Categorias
Séries Quadrinhos

Patrulha do Destino | “Puppet Patrol” (s01e03)

Estamos apenas no terceiro episódio e já posso afirmar que, se Patrulha do Destino fosse cancelada neste exato momento, a série seria considerada uma das melhores coisas já produzidas para a TV envolvendo um material da editora DC. Preacher é claramente um deleite de sangue e humor negro, mas a equipe de desajustados da Patrulha conseguiu em apenas poucas semanas entregar personagens bem desenvolvidos, um tratamento visual de qualidade e um enredo competente e criativo.

Em Puppet Patrol a equipe fuça os arquivos do Chefe e descobre informações que os levam para o Paraguai. Na verdade, eles não são levados, é mais questão de tentarem chegar lá por uma boa parte do episódio. Ciborgue não consegue contribuição financeira de seu pai e como ainda não é um membro da Liga da Justiça, não pode pegar um jato emprestado. A solução é carregar todos em um ônibus surrado (para ser generoso com os adjetivos). Não sendo apenas uma decisão criativa da série para evitar gastos no orçamento, obviamente (e há uma cena onde fica ainda mais claro como um simples corte — bem feito — na edição ajudou bastante nessa economia), essa acabou sendo uma daquelas ideias que abrem espaço para várias situações cômicas, como cada integrante do grupo tentando (e falhando) botar a mão no volante ou Crazy Jane tentando se matar por conta do tédio, literalmente. Há uma pausa em um hotel na beira da estrada que também serve para conhecermos mais da rotina de Rita e exibir o humor inconveniente de Cliff, que joga nomes como Batman Aquaman no ar com a intenção de irritar Ciborgue.

Preparados para a Fuchtopia

Com o primeiro episódio dando um foco maior na história de Cliff e a relação com sua filha, e o seguinte explorando as origens de Ciborgue e a superfície do que aconteceu com Jane, é chegada a hora de falarmos um pouco mais sobre Larrye os relacionamentos que mantinha, com sua esposa e o colega de trabalho, que acaba se tornando um amante. É mais uma das jornadas trágicas da série, de um homem tomado pelo arrependimento que decide se distanciar de tudo e todos. Mais um bom trabalho do roteiro em apresentar uma certa despedida através do ponto de vista das figuras que mais decepcionou, de um lado um adeus seco e triste de uma esposa traída; do outro uma partida sutil, mas cheia de sentimento, de um homem que perdeu uma das conexões mais fortes que tinha. Matt Bomer atua nas sequencias de flashback e em um momento importante do clímax do episódio, onde tem um embate com sua entidade mal-vinda. Como foi com Brendan Fraser anteriormente, esse é outro caso de um membro do elenco se dedicando ao papel e abraçando o absurdo da série.

Por falar em absurdo, esse episódio tem de sobra, e olha que nem tivemos a narração do Mr. Nobody (fez falta, mas não afetou negativamente a experiência em momento algum). À caminho de Paraguai, o grupo é separado novamente. Rita e Ciborgue ficam em um hotel (contra suas vontades), onde debatem a importância da ex-atriz para a equipe. Esse é o núcleo mais “normal” do episódio, e serve como um alívio cômico reverso, como se colocasse um pé no chão depois de sair da realidade. Por isso também é uma parte que sofre um pouco por não ser tão intrigante quanto a trama paralela, envolvendo Larry, Cliff e Jane chegando (de forma propositalmente conveniente) no seu destino, o ponto turístico provavelmente menos movimentado do país: Fuchtopia (sim, se escreve com h. Tire a cabeça do esgoto). Fantoches que revelam informações sobre o passado do Chefe e Von Fuchs, camponeses prontos para a batalha e a introdução de outra figura bizarra dos quadrinhos são algumas das coisas que me deixam cada vez mais animado para onde esta série pode ir. E pode ir para qualquer lugar.

Puppet Patrol é mais um ótimo episódio de uma série que vem se provando como uma das mais criativas e irreverentes dos últimos anos, e isso com apenas três episódios, mas também com uma trama que está se desenvolvendo muito bem e um trabalho de direção cada vez mais peculiar, com um filtro quase sépia que dá aquela sensação de estarmos vendo uma fotografia velha de algo abandonado há um tempo. É assim que os personagens se sentem e não deixamos de torcer por uma possível luz no fim do túnel para cada um deles.

Que visual ❤

Ficha Técnica:
Puppet Patrol, S01E03
Direção de Rachel Talalay
Roteiro de Tamara Becher e Tom Farrell
Atuações de Diane Guerrero, April Bowlby, Alan Tudyk, Matt Bomer, Brendan Fraser

Categorias
Séries Quadrinhos

Patrulha do Destino | “Donkey Patrol” (s01e02)

Possíveis spoilers.

Terminamos o episódio anterior com a chegada de Eric Morden, o Mr. Nobody. O vilão não mede esforços para impressionar logo de cara e é responsável por uma sequencia envolvendo um burro flatulento e um buraco que suga uma cidade inteira com toda sua população (hilário como representaram isso através da contagem de habitantes em uma placa), incluindo uma barata histérica. Alan Tudyk mais uma vez prova porque é a escolha certa para qualquer projeto, e aqui ele tem dois trabalhos difíceis: atuar e narrar. E nos dois, ele é ótimo. Durante o episódio, podemos ver o tamanho do seu poder, ou pelo menos o que ele permite que vejamos.

Nobody é intimidador e suas habilidades de moldar “tempo e espaço” impulsionam a narrativa desenvolvendo os membros da Patrulha, ao criar simulações que revelam os maiores medos e frustrações dos personagens. E sobre a narração, esse é um dos aspectos que melhor funciona por conta de toda a atmosfera absurda e o olhar atento do antagonista sobre a trama. É como se Eric soubesse a temporada inteira e esteja revelando os detalhes aos poucos para a própria série (não vou mentir, isso pode ser verdade). Mas vamos falar mais sobre isso daqui a pouco — hora de focar no que foi introduzido no episódio.

Joivan Wade interpreta Victor Stone, o Cyborg. Eu admito geralmente me preocupar com a introdução de personagens mais populares em séries onde a lógica não existe, com medo deles se destacarem de uma maneira estranha, talvez se desvencilhando do tom da produção, mas eu não sei o que acontece com Patrulha do Destino para conseguir realizar com perfeição tudo que tenta, incluindo a apresentação de Victor. Em apenas um episódio tivemos uma jornada por dentro de um burro, uma cidade destruída e uma história de origem (duas se contarmos as revelações sobre Crazy Jane), e ainda assim cada um desses elementos é executado muito bem, principalmente a trama de Cyborg (é a primeira vez que me importo com o personagem desde a animação original de Teen Titans). É um alívio ver algo tão positivamenteridículo e divertido, ainda mais vindo de pessoas que escreveram séries mais genéricas como The Vampire Diaries ¯\_(ツ)_/¯.

Neste episódio, a equipe procura pelo Chief, o Dr. Niles Caulder, raptado por Eric. Essa promete ser a trama principal ao longo da temporada, e com a presença de Mr. Nobody, temos uma ameaça constante pairando à cabeça dos heróis. As subtramas continuam fortes, como a evolução da relação de Cliff e Jane, ou o receio de Larry e Rita em participar de toda a loucura. Jane tem o tempo e a história de origem que não recebeu no primeiro episódio, e isso foi uma boa decisão, porque aqui temos a oportunidade de focar em algumas de suas personalidades e na manifestação de seus poderes. As tentativas de Cliff em se aproximar de Jane talvez sejam as cenas mais frustantes quando levamos em conta tudo que aconteceu com ele e o dilema que passa por conta de sua filha. Fraser pode estar emprestando apenas sua voz para o personagem, mas há uma tristeza convincente que me faz apreciar mais o ator.

Patrulha do Destino

Também é um episódio sobre arrependimentos, como visto no monólogo de Cyborg sobre uma promessa que fez para sua mãe. Joivan Wade é carismático e um pouco arrogante, mas também prova seu valor moral sem aceitar propostas fáceis e ameaças vazias. Enquanto isso, Rita revive seus dias de glória e Larry pilota mais uma vez. A intenção é ser uma tortura mental da parte de Eric, mas isso não impede os dois de aproveitarem o momento, rendendo boas sequencias cômicas (nada tão histérico quanto uma barata desesperada, claro). Toda a representação visual do interior do burro é outro atestado de como o design de produção da série está de parabéns, e a ideia de materializar as palavras de Jane e transforma-las em armas foi uma das coisas mais quadrinhos que já vi na TV.

Por falar em quadrinhos, Eric chega a mencionar Grant Morrison. Eu geralmente acho referências e menções gratuitas algo desnecessário e sem graça (essa coisa de “ser fã e querer service” não faz sentido algum), mas Mr. Nobody é um dos personagens mais estranhos e intrigantes no qual o roteirista já colocou as mãos, e as marcas registradas de metalinguagem e ridículo levado a sério do autor são traduzidas perfeitamente para a tela. Agora é esperar por mais personagens maravilhosamente estúpidos como Danny, a rua ambulante (será que os eventos desse episódio servem como uma forma de origem para a personagem?) ou a Irmandade do Dadaísmo. Ansioso por mais e preparado para episódios cada vez mais abstratos e Morrisonianos.

Ficha Técnica:
Donkey Patrol, S01E02
Direção de Dermott Downs
Roteiro de Neil Reynolds 
Shoshana Sachi
Atuações de Diane Guerrero, April Bowlby, Alan Tudyk, Matt Bomer, Brenda Fraser, Timothy Dalton

Categorias
Séries Quadrinhos

Patrulha do Destino | “A mente é o Limite” (s01e01)

Eu ainda não assisti a primeira temporada de Titãs. Admito que não estou muito interessado na série, mas fiquei animado quando soube que a Patrulha do Destino foi introduzida por lá. Eu adoro o grupo e é um daqueles que merecia mais atenção do público, então é óbvio que estou feliz pelo spin-off(tecnicamente a versão live action do grupo foi originada em Titãs) ter começado com o pé direito.

E antes que as comparações comecem, vou logo tirar isso do caminho: existem alguns elementos essenciais da premissa que podem ser similares aos do famoso grupo mutante, X-Men: um líder rico e inteligente em cadeira de rodas e um grupo de desajustados tentando trabalhar em equipe; mas a HQ de Patrulha do Destino foi originalmente lançada apenas alguns meses ANTES da primeira revista de X-Men — Ou seja, não sabemos se Stan Lee deu uma passada nos escritórios da DC ou o contrário (acredite, esse tipo de coisa era comum entre as duas editoras), mas pelo menos podemos esclarecer logo isso.

Patrulha do Destino (ou Doom Patrol, no original) foi criada pelo trio Arnold Drake, Bob Haney e Bruno Premiane, em 1963, na revista My Greatest Adventure. Eles foram tão bem recebidos que a HQ foi renomeada com o título do grupo. A série de TV traz os membros do grupo original, mas tem uma trama mais parecida com a fase escrita por Grant Morrison, que foi uma das mais aclamadas pelos leitores.

Comandados pelo Dr. Niles Caulder, mais conhecido como Chief, um grupo de pessoas com habilidades inacreditáveis lida com a perda de suas vidas passadas. Larry Trainor era um piloto da Nasa; Ritta Farr, uma atriz renomada; Cliff Steele, um campeão em corridas automobilísticas. Todos sofreram acidentes que mudaram suas vidas. Agora são, respectivamente, Homem Negativo, Mulher Elástica e Homem-Robô. Cada um com características distintas e motivos diferentes para permanecer na casa de Niles. Além deles, temos Crazy Jane, uma jovem com múltiplas personalidades, cada uma com um poder diferente.

O elenco da série é notável, com nomes como Matt Bomer (de White Collar) e o misterioso Timothy Dalton, sem contar o retorno de Brendan Fraser, que esteve de volta algumas vezes em séries menores, mas nada com a visibilidade de uma adaptação de quadrinhos da DC. Vale ressaltar que Bomer e Fraser são os únicos personagens que tem seu rosto completamente coberto, e por isso apenas emprestaram suas vozes para os heróis (claro que em cenas de flashback, temos os dois atuando em suas vidas “normais”). É engraçado, mas pelo menos não afeta a experiência. Dalton está charmoso como sempre e April Bowlby tem a elegância necessária para uma personagem como Ritta Farr. A minha adição favorita ao elenco é Alan Tudyk, que geralmente rouba a cena e acaba sendo a melhor parte em qualquer coisa que participa, e aqui seu talento é mais do que necessário, já que interpreta o Sr. Ninguém, talvez o principal antagonista da temporada.

Patrulha do Destino

Não se fala muito sobre Crazy Jane no primeiro episódio, mas ela tem um bom tempo de desenvolvimento de personagem durante suas conversas com o Homem-Robô. E por falar nele, o drama principal do episódio envolve as tentativas de Cliff para lembrar o que aconteceu antes de se tornar uma máquina, no acidente que fez com que a única coisa que sobrasse dele fosse seu cérebro. Os flashbacks, assim como a narração (feita por Tudyk, o que achei criativo e espero que seja assim até o fim), foram inseridos pontualmente, sem atrapalhar o que está acontecendo com os personagens no presente. Cliff lembra do acidente constantemente, mas talvez sua mente esteja lhe enganando. A série abre caminho para um arco envolvendo sua filha, e podemos ver logo de cara como ela é importante para ele. Algumas das sequencias mais marcantes do episódio envolvem a luta de Cliff para tentar movimentar seu novo corpo de metal, e essa parte é muito bem executada, com excertos de memórias de sua filha onde o presente invade o passado.

Mesmo que Cliff seja o destaque do episódio, pode-se ver a preocupação em contar a história de cada elemento do grupo. O clímax do episódio envolve um passeio pela cidade, com cada personagem procurando algo diferente para fazer: Ritta decide comer algo em um restaurante com temática clássica e Larry quer apenas pedir uma cerveja. O que vem em seguida é um pouco da demonstração do que eles podem fazer com suas habilidades.

Esse é apenas o episódio piloto, mas é um ótimo começo que estabelece cada personagem e trama muito bem. A direção é competente e não traz muita experimentação, o que não é problema mas seria muito bem vindo em uma série onde uma mulher vira uma gosma nojenta, um homem consegue atravessar os cabos de energia e um jumento surge no meio da estrada para soltar uma mensagem no ar feita com sua própria flatulência. É bizarra, boca suja e bastante ridícula, Patrulha do Destino pode ser uma das melhores séries de herói do momento, mesmo que a própria não aceite isso.

Ficha Técnica:
Pilot, S01E01
Direção de Glen Winter
Roteiro de Jeremy Carver
Atuações de Diane Guerrero, April Bowlby, Alan Tudyk, Matt Bomer, Brenda Fraser, Timothy Dalton