Brit
Marling e Zal Batmanglij são uma dupla fascinada por narrativas com
elementos de ficção científica. Ela atuou e co-escreveu todos os
projetos de Zal para o cinema, além de protagonizar a série The OA. O primeiro projeto deles foi o curta The Recordist,
de 2007, sobre uma personagem paranoica que acredita estar diante de
uma forma de vida alienígena quando encontra Charlie, interpretada por
Marling. Essa premissa parece ser bastante confortável para a dupla, já
que continuaram abordando temas parecidos sobre conspiração, realidades
absurdas e delírio em seu primeiro longa metragem,A Seita Misteriosa (Sound of My Voice, no original), em 2011.
Peter Aitken e Lorna Michaelson são um casal preparando um documentário sobre um culto dedicado a adorar Maggie, uma jovem misteriosa que alega ter vindo do futuro. Com cada nova sessão, eles encontram jeitos diferentes de tentar capturar algum tipo de fraude com uma câmera escondida, mas não contam com a sequência de eventos que os fará questionar tudo em acreditam.
Para combinar com a proposta dos protagonistas, algumas partes de A Seita Misteriosa são
filmadas em um formato documental, com imagens de arquivo e um ótimo
trabalho de montagem, com inserções repentinas contribuindo para a
construção do drama entre os personagens, exibindo informações sobre o
passado de cada um.
Christopher
Denham e Nicole Vicius interpretam Peter e Lorna, respectivamente. Eles
são competentes e mantém o interesse do público, mas é Marling,
interpretando Maggie, que faz do filme algo diferente. A atriz tem o
costume de estar no papel de figuras mais passivas e menos
intimidadoras, mas aqui ela alterna entre um Messias procurando abraçar
todos com um sorriso acolhedor e um olhar ameaçador que te faz entregar
qualquer segredo. É difícil saber onde o filme está indo por conta
disso, o que é um tremendo feito da atriz.
Essa é uma produção de orçamento modesto, o que eu costumo valorizar mais que qualquer blockbuster quando tem um bom resultado mesmo com todas as possíveis limitações. Execução é tudo e Zal Batmanglij explora ângulos simples mas eficazes durante sua apresentação do ambiente carregado de tensão na sala onde o culto é realizado. Sua noção de ritmo também contribui positivamente para a obra, que poderia ser bem mais lenta (e faria total sentido), mas acaba ficando tão dinâmica e envolvente que o desfecho parece chegar de maneira quase abrupta — e vale mencionar aqui que considero a conclusão a melhor opção possível para uma história como essa.
A Seita Misteriosa é simples e direto ao ponto, podendo extrapolar um pouco e arriscar entrar em território mais desnecessariamente absurdo, algo que eu adoro mas não faz sentido na narrativa mais realista que Brit e Zal constroem. Com pequenas ressalvas sobre o elenco coadjuvante ser pouco aproveitado ou a estrutura do filme em “capítulos” (a proposta original era de que a história fosse uma série) com sequências curtas demais, o que talvez distraia alguns. Mas ainda assim, há mais pontos positivos que farão você começar a questionar suas próprias crenças. Um bom roteiro, elenco e diretor é tudo que um filme precisa.
Brit Marling é conhecida por tentar manter a mesma equipe criativa em seus projetos. A roteirista e atriz esteve em todos os filmes de Zal Batmanglij, co-escrevendo longas como A Seita Misteriosa e a excelente série The OA. Mas outra colaboração que rendeu ótimos filmes foi ao lado de Mike Cahill, com quem Brit já namorava há alguns anos. Em 2011, os dois escreveram A Outra Terra (Another Earth), um filme de baixo orçamento mas bastante criativo, com a direção de Cahill. Como a maioria das criações dela, o longa é carregado de elementos de ficção científica, mesmo que de maneira sutil.
Rhoda Williams (Brit Marling) foi aceita no MIT, e para comemorar passa a noite se divertindo com amigos. Na mesma noite, um planeta similar ao nosso surge nos céus e é chamado de Terra 2. Distraída com o fenômeno, Rhoda não percebe quando bate seu carro em outro, resultando na morte do filho e da esposa grávida do compositor John Burroughs (William Mapother). Quatro anos depois, ela sai da prisão e retorna para a casa dos pais. Fica difícil aceitar a vida, então decide se inscrever em um concurso que levará alguém para a Terra 2, mas antes precisa confrontar o homem cuja vida ela destruiu.
A premissa é instigante, mas é a execução que realmente chama a atenção. Uma solução inteligente do roteiro foi jamais permitir que chegássemos ao outro planeta. Com exceção de uma pequena tomada da protagonista se imaginando em uma cápsula espacial, a totalidade do filme se passa na Terra “original”. A viagem para a Terra 2 é apenas um recurso narrativo, serve como plano de fundo para um drama delicado sobre os traumas da perda de Burroughs e a dificuldade de Rhoda para seguir em frente.
Cahill tem uma direção simples e orgânica, com segmentos de câmera na mão, mas sem deixar de lado alguns belos visuais. Há também algumas referências literárias sci-fi fáceis de notar, como uma edição do livro de Fundação, clássico de Isaac Asimov, na mesa de Rhoda. Quanto ao roteiro, temos um enredo com foco nos personagens e alguns bons diálogos, mesmo que as informações sejam reveladas gratuitamente para que a trama não fique travada. Não é algo ruim, mas desnecessário, considerando a inteligência que o filme demonstra.
A Outra Terra é um daqueles filmes pouco apreciados, mas que mereciam bem mais reconhecimento por sabe o que fazer com o orçamento modesto e todas as restrições sem comprometer sua qualidade.
Eugene Wesley Roddenberry começou sua carreira em Hollywood na década de 50, vendendo roteiros para programas como a série policial Cidade Nua (1958-1963) e o western Paladino do Oeste (1957 – 1963). Foi em 63 que ele começou a produzir sua primeira série, O Tenente, que durou apenas uma temporada. Atores que fizeram parte do elenco em alguns episódios, como Leonard Nimoy e Nichelle Nichols, mais tarde estariam no seu próximo grande projeto.
Jornada nas Estrelas foi apresentada e recusada por estúdios como MGM (onde Gene já havia trabalhado, com O Tenente), até que Oscar Katz e Herb Solow, do estúdio de produção Desilu (propriedade de Lucille Ball, um dos nomes mais importantes para a criação de Jornada, acredite ou não), foram abordados com a ideia.
O estúdio ficou interessado e fez o possível para que a série de Roddenberry fosse ao ar, procurando emissoras que pudessem exibir o programação. Foi com a NBC que conseguiram um contrato e em 1964, o episódio piloto “The Cage” foi ao ar.
Apelidado pelos fãs de “Grande Pássaro da Galáxia”, uma referência à um episódio da série, Roddenberry era o rosto por trás dos conceitos básicos de Jornada nas Estrelas, era o mentor da série. Mesmo quando não estava por perto, era a sua visão que os roteiristas levavam em consideração antes de decidir a maioria dos acontecimentos de algum episódio. Ele viveu o suficiente para ver sua criação ir parar nos cinemas, ganhar novas séries, quadrinhos, livros e suas próprias convenções.
Foi no mesmo ano em que a franquia estava em seu sexto filme com o elenco da série original, The Undiscovered Country (1991), que Roddenberry nos deixou, sofrendo um ataque cardíaco em outubro. Seu legado inclui ser o primeiro produtor da televisão a ter sua própria estrela no Hollywood Hall of Fame (PEARSON, 2014), membro do conselho executivo do Sindicato de Roteiristas de Hollywood e regulador da Academia de Artes & Ciências Televisivas.
Um anos após sua morte, as cinzas de Roddenberry foram levadas ao espaço a bordo do foguete Columbia, do Centro Espacial Kennedy, em 22 de Outubro de 1992. Contidas em um pequeno recipiente que servia como urna, as cinzas do grande pássaro foram espalhadas no espaço, onde após seis anos orbitando o nosso planeta, queimou na atmosfera
Referências: NOGUEIRA e ALEXANDRIA, 2009:16. PEARSON, 2014
Alguns filmes simplesmente passam despercebidos por algumas pessoas, e esse é o caso de Ataque ao Prédio, que não recebeu a atenção merecida quando foi lançado mas agora deve estar na lista de indicações de qualquer um. É uma produção pequena, com pouco orçamento (algumas páginas tiveram que ser retiradas do roteiro por conta disso), mas com uma proposta que funciona muito bem.
Sam (Jodie Whittaker) vive em um dos bairros mais violentos de Londres, tanto que uma noite é assaltada por uma gangue local, mas essa vira a menor de suas preocupações quando uma criatura cai dos céus e faz com que ela se una aos criminosos para evitar uma invasão alienígena. A gangue é formada por jovens que não parecem saber muito bem o que estão fazendo, mas ainda assim tentam salvar a cidade, independente da quantidade de traficantes e policiais atrás deles.
Dirigido por Joe Cornish, o longa tem uma premissa simples mas o enredo não se limita a ação e comédia, tendo ótimos diálogos com comentários ácidos sobre a negligência e a brutalidade policial e até uma alfinetada na maneira como as produções norte-americanas assumem o “protagonismo” de seu país durante invasões alienígenas. Você pode notar a maneira como o filme abraça o dialeto urbano de Londres, cheio de gírias e piadas envolvendo a tentativa de todos os jovens em assumir uma identidade intimidadora naquele ambiente.
Parte do que faz a comédia funcionar tão bem é o elenco. Jodie Whittaker costuma ser creditada como a protagonista, mas ela divide esse título com um John Boyega pré-Star Wars, interpretando Moses, o líder da gangue do bairro. Moses tem uma jornada significativa, descobrindo seu papel no mundo e a importância de assumir responsabilidades, tentando deixar de lado sua antiga imagem para provar ser mais que apenas um criminoso. Seus amigos Pest (Alex Esmail), Jerome (Leeon Jones), Dennis (Franz Drameh) e Biggz (Simon Howard) servem mais como alívio cômico – Pest sendo outro personagem com alguma mudança pessoal mais relevante. Além deles, Luke Treadaway e Nick Frost tem uma participação pequena, mas são ótimos de ver.
Outro mérito do filme é a criatividade da equipe na criação do design das criaturas alienígenas, utilizando efeitos práticos e uma boa noção de luz e sombra para mostrar apenas o necessário, deixando pouquíssimos exemplos de efeitos computadorizados, como nas sequências onde várias criaturas eram visíveis (considerando o fato que não haviam trajes o suficiente nos bastidores para interpretá-las).
Ataque ao Prédio tem um ritmo rápido e dinâmico e é inteligente na hora de empregar a música, um excelente trabalho da equipe de montagem, o que fez com que as situações cômicas e as cenas de ação sejam impactantes, mesmo com as restrições orçamentárias. É uma experiência divertida e rápida (o filme tem apenas uma hora e meia) que provavelmente agrada até aqueles fascinados por um pouco de gore, porque não falta sangue alienígena jorrando na câmera. Indicação sólida que espero agradar vocês.
Ficha Técnica Título Original: Attack The Block (2011) Direção de Joe Cornish 88 Minutos
Traçar a origem da ficção científica é uma tarefa complexa em vários meios, mas quando falamos sobre cinema, é comum considerar Viagem à Lua (Le Voyage dans la Lune, no original), de 1902, dirigido por Georges Méliès, o precursor do gênero na sétima arte. Ainda que tenhamos alguns filmes (na época apenas curta metragens) onde elementos fantasiosos sejam encontrados da narrativa, nenhum foi tão dedicado a uma jornada épica assumindo tantos princípios da ficção científica como a obra de Méliès.
O que pode parecer apenas um filme de treze minutos com uma premissa simples envolvendo um grupo de exploradores em missão à lua que se depara com os habitantes de nosso satélite natural, é na verdade um dos maiores feitos da história do cinema. Para entender melhor o filme e sua importância, devemos abordar Georges Méliès, a figura responsável por transformar imagens em movimento em uma expressão artística única.
Considerado por muitos (inclua cineastas do calibre de Martin Scorsese nesta afirmação) como um mágico do cinema, Méliès foi essencial para o avanço do cinema como arte, contribuindo com soluções inteligentes para realizar efeitos visuais em uma época onde a edição de películas era um conceito inovador. O uso de sobreposição e a experimentação com técnicas de stop-motion também tornaram-se populares por sua conta, além de ser creditado como um dos primeiros, se não o primeiro, a utilizar storyboards em suas produções. Vale mencionar que o diretor chegou a se dedicar ao árduo trabalho de colorir cada fotograma à mão para que o público pudesse ter uma experiência de como o filme seria com um visual mais vibrante.
Francês, nascido em 1961, Méliès sempre mostrou interesse pelo teatro e trabalhou por um tempo desenvolvendo espetáculos ilusionistas, mas foi apenas quando atendeu uma das apresentações cinematográficas dos Irmãos Lumière que ficou fascinado, se deparando com a invenção do cinematógrafo. Os Lumière recusaram vender o aparelho para Méliès, que via o potencial da descoberta para entreter o público, mas os irmãos consideravam sua novidade uma contribuição puramente científica, não artística.
É curioso como a dupla é geralmente creditada como a responsável por inventar o cinema, mas nem sempre o ilusionista francês recebe a atenção merecida. Felizmente, Méliès comprou um dos dispositivos do eletricista Robert William Paul (outra figura pertinente para a história do cinema) e começou a exibir seus filmes no teatro Robert Houdin, mas não demorou para arriscar e utilizar a tecnologia de maneira revolucionária, tirando a câmera do lugar e escolhendo ângulos que favoreciam a narrativa. A criação dos Lumière evoluiu graças aos filmes de Méliès, e nenhum foi tão impressionante até o momento como Viagem à Lua.
Como mencionada anteriormente, a trama do filme é bem simples, mas o impressionante aqui não é o enredo em si, mas a narrativa visual do diretor. Se em 1968 o público ficou admirado com 2001 — Odisseia no Espaço, de Stanley Kubrick, e a maneira como tivemos uma elipse de milênios que serve como transição para a sequência inicial dos nossos ancestrais em contato com o monolito, imagine como foi a reação das pessoas ao ver um enorme projétil sendo lançado de um canhão e atingindo o olho da lua logo em seguida. Essa imagem não é icônica apenas por seu apelo visual, mas pelo magnífico esforço de Méliès em executar sua obra usando técnicas completamente inovadoras para a época.
Não há registros da recepção exata do público na época, mas o filme foi tão bem aceito que logo foi encomendado por vários lugares interessados em exibir a obra. Vários negativos da película foram roubados e copiados, e até Thomas Edison se envolveu nisso, removendo o nome do diretor nos créditos.
Ao longo dos anos, várias imitações de Viagem à Lua foram surgindo, como o caso mais gritante de todos, Excursion dans la Lune(1908), de Segundo de Chomón, um plágio descarado da obra de Méliès, carregando tomadas idênticas e recriando a sequência do projétil sendo lançado ao espaço, desta vez sendo engolido pela lua. Chomón não foi o único, mas dedicou parte da sua carreira tentando fazer filmes envolvendo viagens fantásticas, e mesmo com essa “mancha no currículo” teve suas próprias contribuições para a sétima arte, como o excelente Le voyage sur Jupiter (1909)e o processo de colorização desenvolvido em conjunto com a Pathé, uma das maiores companhias de produção cinematográfica do mundo.
Com dificuldade para se manter relevante em uma indústria em crescimento, Méliès abandonou o cinema. Muitos de seus filmes foram perdidos, alguns queimados e o que restou foi restaurado por estudiosos alguns anos depois, surpreendendo o diretor, que pensava ter sido esquecido. Você pode saber mais sobre isso assistindo o filme A Invenção de Hugo Cabret, de Martin Scorsese, uma grande carta de amor para Méliès e os primórdios do cinema.
Viagem à Lua é uma obra que resistiu ao tempo e fascinou as pessoas, uma adaptação dos textos de Júlio Verne interpretada por um visionário essencial para a história do cinema e da ficção científica.
Há 50 anos tivemos um dos maiores momentos de nossa história. Foi em 20 de Julho de 1969 que Neil Armstrong transmitiu a icônica declaração: “Esse é um pequeno passo para o homem, um enorme salto para a humanidade”. E como os filmes adoram representações e grandes feitos para fascinar o público, é óbvio que o pouso lunar seria um dos assuntos mais abordados pela sétima arte. Assim, decidi separar alguns filmes com a temática para assistir e entender um pouco mais dos bastidores desse evento. Nem todos são maravilhas cinematográficas, mas trazem algo para o debate, seja lidando diretamente com o primeiro pouso na lua ou com acontecimentos que desencadearam o evento. Vamos lá.
O Primeiro Homem (2018)
Um dos mais recentes da lista é o longa dirigido por Damian Chazelle. Primeiro Homem traz um ângulo diferente sobre a exploração espacial, dando um foco maior no cotidiano dos astronautas que logo estariam à bordo da Apollo 11. É uma boa escolha para compreender as preocupações de todos os envolvidos na missão.
Seja na terra ou na lua, o filme tem um tratamento visual primoroso, com aquele aspecto mais granulado da imagem, comum da gravação em película, que é bom e ajuda na textura e a aparência estética da década na qual o filme se passa. Ao lado do diretor de arte, Linus Sandgren, Chazelle usou o mais comum 35mm na maior parte do filme, mas para as tomadas espaciais preferiu o efeito IMAX do 70mm. O resultado é uma experiência sensorial marcante. Leia a crítica do filme aqui.
Os Eleitos: Onde o Futuro Começa (1983)
Um dos melhores desta lista, Os Eleitos foi escrito e dirigido por Philip Kaufman e o resultado é uma das obras mais envolventes sobre a exploração espacial, focando no alistamento da equipe responsável pelo Projeto Mercury. O filme mescla muito bem o drama com a comédia e o resultado é uma sátira sobre a maneira como a Nasa e o governo dos EUA tentaram desesperadamente superar os russos na corrida espacial. Ainda assim é uma das produções mais emocionantes sobre o assunto, com um ótimo elenco composto por nomes como Ed Harris, Dennis Quaid e Barbara Hershey, sem esquecer a maravilhosa trilha sonora de Bill Conti.
Estrelas Além do Tempo (2016)
Muito se fala sobre os homens envolvidos na missão para a lua, mas Estrelas Além do Tempo explora a vida de três matemáticas que foram essenciais para as pesquisas da Nasa. Além de serem mulheres, elas são afro-americanas e sofrem constantemente com o sexismo e racismo da época.
O filme foi dirigido por Theodore Melfi, que fez um trabalho competente em retratar a ambientação da década, mas o destaque está no elenco, com as atrizes Taraji P. Henson, Octavia Spencer e Janelle Monáe interpretando Katherine G. Johnson, Dorothy Vaughan e Mary Jackson, respectivamente. A obra concorreu ao Oscar em três categorias e merece ser assistido por conta da atenção dada às heroínas que infelizmente passaram anos sem receber a merecida atenção.
Apollo 13: Do Desastre ao Triunfo (1995)
Ron Howard não é um dos meus diretores favoritos, mas Apollo 13 é um longa que merece ser assistido. Ele narra mais uma jornada da humanidade, desta vez indo à bordo da Apollo 13, na missão que ficou conhecida pelos obstáculos que enfrentou para retornar os astronautas em segurança ao seu planeta de origem.
Aqui decidi colocar um filme que se passa depois da primeira missão espacial por abordar um lado contrário da Apollo 11, onde os membros tiveram que lidar com problemas durante a viagem em si. Esse é outro caso onde a direção é decente e o roteiro é bom, mas é o trabalho de montagem e o elenco que realmente fazem o filme funcionar, com estrelas como Tom Hanks, Bill Paxton, Kevin Bacon e, mais uma vez, Ed Harris, que esteve em Os Eleitos.
Lunar (2009)
Agora vamos para o futuro, um onde a humanidade precisa de recursos encontrados apenas na lua. Assim somos introduzidos a Sam Bell, interpretado por Sam Rockwell, que passa três anos isolado em uma instalação lunar para recolher matéria prima. Sua única companhia é o computador inteligente, GERTY, e a solidão toma conta do personagem, fazendo com que tenha alucinações.
Sam Rockwell é um grande ator, um dos meus favoritos, e ele é capaz de manter sua atenção durante o filme inteiro com seu personagem adquirindo cada vez mais camadas no desenvolver da trama, mesmo que esteja apenas falando sozinho.
Viagem à Lua (1902)
Le voyage dans la lune, de Georges Méliès, é essencial nesta lista por ser um dos primeiros filmes a fascinar o público com a possibilidade do que a humanidade pode conquistar, e com a magia que o cinema pode criar. Utilizando técnicas inovadoras de sobreposição, pintura e stop-motion, Méliès foi pioneiro na arte e decidiu trazer uma de suas várias adaptações das obras de Júlio Verne, desta vez sobre um grupo de homens lançados ao espaço em uma cápsula que atinge a lua no olho e resulta em uma perseguição envolvendo criaturas da superfície da nossa estrela.
Méliès foi um gênio da sétima arte capaz de seduzir o público com seus visuais que remetem uma ambientação onírica, cheia de figuras fantasiosas e interpretações abstratas. Um filme belíssimo que moldou o jeito como vemos o cinema e aumentou nosso interesse em alcançar o espaço.
Para Toda a Humanidade (1989)
É claro que eu não deixaria de mencionar um documentário sobre o assunto. Existem vários, mas acho que nenhum captura tão bem o sentimento de fazer parte dos bastidores das missões Apollo como For All Mankind. O diretor, Al Reinert, destaca o elemento humano neste documento que reúne as partes que ele considerou as mais emocionantes de todo o projeto espacial, dando atenção aos astronautas e a cabine de controle.
Visuais inacreditáveis e relatos dos envolvidos fazem deste filme uma experiência como poucas, venha pela curiosidade de saber mais sobre o processo dos astronautas e fique pela impressionante jornada.
Menções honrosas para o pouco conhecido, mas envolvente, The Dish (2000), e para a comédia Moonwalkers (2015). E antes de me despedir, deixo com vocês o trailer de Apollo 11, um novo documentário com imagens remasterizadas sobre a missão espacial que estamos comemorando.
Deixe nos comentários qual seu filme favorito sobre o assunto!
Essa matéria foi publicada originalmente no site Rima Narrativa.
Está na hora de falar do amigão da vizinhança e aquele que é, sem duvida alguma, seu melhor filme até o momento. Na última década tivemos algumas adaptações e produções originais de qualidade. A Marvel já nos surpreendeu com filmes como Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia, além de Vingadores, obviamente. A Fox, mesmo recebendo muita reclamação, é responsável por alguns bons X-Men, além do divertido Deadpool e o surpreendente Logan, que deixou muitos fãs chorando na saída do cinema. E a DC, por mais que tenha alguns filmes de qualidade discutível, é responsável por aquele que é considerado por muitos como “O maior filme baseado em quadrinhos do cinema”: The Dark Knight.
Mas eu queria dedicar esse tempo com vocês para debater um que, mesmo sendo bastante adorado, não parece receber toda a atenção que merece: Homem-Aranha 2.
Esse é o filme que melhor representa para mim o que chamados de “filmes de super-herói”, e posso arriscar dizer que é o meu favorito de todas as adaptações de quadrinhos.
Eu vou explicar.
Lançado em 2004, Homem-Aranha 2 é uma das melhores continuações de uma franquia no cinema. Com personagens envolventes, ótima ação e um enredo ainda melhor (mesmo toda a franquia tendo uma premissa parecida, o que não quer dizer muita coisa quando analisamos a narrativa mesmo).
Conte quantas vezes você não olhou para relógio em vários filmes esperando as cenas de ação e o personagem uniformizado te salvar daquela trama chata. Na maioria das vezes, isso acontece porque você não se interessa o suficiente pelo personagem, o filme não tenta criar uma conexão forte entre a pessoa e o herói, e na maioria das vezes, quando cria uma, ela é bem rasa e fica só no roteiro. Mas Homem-Aranha 2 é sobre Peter Parker, ele é o verdadeiro herói, com ou sem o uniforme.
No filme, Parker está tendo problemas para separar todas as suas vidas: trabalhando como entregador de pizza (it´s pizza time!) e tirando fotos da ameaça aracnídea para o Clarim Diário (o aluguel não se paga sozinho), dedicando mais tempo para os estudos, sua tia, vida amorosa… e claro, ele é o amigão da vizinhança.
Ao longo do filme, podemos ver um Peter cada vez mais desmotivado, tendo que lidar com o ódio de seu melhor amigo, Harry, pelos acontecimentos do primeiro filme (o pai de Harry morreu durante uma batalha com o Aranha), e Mary Jane parece um sonho cada vez mais distante. Além disso, sua tia May sente o peso da perda de seu marido. Peter decide largar o seu lado Aranha e aceita que só poderá ser completo se focar no lado Parker. O filme toma seu tempo e dedica uma boa parte na vida dele.
Enquanto muitas adaptações por aí tentam fugir do formato estabelecido pelos quadrinhos, anunciando seu realismo ou o quão sombrio são, Homem-Aranha 2 abraça todas as coisas mais inocentes e até um pouco bregas das revistas e mantém no filme. Frases de efeito, vilões exagerados, cores vibrantes e momentos absurdos. O que impressiona é que tudo isso funciona aqui porque sabemos que o importante é criar um bom filme, sabendo usar todos esses elementos de forma inteligente.
O longa abre com uma sequencia perfeita ilustrada por Alex Ross (sim, se liga no nível) com a trilha de Danny Elfman. Aqui temos um dos melhores trabalhos de Elfman, e a melodia é tão boa que você reconhece nos primeiros segundos.
Esta abordagem mais inocente não compromete o drama e os momentos mais sérios, e por isso o enredo é um ponto alto, dando tempo para cenas importantes desenvolverem-se organicamente. O filme também se arrisca bastante, não só aceitando estes elementos exagerados, mas também experimentando e brincando com o formato, o que infelizmente vejo cada vez menos em produções do gênero.
Um grande acerto do filme foi manter Sam Raimi na direção. Raimi sabe bem como é ser criativo com pouco orçamento. Responsável por filmes como a trilogia Evil Dead e o primeiro longa de Darkman, ele se mostrou um daqueles diretores para se ficar de olho. E seu trabalho com o Aranha foi provavelmente o melhor de sua carreira, foi onde mostrou tudo que aprendeu ao longo dos anos, com um visual mais limpo e atenção aos detalhes.
Raimi tem um estilo único, principalmente a forma como usa a câmera. Ele é um dos poucos que consegue colocar uma cena de tentáculos metálicos esquartejando uma equipe médica inteira em um filme cheio de comédia e aventura sem comprometer o tom. As várias maneiras de mostrar isso sem que pareça gráfico demais para o público é um dos motivos para eu gostar tanto de Raimi na direção, com a ajuda de uma montagem ágil e dinâmica, é claro. Mas a maior vitória de Raimi foi com os personagens. Homem-Aranha 2 valoriza cada interação e diálogo. Algumas cenas chave entregam o coração do filme.
Uma das minhas favoritas é quando Peter tem seu primeiro encontro com Otto Octavius para conversar sobre sua pesquisa. A principio é apenas uma parte do filme que serve para apresentar Otto e sua esposa, mas para Peter, este é um dos momentos mais importantes. Ele não está por conhecer seu ídolo, mas também é a primeira vez que ele consegue conversar com alguém que o entende, e a cena é toda montada como se fosse um jantar de família, não apenas um encontro casual. Peter se sente bem naquele meio, ele nunca chegou a conhecer seus pais e seus pais não tiveram a oportunidade de ver Peter crescendo.
Aqui Otto é a figura paterna que Peter sempre quis ter, alguém para motiva-lo. Ele chega até a dar bronca em Peter sobre a quantidade de faltas na faculdade e dá conselhos amorosos para o jovem. Esse tipo de interação, por mais simples que pareça, é necessária e uma das que faz o filme muito mais humano e convincente. Quando você percebe o que Otto representava para Peter, a sua despedida no último ato tem um sentido ainda maior.
A relação de Peter com MJ também está diferente. Ela precisa de Peter ao seu lado, e dá várias chances para que ele se esforce mais. Está claro que ela não está feliz na sua relação atual, chegando até a tentar reencenar com seu namorado o beijo que teve com o Aranha no primeiro filme, mas não sente a mesma coisa. Enquanto isso, Peter está se esforçando para voltar a ser quem era, estudioso e assíduo, além de um bom sobrinho.
Sobre a tia May, já é triste ver a pobre senhora forçando Peter a aceitar dinheiro para pagar o aluguel, mesmo que ela não tenha muito para dar, e é doloroso ver o que acontece com o dinheiro: o senhorio do apartamento onde Peter mora arranca da mão dele (vale mencionar que o nome do senhorio é Ditkovitch, referência ao roteirista clássico do Aranha, Steve Ditko). Este é o tipo de decisão narrativa que evidencia como Peter anda se sentindo. Todas as poucas alegrias que tem vão embora como se ele nem estivesse ali. É só lembrar das cenas onde ele vai comprar as flores para a peça de MJ ou tentar pegar uma taça de bebida na festa.
São estes pequenos momentos que fazem o filme mais humano, estas pequenas decisões que transcendem o personagem para algo mais convincente. Ver a evolução de Peter Parker, de um jovem cheio de duvidas para um homem que sabe que deve fazer o certo, mesmo que isso resulte em magoar aqueles próximos dele. Aqui ele finalmente entende que com grandes poderes vem grandes responsabilidades.
O filme ainda acha espaço para situações cômicas memoráveis. Jk Simmons como JJ Jameson talvez seja uma das decisões de casting mais certeiras da história do cinema. A entrega de pizza para “Dra Brennan” (Emily Deschanel) e “Ash” (Bruce “Deus” Campbell) como segurança do teatro também são hilárias. Mas como este é um filme de super-herói, tem que ter ação. E deixei o melhor para o final.
Raimi sabe muito bem o que deixar ou não no seu enquadramento. Ele tem uma ótima noção de espaço e ritmo. Assim como fez em Evil Dead, deixou muitas sequencias de Homem-Aranha memoráveis. Estas cenas ainda se sustentam, até mesmo quando o CGI se torna bem óbvio. Raimi tem o costume de usar efeitos práticos, então a maior parte da ação foi realmente executada por atores ou dublês. Eu poderia falar do salvamento da tia May, da entrega de pizza, da batalha no banco, mas é claro que você só está pensando na cena do trem.
Essa é facilmente a minha batalha favorita de um filme de super heróis. É logo depois dele decidir voltar com o uniforme, então o Aranha está realmente motivado. A luta é frenética e a trilha de Elfman é uma maravilha. No fim, ele salva o trem e é salvo pela população. Nesta cena, perde a máscara, algo recorrente no filme que reforça o tema de alter ego. Peter vive tentando esconder sua máscara, deixar de lado sua parte heroica. O círculo se fecha quando o próprio Peter tira sua máscara para Otto, ele quer que o vilão se lembre do homem que foi.
As maiores batalhas do filme são as internas, Peter sabe que não se sente bem sendo outra coisa além de um herói, por isso cenas importantes como a tia May jogando os quadrinhos de Peter fora, a lembrança de tio Ben no carro e a confissão para MJ no final são tão importantes. Homem-Aranha 2 é o filme perfeito para quem procura todas as emoções que um filme pode entregar de uma vez só, nunca forçado, nunca fora de lugar. Talvez seja difícil ter algo tão equilibrado no futuro, principalmente com os estúdios pensando cada vez mais em criar uma linguagem uniforme entre seus universos compartilhados. Então, por enquanto, não consigo pensar em filme que melhor represente uma adaptação dos quadrinhos do que este.
E se você é daqueles que leva notas do Metacritic e Rotten Tomatoes em consideração, esse filme está muito acima da média. Merecidamente, claro.
Homem-Aranha 2 tem muuuuito mais coisas para serem analisadas, mas aí vamos ficar o dia inteiro aqui. Por enquanto é só, mas como eu provavelmente não vou calar a boca sobre Homem-Aranha nesse site, daqui a pouco estarão ouvindo mais sobre o assunto.
Que saudade de fazer listas para o site! Já passamos por três décadas diferentes (2010, 2000 e 1990) e está na hora de chegar em uma das melhores para a ficção científica, onde alguns clássicos essenciais para o gênero foram lançados. Para não perder tempo e poder falar de cada um deles, vamos começar (lembrando que haverão várias indicações, mesmo que elas não recebam um grande destaque no texto, se estiver em negrito, vale a pena assistir).
Como pode ter notado pela ordem de envio das listas aqui no site, elas são postadas em ordem decrescente. Mesmo que ainda não tenha explorado a década de 1970, decidi começar as indicações com algumas continuações que mantiveram a qualidade do filme original. Aqui eu separo longas como O Império Contra-Ataca (1980),o favorito de muitos fãs da franquia Star Wars; Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan (1982), que finalmente trouxe mais popularidade para Star Trek na telona, ainda mais considerando a recepção pouco calorosa do público para o primeiro filme, agora com uma trama melhor e o vilão mais marcante da série, Khan, interpretado pelo ótimo Ricardo Montalbán. Mas se eu tenho que escolher uma continuação que não só manteve a qualidade da franquia como renovou a abordagem trazendo mais ação ao horror espacial, fico com Aliens, O Resgate (1986), desta vez dirigido por James Cameron.
E por falar em James Cameron, a década de 80 foi uma das melhores para sua carreira. Além de uma sequencia satisfatória para o Alien de Ridley Scott, Cameron dirigiou O Segredo do Abismo (1989), com uma premissa simples mas eficaz envolvendo uma equipe tentando resgatar um submarino nuclear desaparecido. Mesmo que este tenha sido um filme mais do que competente, uma das maiores criações de Cameron havia surgido há alguns anos, com OExterminador do Futuro (1984), que abriu caminho para uma das franquias mais rentáveis do cinema, principalmente quando teve sua continuação em 1991. O filme foi um sucesso entre a crítica e bilheteria, catapultando a carreira de Arnold Schwarzenegger como o carismático T-800.
Schwarzenegger teve uma das agendas mais ocupadas da década, estrelando doze filmes, alguns clássicos da ficção científica, como O Sobrevivente (1987), uma distopia onde a humanidade é fascinada por um programa televisivo onde os participantes correm por suas vidas. O ator foi o principal motivo para o filme ser lembrado até hoje, mas eu decidi escolher outro para representar o que ele fez de melhor nesta época, o explosivo O Predador (1987), que teve algumas das cenas de ação e diálogos exagerados mais marcantes do cinema e originou uma criatura tão adorada pelo público que logo começou a rivalizar com o queridinho Alien, rendendo uma franquia própria de Alien vs. Predador.
Outro nome marcante para a década foi John Carpenter. Mais conhecido por seus filmes de terror, Carpenter se envolveu em alguns projetos sci-fi como Starman: O Homem das Estrelas (1984) e Eles Vivem (1988), uma obra divertidíssima, com personagens engraçados e uma trama louca envolvendo um óculos que pode mostrar a verdade por trás de todas as mensagens envolvendo o consumo desenfreado da população.
Ele também dirigiu Fuga de Nova York (1981), mais uma FC de ação que não poderia faltar nessa lista, estrelada por Kurt Russell, que no ano seguinte também seria o protagonista de uma das maiores obras de Carpenter, o suspense O Enigma de Outro Mundo (1982), um dos maiores clássicos da década, com um enredo excepcional, personagens memoráveis e efeitos visuais impressionantes até hoje.
Outro diretor conhecido por seu uso de efeitos visuais e a mistura de elementos de vários gêneros é David Cronenberg. Ele começou a década com Scanners (1981), o filme com a bizarra premissa de pessoas com a habilidade de ler e explodir mentes, o que ficou imortalizado na imagem da cabeça de Louis Del Grande sendo destruída de dentro para fora. Logo depois, lançou o ainda mais absurdo Videodrome (1983), envolvendo uma viagem louca sobre o poder da mídia.
O diretor começou a atrair cada vez mais a atenção do público e cresceu de verdade com a chegada do remake de um clássico com Vincent Price da década de 1950, A Mosca (1986). Uma obra-prima do horror com toques de ficção científica, esse é o primeiro grande sucesso da carreira de Cronenberg, estrelando Jeff Goldblum interpretando um cientista que falha em um de seus experimentos e acaba sofrendo uma mutação assustadora. Se você quer ter uma aula de efeitos visuais (práticos), faça uma dobradinha com A Mosca e O Enigma de Outro Mundo.
Agora saindo um pouco do terror e suspense, vou focar em alguns filmes mais leves, como comédias, e nesse caso não dá para evitar Bill & Ted: Uma Aventura Fantástica (1989), a história de dois adolescentes usando uma máquina do tempo para fazer um trabalho de história e passar de ano. Esse filme é um guilty pleasure de muitas pessoas, então mesmo que não seja indispensável, merece uma menção por ser uma jornada divertida com Keanu Reeves e George Carlin no elenco.
E já que estamos em guilty pleasures, porque não mencionar alguns que podem não ser grandes filmes mas tem uma característica ou outra que merece sua atenção, como o longa de Flash Gordon (1980), bastante datado para a própria época mas com a banda Queen encarregada pela trilha sonora, o que já deixa a experiência mil vezes melhor. Outro que pode não ser perfeito mas chegou a render uma continuação anos depois foi Tron (1982), que não tem o melhor roteiro do mundo mas deixou o público surpreso com alguns avanços técnicos para a sétima arte.
Mas há um filme que divide muitas opiniões entre os fãs do material original e cinéfilos em geral: o épico dirigido por David Lynch, Duna (1984). Baseado na obra de Frank Herbert, Duna é um filme bastante fiel em todos os pontos principais da trama, mas com efeitos visuais que não envelheceram tão bem quanto outros longas da época e um ritmo que não agrada todos. Particularmente, considero um filme competente com bons visuais (ainda que o problema dos efeitos se mantenha), mas nada que chegue perto da grandiosidade do livro.
Aqui é onde eu indico um filme muito bom que merecia bem mais atenção, e o longa da vez é Viagens Alucinantes (1980). Dirigido por Ken Russell, essa obra foi bem arriscada para seu tempo, com uma montagem diferente e abordagem incomum dos temas. É uma premissa aparentemente simples envolvendo um cientista estudando a mente humana, mas logo nos encontramos em uma experiência que vai ficar pra sempre na sua cabeça. Com visuais inesquecíveis, Viagens Alucinantes inspirou outras FC como Stranger Things ou The OA. Assista, vale a pena!
Antes de seguir para a trindade sci-fi da década de 80, vou destacar mais um FC de ação que deu origem a outra franquia de sucesso: Robocop (1987). Comandado por Paul Verhoeven, que no ano seguinte estaria dirigindo O Vingador do Futuro (Schwarzenegger de volta), Robocop é mais um exemplo que usa elementos da ficção científica para desenvolver um ótimo filme de ação. Se não fosse pela ambientação e o enredo amarrado do longa, ainda assim teríamos Peter Weller como Alex Murphy, o policial que sofre um acidente e tem seu corpo reconstruído para dar lugar ao maior combatente da lei de uma Detroid futurista.
Com tantos filmes de ação e terror nesta lista, parece que não sobra espaço para uma diversão em família. É por isso que deixei dois grandes sucessos de crítica e bilheteria para esta parte da lista, começando com E.T.: O Extraterrestre (1982), de um Steven Spielberg que já estava bastante famoso por conta de Tubarão e Indiana Jones, mas não perdeu o fôlego e continuou com filmes que estiveram no topo das bilheterias e agradaram toda a família.
Mas se tem um lançamento que marcou ainda mais a geração é o de um diretor até o momento pouco conhecido, que conseguiu ter Spielberg na produção do filme que faria sua carreira. O diretor é Robert Zemeckis e o filme é De Volta Para o Futuro (1985). Uma das produções mais charmosas e atemporais do cinema, esse é o tipo de filme impossível de odiar, com uma direção competente, um roteiro intrigante, elenco perfeito, efeitos visuais de qualidade e muita música boa. Michael J. Fox e Christopher Lloyd trouxeram um coração para o filme como poucos conseguiram até hoje, o que faz dessa obra um dos maiores clássicos da história do cinema.
Existe algo maior que De Volta para o Futuro? Por mais que este seja um dos filmes que melhor represente a época, decidi deixar para o final aquele que praticamente trouxe grande parte do apelo estético de um subgênero inteiro, no caso o cyberpunk, com Blade Runner (1982). Com conceitos visuais inspirados no que seria um filme de Duna por Alejandro Jodorowsky e temas explorados no livro de Philip K Dick, Adroides Sonham com Ovelhas Elétricas?, Ridley Scott provou mais uma vez ser um gênio no que faz e um dos nomes mais importantes para a ficção científica, tendo lançado o filme sobre o caçador de androides apenas três anos depois de Alien, O Oitavo Passageiro.
Uma experiência única estudada até hoje por conta de seus temas e iconografia, Blade Runner é celebrado como uma das maiores obras do gênero, precursor de várias características que logo tornariam-se obrigatórias para o gênero e parte do imaginário do público. Um filme necessário que merece destaque como a maior obra sci-fi da década.
O que achou da lista? Diga nos comentários que filmes ficaram faltando para você. As Aventuras de Buckaroo Banzai (1984);Cocoon (1985);Repo Man (1984)?
Há tantos filmes que não couberam aqui por pouco, então deixei apenas os que considero essenciais para compreender melhor a década em que foram lançados. Fiquem atentos para a próxima lista — enquanto isso leiam as anteriores e deixe nos comentários seus favoritos. Até a próxima!
Distribuído pela Netflix, I Am Mother é mais uma adição para o seu catálogo de ficção científica. Depois de produções decepcionantes como Extinção, The Titan ou Onde Está Segunda?, ficou difícil confiar nos lançamentos FC jogados no site (e uso “jogados” porque muitas vezes um estúdio simplesmente não confia no filme o suficiente para um lançamento em salas de cinema, então joga direto para o streaming), mas felizmente I Am Mother não cai nesta armadilha e acaba sendo um filme mais do que competente.
Uma jovem é criada por um droide chamado Mother (“Mãe”), que tem a missão de repopular o planeta depois da humanidade ter sido extinta. A robô e sua “filha” vivem bem em uma instalação do governo criada para proteger as futuras gerações, mas a relação delas pode mudar com a chegada de uma mulher misteriosa.
O primeiro aspecto notável da produção é o elenco principal que conta com apenas duas protagonistas sem nome, interpretadas por Hilary Swank e Clara Ruggard (a mulher e a filha, respectivamente), e a droide com a voz de Rose Byrne. Depender de poucos atores é arriscado, mas o filme apenas ganha por conta da direção focada de Grant Sputore e o talento das atrizes.
Swank pode não ser uma das minhas atrizes favoritas, mesmo sendo premiada pela Academia, mas sua personagem tem um comportamento exasperado que precisa de uma boa atriz para evitar exageros. Rose Byrne empresta sua voz para Mother (Luke Hawker é o ator dentro da máquina) e também fez um bom trabalho expressando atitudes “bondosas” de maneira ameaçadora. A última, mas não menos importante, é Clara Ruggard, que mesmo com um currículo menor consegue se destacar servindo como a protagonista. É dela o arco principal do filme e o interpreta muito bem.
Por ser um filme de menor escala e orçamento relativamente modesto, considerando o que costumam valer outros filmes de estúdios e diretores mais conhecidos, I Am Mother tem a vantagem de poder criar cada um dos seus elementos com mais cautela e sem muita intromissão. Esse é o primeiro longa de Grant Sputore, mas ele não se desespera e traz uma direção mais interessada em construir ambientes sem pressa. Há espaço para algumas reviravoltas, o que muitos diretores parecem criar primeiro e montar o filme inteiro em cima delas, mas essa é uma obra onde o enredo e os personagens vem em primeiro, e mesmo que traga algumas características “batidas” de narrativas sci-fi, uma execução limpa e objetiva sempre funciona. Ao lado da direção, a equipe de design merece elogios pela forma como apresentou o mundo do filme e montou o visual dos droides.
I Am Mother explora a natureza humana através de um mundo que a protagonista não consegue ver. Assistimos a jovem em uma instalação grande o suficiente para abrigar várias crianças no futuro, mas a sensação de claustrofobia e o desespero em saber como as pessoas foram eliminadas por sua própria ignorância faz com que um debate seja levantado sobre todos os embriões mantidos em segurança no laboratório. Nosso desenvolvimento deve ser manipulado para que o caminho da humanidade não termine como antes ou podemos confiar em nossos instintos?
Ainda que grandes estúdios tenham um orçamento gigantesco para a execução de seus filmes, o resultado final nem sempre compensa o investimento. Isso apenas evidencia o excelente trabalho de algumas equipes responsáveis por produções independentes, onde você deve fazer valer cada centavo.
Se você tem o costume de assistir curta-metragens de ficção científica, provavelmente já ouviu falar da DUST, o selo sci-fi da empresa Gunpowder & Sky, responsável por distribuir conteúdo original do gênero. Com um catálogo atraente (disponível também no canal do Youtube da marca), muitos artistas ficaram rapidamente interessados em contribuir com seus próprios filmes.
Quando o longa Prospect, distribuído pela DUST, foi anunciado para plataformas digitais, a opção para os fãs brasileiros foi esperar o posicionamento de algum serviço de streaming. A resposta veio da Netflix, trazendo o filme para o país com o título Riqueza Tóxica. Não é a melhor das traduções, e é claro que ainda sobra o problema da Netflix em deixar obras como esta no catálogo com pouca visibilidade (o mesmo aconteceu em Terra À Deriva, um dos maiores sucessos de bilheteria da Ásia, que não recebeu toda a atenção merecida por aqui), mas vamos ficar felizes por pelo menos ter fácil acesso ao filme.
O filme é baseado no curta homônimo da dupla Christopher Caldwell e Zeek Earl, que também assinam a direção e o roteiro do longa. Uma jovem e seu pai visitam uma lua alienígena na busca de pequenas jóias valiosas que só podem ser encontradas adentrando uma floresta tóxica. Mas eles não são os únicos tentando ficar ricos dessa maneira.
No meio de tanta coisa grande saindo nos cinemas, rendendo bilhões nas bilheterias, seja mais um filme da franquia Marvel ou Star Wars (basicamente, tudo Disney), é fascinante ver como uma obra menor, em escala e orçamento, consegue ser tão poderosa. Começando pela sua construção visual, que atingiu uma estética realista e distópica sem precisar do uso de tela verde. A maior parte das filmagens foi realizada em uma floresta conhecida da infância dos diretores, e um galpão precisou ser construído para que a equipe pudesse trabalhar perto do local.
É esse tipo de esforço que me faz apreciar ainda mais filmes assim, onde é visível a importância de ter sido gravado longe de um estúdio, com luz natural, contribuindo para a imersão daquele mundo. Tudo aqui é original: trajes espaciais, armas, ilustrações e até mesmo a poeira. Para que o filme tivesse sua própria identidade visual, os diretores passaram dias explorando maneiras diferentes de representar a poeira rosada que cobre a superfície da lua verde.
Outro diferencial do longa está no elenco. Jay Duplass é Damon, um pai longe de ser perfeito, mas ainda assim preocupado com a segurança de sua filha. Pedro Pascal é o nome mais conhecido do público, principalmente depois de ter interpretado Oberyn na série Game of Thrones, papel que chamou a atenção de Caldwell e Earl e colocou Pascal como a pessoa perfeita para o personagem Ezra, um obstáculo no caminho de Damon. Mas é Sophie Thatcher quem carrega o peso de protagonizar o filme como Cee, a jovem que se encontra em um território perigoso demais, principalmente para alguém sem muita experiência. Também foi satisfatório ver a dinâmica pai e filha em um filme do gênero, onde geralmente temos um um filho aprendendo com o pai. É arriscado, mas apoio que sempre vale a pena termos mais representação e novos pontos de vista.
Riqueza Tóxica tem uma direção íntima e cheia de belas tomadas de um horizonte vibrante, longe de toda a sujeira daquela lua. Esse é um filme que merece muito mais atenção por conta de todos os detalhes da produção e o incrível resultado final. Sequer cheguei a mencionar o roteiro, sem grandes tramas mirabolantes e planos malignos envolvendo destruição mundial (ou galáctica, dependendo de qual franquia estiver na sua mente agora), apenas o drama pessoal de uma jovem em um mundo perdido. Tudo é revelado através de diálogos naturais, onde podemos saber um pouco mais sobre a economia e cultura daquele lugar, além das pessoas que o habitam, como outros garimpeiros e saqueadores. É um universo rico em detalhes, mas o filme é inteligente o suficiente para confiar em seu público e não repetir as informações constantemente.
O ritmo é lento, mas a duração do filme é tão modesta que isso nem é sentido. É uma experiência rápida, mas cheia de beleza em sua execução. Um filme que não merece ficar escondido no catálogo da Netflix e precisa ser valorizado, ainda mais em tempos de blockbusters tomando conta de todas as salas de cinema.