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The Expanse S04 | Explorando Nova Terra

Depois de ser cancelada injusta e prematuramente pelo canal SyFy quando acabou de entregar uma ótima terceira temporada, The Expanse conseguiu um novo lar no serviço de streaming da Amazon, o Prime Video. O mais impressionante não é apenas o fato de ter sido renovada para uma quarta temporada, mas por continuar com uma base de fãs forte e críticas positivas sendo uma série de ficção científica mais “pesada” no meio de tantas produções de maior nome. 

Com essa mudança, alguns poderiam ficar preocupados com o rumo tomado pela série, ainda mais com a redução de episódios por temporada, indo de treze para dez (como foi em seu primeiro ano), ou ter que mexer nos cenários e agendas de elenco. Felizmente, a maioria dessas preocupações foram desnecessárias e tivemos um ótimo retorno para uma das melhores séries da atualidade. 

Com o surgimento do Anel, um portal criado por conta da Protomolécula, tudo está diferente. Alianças improváveis e uma “corrida espacial” fazem com que a situação fique mais complexa do que o imaginado. Através do portal, foram descobertas novas possibilidades, milhares de planetas potencialmente similares ao nosso. O primeiro deles é Ilus IV, chamado de Nova Terra pelas Nações Unidas, formado por um gigantesco continente e ilhas separadas por um oceano, mas o problema está nas diferentes nações e facções que assumem o território sem compreender os mistérios envolvendo sua existência. 

The Expanse

Para contribuir com a exploração e decidir a disputa pelo território é designada a tripulação da Rocinante. Holden, Naomi, Amos e Alex estão de volta, mas ainda que a ameaça da Protomolécula pareça estar chegando ao fim, eles continuam em risco. Enquanto isso, do outro lado do Anel, Bobbie lida com dilemas familiares e éticos, Dummer e Ashford mantém a diplomacia entre os belters (habitantes do cinturão) e os inners (habitantes dos planetas do sistema solar: terráqueos e marcianos, na maioria dos casos), e Avasarala enfrenta novos desafios, não só em sua vida política, mas pessoal. 

Para a quarta temporada, a quantidade de episódios reduzida acabou contribuindo para uma temporada mais concisa, usando a corrida contra o tempo para criar sequências de ação muito bem executadas, como a retirada de todos os ocupantes de Ilus, que resultou em uma cena angustiante por conta da música e os efeitos especiais do desastre “natural” que atinge o planeta. Por conta da maior parte da temporada se passar em alguns pontos de Ilus, além da tensão constante, o drama é muito bem desenvolvido. 

Mas não é sempre perfeito. A alternância entre núcleos dramáticos, indo do impasse militar por conta dos representantes de cada nação procurando território em Ilus para os jogos políticos de Avasarala e as descobertas de Bobbie, pode dar a sensação de tramas paralelas um pouco deslocadas, talvez por conta dos temas sobre dilema, traição e orgulho não se aplicarem em todos os arcos de personagens. Esse é apenas um detalhe quando consideramos o enorme trabalho da série em desenvolver cada um desses núcleos com cuidado, sem deixar de lado a atenção aos detalhes que vem acompanhando The Expanse desde o início. 

The Expanse

Com a mesma (ótima) qualidade de roteiro, a quarta temporada continua surpreendendo com novas revelações, seguindo em frente com a narrativa e introduzindo novos personagens, como o chefe de segurança Adolphus Murtry, interpretado por Burn Gorman, que colabora para deixar a situação em Ilus ainda pior com uma sede de vingança depois de perder parte de sua tripulação, aparentemente por conta dos belters que chegaram antes. Ainda que pequenas instâncias de conveniência atinjam o roteiro, sobretudo quando um tipo de cegueira coletiva atinge os ocupantes de Ilus, não é algo que distraia o público. 

Por falar no elenco, é bom saber que ainda temos Thomas Jane retornando como Miller por mais uma temporada, para perturbar a mente de Holden com suas teorias e pistas. Shohreh Aghdashloo é uma atriz magnífica, facilmente a melhor da série, e não deixa de lado seus insultos e a boca suja, ainda mais suja com as liberdades que a série teve depois de assinar com a Prime Video. Se na última temporada Cara Gee foi um dos destaques, dessa vez David Strathairn, intérprete do comandante Ashford, tem seu merecido espaço para brilhar.

The expanse

Mesmo com o orçamento modesto, a série sempre se destacou por efeitos especiais mais do que competentes, e agora que recebeu um melhor investimento, pode exibir grandes sequências de ação espacial, com naves manobrando no fogo cruzado ou as grandes arquiteturas reveladas pela Protomolécula. O design de produção nunca foi tão complexo e a fotografia nunca foi tão bela quanto nessa temporada, principalmente em Nova Terra, com planos abertos revelando sua geografia, dando atenção aos seus desertos e estruturas.

The Expanse termina mais um ano trazendo ficção científica de qualidade, não só por conta de sua precisão científica ou ótimos visuais, mas também pela combinação perfeita entre elenco e roteiro, o que sempre funciona se bem feita, e a dessa série funciona como poucas. 

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Rick and Morty | Claw and Hoarder: Special Ricktim’s Morty – S04E04

Spoilers do episódio. Leia a resenha dos anteriores aqui!

Rick and Morty é conhecida por brincar com o nosso conceito de narrativa, principalmente explorando gêneros diversos com a intenção de tecer alguma crítica ou apenas se aproveitar do formato para criar sua própria história.

Em seu episódio anterior, One Crew Over the Crewcoo’s Morty, os roteiristas se apropriaram de uma trama com todos os elementos de um filme de assalto para explicar a falta de criatividade de algumas pessoas que tentam criar algo dentro do subgênero, e essa semana, com Claw and Hoarder: Special Ricktim’s Morty (trocadilho com o título da série Law and Order: Special Victims Unit), a série decide mexer com os conceitos de fantasia e jogos de tabuleiro, principalmente Dungeons & Dragons.

Para quem não sabe, Dan Harmon tem o costume de fazer piadas com a lista de regras e limitações de qualquer história, então seguir todas as instruções de uma partida de RPG acaba sendo um desafio para ele, que vive pensando em como transformar tudo em uma narrativa, ao invés de apenas seguir com o que foi estabelecido e é proposto pelo Mestre (quem narra uma partida de D&D).

Ao longo do episódio, assistimos Rick brincar com isso ao comentar como sua “magia”, a tecnologia, é melhor porque é real, ou como personagens misteriosos surgem de qualquer canto e poderes curiosamente convenientes podem surgir para ajudá-lo em uma missão. 

Community
Community

Essa não é a primeira vez que Harmon aproveita o sistema de D&D em suas séries, tendo feito os episódios Advanced Dungeons & Dragons, da segunda temporada, ou Advanced Advanced Dungeons & Dragons, da quinta, na sua comédia Community. Quem assiste todas as suas críticas ao formato acaba achando que ele não gosta do jogo, mas Harmon gosta tanto dele que desenvolveu uma animação chamada HarmonQuest, onde convida celebridades para jogar uma partida de RPG narrada pelo seu amigo, Spencer Crittenden.

Em Claw and Hoarder, Morty cobra o favor que pediu à Rick como condição para participar de mais uma missão, e mesmo relutante, Rick cumpre sua promessa: arranja um dragão para Morty. Mas para conseguir isso, você precisa fazer um contrato com um mago, então Morty assina com seu próprio sangue. Assim, Morty e Balthromaw, o dragão, tentam uma relação, mas as coisas não parecem estar indo tão bem entre eles, até que Rick acaba se envolvendo onde não queria. Paralelamente, Jerry começa a conversar com um gato, o que rende algumas situações aparentemente aleatórias, provavelmente estabelecendo algo para o futuro. 

Mais uma vez, na temporada, assistimos Rick construir uma relação “peculiar” com uma nova personagem, dessa vez uma parceria que acaba ficando íntima demais, até para os padrões do cientista que já viu e fez de tudo, incluindo fazer sexo com a população de um planeta inteiro simultaneamente (Auto Erotic Assimilation, da segunda temporada). Essa relação cria uma cisão entre Rick e Morty, que com a ajuda de Summer, precisam procurar o mago responsável pelo contrato do dragão.

Rick and Morty

A jornada deles é cheia de piadas sobre jogos de estratégia, brincando com personagens aleatórios, situações ex-machina ou poderes que não fazem sentido, mas uma das zombarias recorrentes é a comparação de magos e dragões com cafetões e prostitutas, algumas das partes mais engraçadas do episódio. Além dessas piadas, a produção da série aproveita para brincar com a cultura de cancelamento, mostrando que Summer sabe a necessidade de Rick em estar sempre certo, então tentar sujar sua imagem é uma das maneiras mais fáceis de chantagear o avô. 

O lado mais estranho do episódio fica por conta de Jerry, que ao lado de um gato falante, segue em uma viagem para Flórida porque, nas palavras do gato, “lá é um lugar onde as pessoas não fazem perguntas”. Enquanto o humor fica por conta da bizarrice que é ver Jerry aproveitando uma partida de vôlei ao lado de um gato que acabou de conhecer, e NINGUÉM se incomodar com o fato do animal poder falar, essa trama na verdade estava servindo para estabelecer algo que pode se tornar o clímax da temporada, isso porque Rick descobre o segredo do gato, o que não é revelado para nós, mas foi aterrorizante o suficiente para fazer com que Rick passe mal e tente se matar depois do que viu.

Rick and Morty

Em certo momento, Rick verifica suas mensagens e, em um dos vários casos de metalinguagem da série, diz que Jerry e o gato são uma preparação para um “grande final de temporada”. Talvez o segredo do animal seja ainda mais importante do que imaginamos. Mas ainda é cedo demais para especular.

A cena pós crédito do episódio revela o dragão de Morty, que agora não possui mais uma união com ele ou Rick, conhecendo o felino falante, que não mais conversa com Jerry. Os dois parecem se entender, então o gato pergunta quanto tempo demoraria um vôo dali para Flórida. 

Mesmo tendo poucas referências, listo aqui algumas que consegui pegar ao longo do episódio:

  • No começo, quando Jerry comenta sobre o gato falante, Rick diz que essa parece ser só uma história secundária, sem ligação alguma com ele, como “aquela vez em que foi parar em Plutão”. Esse diálogo é uma referência ao nono episódio da primeira temporada, Something Ricked This Way Comes, no qual um debate sobre Plutão ser ou não um planeta acaba fazendo com que Jerry vá parar lá e conheça sua população.
Rick and Morty
  • Durante uma conversa entre Balthromaw e Morty, podemos ver ao fundo duas covas no quintal da família. São nelas que Rick e Morty enterraram seus próprios corpos depois de destruir sua dimensão e tomar conta de outra para viver, no sexto episódio da primeira temporada, Rick Potion #09.
Rick
  • Na sequência em que Rick invade a toca de Balthromaw, podemos ver entre seus tesouros coisas como uma lancheira de Duckman, uma animação adulta sobre um pato detetive; a primeira edição da revista Detective Comics, famosa por incluir a primeira aparição de Superman; um boneco idêntico ao co-criador da série, Dan Harmon; mas a que mais impressiona Rick é uma cópia em vinil do primeiro álbum do rapper Future, assinado utilizando uma mistura de duas drogas que fazem parte da letra de uma de suas músicas, “Mask Off”. Na cena seguinte, podemos ouvir a música enquanto Rick e Balthromaw invadem um zoológico e drogam os animais.
Rick

Parece que estamos tendo, aos poucos, indícios do que está por vir nessa temporada. Talvez uma nova ameaça promete acabar com a paciência de Rick. Vamos continuar assistindo para descobrir. Até lá!

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The Expanse S03 | É lutar ou fugir

Continuando com uma das melhores séries da ficção científica atual, a terceira temporada de The Expanse mergulha em debates políticos e fica cada vez mais perto da guerra iminente entre a Terra e Marte. A temporada também é marcada por alguns saltos temporais que avançam a trama de uma maneira orgânica, e isso apenas beneficia a narrativa, que precisa lidar com as consequências a longo prazo dos encontros da Rocinante. 

Aqui abordamos a segunda metade de Caliban’s War e grande parte dos eventos de Abaddon’s Gate, o segundo e terceiro livros da série The Expanse, respectivamente. E ainda que as conspirações continuem fortes, podemos ver que o principal tema da temporada é a traição e suas consequencias, não importa se para algo no qual acredita ser o melhor para todos, como Naomi faz com seus amigos; ou o melhor para seu próprio nome, como Sadavir Errinwright, que tem seus planos envolvendo a proto molécula revelados. 

Agora temos novas adições ao elenco, como a Dra. e Reverenda Anna Volovodov, interpretada por Elizabeth Mitchell, que traz uma personagem mais centrada e aparentemente imparcial, mas ela logo se mostra mais do que apenas uma figura pública; e além de novidades, há espaço para retornos, mesmo que sejam em forma de visões, e é ótimo ver Thomas Jane no papel de Miller novamente. A maneira na qual foi inserido no contexto atual da série foi uma das decisões inteligentes dessa temporada.

Mas dando destaque para o elenco recorrente, vale sempre mencionar o quão incrível é a interpretação de Shohreh Aghdashloo como a irreverente Chrisjen Avasarala, capaz de roubar a cena de qualquer um. Mas duas personagens tiveram um grande destaque na temporada e exigiram um comprometimento maior, e essas são Naomi Nagata (Dominique Tipper) e Camina Drummer (Cara Gee).

The Expanse

As duas estiveram em um dos núcleos dramáticos mais importantes, lidando com suas decisões com extrema cautela, sabendo que qualquer passo em falso pode estragar o que construíram no caminho. A relação de Naomi com Holden (Steven Strait) acaba se fragilizando, assim como Dummer e Ashford (David Strathairn), e felizmente Tipper e Gee são ótimas atrizes, principalmente considerando a carga emocional que conseguem entregar enquanto precisam manter seu sotaque belta

Deixando o elenco de lado, um departamento que não deixa de me surpreender é o de efeitos visuais, que aperfeiçoou suas sequências de “embate” espacial e mostra uma enorme evolução, arriscando deixar a câmera por mais tempo em elementos que necessitam completamente do CGI para sua execução. 

Mas um elemento que não canso de elogiar é o roteiro, que continua sagaz, com ótimos diálogos, sem medo de construir tensão e entregar revelações que podem alterar completamente o status quo da série. Ainda que tenhamos uma pequena subtrama envolvendo um membro de uma equipe de filmagens, à bordo da Rocinante, que acabou ficando previsível demais, ou episódios em que alguns eventos pareciam um pouco desconexos (talvez culpa maior da montagem, não do roteiro), o texto da série está fazendo um trabalho como poucos de trazer uma produção de hard scifi que merece ser levada a sério. 

The expanse

Com um drama bem estabelecido, trama envolvente e efeitos visuais incríveis (mesmo sem um orçamento gigante), The Expanse merece ser assistida por qualquer fã de ficção científica, e mesmo que o próprio canal SyFy não acredite nisso, a série felizmente foi renovada para uma quarta temporada, pela Prime Video

Continuamos a jornada com Pinus Contorta Rocinante!

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Star Trek: The Motion Picture | O começo de uma nova jornada

Uma década depois do cancelamento prematuro da série clássica em 1969, Jornada nas Estrelas atingiu um espaço onde jamais esteve antes, as salas de cinema. Star Trek: The Motion Picture (ou Jornada nas Estrelas: O Filme) foi uma produção cercada de elementos e decisões curiosas que deixaram alguns fãs confusos, mas a alegria de ver a Enterprise e sua tripulação de volta são o verdadeiro motivo para deixar todos ansiosos durante seu lançamento.

A produção já começou com o pé esquerdo, enfrentando vários problemas, como os atrasos causados pela reconstrução de alguns cenários e modelos da série que agora deveriam fazer parte de um filme com grande orçamento. Além disso, também havia o impasse envolvendo o elenco, como William Shatner e Leonard Nimoy, que tentavam se distanciar dos seus personagens, Kirk e Spock, respectivamente, mas acabaram aceitando participar do filme. 

Situado quatro anos depois dos eventos do último episódio da série clássica, Turnabout Intruder, James T. Kirk é designado para a Enterprise mais uma vez, que precisa lidar com um objeto vindo em sua direção e acabou de destruir três naves Klingon. Kirk tenta reunir a sua tripulação enquanto conhece novos rostos, incluindo o atual capitão da nave, Decker, que agora precisa deixar seu posto para o veterano. Como se não fosse o suficiente, temos o surgimento de V’Ger, uma entidade misteriosa que pode botar a galáxia em risco. 

Star Trek

A direção do longa ficou por conta de Robert Wise, conhecido por editar o clássico Cidadão Kane, de Orson Welles, e dirigir os musicais Amor, Sublime Amor e A Noviça Rebelde. Lendo os exemplos listados, você não imaginaria que ele fosse o diretor certo para um filme de Star Trek, mas Wise já tinha em sua filmografia outra ficção científica, O Enigma de Andrômeda, que dirigiu no começo da década de 1970. Ainda assim, ele realmente não era a pessoa certa considerando que não assistia a série, mas aceitou o desafio independente disso. Felizmente, Jornada nas Estrelas: O Filme tem vários méritos, para muitos por uma perspectiva técnica, mesmo que nem todos os fãs sejam apaixonados pela obra, que tem uma abordagem completamente diferente do que se esperava da franquia. 

A primeira coisa que você nota no filme é o seu ritmo vagaroso. Uma das principais reclamações de alguns é a duração de algumas cenas, principalmente a famigerada tomada na qual Kirk reencontra a Enterprise, onde temos mais de cinco minutos da câmera explorando cada canto da nave, e estou falando apenas do exterior, e fica mais engraçado notar como no roteiro isso tomou apenas duas páginas.

Star Trek

A comparação mais óbvia que se pode fazer com outra obra é 2001: Uma Odisseia no Espaço, do diretor Stanley Kubrick. Isso não se dá apenas pelo ritmo, mas pelo tom, mais sério e contemplativo, e pelo apelo visual – por vezes o filme chega a executar cenas de tal maneira que fica impossível não comparar diretamente ao filme de Kubrick, como as tomadas das naves e estações espaciais em descanso no vazio do universo, a quase escassez de diálogos e até mesmo uma sequência onde Spock adentra a entidade V’Ger.

O filme contou com consulta técnica da própria Nasa e dos Institutos de Tecnologia da Califórnia e Massachusetts, sem contar o escritor Isaac Asimov, que usou seu vasto conhecimento sobre ficção científica para colaborar com conceitos que fossem não só acurados cientificamente, mas envolventes para o grande público, e isso fica visível quando assistimos a Enterprise sofrendo por passar em um buraco de minhoca desbalanceado, criando um efeito que faz a imagem da tripulação se dissolver aos poucos. 

Além dos efeitos visuais de computação, o longa conta com mais de cem Matte Painting,  uma técnica de pintura de cenários que pode distrair em algumas instâncias, mas é impressionante quando bem incorporado com as filmagens normais. Podemos ver a mais evidente delas no planeta Vulcano, quando Spock passa pelo ritual de kolinahr, ou em uma das várias tomadas da Enterprise. Essas pinturas combinam bem com o visual quase abstrato de algumas sequências, contribuindo com cores vibrantes e uma arquitetura incomum, criando uma atmosfera que distingue completamente esse filme dos outros da franquia. 

Star Trek

Outro aspecto importante para a obra é a sua música. A composição épica de Jerry Goldsmith é tão poderosa que o próprio Gene Roddenberry decidiu utiliza-la como o tema de abertura de Next Generation, o primeiro spin off da série clássica (a animação de 1973 é uma continuação), estrelado por Patrick Stewart como o Capitão Picard. O diretor Robert Wise também foi um dos que adorou trabalhar ao lado de Goldsmith, chegando a dizer que foi uma das melhores colaborações de sua carreira. 

Mas é claro que há problemas que não dá pra relevar, como a péssima escolha de figurino, que deixou o elenco tão desconfortável e nervoso a ponto de jamais voltarem a utilizar as peças em qualquer outro lançamento da franquia, mesmo que o traje dos engenheiros seja similar no filme seguinte, A Ira de Khan

Saindo um pouco da parte técnica, o filme mostra uma relação um pouco mais fria entre os membros da Enterprise clássica, tirando ocasionais diálogos onde mostram como sentiram falta um do outro, ainda assim não há tantos momentos de intimidade e descontração como nos filmes por vir. Temos um foco maior na relação Kirk e Decker, o atual capitão da nave que acaba aceitando uma posição inferior por conta da influência de Kirk na Federação. 

Star Trek

Essa mudança no comando cria um desconforto entre os dois, e acaba sendo o principal tema do longa, até que surja a figura de V’Ger, uma entidade que tomou o corpo da tenente Ilia, uma antiga paixão de Decker. Ao contrário dos filmes seguintes, onde Kirk lida com a passagem de tempo e sua relevância na frota estelar, Star Trek: The Motion Picture é uma batalha interna para afirmar sua própria liderança e confiança nos novos membros da tripulação.

Para os fãs da série clássica, há várias referências, desde alguns sons e trilhas e até diálogos que fazem menção a algum episódio específico, como quando McCoy menciona que “faz tempo que não ajuda no parto de um bebê”, uma piada com Friday’s Child, da segunda temporada. É curioso também como a existência de V’Ger criou várias teorias por conta da criação dos Borg, em Next Generation. Isso se dá por conta das similaridades entre os dois: É dito que V’Ger vem de “um planeta populado por máquinas vivas. Tecnologia avançada”, e ela menciona que seu propósito é apenas observar e compreender as coisas. Essas características podem facilmente serem confundidas com as dos Borg, e a linha de diálogo de Spock em que “qualquer tentativa de resistência seria inútil” acaba corroborando ainda mais para a teoria. Mas nada disso é confirmado. 

Jornada nas Estrelas: O Filme acaba sendo a experiência mais próxima da proposta original de Roddenberry, com um foco na exploração e o maravilhamento diante de novas descobertas; o longa também possui mais representatividade (há uma cena em que Kirk conversa com a tripulação da nave e podemos ver várias formas de representação cultural, incluindo indígena, que nunca foi bem retratada na série clássica) e momentos de introspecção. Pode não ser o favorito de muitos, mas é um dos mais originais em todos os aspectos, e esse é apenas o primeiro filme de uma franquia longa e próspera. 

Em seguida: A IRA DE KHAN.

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Watchmen | A God Walks Into Abar – S01E08

Em seu penúltimo episódio, Watchmen decide revelar grande parte de seus mistérios, mas acima de tudo, procura apresentar uma história de amor, por mais peculiar que seja. Depois dos eventos do episódio anterior, An Almost Religious Awe, assistimos a relação de Angela e Jon (Dr. Manhattan), ou Angela e Cal, alternando entre passado e futuro, por mais que esses conceitos sejam a mesma coisa para Manhattan, para entender melhor a dinâmica entre o casal e a importância dela. 

Em uma abordagem mais delicada, com a trilha melancólica de Trent Reznor e um roteiro com ótimos diálogos, A God Walks Into Abar é mais uma aula de narrativa que a série nos apresenta, e assim como fez em This Extraordinary Being, se aproveita da noção de tempo para criar uma montagem ágil, com transições inteligentes entre cenas e linhas temporais. 

Mesmo com a tarefa de um roteiro que amarra a maioria das pontas soltas da série, é um grande mérito desse episódio conseguir construir uma narrativa própria sobre a natureza dos relacionamentos e dedicar a maior parte de seu tempo em algo tão íntimo, o que destaca mais a boa escrita da série e não a limita a apenas grandes reviravoltas para manter o público curioso para a próxima semana. 

Além de todo o excelente trabalho em executar com sucesso uma trama desse tamanho, com tantos detalhes e informação, e de ter a responsabilidade de se manter fiel à proposta do que foi criado por Alan Moore nos quadrinhos, há um investimento visivelmente maior nos efeitos visuais e na direção desse episódio, com uma câmera mais arriscada e preocupada em entregar apenas pequenos elementos do que Manhattan pode interpretar, mas sem vergonha de expor alguns visuais impressionantes que eu não esperava em um episódio para a televisão, principalmente na sequência de “criação de mundo” em Europa. 

Agora, tenho algumas coisas que preciso mencionar, então vamos para:

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • Antes mesmo de mencionar todos os eventos do episódio, vale lembrar que quase todos os núcleos dramáticos são introduzidos com uma música que tenha a palavra “azul” no título, como Rhapsody in Blue, de Gershwin, que abre o episódio, ou Mr. Blue, da banda The Fleetwoods.

    E por falar nisso, a primeira referência está logo na exibição do título do episódio da semana, quando Dr. Manhattan surge na Terra durante um evento em comemoração ao Vietnam e o próprio Manhattan, então ele entra em um bar com o nome “Mr. Eddy’s Bar”, que pode ser uma referência direta ao Comediante, Edward Blake, que é chamado de Mr. Eddy por uma jovem vietcongue que ele engravidou. Os dois brigam e ela acaba cortando o rosto dele, o que termina tragicamente com a jovem sendo assassinada com um tiro da arma do “herói”. Toda a sequência acontece em um bar, durante um evento similar ao que estamos vendo na série.

    Nos quadrinhos, a história de origem de Jon Osterman, Dr. Manhattan, é contada em detalhes e através de uma narrativa não linear, na quarta edição. É nela que encontramos a maioria das referências que esse episódio usou, e encontramos mais uma logo nos primeiros minutos, quando Manhattan pega duas cervejas no balcão do bar e leva para Angela, que está sentada sozinha lembrando a data da morte de seus pais. Ele provavelmente aborda ela dessa maneira porque foi assim que sua primeira namorada, Janey Slater, o conquistou: comprando uma cerveja. 
  • Durante sua conversa com Angela, Jon explica o que fez durante os anos que passou fora da Terra depois dos eventos do quadrinho, e através de um excelente trabalho de efeitos visuais, temos a explicação, assistimos Jon criar vida em Europa, uma das luas de Júpiter. Podemos ver o surgimento de vegetação e da água, na qual o personagem caminha, e os primeiros indícios de vida humana, inspiradas na imagem de um casal que Jon presenciou tentando fazer sexo, quando ainda era uma criança imigrante. Esse casal virou o molde para o Sr. Phillips e a Sra. Crookshanks, que de algum jeito acabam ficando com Adrian.

    Também descobrimos porque a mansão em Europa pode ser vista também na casa de Angela, e isso é porque essa foi a mesma moradia na qual Jon cresceu. 

    Voltando ao passado, o garoto observa enquanto seu pai conserta um relógio, e assim entendemos ainda melhor o título da peça de Adrian, “O Filho do Relojoeiro”. Na HQ podemos ver mais da relação entre os dois, e como a bomba atômica em Hiroshima influenciou o futuro de Jon. Com o ataque ao Japão, o pai de Jon decide que ser um relojoeiro é a profissão do passado, enquanto o futuro está no estudo da ciência atômica, e assim Jon acaba se formando com um Phd em física atômica, o que rende uma vaga nos laboratórios de Gila Flats, uma instalação para testes de partícula atômica, localizado em Arizona.

    Depois de ser pego observando Sr. Phillips e a Sra. Crookshanks na cama, Jon é chamado pelos dois para uma conversa, mas o casal é gentil e revela que está apenas tentando ter um filho. Eles entregam uma bíblia para Jon, e as ilustrações no interior são feitas pelo próprio Dave Gibbons, desenhista do quadrinho original. É óbvio que Alan Moore não participaria da produção da série (anos se dando mal nas mãos da DC Comics podem traumatizar qualquer um), mas Gibbons não vê problema nisso. 
  • Voltamos ao presente, e Jon continua conversando com Angela. Ele narra a primeira grande briga entre os dois, onde ela questiona a humanidade do personagem, e ele diz que a última vez que sentiu medo foi em 1959, durante o experimento em Gila Flats no qual ficou preso em uma câmera de campo intrínseco, o que deu origem ao Dr. Manhattan.

    Depois da briga, Manhattan vai até a Antártida, onde fica localizado o quartel general de Ozymandias, chamado Karnak, inspirado nos templos dedicados aos deuses egípcios. Podemos ver no interior os escombros e o que sobrou dos eventos do quadrinho, onde Adrian matou a equipe de pesquisa que o ajudou em seu plano final nas HQs, e tentou matar Jon, sem sucesso. Adrian ainda está lá, assistindo em suas telas como o mundo tem sido afetado pela sua paz mundial orquestrada. Os dois ex-Watchmen conversam e lembram dos eventos finais do quadrinho, repetindo alguns diálogos, como Manhattan dizendo o quão decepcionado está com Adrian. Também é revelado nessa cena que o próprio Adrian é responsável pelas chuvas de lula, que em suas palavras serve para “manter a paz”. 
  • Para manter sua relação com Angela, Jon decide algo drástico e aceita um plano de Adrian para que suas memórias sejam afetadas ao ponto dele esquecer que seja o Dr. Manhattan. Isso o fará o mais mortal possível. Durante o diálogo, Jon pergunta quanto tempo demoraria para criar um dispositivo capaz disso, e Adrian responde dizendo que já o fez, há trinta anos, explicando que tentar destruí-lo era o plano B. Essa é mais uma ligação com uma fala do personagem nos quadrinhos, quando Adrian revela que seu ataque com a lula gigante não vai acontecer, mas já aconteceu, há 35 minutos.

    Ainda na conversa entre os dois, dando uma olhada na mesa de Adrian podemos ver um dos bonecos da linha de brinquedos que Veidt produziu durante os eventos da HQ.

    Assim, os dois terminam sua interação quando Adrian oferece o dispositivo para Jon, mas não antes de perguntar sobre sua utopia e a chance dela ser real. Jon diz que é real, mas não na Terra, então manda Ozymandias para Europa, onde pode comandar pessoas mais inocentes e capazes de manter o paraíso, mas é claro que para Adrian isso não é o suficiente. 
  • De volta ao bar, Jon tenta provar para Angela que consegue criar vida fazendo um ovo surgir em suas mãos. Esse é mais um indício do tema geral da série, que usa constantemente imagens de ovos para fazer uma alusão ao dilema da galinha e do ovo e qual dos dois veio primeiro. É tudo um grande paradoxo, o que mais tarde no episódio acaba sendo uma informação essencial. 

    Assim, finalmente continuamos de onde o episódio anterior parou, com a consciência de Jon voltando aos poucos. Ele está confuso e caminha pela casa de Angela, então começa a falar sobre o que deve ser feito, mas sem entregar todos os detalhes, já que sabe o que acontece em seguida.

    Jon pergunta sobre um relógio quebrado e descobrimos como Angela sobreviveu ao ataque da Kavalaria no passado, graças aos poderes de Manhattan, que a salvou por instinto. Mas o mais estranho da conversa entre os dois é quando Jon fica parado no meio da piscina e diz que ficar ali por alguns instantes é “importante para depois”. Essa é a única indicação forte de que talvez ele tenha sobrevivido ao ataque que está por vir.
  • Angela aproveita a presença de Jon e sua habilidade de estar em todos os momentos de sua vida simultaneamente, então pede para perguntar ao seu avô, Will, como ele sabia sobre Judd Crawford ser um membro dos Ciclopes e o uniforme da Klu Klux Klan em seu armário. Um Will do passado não faz ideia de quem Judd Crawford seja. Assim entendemos que Angela é a responsável por tudo e acabou de criar um paradoxo temporal, repetindo a temática da “galinha e do ovo”. Esse tema também pode ser encontrado nos quadrinhos, já que Alan Moore é fascinado por narrativas envolvendo simetrias, tanto que um dos capítulos de Watchmen se chama “Terrível Simetria”.

    Os dois não tem tempo para discutir isso porque Jon diz para Angela que a Kavalaria está em sua porta, esperando para destruir Manhattan, e ele não pode impedir. Isso faz com que Angela corra para defendê-lo, e esse é o momento em que ele percebe que a ama.

    Angela vai em direção aos membros da Kavalaria e quase perde a luta, mas Jon decide ajudá-la e é capturado pela arma que o teleporta para o esconderijo da Kavalaria. Voltamos ao bar, e Angela termina a noite aceitando o convite de Jon para um jantar. 
  • E como se já não houvessem muitas revelações neste episódio, temos uma cena pós crédito envolvendo Adrian, que está sofrendo sua punição: ter tomates esmagados em seu rosto até que mude de ideia e decida ficar naquele paraíso com os clones. Em sua cela, lê o livro Fogdancing, escrito por Max Shea, um personagem da HQ que também é responsável por várias edições do quadrinho Cargueiro Negro. Adrian é o responsável pela morte de Shea.

    Para terminar de vez o episódio, Adrian recebe a visita do Guarda Phillips, que o entrega mais um bolo de aniversário, mas dessa vez com a ferradura que tanto esperava, por algum motivo. Assim, ele começa a gargalhar e riscar a ferradura no chão. Ou ele vai usar isso para fugir ou talvez seja apenas a deixa para algo que está por vir, já que ao longo da série pudemos ver que Adrian sempre reagir ao receber a ferradura com um “Não está na hora”. Então, será que agora é a hora?

Falta apenas um episódio, mas talvez o teaser da próxima semana tenha confirmado que haverá uma segunda temporada, isso porque podemos ler “Season Finale” ao invés de “Series Finale”, o que confirma que essa não era apenas uma minissérie, mas uma primeira temporada. Por enquanto, vou me manter otimista, mas preferia que fosse apenas uma história contida.

Ainda precisamos saber mais sobre Will, que ficou com as crianças enquanto Angela ia ao encontro da Kavalaria; também não sabemos o verdadeiro propósito do Relógio do Milênio; e será que Dan vai surgir nos minutos finais?

O tempo está acabando, tic toc.

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Rick and Morty | One Crew Over the Crewcoo´s Morty – S04E03

O título do episódio dessa semana, One Crew Over The Crewcoo´s Morty, é uma referência ao livro e meu filme favorito, Um Estranho No Ninho (One Flew Over The Cuckoo´s Nest), lançado em 1975, estrelado por Jack Nicholson. Mas a piada está apenas no trocadilho, isso porque ao contrário dos episódios anteriores, o título não está ligado diretamente ao tema principal, e o que temos na verdade é uma grande homage (Dan Harmon prefere esse termo no lugar de paródia, já que tecnicamente não é uma mesmo) da franquia 11 Homens e Um Segredo, com direito a música, referências diretas e um Rick agindo como George Clooney com um pirulito na boca e a repetição da frase “seu filho da mãe; conta comigo”, que me fez rir mesmo sendo repetida o episódio inteiro. 

Em sua busca por um artefato capaz de separar táquions, Rick descobre que foi trapaceado por um “artista da falcatrua” chamado Miles Knightly (dublado por Justin Theroux, da série The Leftovers). Ao lado de Morty, Rick vai atrás de Knightly, que é o palestrante convidado de honra de um evento para trapaceiros chamado Heist Con. Mas por não querer dar a satisfação de entrar na palestra como um fã, decide reunir seu próprio grupo de trapaceiros para participar do evento como profissionais.

Para isso, Rick reúne Glar, Angie Flint e Truckula, cada um com personalidades ridículas e aleatórias, uma das brincadeiras que Harmon gosta de fazer para mostrar como personagens secundários nunca recebem o tratamento que merecem. Mas o que começa como um simples plano de Rick para envergonhar Knightly e pegar seu artefato acaba virando uma trama desnecessariamente complexa (no sentido cômico) sobre reviravoltas, traições e planos mirabolantes. 

“Suas vaias significam nada, eu já vi que tipo de coisa deixa vocês felizes”
“Suas vaias significam nada, eu já vi que tipo de coisa deixa vocês felizes”

A premissa desse episódio é simples, mas é a execução que acaba sendo uma loucura. A introdução de vários personagens, assim como o ritmo rápido e a montagem dinâmica fizeram com que até mesmo se você estivesse um pouco confuso com a sequência de eventos, não ficasse de fora da piada. One Crew Over The Crewcoo´s Morty é bem similar em sua abordagem à um episódio da segunda temporada da série Community, outra criação de Dan Harmon, no genial Conspiracy Theories and Interior Design, onde o conceito de que a maioria das narrativas sobre “conspiração” seguem a mesma premissa e exploram pouco do potencial (Community chega a ter um episódio inteiro na sexta temporada, brincando com filmes de trapaça, mas esse não é tão inteligente quanto o de conspirações, então decidi deixar esse como referência principal). 

O episódio dessa semana faz várias piadas com roteiros de obras que focam em assalto e trapaça mas não passam do conceito e esquecem de explorar o subgênero. Com diz Rick, “tudo que precisei fazer foi inserir o algorítmo de dois filmes sobre o assunto que eu nem me dei ao trabalho de assistir”. Mas a trama não se limita à zombar de filmes do gênero e temos a exploração do absurdo que a série sempre faz muito bem, revelando como uma simples birra entre duas pessoas com um ego gigantesco pode resultar em uma catástrofe em questão de minutos. A destruição e falta de esperança acabam virando algo trivial quando o foco está em Rick tentando provar um ponto, não importa como.

Além de ser o episódio mais engraçado até agora, e um dos que mais me fez rir na série inteira, aqui vão algumas referências que valem a pena mencionar. 

  • Quando Rick chega no evento Heist Con, consegue desviar de um segurança e evitar ser capturado por ele por conta de seu jaleco, que parece criar vida e atacar o funcionário do evento. Antes do jaleco fazer a ação, Rick dá o comando para que a peça de roupa “Fala igual Doutor Estranho”, uma clara piada com a capa mágica do personagem da Marvel, que tem vida própria. Mas há uma segunda piada em cima disso, que é o fato de Dan Harmon ter sido um dos roteiristas responsáveis por revisar o roteiro do filme antes das filmagens acontecerem. 
Rick And Morty
  • Na segunda tentativa de criar um grupo de trapaceiros, Rick convida Elon Musk, o empreendedor e filantropo responsável por empresas como a SpaceX e a Tesla Motors. No episódio, ele é retratado com presas e é chamado de Elon Tusk (presa, em inglês), para fazer a piada de que ele não é o original, mas uma versão de outra realidade. Ainda assim, ele tem alguns dos trejeitos do Elon Musk original, sem contar que o personagem acabou sendo dublado pelo próprio. 
Rick and Morty
  • Em meio a introdução de tantos personagens, a maioria deles descartados antes mesmo do episódio terminar, finalmente tivemos o retorno do adorado Mr. Poopybutthole, que foi introduzido no episódio Total Rickall, da segunda temporada. Ele sofreu por um tempo por conta de um acidente envolvendo Beth e sua arma, mas parece estar bem melhor agora, atuando como professor em uma universidade. É claro que talvez sua carreira esteja em risco depois de ter espancado seus alunos por conta de Rick, mas isso são detalhes.
Rick and Morty
  • Além de mencionar e fazer várias alusões aos filmes da franquia Onze Homens e Um Segredo, Rick usa o nome David Lynch, quando quer dizer que alimentou um de seus robôs com filmes que não fazem sentido algum. Essa é uma piada com a filmografia experimental de David Lynch, o diretor responsável pela série Twin Peaks e filmes como Veludo Azul e Cidade dos Sonhos (no qual Justin Theroux, que faz a voz do personagem Miles Knightly, atuou).
  • E por falar em Miles Knightly, é impressão minha ou a roupa dele é basicamente uma réplica do traje que Freddie Mercury usou em algumas apresentações durante a turnê do álbum A Kind of Magic, com a Queen?
Rick and MOrty

Rick passa mais um episódio se vingando de alguém, será que é apenas uma premissa que os roteiristas adoram ou uma prévia de algo que está por vir?

Até o próximo episódio!

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Watchmen | An Almost Religious Awe – S01E07

Chegando mais próximo de sua conclusão, a primeira temporada de Watchmen vem mostrando como é capaz de mesclar o material original de Alan Moore com seus derivados pela DC Comics e o longa de Zack Snyder, mas criando algo novo e impactante. Em An Almost Religious Awe, sétimo episódio da temporada, Angela ainda lida com seu passado, enquanto a investigação de Laurie fica mais arriscada e Adrian Veidt prepara sua defesa. 

As alternâncias entre passado e presente continuam importantes, e se formos considerar as revelações desse episódio, a noção de tempo talvez seja o detalhe que devemos prestar mais atenção. Mas antes de irmos para as teorias e referência, preciso mencionar algumas informações relevantes listadas no PeteyPedia (o site onde o agente Petey cataloga suas evidências). 

A primeira informação é um indício forte da revelação final do episódio: em um arquivo secreto sobre a origem de Sister Night, Petey menciona filmes famosos por parodiar ou homenagear a cultura de super-heróis, e um deles se chama O Superman Negro, uma paródia de Dr. Manhattan. No relatório, também é mencionado um crítico chamado Mr. Ebert, uma referência ao famoso crítico cinematográfico Roger Ebert, que morreu em 2013 mas mantém um legado através de seu site.

Petey termina seu texto dizendo que Will Reeves comprou o cinema onde esteve quando o ataque de Tulsa tomou conta, e vem passando o filme Sister Night desde 2017, quando Angela começou a usar a máscara. Ele menciona o termo “milagre termodinâmico”, algo que Jon dizia nos quadrinhos, mas na série ele provavelmente ouviu de Laurie durante a viagem de carro que fizeram até o Relógio do Milênio alguns episódios atrás. 

O segundo documento, ainda mais estranho, é um relatório médico de 2009, no nome de Calvin Jelani, o marido de Angela. No preenchimento do relatório, podemos ver que Cal apenas conheceu seu pai, que de acordo com ele morreu de um ataque cardíaco e tinha alzheimer, mas quanto à mãe e os avós, nada sabe. Ele também não tem filhos ou irmãos. 

Mas fica mais curioso quando lemos a descrição do médico sobre o estado de Cal, escrevendo que ele foi encontrado por Angela visivelmente confuso, com uma pequena contusão na testa (não mais visível), e agora apresenta lapsos de memória e sintomas de transtorno dissociativo e perda de identidade. Nas anotações finais, diz que o paciente é passivo e quieto, e gostou muito de um boneco de Dr. Manhattan que estava na sala de consulta. 

Se você terminou esse episódio na dúvida, o PeteyPedia com certeza deixou as coisas mais claras. Então, vamos para…

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • O episódio abre com um documentário sobre a origem de Jon Osterman, que viria a se tornar Dr. Manhattan, e seu envolvimento na guerra do Vietnam. É revelada uma imagem de Jon quando criança, além da calçada onde a loja de seu pai ficava, além de seu impacto cultural, criando a bateria de lítio capaz de manter a energia renovável que Veidt tanto almejava. É logo em seguida que temos o primeiro vislumbre de Manhattan atuando na guerra.

    A câmera se distancia do documentário, revelando uma locadora em Saigon, onde uma jovem Angela Abar tenta comprar um filme da onda blaxploitation chamado Sister Night, o que deixa clara a principal inspiração da personagem para seu alter ego fantasiado. Entre os filmes da locadora também temos uma adaptação do livro Fogdancing, escrito por Max Shea, um personagem da HQ que também é responsável por escrever várias edições do quadrinho Cargueiro Negro.

    Nas ruas de Saigon, Angela caminha ao som de Living in America, de James Brown, entre as pessoas fantasiadas de Manhattan durante uma comemoração do “herói”, e fica assistindo uma pequena apresentação envolvendo um fantoche do cientista azul. Essa imagem faz referência a um diálogo nos quadrinhos entre Jon e Laurie, onde ele comenta como todos somos fantoches, mas ele consegue ver suas cordas. Isso também pode ser uma alusão visual à capa da oitava edição do quadrinho The Doomsday Clock, a mais recente tentativa da DC em inserir Watchmen no seu universo padrão. 
  • Voltamos ao presente, onde Angela continua seu tratamento para tirar os resíduos de Nostalgia da sua corrente sanguínea e de seu cérebro. Lady Trieu e ela conversam bastante sobre o verdadeiro propósito do Relógio do Milênio, o que descobrimos no fim do episódio. Mas o que eu quero ressaltar aqui é uma outra referência aos quadrinhos, mais voltada para sua iconografia, com a personagem Bian fazendo um teste de empatia com Angela usando cartões, o que é bem similar ao tratamento de Rorschach pelo Dr. Malcolm Long na HQ. Na cena, Angela lembra quando começou a sonhar em trabalhar na polícia.

    Nesse ínterim, Pirate Jenny e Red Scare ficam de tocaia esperando por Angela, enquanto Cal tenta visitá-la, mas é barrado na entrada. Cortamos para Petey, que investiga o bunker de Looking Glass e encontra o grupo da Kavalaria que tentou pegá-lo de surpresa, mas não contavam com a inteligência do personagem. Além disso, Laurie visita a Sra. Crawford e acaba capturada pela Kavalaria. 
Watchmen
  • Agora, para o “365º dia em julgamento do Povo contra Adrian Veidt”. Adrian espera pelo Guarda, que agora atua como o juiz de seu caso. A Madame Promotora é, obviamente, uma das várias Sra. Crookshanks, e através de sua apresentação para o júri, o público que não tem afinidade com os quadrinhos pode descobrir ainda mais informações sobre o plano de Veidt que causou o clímax da HQ, envolvendo a lula gigante e o assassinato de milhões de pessoas.

    Quando o juiz percebe que os clones presentes não podem julgar Adrian por seus atos, pede para que tragam uma vara de porcos para definir o destino do acusado, que é declarado culpado. A cena é bizarra, como todas envolvendo o personagem, e parece ter saído direto do filme Chinatown, onde um pastor invade um tribunal com suas ovelhas (essa provavelmente não é uma referência, mas lembrei na hora). O mais curioso da cena, na verdade, é que Adrian parece realmente decepcionado pelo resultado do julgamento, o que é estranho considerando como ele parecia ter tudo ensaiado e sob controle o tempo inteiro. 
  • Angela procura por seu avô, mas acaba encontrando o que não deveria, mas parece estar cada vez mais perto da verdade. Descobrimos o destino de Laurie, que vai parar no esconderijo da Kavalaria. Lá, o senador Keene começa seu discurso sobre uma América cada vez mais “distante de suas origens” e como “é extremamente difícil ser um homem branco na América agora” ¬¬’. Laurie revira os olhos para os comentários idiotas do senador, mas não deixa de ficar preocupada com o verdadeiro plano da Kavalaria: capturar Dr Manhattan e transformar os membros supremacistas em novos “deuses”, assim como Jon
  • Mais uma volta ao passado, dessa vez temos o retorno de June, a ex-esposa de Will e avó de Angela. Assistimos June tirando Angela do orfanato e prometendo uma vida diferente para a criança, mas para continuar a onda de desgraça na vida da personagem, a idosa colapsa no meio da rua assim que pede um táxi para levar a menina para casa.

    Angela se desconecta dos cabos que Lady Trieu estava usando para drenar a Nostalgia de Angela e colocar em um elefante (?). Essa cena é indicada no começo do episódio, quando entre os filmes da locadora em Saigon, há uma fita de um desenho animado chamado Trunky, sobre um bebê elefante. Agora não lembro de elefantes nos quadrinhos, a não ser que você considere a logo do restaurante de comida indiana Gunga Dinner, que é basicamente um elefante rosa. Rorschach vivia comendo lá.

    Investigando o Relógio do Milênio, Angela encontra uma sala escura onde Lady Trieu guarda todas as gravações de todas as caixas telefônicas que espalhou pelo mundo para que as pessoas pudessem mandar suas orações para o Dr. Manhattan. Além da referência visual aos quadrinhos, no qual Adrian e Manhattan conversam separados por um globo, a conversa entre Trieu e Angela traz a maior revelação da temporada, de que Jon está entre nós, caminhando em Tulsa. Isso não parece impressionar Angela, que vai embora. 
  • Chegando em casa, Angela conversa com Cal, e temos a reviravolta de que seu marido era esse tempo todo o próprio Dr. Manhattan, ou um representação dele, já que nos quadrinhos o personagem diz que no futuro pretende criar novas formas de vida. Angela acerta a cabeça de Cal com um martelo e retira de lá um pequeno símbolo de hidrogênio, o mesmo que Manhattan carrega desenhado em sua testa.

    Enquanto assistia, imaginei que Cal fosse apenas uma pessoa criada por Manhattan e que Angela estivesse falando com ele através do marido, mas se observarmos com atenção, no reflexo do olhar de Angela, podemos ver a silhueta de Cal, agora brilhando com uma forte luz azul, se levantando do chão lentamente, confirmando que ele é na verdade o próprio cientista. 

Você esperava por essa reviravolta?
Em retrospecto, agora faz ainda mais sentido não termos revelações sobre o tal “acidente” de Cal, ou porque o casal não teve filhos biológicos, e coloca bastante sentido na cena em que Laurie comenta para Angela sobre uma visita que fez a sua casa e achou Cal “interessante”. Parece que a série foi mais esperta do que eu imaginei (coloquei todas as minhas fichas no garoto Topher, que estava literalmente fazendo uma construção igual a do Manhattan em um episódio), e estou adorando o caminho que ela está tomando.

Semana que vem tem mais. Faltam apenas dois episódios.
Nos vemos em breve.
Tic. Toc. Tic. Toc.

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Watchmen | This Extraordinary Being – S01E06

Se Little Fear of Lightning impressionou o público com uma abordagem mais íntima do cotidiano de Looking Glass, This Extraordinary Being volta ao passado para mostrar as origens do avô de Angela, Will Reeves. Dirigido por Stephen Williams, o mesmo de She Was Killed by Space Junk, o episódio dessa semana prova que Watchmen tem mais ambição do que ser apenas uma continuação da obra original de Alan Moore, criando uma narrativa que se aproveita dos temas do quadrinho mas cria algo completamente novo, ainda mais político do que antes (e não se engane, se acha que quadrinhos e política não se misturam, preciso dizer que você nunca leu um quadrinho).

Com uma montagem e direção impressionantes, esse episódio alterna entre o colorido e o preto e branco com a intenção de criar um ritmo mais dinâmico, inserindo elementos que não fazem parte do período em cena. É engraçado ver como nos primeiros minutos temos mais um momento inspirado em Zack Snyder para exibir um trecho da série American Hero Story, e como ao longo do episódio são usadas técnicas comuns do diretor, como a câmera lenta e agitada durante as sequências de ação, mas com o diferencial de que aqui Stephen Williams utiliza a técnica com propósito narrativo, congelando a cena para criar uma interação dramática entre Angela e seu marido, mas ao mesmo tempo, Angela e Will. O uso de plano sequência e transições através de portas e janelas são algumas das decisões que fizeram esse episódio tão bom.

This Extraordinary Being deixa de lado todas as tramas paralelas e se dedica a jornada de Will, um policial negro atuando em um EUA tomado pela tensão racial. A série tem abordado o tema de legado constantemente, e aqui podemos ver como as ações de uma pessoa podem influenciar e começar uma reação em cadeia difícil de ignorar, e é por isso que a série tem dado tanto destaque para a maquiagem no rosto de Angela, um paralelo com o que seu avô fez décadas atrás. São pequenos detalhes como esse que deixam Watchmen mais envolvente. Mas vamos falar mais disso nas teorias e referências. 

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • A primeira referência que merece ser mencionada é a própria logo da série, que através da fumaça de um cigarro vai de Watchmen para Minutemen, o primeiro grupo de heróis formados nos quadrinhos. Depois disso, temos Justiça Encapuzada sendo interrogado por dois agentes, abordando seu envolvimento com Nelson Gardner, o Capitão Metrópole. É claro que estamos assistindo um trecho da série American Hero Story, porque logo em seguida, Justiça Encapuzada dá um salto por cima da mesa e espanca os agentes. 
  • Voltamos para Angela, que está em uma cela, alucinando por conta das pílulas de Nostalgia que tomou no episódio anterior. Ela entra em coma e começa a reviver o passado de seu avô, Will. Primeiro, temos um jovem Will, interpretado por Jovan Adepo, recebendo seu distintivo da polícia, junto de um alerta misterioso para tomar cuidado com os “Ciclopes”. Mais tarde, Will janta com June (Danielle Deadwyler), e conversam sobre seus traumas passados, e como ele ainda não abandonou sua raiva, o que pode influenciar negativamente seu trabalho na força. Mesmo negando, Will continua tendo pequenos choques de realidade, confundindo passado e presente. 
  • Durante uma de suas patrulhas noturnas, Will passa em uma banca e vê as notícias de que os nazistas estão avançando para o oeste. Continuando sua caminhada, se depara com um homem (interpretado por Glenn Fleshler), visivelmente bêbado, ateando fogo em um estabelecimento comandado por uma família judaica. Will o confronta, descobre que o nome do homem é Fred, mas não parece nem um pouco preocupado em ser levado para a delegacia. E é lá que vê pela primeira vez um dos oficiais fazendo um sinal acima da testa, representando o olho do ciclope. 
  • De volta às ruas, Will vê um homem lendo a primeira edição de Action Comics, o quadrinho que deu origem ao Superman. Esse é um detalhe curioso já que, assim que os heróis como Minutemen e Watchmen surgem naquele mundo, o interesse do público em ficção com super heróis cai, por isso uma das HQs mais vendidas é uma aventura envolvendo piratas. Isso é o contrário do que aconteceu em nossa realidade, já que o primórdio dos quadrinhos foi composto por piratas e criaturas, mas isso foi abandonado por homens em colã e cueca por cima da calça. 
Watchmen
  • Mais tarde, Will é abordado pelo mesmo grupo de policiais que acabou liberando Fred. Eles espancam Will, além de cobrir seu rosto e tentar enforcá-lo, mas liberam ele com um aviso de que não deve mais se envolver com seus assuntos. Machucado, e cheio de raiva, Will caminha pela noite com uma corda em seu pescoço, até escutar um casal gritando por ajuda. O jovem policial cobre seu rosto e parte para cima dos criminosos, começando assim suas atividades como vigilante, confirmando que ele era esse tempo todo o Justiça Encapuzada.
  • Chegando em casa, Will e June conversam sobre o filme que o inspirou a se tornar um policial, Trust in the Law, o mesmo que assistiu durante os protestos em Tulsa quando criança, no primeiro episódio. Os dois conversam sobre a possibilidade de Will ser um vigilante, então decidem esconder sua identidade pintando o rosto para que não entregue sua cor. 
  • Em sua primeira patrulha como Justiça Encapuzada, Will encontra um dos esconderijos dos ciclopes, além de um livro que estiveram usando sobre Mesmerismo, uma forma de hipnotismo, mas desenvolvida por Franz Mesmer e com aplicações reais para colocar as pessoas em um estado de transe. Na série, isso é usado pelo KKK contra a comunidade negra, e mais tarde, por Will.
Watchmen
  • E Capitão Metrópole faz sua primeira aparição. Em seus trajes civis, como Nelson Gardner, visita a casa de Will e tenta recrutá-lo para os Minutemen. Não demora para também vermos a relação mais íntima dos dois, conversando na cama sobre os futuros projetos do grupo de heróis. Ao voltar para casa, Will descobre que June está grávida e é confirmado que ela era o bebê do primeiro episódio. 
  • No primeiro encontro de Justiça Encapuzada com os Minutemen, Will tem a triste surpresa de notar como o grupo está mais interessado em aparências e publicidade, ao invés de realmente combater o crime, e um cartaz do Dollar Bill capturando um homem negro em defesa do Banco Nacional não ajudou a situação. O mais estranho nessa sequência é como Capitão Metrópole parece mais confiante do que sua versão nos quadrinhos, porque mesmo sendo o líder do grupo, sempre teve mais interesse em salvar as pessoas, tanto que foi isso que o deprimiu durante os encontros com os Watchmen. 

    É nessa cena que Metrópole menciona pela segunda vez o nome do vilão Moloch, um dos arque-inimigos do Comediante. Na HQ, Rorschach visita Moloch, agora aposentado e respondendo por seu nome civil, Edgar Jacobi. Ele acaba sendo uma das vítimas do plano de Veidt.
  • Voltando ao seu trabalho de policial, Will entra em um cinema onde um grupo de negros foi atacado violentamente por seus próprios companheiros. Will acha isso estranho e investiga o caso, descobrindo que os ciclopes estão usando projetores de filme para induzir mensagens de violência contra a comunidade negra através do mesmerismo. Isso o deixa irado e faz com que decida fazer justiça com as próprias mãos, então vai ao armazém dos ciclopes, atira em cada um deles e queima o local. 
  • Anos se passam e confirmamos mais uma teoria com Will usando sua lanterna (e a técnica do mesmerismo) para convencer Judd Crawford a se enforcar. As memórias e o pesadelo de Angela termina quando acorda ao lado de Lady Trieu, no que parece ser o Relógio do Milênio.

Esse foi um episódio mais contido, mas ainda assim revelou MUITA coisa que ainda estava em aberto na série. Vamos ver se semana que vem, com o julgamento de Veidt, descobrimos ainda mais.

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Rick and Morty | The Old Man and The Seat – S04E02

Em The Old Man and The Seat, segundo episódio da quarta temporada de Rick and Morty, temos duas linhas narrativas aparentemente distintas, mas mais uma vez unidas pelo tema principal do episódio, e esse tenta ser o mais claro possível com o conceito abstrato mais complexo de todos: amor. 

Rick tem um estagiário chamado Glootie, dublado por Taika Waititi (What We Do In The Shadows). Ele tem tanta vontade de criar um aplicativo com alguém que Rick precisa tatuar um aviso na testa de Glootie para que ninguém aceite seu convite. Mas é óbvio que Jerry fica com pena do estagiário e aceita desenvolver um aplicativo de relacionamento chamado LoveFinderrz, capaz de conectar a pessoa que melhor combinar com você. Enquanto isso, Rick, que considera uma pessoa envergonhada na hora de “fazer o número dois”, vai a outro planeta para desfrutar do silêncio e conforto de seu próprio banheiro ao ar livre, uma privada em um bosque colorido, mas descobre que alguém esteve ali usando seu trono, isso faz com que ele saia em uma caçada para acabar com o responsável por invadir seu espaço. 

Enquanto a trama envolvendo LoveFinderrz é uma clara piada com as várias ferramentas de relacionamento que você encontra em qualquer loja virtual, como Tinder (uma das ideias originais de Jerry era chamar o aplicativo de CUPIDR), a de Rick e sua privada é mais um momento importante para o desenvolvimento do personagem, que culmina em uma das cenas mais depressivas da série, mesmo que esse tenha sido um episódio bem positivo em um aspecto, a interpretação do conceito de amor.

Se em temporadas passadas Rick and Morty considerou o amor apenas uma “reação química que permite o acasalamento humano”, em The Old Man and The Seat recebemos uma mensagem contrária, e é onde as duas tramas convergem, mostrando como é impossível conviver com alguém apenas por conta de gostos similares ou pequenas afinidades, e o verdadeiro amor se constrói através de tentativa e erro, e temos isso nos personagens de Jerry e Beth, que mesmo tendo se divorciado na temporada anterior, acharam um jeito de se amar – por enquanto. 

Rick and Morty

Mas não é apenas de relacionamentos amorosos que estamos falando, mas de amizade também. Quando Rick encontra o violador de sua privada, Tony, dublado por Jeffrey Wright (Westworld), também descobre que o homem não se importa com a possibilidade de ser assassinado por Rick, isso porque ele perdeu sua esposa e agora não encontra significado na vida.

Durante a primeira conversa dos dois, Tony diz: “Sabe o que alguém quer dizer quando precisa defecar discretamente? É uma desculpa para mostrar quem está no controle. Você quer tomar conta da única parte da vida que considera ser sua e quer proteger de um universo que pega tudo o que quer. Pegou a minha esposa, e claramente pegou algo seu”. Isso atinge Rick com tanta força que os dois começam uma bizarra relação onde a privada de Rick continua sendo violada, e ele chega a se vingar colocando Tony em uma simulação na qual se reencontra com sua mulher em um paraíso repleto de vasos sanitários. Descobrimos que Rick não teve coragem de matá-lo, então Tony faz um convite de amizade, que não é aceito. 

Rick continua planejando maneiras de se vingar de Tony, mas quando vai visitá-lo no trabalho para entregar chocolates com -algum tipo de- laxante, recebe a notícia de que ele morreu enquanto tentava viver a vida ao máximo esquiando. Rick fica sem reação e volta para sua privada, onde instalou uma mensagem holográfica como pegadinha para quando Tony fosse invadir seu espaço novamente, assim ele senta em seu trono, deprimido, enquanto assiste a si mesmo dizendo o quão patético e solitário é. 

Rick and Morty

Sabemos que Rick perdeu alguém no passado (provavelmente um Morty, o que é indicado no episódio Get Schwifty, da segunda temporada), então seguiu a mesma visão anarquista sobre o universo que Tony aceita depois da morte de sua esposa. A relação dos dois homens existe por conta de suas perdas traumáticas, são visões parecidas de mundo e realidade, o que nesse caso, ao contrário dos aplicativos de namoro, podem criar uma forma amizade. É uma coisa complexa demais para alguém como eu, que não tenho uma bagagem filosófica expressiva, mas podemos ver como os temas do episódio parecem indicar uma mudança na abordagem da série, um pouco menos niilista, comentando sobre seu próprio papel entre outras séries que exploram questionamentos similares. 

É engraçado ver o contraste entre a humanidade e a raça do estagiário Glootie, comandada pelo líder e a rainha Monogatron (a piada sobre monogamia está pronta já no nome), que parecem ser bem ajustados e avançados em departamentos que envolvem relacionamento, tendo como principal ambição a conquista da água de nosso planeta, mas é claro que nem eles tem um casamento perfeito.

“Como uma civilização pré-aplicativo, o valor do seu amor é definido pela escassez. Vocês são altamente treinados para procurá-lo, e vocês não têm ideia alguma de como mantê-lo. Se tivessem se dedicado a compreender o amor, teriam aprendido que é tão abundante quanto água. Mas sabe o que não é abundante? Água. Essa porcaria acaba”.

Agora, para algumas referências:

  • Uma coisa que adoro é tentar adivinhar os atores convidados para fazer as vozes de alguns personagens, então fiquei bem feliz em reconhecer a voz de Dan Harmon, o criador da série, como uma mosca gângster chamada Vermigurber. Sem contar que ele adora fazer piada metalinguísticas sobre o andamento da trama e as possibilidades que o universo de Rick and Morty pode abrir, e isso fica evidente quando ele diz: “Eu achei que isso fosse sobre drogas ou armas, ou pelo fato de eu ser uma mosca comandando um restaurante para sapos. Há uma milhão de coisas interessantes sobre mim, mas nenhuma delas envolve um sanduíche”.
Rick and Morty
  • Uma referência que pode passar batida para alguém assistindo o episódio no idioma original é a cena em que Rick menciona a abertura da série clássica A Família Buscapé (The Beverly Hillbillies, no original), onde um personagem atira com sua escopeta e encontra petróleo jorrando dentro de um lago. Rick compara a sequencia com o que vai acontecer assim que Tony tomar os seus laxantes em forma de chocolate, dizendo que tudo vai ficar parecendo um “Texas tee”, ou “chá do Texas”, que é como a música tema da série de 1962 chama o petróleo.
     
  • A segunda vez que Rick volta para seu laboratório e apaga o registro de Tony invadindo sua privada, escutamos uma música bastante sugestiva tocando na caixa de som, chamada “My Shit”, de A-Boogie Wit Da Hoodie. Escute.
Rick and Morty
  • O título do episódio é uma referência ao livro de Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, sobre um velho pescador sem sorte que é encorajado por um amigo a pescar mais uma vez. 
  • Na cena pós crédito, o que parece ser algo recorrente nesta temporada, Jerry abre sua geladeira e nela podemos ver uma caixa de leite com uma imagem da criança que enfrentou Morty no episódio anterior, ou seja, ela está desaparecida. Ao lado da caixa, também é visível o servo robô que Rick criou com o único propósito de “passar manteiga”.
Rick and Morty

O que achou do episódio?
Parece que as coisas estão seguindo um rumo positivo até demais, o que pode indicar que as coisas vão ficar bem ruim. Vamos ver.

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Watchmen | Little Fear of Lightning – S01E05

Um episódio impactante: finalmente tivemos a revelação da grande conspiração que todos mencionam (ou é o que querem que pensemos), e seguimos a rotina de Looking Glass, com sua história de origem e mais sobre suas motivações, o grupo de apoio e até vida romântica. Dirigido por Steph Green, a diretora responsável por episódios de The Americans e O Homem do Castelo Alto, Little Fear of Lightning é o episódio mais tenso até agora, revelando muito mais informação do que esperávamos, ainda assim criando novos mistérios.

O título do episódio vem de uma citação do autor Jules Verne, na qual ele diz que “Se não houvesse o trovão, os homens teriam pouco medo do relâmpago”. Essa afirmação está ligada diretamente aos temas desse episódio, com Looking Glass revelando que ainda é paranóico sobre a chuva de lula e mostrando como a maior arma de Adrian, o medo, venceu a humanidade e será utilizada mais uma vez para que uma possível utopia seja alcançada. 

Mas aconteceu tanta coisa que eu vou pular direto para…

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen
  • Começamos na cidade de Hoboken em 1985, o dia em que a lula mutante de Adrian Veidt caiu dos céus e causou pânico e destruição por quilômetros, causando assim uma “trégua” entre EUA e Rússia durante a guerra fria. Assistimos um ônibus parar em frente a um parque de diversões, quando um grupo de testemunhas de Jeová desce com o propósito de espalhar a palavra de Deus para todos os “pecadores”.

    Um dos membros da caravana é um jovem Wade Tillman, o Looking Glass, que parece questionar sua presença ali, até que ser convidado por uma menina para o salão de espelhos e promete sexo para o jovem. É claro que tudo foi uma pegadinha e ela foge com as roupas de Wade, o que o traumatiza, mas alguns segundos depois algo ainda mais traumatizante acontece: a lula mutante gigante de Adrian. Assim temos a história de origem de Looking Glass e da paranoia de Wade, o protagonista desse episódio.

    Enquanto Wade caminha pelo parque, podemos ver várias referências aos quadrinhos, como a revista sobre fisiculturismo de Adrian Veidt, a Veidt Metod, o pôster da banda Pale Horse, e alguns de seus fãs, os Knot Tops, uma gangue que serve como os skinheads do universo de Alan Moore. Mais tarde no episódio, também descobrimos que Steven Spielberg lançou um filme chamado Pale Horse que, de acordo com a descrição de um dos personagens sobre uma menina usando roupas vermelhas em um filme inteiramente preto e branco, aparentemente serve como o Lista de Schindler daquela realidade.

    No fim da cena, quando Wade já está nu em meio aos destroços, a câmera se distancia e revela a lula gigante que Adrian teleportou até Nova York. 
  • Voltamos para o presente, no meio de um comercial que serve para convidar as pessoas de volta para Nova York, mostrando que o terror espacial não faz mais parte do cotidiano. Entre um dos motivos para visitar a cidade, temos uma breve imagem de um casal saindo de uma peça da Broadway sobre o físico Oppenheimer, diretor do Projeto Manhattan, responsável pela bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Os cartazes dizem ser um sucesso tremendo, talvez a biografia de Oppenheimer seja o Hamilton daquele mundo.

    Logo é revelado que o comercial está sendo assistido por um grupo de foco, uma daquelas técnicas de marketing onde um bando de cidadãos comuns são convidados aleatoriamente para opinar sobre um produto ou serviço. Atrás do vidro, observando todos, está Wade, que trabalha como consultor para as empresas, utilizando suas habilidades para detectar mentiras para dizer o que o público realmente achou dos produtos. 
  • Voltamos para a delegacia, onde Laurie faz uma conferência com os oficiais e diz que todos estão procurando pelo ângulo errado, focando em descobrir quem são os membros da Kavalaria, ao invés de onde se escondem. Na sequência, temos o retorno do alface que serve de evidência desde o assassinato do policial negro no primeiro episódio. Red Scare usou um pouco do vegetal para seu sanduíche, o que rendeu uma bronca de Looking Glass.

    Continuando a rotina de Wade, o personagem chega em casa, senta em seu sofá e come feijão enlatado (assim como Rorschach) enquanto assiste um episódio de American Hero Story, desta vez representando um dos rumores mais comuns sobre o Justiça Encapuzada, de que ele era gay e estava tendo um relacionamento com outro membro dos Minutemen.

    No bunker de Wade podemos ver um diploma para um curso chamado “Ciência de Lulas Extraterrestres”, e depois ele liga para uma companhia reclamando sobre sua “unidade de segurança”, um tipo de alerta para possíveis manifestações alienígenas. No fim da ligação, Wade confirma o pedido de mais um rolo de “reflectatina” (o material que serve para fazer sua máscara). O atendente agradece e diz trabalhar para o Sistema de Segurança Extradimensional, um dos vários serviços que surgiram por conta da paranoia coletiva envolvendo o ataque de 1985.
  • No dia seguinte, Wade vai até a empresa Forever Pets, onde cientistas pegam o DNA do seu animal de estimação favorito e cria uma réplica perfeita. Wade vai ao balcão e pede para falar com Cynthia Tillman, mas esquece que não está mais casado com ela e corrige para Cynthia Bennet. Ela confirma ter analisado as pílulas que Will deixou para Angela, elas são chamadas Nostalgia, uma cápsula capaz de induzir memórias, mas foi proibida por causar psicose. Nos quadrinhos, Nostalgia é mais um dos produtos da vasta linha de cosméticos de Adrian Veidt e sua companhia.

    No mesmo dia, Wade se encontra com seu grupo de apoio e conhece Renee. Os dois vão para um bar, mas na hora de ir embora, Renee pega carona com um amigo em uma picape. Quando o veículo vai embora, deixa cair um alface. Wade segue os dois e encontra o esconderijo da Kavalaria, mas tudo foi um plano para trazê-lo até eles e revelar uma grande conspiração. No esconderijo, Wade encontra a igreja, uma máquina capaz de abrir portais e até o senador Keene.

    Keene conta para Wade que vem tentando guiar a Kavalaria para manter a paz entre eles e a polícia, mas há algo mais misterioso acontecendo, então deixa um controle remoto nas mãos de Wade e oferece uma resposta definitiva sobre o ataque de 1985 através de um vídeo gravado pelo próprio Adrian Veidt confirmando seu plano para uma paz mundial forçada. Keene também confirma que estão usando uma Janela Teletransportadora CX924, a mesma usada nos eventos do clímax da HQ, então faz um trato com Wade, pedindo para que ele arranje uma maneira de afastar Angela do caso, senão ela e sua família inteira será assassinada. 
  • Assim, visitamos Adrian mais uma vez em sua “prisão”, agora completamente vestido com a armadura que estava construindo esse tempo todo. Ele fica pronto e é catapultado para o céu, revelando que realmente estava em algum tipo de redoma bem próxima do que parece ser a lua. Lá, Adrian utiliza os restos mortais de seus antigos assistentes e forma uma mensagem: “Salve-me, D”. Quem é D? Não sei, mas pode ser Dr. Manhattan ou até mesmo a Trieu.

    Adrian comemora dizendo “I did it!”, uma referência visual aos quadrinhos, quando festeja sua vitória. Mas a comemoração é interrompida quando ele é puxado de volta pelo Guarda-Florestal, que o alerta que não pode mais perdoar as ações de seu Mestre. Isso implica que Adrian pode não voltar tão rápido quanto imaginávamos. 
  • Retornamos para Wade ao som de Careless Whisper, do cantor George Michael. A música toca três vezes ao longo do episódio, cada uma delas com harmonia diferente e representando um ponto importante na vida do personagem. Na delegacia, escuta Red Scare e Panda debatendo sobre os poderes de Manhattan e Justiça Encapuzada, então um deles menciona a possibilidade de Manhattan em viajar no tempo. Seria isso um foreshadowing?

    Na conclusão do episódio, assistimos Wade entregar os segredos de Angela para Laurie através de um cacto que a agente do FBI usa como escuta (“Não é pessoal. Eu sou do FBI, colocamos escutas em qualquer coisa”), e Angela não reage bem, o que faz com que pegue as pílulas de Will e vire o frasco inteiro em sua boca, engolindo várias delas – de acordo com o teaser do próximo episódio, ela não vai gostar do resultado.

    Will volta para casa, triste por ter entregado sua amiga, e recebe o pacote que pediu do Sistema de Segurança Extradimensional. Ele pensa em jogar fora, mas desiste, então entra em casa, sem notar que um grupo de membros da Kavalaria acabou de segui-lo. 
Watchmen as pílulas de Will

O que achou do episódio?
As coisas estão ficando ainda mais loucas, então vamos ver se no fim tudo faz sentido ou se Lindelof estava apenas brincando conosco.

Até a próxima semana.
Vida longa e próspera!