Star Wars, que não fez muito sucesso.
E.T. foi indicado em diversas categorias, como direção, roteiro, direção de arte e edição, e venceu melhor som, edição de som, efeitos visuais (obviamente) e trilha sonora.
Já Star Wars foi em ator coadjuvante, direção e roteiro, vencendo em vários, como direção de arte, figurino, som, edição, efeitos visuais, trilha sonora e um prêmio especial por efeitos sonoros.
Como eu disse, os dois também receberam indicações de Melhor Filme, mas infelizmente, não venceram.
Depois disso, houve um espaço de quase 30 anos sem qualquer filme de ficção científica indicado na categoria principal. Não é como se tivesse faltando bons filmes do gênero.
A década de 90 teve algumas obras incríveis, que até receberam indicações, mas aquelas que você já esperava. Vingador do Futuro em efeitos visuais, O Exterminador do Futuro 2 com som, maquiagem e o obrigatório de efeitos visuais, e Homens de Preto também levando a estatueta por maquiagem. O maior esnobado dessa vez sendo Jurassic Park, que até venceu em tudo que foi indicado, nas categorias de “som” e, se prepare… “efeitos visuais”. Mas considerando que era um filme do Spielberg, um queridinho da academia, é estranho o filme não ter sido reconhecido como deveria.
“Ah, Roberto, para de reclamar, ele ganhou uns três Oscars”.
“Estamos falando de uma premiação em que Shakespeare Apaixonado levou 7 estatuetas e disse que Green Book é o melhor filme do ano, ganhando de filmes bem melhores que ele, você acha que apenas 3 vitórias é o suficiente para um filme que nos trouxe Jeff Goldblum sem camisa?” [jeff goldblum]”
Esse padrão de premiar a ficção científica nas mesmas categorias evidencia a falta de vontade da Academia em reconhecer filmes de gênero, não só scifi, mas horror e comédia, que até hoje são ignorados, mesmo que horror já tenha recebido certo amor dos Oscars quando Silêncio dos Inocentes fez a limpa em todas as categorias principais, merecidamente. É a galera aqui do scifi que nunca recebe um carinho.
Esse é um fenômeno que foi apelidado de sci fi gueto, ou o gueto da ficção científica. Ele reflete um preconceito que algumas obras de ficção científica sofrem por parte de muitas pessoas, que desmerecem o potencial de uma produção pelo simples fato dela possuir características do gênero. Hoje nem tanto, mas já foi bastante comum termos críticos e acadêmicos negligenciando a ficção científica por considerá-la uma forma de arte inferior. Uma das maiores evidências disso são aquelas pessoas que continuam usando os termos “alta” e “baixa” literatura, colocando apenas clássicos literários com foco no drama como um tipo de “alta qualidade”, criada para atrair aqueles interessados em arte. Enquanto obras de gênero, como ficção científica, horror e fantasia, são apenas entretenimento, sem o mesmo peso.
O curioso dessa história toda é que diversas obras de gênero são constantemente incluídas em listas de “alta literatura” ou como clássicos essenciais, mas nunca são mencionados como ficção científica.
1984 de George Orwell está em quase todas as listas de leitura obrigatória, mas raramente é lembrado que ela é tecnicamente uma ficção científica, já que se utiliza a distopia como recurso narrativo. Alguns acreditam que por ser mais carregado em comentário político, a obra deve ser colocada em prateleiras de alta literatura, não misturada com histórias sobre naves e aliens, sendo que esses dois elementos são apenas uma parte minúscula do que o gênero tem. Uma pena ver que a Octavia Butler faz uma distopia ainda mais atual e assustadora em Parábola do Semeador, mas não recebe a atenção merecida porque é jogada em prateleiras de ficção científica.
Muito dessa ideia do scifi se resumir em naves, lasers e alienígenas vem das revistas pulp, que existem desde o fim de 1800, mas eram dominadas por terror e suspense. O formato consistia de uma revista acessível, bem barata, com histórias curtas e voltado para um público jovem, com foco na ação e aventura, onde se popularizaram personagens como Buck Rogers e John Carter.
A ficção científica passou a dominar as revistas mesmo em meados da década de 1920, principalmente com a chegada da revista Amazing Stories, que introduziu para o mundo autores que logo viraram referência no gênero, como Isaac Asimov e Ursula K Le Guin. E com a chegada de outras revistas, como Astounding Science Fiction e Isaac Asimov’s Magazine, ainda mais nomes hoje essenciais do gênero foram surgindo, como Philip K Dick e Frank Herbert. O Brasil teve sua própria revista, com material melhor, mas inspirada nas clássicas pulp, que foi o caso da Magazine de Ficção Científica, com material selecionado por Jeronymo Monteiro, conhecido como o pai da ficção científica no Brasil.
Mesmo tendo autores que seriam respeitados por obras como Duna ou O homem do Castelo Alto, a ficção científica foi, por décadas, considerada apenas entretenimento para o público jovem, sem poder passar disso. Mesmo que hoje o conceito do scifi guetto e preconceito literário seja algo mais conhecido entre os leitores, ele ainda existe. Até autores do gênero, como a Margaret Atwood, afirmam veemente que não querem ser considerados escritores de ficção científica, e vem com aquele papo de ficção especulativa e um monte de regras pra evitar se misturar com a galera que gosta de navinhas, sendo que ela adora uma distopia ou universo pós apocalíptico, né. Ela ficou mais flexível sobre o assunto com o passar dos anos, mas ainda assim, prefiro seguir a Ursula K Le Guin, que sabe se divertir e abraçar o gênero sem nojinho. [fazer algum fancam com a margaret atwood]
É curioso como tantas pessoas ignoram o gênero, mas colocam algumas obras como essenciais para a literatura, sem jamais mencionar que são scifi. Isso costuma acontecer muito com Admirável Mundo Novo, Fahrenheit 451 e O Conto da Aia, sempre chamados apenas de “distopias”, e tem Frankenstein, que só é lembrado como “horror”, e o belo Flores para Algernon, que vivia nas prateleiras de “drama”, principalmente nos Estados Unidos.
Vale mencionar que esse debate do scifi guetto é diferente em lugares como China, Japão e partes da Europa, onde o gênero é mais abraçado, por isso rende até algumas obras bem mais criativas do que diversos clássicos dos Estados Unidos.
Quando falamos de cinema, muitos atores e diretores aclamados acabam ignorados por se envolverem com filmes de gênero. O próprio Boris Karloff, reconhecido por muitos como um dos melhores atores da sua época, quando começou a interpretar seu memorável Frankenstein, raramente recebia o reconhecimento que merecia, muito disso pelo simples fato de estar carregado de maquiagem e interpretando um monstro.
O mesmo acontece hoje com Andy Serkis, que mesmo tendo impressionado o público com sua interpretação como Gollum, em Senhor dos Anéis, ou Caesar, em Planeta dos Macacos, nunca foi reconhecido nas categorias de atuação. A desculpa é que ele trabalha com captura de movimentos, mas os computadores capturam a atuação dele, então o argumento é completamente falho, principalmente quando notamos a diferença entre seus personagens, e entre outros atores conhecidos por captura de movimento, como Benedict Cumberbatch interpretando Smaug, ou o Bill Nighy em Piratas do Caribe, como Davy Jones.
O próprio James Cameron, que sempre faz um sucesso incrível de bilheteria, é conhecido por seus trabalhos de ficção científica, produzindo ou dirigindo obras como Alita, Exterminador do Futuro, Aliens: O Resgate e o gigantesco Avatar, mas só foi reconhecido pela academia quando lançou seu drama, o épico Titanic, único de sua carreira que venceu o prêmio de Melhor Filme.
Esse assunto é maior do que você imagina, talvez eu faça um roteiro inteiro só sobre isso, debatendo preconceitos entre os próprios leitores do gênero, não só autores e críticos, mas isso é um debate para outro dia.
As Chances de Mudança
Com a virada do século, a ficção científica continuou presa nas mesmas indicações e vitórias de décadas anteriores. Interstellar e Blade Runner 2049 receberam indicações em som e design de produção, mas levaram a previsível estatueta de efeitos visuais, com Blade Runner recebendo também a de direção de arte para o Roger Deakins, finalmente.
Como mencionei antes, E.T. foi o último filme do gênero a receber uma indicação na categoria principal, e isso aconteceu no começo da década de 80. Foram quase 30 anos depois que finalmente tivemos outra ficção científica concorrendo em Melhor Filme: em 2009, uma rara indicação dupla, com Avatar e Distrito 9. O filme de Blomkamp não venceu qualquer estatueta, mas o sucesso de James Cameron levou direção de arte, efeitos visuais e design de produção, deixando pra trás direção, edição, trilha sonora, mixagem e edição de som, e a chance de uma vitória em Melhor Filme.
Nos anos seguintes, a ficção científica passou a comparecer mais vezes entre os indicados da categoria principal. Podemos atribuir isso a algumas mudanças nos bastidores da academia, como a entrada de novos membros, principalmente depois de toda a controvérsia sobre a premiação não possuir diversidade o suficiente em sua lista de votantes.
Isso aconteceu em 2010 com Inception, de Christopher Nolan, e em 2013 tivemos mais uma dose dupla, com o tenso Gravidade, de Alfonso Cuarón,e o melancólico Ela sendo indicados para o prêmio de Melhor Filme. Como deu pra notar pelo padrão que esse vídeo mostra, nenhum dos dois venceu, e eu aceitei as derrotas, mas até hoje me dói como A Chegada perdeu em 2016. Pelo menos foi para Moonlight, que é um ótimo filme, mas eu queria que Denis Villeneuve tivesse levado bem mais por Arrival do que por Duna.
E por falar nele, finalmente chegamos ao grande questionamento desse vídeo: será que Duna leva o Oscars 2022 de Melhor Filme?
Como esse vídeo deve ser lançado ANTES da premiação de 2022, essa parte pode ter um efeito diferente dependendo do vencedor da categoria principal. Se Duna vencer, esse vídeo pode ser um documento para registrar o momento histórico de Duna, ou para evidenciar um problema na indústria que, infelizmente, persiste.
Mas quanto às chances de Duna nos Oscars, eu admito que talvez tenhamos um déjà vu da premiação de 2015, quando Mad Max: Estrada da Fúria era a nossa maior chance de ter um scifi levando o prêmio para cara.
Assim como Duna, Mad Max foi indicado em 10 categorias, e eles dividem algumas, como edição, figurino, maquiagem e penteado, direção de arte, design de produção e, para a surpresa de ninguém, efeitos visuais.
Há algumas diferenças. A primeira sendo a categoria de som. Antes tínhamos mixagem e edição de som, mas aparentemente os membros da academia não sabem a diferença entre os dois, já que os mesmos filmes sempre eram indicados nas duas, então hoje temos apenas uma categoria chamada “som”, que engloba edição e mixagem. Se você quiser, pode considerar que Duna foi indicado em 11 categorias, já que duas foram unidas no último ano. E além dessa, Duna tem uma chance bem grande de levar a estatueta por melhor trilha sonora original pelo trabalho do Hans Zimmer.
A maior diferença entre os dois é que Duna tem uma indicação para melhor roteiro adaptado, o que Mad Max não recebeu. Embora seja ótimo, é uma pena como Duna não recebeu uma indicação por direção. Enquanto George Miller foi lembrado, pelo menos indicado, como melhor diretor, Denis Villeneuve ficou de fora. É sempre estranho ver quando um filme está concorrendo ao prêmio principal da noite, mas a pessoa que o fez não está. Isso aconteceu em Argo, que venceu de melhor filme, mas o diretor, Ben Affleck, sequer foi indicado. Se formos seguir esse padrão, talvez seja uma chance para Duna em melhor filme, mas acho pouco provável. É uma pena, mas se isso acontecer, não será uma surpresa.
Erros dos Oscars
A Academia nunca teve a intenção de reconhecer filmes de gênero, e mesmo com mudanças consideráveis nos bastidores, acho pouco provável termos Duna levando o principal prêmio da noite. Não falo isso só pelos outros indicados serem muito bons e merecedores, mas na forma como os Oscars, que deveriam compreender as tendências da indústria, parecem completamente perdidos. Eu sempre penso desse jeito: quem mais poderia ter feito Mad Max daquele jeito se não George Miller?
A definição de “melhor” é subjetiva, mas deveria seguir algum tipo de exigência. Seria ótimo se os Oscars premiassem filmes por sua identidade, seu diferencial. Em 2019 tivemos Pantera Negra, que claramente não é um filme perfeito, poucos são, mas se o compararmos com o vencedor, The Green Book, vale a pena a pergunta: qual dois dois realmente causou um impacto cultural? Não falo de bilheteria, mas de influência.
Eu mesmo concordo com as colocações do Scorsese sobre o cinema de herói estar dominando as salas e tirando outras obras do lugar – e nem vem com papo de oferta e demanda porque não é assim que a distribuição cinematográfica funciona. Mas, convenhamos que Pantera Negra foi um sucesso por motivos que vão além de ser um filme de herói da Marvel, foi uma produção quase inteiramente realizada por uma minoria que foi representada por décadas da pior maneira possível pela indústria. Ao invés de celebrar essa mudança dando o prêmio para Pantera Negra, os Oscars decidiram dar a estatueta para um filme sobre um homem branco ensinando como um homem negro deveria se comportar.
Eu sei, é uma forma meio reducionista de falar do filme, mas convenhamos que ele também não foi feito pelas pessoas mais bem intencionadas do mundo.
Esse não é o primeiro, nem o último caso da Academia premiando alguém que claramente não era o favorito no bolão de alguém. Voltamos para o George Miller, que fez o excelente Estrada da Fúria, um filme que marcou o ano e continua memorável por conta de suas sequências de ação frenéticas, boas atuações, com uma excelente Charlize Theron interpretando Furiosa, e a direção poderosa de Miller, que na época tinha 70 anos, mas com mais fôlego que qualquer diretor jovem de hoje no seu melhor dia.
Você lembra quem venceu no lugar dele? Spotlight: Segredos Revelados.
Spotlight foi um bom filme, teve excelentes atuações e é um drama muito bem feito, mesmo que alguns resumam apenas como “uma obra importante”, o que quer dizer nada em essência. Mas é só isso, um bom filme, que merece completamente todos os elogios, e não digo que não mereceu o prêmio, mas vamos parar pra pensar. Qual desses dois parecia algo novo, criativo e, principalmente, qual deles você lembra?
Estou sendo completamente subjetivo, é claro, mas a premiação também é, e só um desses filmes foi comentado o ano inteiro, continua sendo debatido e está com uma continuação aguardada em andamento. E o mais importante, Mad Max: Estrada da Fúria parecia diferente, o tipo de filme que só o George Miller poderia fazer, tem sua marca em cada segundo, cada fotograma. Você bate o olho e reconhece.
Já Spotlight, esse pode ser confundido facilmente com outros dramas do gênero, como Todos os Homens do Presidente ou The Post: A Guerra Secreta. Quando falamos de Estrada da Fúria, ele nem pode ser confundido com outros Mad Max, e são do MESMO diretor.
A Ficção Científica nos Oscars?
É decepcionante ver como os Oscars são a noite mais aclamada na temporada de premiações, mas é uma das que menos reconhecem os filmes que melhor representam o cinema de sua época. Duna pode não ser perfeito, e se perder na premiação é compreensível, há filmes ótimos para levar no seu lugar, mas a Academia já teve diversas chances de reconhecer a ficção científica em filmes que podemos considerar os destaques daquele ano. Como acontece na literatura, ainda há um enorme preconceito por parte de crítica e público quando se fala de obras de gênero, e essas pessoas perdem a chance de conhecer produções incríveis que podem divertir e emocionar tanto quanto aquelas consideradas de “alta qualidade”, com um enorme diferencial de envolver ocasionalmente uma viagem no tempo, realidade alternativa ou inteligência artificial tomando consciência e controlando a humanidade.
Se a gente parar para pensar, talvez as tentativas de evitar naves e aliens seja apenas medo de se divertir com algo novo. Porque é para isso que serve a ficção científica, fugir do que é óbvio e explorar novas possibilidades.
Sempre foi um mistério para mim como obras clássicas da literatura de ficção científica, como Duna ou O Guia do Mochileiro das Galáxias, receberam mais de uma adaptação para filmes e séries, enquanto Fundação, que é um dos pilares do gênero, e inspiração para os dois que mencionei, nunca foi traduzido para essas mídias.
Fundação só saiu do papel quando o streaming da Apple, o Apple TV+, assumiu o controle e investiu pesado na produção, colocando Josh Friedman e David S. Goyer como responsáveis. Mas valeu a pena? Nessa crítica da primeira temporada vamos debater os conceitos, teorias e o que faltou para a série alcançar seu potencial máximo.
Flash Gordon é um dos filmes mais conhecidos da ficção científica, principalmente por adaptar toda a aventura divertida e despretensiosa dos quadrinhos. Essa pode não ser a maior obra da história do cinema, mas o mais impressionante desse filme é a trilha sonora da banda Queen, um dos motivos para, até hoje, esse filme ser lembrado e adorado por tantos.
Nesse vídeo, vamos lembrar do filme de Flash Gordon, os bastidores do longa e da gravação do álbum da banda Queen, que criou uma das melhores trilhas sonora do cinema e da ficção científica.
É impressionante como o departamento de animações da Sony se renovou nos últimos anos, ou parece estar seguindo esse caminho. Depois do sucesso crítico de Homem-Aranha no Aranhaverso, que foi um filme INCRÍVEL, a próxima grande animação do estúdio é mais um projeto com a dupla Phil Lord e Christopher Miller.
Com uma mistura de comédia, road trip e ficção científica, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” nos apresenta Katie Mitchell, uma jovem apaixonada por cinema, que está prestes a partir para a faculdade, e está bastante animada porque não aguenta mais se desentender com seu pai, Rick. Depois de uma briga, ele tenta se redimir com uma viagem de carro em família, o que irrita Katie, já que vai perder sua primeira semana na faculdade, mas eles acabam indo mesmo assim.
Todos finalmente começam a se divertir na viagem planejada pelo pai, mas a jornada é interrompida quando os robôs inteligentes da gigante corporação Pal se rebelam contra a humanidade, que foi quase completamente capturada. Os únicos sobreviventes são os Mitchell, que acabam sendo a única chance de derrotar as máquinas.
Convenhamos que o ano 2020 foi um desastre em quase todos os aspectos. Além de toda a tragédia das vidas perdidas por conta do vírus COVID-19, a indústria do audiovisual também teve suas baixas, principalmente as salas de cinema, que não puderam receber os espectadores e ficaram fechadas por meses, dando bastante prejuízo para os exibidores. Mas o que é entretenimento e comércio perto de vidas humanas?
Esse pode ter sido o pior ano da indústria cinematográfica (nem mesmo em tempos de guerra tivemos uma reação em cadeia tão grande de salas sendo fechadas), mas a TV e os serviços de streaming conseguiram manter suas séries em dia, isso porque a maioria já tinha sido filmada e só precisou passar pelo tratamento na pós produção. E por mais que eu queira indicar séries pouco reconhecidas, comoTruth Seekers(disponível no Amazon Prime Video), o meu compromisso aqui é com ficção científica, e não há elementos o suficiente para poder estabelecer essa série como algo do gênero, mas fica a dica mesmo assim.
Agora vamos para as regras:
1. Nos anos anteriores, as retrospectivas têm seguido um formato um pouco diferente, no qual listo e faço pequenos comentários sobre cada produção que merece um destaque naquele ano. Mas por destacar apenas as que eu gostei, deixei de fora outras séries que, por mais que eu não considere essenciais, podem acabar agradando alguém. Por isso, esse ano decidi desenvolver a retrospectiva em forma de lista, indo da pior para a melhor.
2. Entram na lista apenas as séries que tiveram exibição em 2020, e para alguns casos, eu incluí produções que tiveram início no ano anterior, mas terminaram em 2020, assim como produções que tiveram início em 2020 e terminarão em 2021. Pelo menos metade da temporada precisa ter sido exibida durante o ano da retrospectiva.
3. Infelizmente, como sou apenas uma pessoa, não fui capaz de assistir TUDO que foi lançado no ano, mas acredito que o número de produções mencionadas nesse texto será satisfatório. Séries como Doctor Who, Stranger Things, Agents of S.H.I.E.L.D e Future Man acabaram sendo deixados como MENÇÃO HONROSA simplesmente porque (ainda) não assisti as novas temporadas, mas deixo aqui como indicação já que nunca chegaram a decepcionar, então merecem ao menos esse pequeno reconhecimento. E perdão aos fãs de Lovecraft Country, porque ainda não terminei a temporada, mas até onde vi, estava muito boa, então… menção honrosa também.
4. Obviamente, a ordem da lista segue minha opinião completamente subjetiva, já que gosto é gosto, mas a principal função desse texto é lembrar, criticar e indicar o que saiu de melhor (e pior) na ficção científica de 2020.
Agora, vamos ao que interessa: O ranking das 21 séries de ficção científica de 2020, da pior para a melhor.
21º Lugar | AWAY (2020)
Desenvolvida por Andrew Hinderaker Disponível na Netflix
Com um elenco mais do que competente, nem mesmo as atuações da premiada Hilary Swank e Josh Charles conseguem salvar o melodrama original da Netflix, que vem tentando emplacar mais produções de ficção especulativa nos últimos anos, mas com sua política de prezar por quantidade no lugar da qualidade, o catálogo do serviço de streaming acaba trazendo séries como Outra Vida ou The I-Land, e esse ano com Away.
A astronauta Emma Green (Swank) está prestes a embarcar em uma missão arriscada com uma equipe internacional, mas não está pronta para deixar seu marido e filha sozinhos na Terra. A proposta de desenvolver um drama mais íntimo é boa, e a série chegou a ser uma das mais assistidas em sua semana de lançamento, mas o enredo fraco e repetitivo fez com que o público perdesse o interesse rapidamente, e como a Netflix baseia suas renovações de série quase exclusivamente em “audiência”, Away foi cancelada.
Hilary Swank esteve no elenco de um dos melhores filmes FC de 2019, o thriller independente I am Mother. Depois de ter entregado uma atuação tão boa e o filme ter recebido certo reconhecimento entre os fãs do gênero, é uma pena ver que Away não foi a melhor escolha para aproveitá-la. Não foi uma série ruim, mas facilmente a mais esquecível da lista (uma grande parte já sumiu da minha memória).
20º Lugar | UTOPIA (2020)
Desenvolvida por Gillian Flynn Disponível na Amazon Prime Video
Em 2013, Dennis Kelly foi responsável por uma das séries mais loucas da TV britânica. Utopia é protagonizada por um grupo de de amigos virtuais que acabam se encontrando para debater sua teoria da conspiração favorita, uma revista em quadrinhos que aparentemente contém informações capazes de revelar um enorme segredo envolvendo futuras ameaças, como sabotagem corporativa ou até mesmo uma pandemia. Durante sua exibição original, a série não atraiu tanto o público quando merecia, mas ao longo dos anos passou a ser reconhecida como uma produção bastante cultuada por quem é apaixonado por ficção científica.
Mas como toda boa obra lançada em qualquer parte do mundo, chega o momento em que algum estúdio decide adaptar a história para o público norte-americano. Só que dessa vez, tínhamos os nomes de David Fincher e Gillian Flynn no comando, os mesmos responsáveis pelo excelente filme Garota Exemplar, então talvez dessa vez a versão estadunidense pudesse trazer algo de novo, ainda mais considerando toda a premissa absurda e o contexto de um 2020 tomado por uma pandemia.
Para a tristeza de alguns, David Fincher acabou saindo do projeto para se dedicar ao seu próximo longa-metragem, o drama Mank. Ainda assim, Flynn é uma realizadora inteligente, o que acalmou o público. Mas depois de lançar sua primeira temporada, a versão norte-americana de Utopia se mostrou apenas uma colagem dos melhores momentos da série original, mas sem o mesmo impacto visual das cores e movimentos de câmera criativos, ou a forma como a trama era muito bem executada, dando igual atenção para cada núcleo dramático. Mesmo com um ótimo elenco, que inclui Rainn Wilson e John Cusack, Utopia tentou respeitar o material original, mas esqueceu que toda boa adaptação precisa de mudanças, então ficamos com uma temporada cheia de bons efeitos visuais e atuações, mas sem charme algum.
19º Lugar | ADMIRÁVEL MUNDO NOVO (2020)
Desenvolvida por Grant Morrison, Brian Taylor e David Wiener Sem distribuição no Brasil. Disponível no streaming Peacock.
Adaptar o clássico de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, não é tarefa fácil. Por isso, o estreante serviço de streaming Peacock decidiu trazer três showrunners para desenvolver a série. De primeira, fiquei curioso com o envolvimento de Grant Morrison, um quadrinista que adoro e sempre tem idéias bem mirabolantes para suas histórias. Por um lado, ele realmente colaborou para uma construção de mundo mais contemporânea, utilizando elementos do livro original para formar um comentário intrigante sobre entretenimento, mídia e excesso. Mas ao mesmo tempo que sua visão diferente cria um tom único para a série, também a compromete por não dar a mesma atenção aos personagens.
Ao contrário de Utopia, Admirável Mundo Novo soube adaptar o material e transformá-lo em algo novo, mas o drama e enredo fraco fizeram com que tudo isso fosse uma grande oportunidade desperdiçada, tanto que a série foi cancelada antes do ano acabar.
18º Lugar | DARK (2017-2020)
Desenvolvida por Baran Bo Odar e Jantje Friese Disponível na Netflix
Foi apenas esse ano que finalmente decidi maratonar a aclamada série alemã, Dark, o drama que conta a história de quatro famílias na pequena cidade de Winden. Cheia de segredos entre seus habitantes, a cidade também esconde um mistério envolvendo o desaparecimento de suas crianças em datas diferentes, mas circunstâncias similares.
Em uma jornada envolvendo viagem temporal e realidades alternativas, o público ficou fascinado pela forma que a série trabalhou seus temas nas duas primeiras temporadas, e por isso havia uma grande expectativa pela sua terceira e última.
Com tantos personagens, conceitos e elementos complexos, Dark teve dificuldade ao tentar equilibrá-los, o que resultou em uma temporada final mais inconsistente e apressada, que precisou dar tanta atenção para explicar seus conceitos, mas acabou esquecendo de desenvolver o que fez dela um sucesso em primeiro lugar: o drama dos personagens.
17º Lugar | WESTWORLD (2016- )
Desenvolvida por Jonathan Nolan e Lisa Joy Exibido pela HBO e disponível na HBO GO
Adaptação seriada do clássico Westworld: Onde Ninguém tem Alma, de 1973, Westworld tem sido uma das minhas séries favoritas desde sua estréia, com uma primeira temporada impressionante, não só em escala por conta do investimento nos efeitos visuais, mas no ótimo enredo, com uma narrativa inventiva e cheia de diálogos impecáveis, ainda mais quando interpretados por alguém do calibre de Anthony Hopkins. Mas ele não é o único destaque, já que o elenco é um dos pontos altos da obra, com nomes como Evan Rachel Wood e Ed Harris.
Mas como uma série tão incrível foi parar em uma posição tão desfavorecida quanto essa? Infelizmente, depois de uma segunda temporada menos impactante do que a primeira, a terceira procurou por revelações e tramas ainda mais impressionantes. O problema é que ela tentou demais ao ponto de ter desenvolvido sua narrativa inteira em volta de reviravoltas, muitas delas previsíveis e desnecessárias, que simplesmente davam em nada, com subtramas abandonadas aleatoriamente. Nem mesmo incluir Aaron Paul no elenco ajudou, e Westworld foi da série mais criativa da HBO para uma ficção científica voltada para um cyberpunk quase sem identidade.
16º Lugar | RAISED BY WOLVES (2020-)
Desenvolvida por Aaron Guzikowski Sem distribuição nacional. Disponível apenas no streaming HBO MAX.
Uma série sobre androides cuidando das últimas crianças humanas depois de uma guerra na Terra? Quero! Produzida por Ridley Scott? QUERO MESMO! E por mais que eu tenha me animado bastante com os visuais incríveis e boas atuações, Raised By Wolves cai na mesma armadilha de Westworld e Dark, e parece se enroscar no emaranhado de símbolos e metáforas religiosas que tenta conciliar com elementos de ficção científica.
Não é a primeira vez, e não será a última, que Ridley Scott se aproveita de conceitos existenciais e religiosos para desenvolver um comentário sobre a moralidade humana. Os temas e os mistérios são intrigantes, há muitas ideias boas na proposta, mas a execução peca ao tratá-las de forma superficial, criando conclusões sem muito peso para o drama dos personagens. Com exceção de uma direção de arte belíssima, Raised by Wolves se beneficiaria ainda mais de um roteiro menos carregado.
Ainda assim, que final foi aquele? Conte comigo para a segunda temporada!
15º Lugar | SNOWPIERCER (2020-)
Desenvolvida por Josh Friedman e Graeme Manson Disponível na Netflix
Adaptação de um quadrinho de mesmo nome, o filme Snowpiercer (Expresso do Amanhã) foi lançado em 2013, e pode não ter recebido tanta atenção na época, mas começou a ganhar fôlego com o passar dos anos, principalmente pelo conceito de transformar um trem em uma alegoria para a batalha de classes, com cada vagão servindo como uma representação de alguma casta social. E a popularidade pode ter aumentado ainda mais por conta de seu diretor, Bong Joon Ho, que venceu o Oscar 2020 com seu filme Parasita.
Como (quase) tudo que faz sucesso no cinema, Snowpiercer recebeu uma versão seriada, estrelada pelo carismático Daveed Diggs. Mas para que a narrativa funcione em um formato episódico, a saída foi transformar a alegoria política do filme em um thriller policial, com um protagonista que, ao invés de apenas tentar mudar o sistema, agora precisa usar suas habilidades como detetive para resolver um caso de assassinato.
Com um bom elenco e um enredo competente, Snowpiercer não chega a ter todo o impacto visual do longa de 2013, mas é uma boa pedida para quem procura uma série policial em um futuro pós-apocalíptico.
14º Lugar | STAR TREK: PICARD (2020-)
De Alex Kurtzman, Akiva Goldsman, Michael Chabon e Kirsten Beyer. Disponível na Amazon Prime Video
Nada me deixou tão ansioso quanto o retorno de Jean-Luc Picard, um dos capitães mais adorados da franquia e protagonista da série Jornada nas Estrelas:A Nova Geração (The Next Generation), interpretado por Patrick Stewart. Essa foi uma série que tinha diversos obstáculos em seu caminho, como ter que agradar o público da série original e conquistar novos espectadores.
O resultado é um híbrido entre a ação rápida da timeline Kelvin e da série Discovery, com toques de A Nova Geração, dando espaço para pequenos momentos de reflexão e silêncio (pequenos mesmo, infelizmente). Talvez nem todos concordem com essa decisão, mas particularmente considero um compromisso necessário, desde que tenhamos um enredo e personagens consistentes.
Mas infelizmente, para cada acerto, a temporada também cometeu erros enormes. Além de toda a violência gratuita e as subtramas mal construídas, Picard parece um coadjuvante em sua própria série, dando espaço para personagens bem menos interessantes.
13º Lugar | UPLOAD (2020-)
Desenvolvida por Greg Daniels Disponível na Amazon Prime Video
Nathan é um jovem programador procurando por investidores, mas depois de sofrer um acidente de carro, recebe a chance de ser integrado a uma realidade virtual onde você pode salvar a sua consciência antes de morrer e continuar sua segunda vida em um paraíso chamado Lakeview.
Mesmo relutante, acaba aceitando a oferta de sua namorada, mas agora vive em uma realidade controlada por computadores. Mesmo tendo um avatar físico e outras consciências com quem conversar, Nathan se sente mais sozinho do que nunca; mas as coisas mudam quando ele conhece Nora, uma das atendentes trabalhando para manter Lakeview e seus clientes satisfeitos.
Upload têm problemas, alguns deles podem te tirar completamente da série, mas essa primeira temporada tem seus momentos e sabe se divertir com as regras do seu mundo. Pode não ser imperdível, mas pode te entreter com boas piadas e um roteiro mais consistente do que imaginei que seria, principalmente considerando a premissa e todos os conceitos apresentados.
12º Lugar | STAR TREK: LOWER DECKS (2020-)
Desenvolvida por Mike McMahan Sem distribuição nacional. Disponível no streaming CBS ALL ACCESS.
Voltando para o universo de Jornada nas Estrelas, Lower Decks é uma série que foca na parte menos glamurosa das naves da Federação, seguindo a equipe de oficiais de baixa patente, que fazem todo tipo de trabalho servindo de assistentes para a tripulação principal. Eles tem que consertar replicadores de comida, fazer catalogações de novas espécies, limpeza geral, manutenção dos holodecks e toda aquela coisa que ninguém gosta de fazer.
Seguindo o mesmo estilo de animação e o humor de séries como Rick and Morty, Lower Decks tem boas idéias, e se dá bem quando quer faz algo original e engraçado, mas um enorme problema é a dependência dos roteiristas em nostalgia, o que faz com que os roteiros sejam cheios de referências vazias que, por mais obscuras que sejam, não servem propósito algum. Quando não foca nisso, Lower Decks fica bem melhor.
11º Lugar | STAR TREK: DISCOVERY (2017-)
Desenvolvida por Bryan Fuller e Alex Kurtzman Disponível na Netflix.
Depois de duas temporadas sem parecer saber qual seu propósito, Discovery finalmenteencontrou uma solução para poder desenvolver uma narrativa própria. Ao transportar a história de Burnham e companhia para um futuro distante, a série conseguiu se livrar da obrigatoriedade em tentar equilibrar uma tecnologia mais avançada com a estética mais “clássica” da linha temporal. Não é como se eles já estivessem fazendo um bom trabalho nesse departamento, mas com essa desculpa narrativa Discovery pode explorar a mitologia de Jornada sem se preocupar tanto com anacronismos.
Mantendo os efeitos visuais de qualidade, introduzindo novos personagens interessantes e subtramas mais envolventes, vamos torcer para que não tenhamos mais mudanças inesperadas nos bastidores que causem a bagunça que foi a temporada anterior.
10º Lugar | SOLAR OPPOSITES (2020-)
Desenvolvida por Mike McMahan e Justin Roiland Ainda não tem distribuição nacional. Disponível no streaming Hulu
Em Solar Opposites seguimos o cotidiano de uma família alienígena que precisou fugir de Schlorp, seu planeta-natal utópico que acabou atingido por um asteroide. Mas na procura por um novo lar, sua nave cai na Terra, onde eles agora vivem e reclamam dos costumes e rituais humanos. Os aliens Korvo e Terry são os guardiões de dois replicantes infantis, Yumyulack e Jesse. Juntos, eles tentam se adequar aos costumes terráqueos.
Solar Opposites pode ter seus defeitos, mas é quando explora o caos do cotidiano que realmente brilha, e isso porque o comediante e dublador Justin Roiland é excelente em humor improvisado. Terminamos a temporada com algumas pontas soltas, e por mais que essa não tenha sido uma das animações mais marcantes do ano, talvez eu volte para mais no futuro. São apenas oito episódios e eles passam voando.
Desenvolvida por Pedro Aguilera Disponível na Netflix.
Nina Peixoto (Carla Salle) trabalha para uma enorme empresa de vigilância, e as coisas parecem ir bem até o dia em que seu pai é assassinado misteriosamente e o sistema que acredita ser infalível não é capaz de revelar um culpado. Assim, Nina procura uma maneira de descobrir o responsável enquanto tenta burlar o sistema e as câmeras em sua volta.
Produção nacional, Onisciente não se limita às referências do gênero, como Asimov e Philip K Dick, e cria um universo próprio, com personagens e regras bem estabelecidas. Essa série é mais um passo para o avanço de produções de gênero no mercado nacional, um que ainda pode ser bastante influenciado por material norte-americano, mas carrega uma voz cada vez mais forte.
Eu admito não ser o maior fã de Star Wars, mas The Mandalorian conseguiu me conquistar pelas narrativas contidas e a estrutura de western que aquece meu coração. Os efeitos especiais são impressionantes, com um orçamento gigantesco, que acaba se justificando com sequências de ação maravilhosas. Além disso, personagens carismáticos e diretores convidados de alto calibre, como Taika Waititi e Robert Rodriguez.
A primeira temporada foi facilmente a melhor produção no universo de Star Wars em décadas, e por mais que a segunda temporada não tenha me conquistado do mesmo jeito, por conta das conveniências do roteiro e o excesso de fan service nostálgico desnecessário (a conclusão da segunda temporada não me emocionou, não deu), ainda assim foi uma das mais divertidas do ano, com aventuras que não perdem o fôlego e enriquecem o universo da série cada vez mais.
7º Lugar | RICK AND MORTY (2013-)
Desenvolvida por Dan Harmon e Justin Roiland Disponível na Netflix.
Rick and Morty é uma das animações mais aclamadas da TV. Mesmo não sendo reconhecida em seus primeiros anos, começou a ganhar enorme atenção no Brasil assim que teve seus episódios disponibilizados pelo serviço de streaming Netflix. Depois das duas primeiras temporadas, a série parece ter perdido um pouco de fôlego, mas com a estréia da quarta temporada, sinto que eles estão voltando aos trilhos.
Eu nem preciso falar demais dessa série porque, convenhamos, ela está popular em um nível de uma parcela dos fãs ter se tornado insuportável. Alguns acreditam que a animação perdeu toda a graça, mas ainda vejo muito material que pode ser explorado no futuro.
6º Lugar | MOONBASE 8 (2020-)
De Fred Armisen, Tim Heidecker, John C. Reilly e Jonathan Krisel Sem distribuição nacional. Disponível na SHOWTIME.
Antes mencionei a série Away, que pode não ter elementos de ficção científica o suficiente, mas ainda assim traz uma narrativa de exploração espacial e, convenhamos, todo fã do gênero adora uma história envolvendo astronautas. Em 2020 tivemos duas comédias que focam nos bastidores da NASA, a primeira sendo Space Force, estrelada por Steve Carell; a segunda foi uma bem menos popular, Moonbase 8. A diferença entre as duas é que Space Force parece apenas uma grande sátira feita às pressas para brincar com uma força tarefa espacial proposta por Donald Trump (nenhuma surpresa), enquanto Moonbase 8 tem uma escala bem menor e aproveita seu elenco para criar situações hilárias.
Estrelada por Fred Armisen, Tim Heidecker e John C. Reilly, a série segue três astronautas em uma base de testes, onde eles treinam para uma futura missão lunar. Ao longo de oito episódios assistimos os três comediantes improvisando diálogos e protagonizando situações ridículas por conta do seu comprometimento com a missão. Como se os três não fossem o suficiente, o espectador começa a questionar como a NASA decidiu contratar pessoas tão incompetentes, o que cria uma linha narrativa curiosa. É uma das séries menos conhecidas dessa lista, mas vale muito a pena para quem procura uma comédia bem feita.
5º Lugar | AVENUE 5 (2020-)
Desenvolvida por Armando Iannucci Disponível na HBO GO.
Eu demorei para assistir a primeira temporada de Avenue 5 por conta das diversas críticas negativas, mas quando comecei a assistir percebi que a maioria delas envolvia o humor da série, idealizada por Armando Iannucci, mais conhecido por seu trabalho em comédias como Veep. E talvez esse seja o problema, o humor de Iannucci é muito específico, sem punchlines ou nada que te faça gargalhar, mas é o tipo de comédia na qual os diálogos entregam mensagens conflitantes e o espectador precisa questionar o quanto daquilo é real, e o quanto é baboseira. Sim, é um humor muito específico, mas se ele não te pegar, a série com certeza não funciona.
A história gira em torno dos tripulantes de um cruzeiro espacial de luxo, que depois de um acidente tem o seu curso alterado, fazendo com que todos fiquem presos lá por bem mais tempo do que imaginavam. Além de lidar com as notícias ruins, os clientes precisam aturar o capitão e sua equipe, que são fazem idéia do que fazer.
A temporada passa a pegar mais fôlego e ficar mais dinâmica com o decorrer dos episódios, mas até lá, muitas pessoas já abandonaram, o que é uma pena porque a série tem ótimas atuações de Hugh Laurie e Zach Woods, além de efeitos especiais de qualidade (orçamento HBO). Para quem não gosta do humor, essa série vai ser um desastre, mas para quem procura uma comédia mais sutil, vai adorar tanto quanto eu.
4º Lugar | THE MIDNIGHT GOSPEL (2020-)
Desenvolvida por Duncan Trussell Disponível na Netflix.
Clancy comanda um podcast espacial chamado The Midnight Gospel, onde entrevista seres diversos de planetas em extinção. Com um simulador de multiversos, ele pode enviar um avatar com a sua consciência para estes planetas e gravar longas conversas, que podem ir de um simples questionamento sobre a legalização da maconha até uma viagem através dos sentidos, com debates sobre ética existencial e identidade.
Não se deixe enganar por elementos como barcos carregados pela energia positiva de gatos ou unicórnios que vomitam sorvete, The Midnight Gospel é uma experiência única através do espaço e da alma.
Desenvolvida por Nathaniel Halpern Disponível na Amazon Prime Video
Inspirado nos livros de Simon Stålenhag, que participa da série como roteirista e produtor executivo, Tales From The Loop segue a rotina dos habitantes de uma pequena cidade localizada acima de uma instalação de pesquisa, onde se encontra uma máquina chamada The Loop, capaz de explorar diversos mistérios do universo. Isso acaba afetando os habitantes, que experienciam situações inusitadas envolvendo inconsistências temporais, forças que desafiam as leis da física e outras coisas que poderiam ter saído de alguma obra de ficção científica.
Tales From The Loop é uma série que segue os moldes de outros grandes sucessos, mas se destaca na execução, apresentando mundos e personagens diversos sem depender de suas referências, explorando o que há de mais complexo na ficção científica, o ser humano.
Desenvolvida por Alex Garland Disponível na FOX Premium
Alex Garland fez sua carreira com a ficção científica, como os filmes Ex_Machina e Aniquilação, o que atraiu os fãs do gênero, mas assustou os estúdios por conta do orçamento gasto com efeitos visuais, e roteiros que não seguem uma linha narrativa tão tradicional. Então, quando decidiu desenvolver uma história sobre uma instalação de pesquisa capaz de visitar o passado e observar o futuro, o formato seriado foi o mais apropriado.
DEVS foi produzida pelo canal FX, e em oito episódios consegue trazer um espetáculo visual impressionante, tão bom que não fica devendo aos seus filmes. Mas além dos visuais e da trilha musical assustadora, há também um enredo complexo e intrigante, e um drama construído para casar perfeitamente com os temas da série. Nem todas as atuações são impecáveis como a parte técnica, mas os pontos altos conseguem apagar completamente os defeitos da temporada. Amito que ela não seja para todos por causa do ritmo lento e a direção quase experimenta em alguns episódios, mas para quem procura algo totalmente diferente, DEVS é uma experiência única.
1º Lugar | THE EXPANSE (2015-)
Desenvolvida por Daniel Abraham, Mark Fergus, Ty Franch e Hawk Ostby Disponível na Amazon Prime Video.
E como já era esperado, mais uma vez The Expanse é a série essencial para todo fã de ficção científica. Efeitos visuais de qualidade, conceitos originais, tramas emocionantes e uma abordagem mais realista de exploração espacial e política nas narrativas especulativas, essa série tem de tudo. Ela pode ter uma primeira temporada lenta, que demora estabelecendo as regras do mundo, mas quando passa a focar nos personagens e nas missões, The Expanse é o que o gênero tem de melhor para oferecer.
A tripulação da nave Rocinante continua sua jornada em busca de respostas para os eventos misteriosos que acabara de presenciar, enquanto precisam se envolver em um longo conflito entre a Terra, Marte e os membros do cinturão de asteroides de Ceres. Em 2020 tivemos a estréia de sua quinta temporada (felizmente, depois de ser cancelada pelo canal SYFY, a Amazon comprou os direitos da série), e por mais que seja a série mais avançada em episódios dessa lista, é uma das que mais vale a pena, se não for a melhor. E é por isso que ela continua no topo.
Então é isso! Sentiu falta de alguma série?
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