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Os Melhores Episódios de Star Trek: The Next Generation

Com a chegada da série Picard, muitos fãs de Jornada nas Estrelas se empenharam em assistir as aventuras do capitão da Enterprise-D novamente, o que eu também fiz recentemente. Mas nem todos tem tempo de ver as sete temporadas (e os filmes) até a estréia, então decidi fazer uma lista com os melhores episódios de Next Generation.

Vale mencionar que esses são os meus favoritos, então como toda lista, é subjetiva e depende do gosto de quem está fazendo. Além disso, estarei listando apenas os episódios da série, já que pretendo falar sobre cada filme com mais detalhe no futuro. A Next Generation teve 176 episódios e foi exibida entre os anos 1987 e 1994, com altos e baixos (a maioria dos baixos presentes na primeira temporada, já que a série demorou um pouco para encontrar sua própria voz), felizmente não faltam exemplos de ótimos episódios, então vamos lá!

#10: Q WHO (2ª Temporada, Episódio 16)

Riker e Worf no cubo borg.

A entidade Q retorna à Enterprise para atormentar o capitão Picard, dessa vez como um arauto de eventos futuros capazes de acabar com a federação, possivelmente a galáxia. Q leva a Enterprise a um dos pontos mais distantes da galáxia, onde apresenta Picard aos Borg, a raça que mescla componentes biológicos e mecânicos, além de fazerem parte de uma consciência coletiva.

Esse é um episódio essencial para Star Trek, principalmente para a futura série de Picard, que já confirmou estar retomando tramas envolvendo os Borg. Não só temos um Picard mais vulnerável, tendo que aceitar trabalhar ao lado de Q, como a introdução de um dos, se não o maior, adversário da franquia, o coletivo Borg. Mesmo que hoje a situação do coletivo seja mais complexa do que isso, as coisas que eles já conseguiram fazer impactaram a série de maneira permanente. Mais sobre isso em breve. 

“Con permiso, Capitão. O salão foi alugado, a orquestra está pronta. Só falta saber se você consegue dançar”

#09: Elementary, Dear Data (2ª Temporada, Episódio 03)

Geordi e data entrando no holodeck

Data é um dos personagens mais envolventes e curiosos de Next Generation. Por ser um andróide, tenta emular e compreender a humanidade como pode, e uma das maneiras de sempre se manter em contato com o que as pessoas gostam, passa boa parte no holodeck praticando peças de Shakespeare e resolvendo mistérios tirados das obras de Arthur Conan Doyle, o autor responsável pelas aventuras de Sherlock Holmes. 

Em uma de suas reproduções das investigações do detetive mais famoso do mundo, o engenheiro Geordi Laforge nota que Data não tem um verdadeiro desafio, já que está apenas recriando o que já conhece, então pede para que o holodeck crie um mistério novo e quase impossível de resolver. Isso faz com que Moriarty, o arqui-inimigo de Sherlock, descubra uma maneira de ameaçar a própria Enterprise ao tomar uma forma “física”. 

Se levarmos em consideração a suspensão de descrença necessária para aceitar alguns elementos da trama, esse é um episódio mais leve em tom, mas um dos primeiros a mostrar como Data está realmente empenhado em conseguir atingir uma forma de humanidade, e o contraste com Moriarty é um dos pontos altos do roteiro. E também coloquei nos favoritos porque adoro as histórias do holodeck, geralmente uma representação bastante eficaz dos dilemas dos personagens. 

“Para sentir a emoção da vitória, primeiro deve haver a possibilidade de derrota”

#08: UNIFICATION I e II (5ª Temporada, Episódios 07 e 08)

Spock

Next Generation trouxe de volta alguns atores da série clássica original interpretando seus personagens mais uma vez, como o doutor Leonard McCoy, de DeForest Kelley, ou o engenheiro-chefe Montgomery Scott, de James Doohan, sem contar a presença de Majel Barrett-Roddenberry, que esteve no piloto original de Star Trek, The Cage, como a “Número Um”, depois na série clássica como a enfermeira Christine Chapel, e por fim como Lwaxana Troi e a voz da Enterprise em futuros spin-offs. Mesmo com tantos nomes conhecidos dos fãs, nenhum foi tão impactante quanto o de Leonard Nimoy, que retorna como Spock para o episódio duplo Unification

No episódio, o pai de Spock, o embaixador Sarek, está morrendo. Mas Spock não está presente, e tudo que indica que isso tenha a ver com a guerra envolvendo os Cardassianos. Não demora para que Picard encontre Spock, que está agindo como um agente duplo, mas por motivos que não deseja revelar. Esse é um episódio tenso e cheio de revelações que contribuem para um desenvolvimento importante dos personagens, principalmente o meio humano, meio vulcano. As interações entre Spock e Data são alguns dos pontos altos. 

“Os tempos estão mudando, e os líderes que se recusam a mudar com eles… não mais serão líderes”

#07: I BORG (5ª Temporada, Episódio 23)

Picard, Geordi, Crusher e hugh

Mais um episódio importante para compreender a evolução da relação entre a Enterprise e os Borg, dessa vez apresentando o primeiro borg separado de seu coletivo. Aos poucos, o ser começa a mostrar traços de individualidade, assumindo até mesmo um nome, Hugh, mas a presença de um borg na nave deixa a tripulação desconfortável, principalmente depois dos eventos de Best of Both Worlds, o episódio no qual Picard foi assimilado. 

Esse é mais um ponto importante para compreender o desenvolvimento do capitão e dos borg, e esse episódio acaba sendo outro que você precisa rever antes da série Picard, já que o ator Jonathan Del Arco, intérprete de Hugh, está confirmado no elenco.

“Capitão, eu não quero esquecer de ser Hugh”

#06: THE DRUMHEAD (4ª Temporada, Episódio 21)

Picard com a Almirante

Esse é um daqueles episódios onde podemos ver a integridade de Picard, arriscando sua própria segurança e privacidade para ajudar alguém que considera ter sido acusado injustamente de traição por conta de uma conspiração. Com a presença da almirante Norah Satie na Enterprise, a vida de Picard fica ainda mais difícil, isso porque Satie acredita haver ainda mais traidores escondidos à bordo. 

Comentando sobre a ascensão do fascismo e o medo coletivo, esse é um dos episódios mais marcantes da série, um que nos trouxe o excelente discurso de Picard sobre liberdade e confiança, sem medo de mencionar o pai de Norah, Aaron Satie, como um exemplo que ela deixou de seguir. Com ótimas atuações e um roteiro inteligente, Drumhead é um daqueles episódios que você assiste sempre.

“Sabe, há algo que lembro desde que sou um garoto: ‘Com o primeiro elo, a corrente é forjada. Quando o primeiro discurso é censurado, o primeiro pensamento é proibido, a liberdade é negada, isso nos acorrenta, irrevogavelmente.’ Essas palavras foram ditas pelo juiz Aaron Satir, como uma pérola de sabedoria, mas também um alerta. A primeira vez que a liberdade das pessoas é pisoteada, todos somos afetados. Eu sinto isso hoje”

#05: DARMOK (5ª Temporada, Episódio 02)

Darmok e Picard in Tanagra

Eu gosto tanto desse episódio que fiz até um texto apenas sobre ele, então se alguém estiver surpreso com sua presença tão próxima do pódio, é porque Darmok representa muito bem tudo que Star Trek significa. 

Picard tenta sua abordagem diplomática rotineira ao encontrar uma raça chamada Filhos de Tamar, mas é transportado pelos tamarianos para um planeta próximo acompanhado de Dathon, o capitão da nave dos Filhos de Tamar. Tudo parece uma grande armadilha para que Picard e Dathon combatam até a morte, mas aos poucos descobrimos as verdadeiras intenções da raça e a importância em escolher Picard para o “combate”. 

A importância da comunicação é o tema principal de Darmok, que mostra como podemos mudar nosso pensamento por conta de um encontro com outra cultura. Excelente atuação de Patrick Stewart tentando assimilar o padrão de comunicação da raça e enquanto conta a épica história de Gilgamesh para seu novo amigo. 

“Darmok e Jalad em Tanagra!”

#04: THE MEASURE OF A MAN (2ª Temporada, Episódio 09)

Picard e Data

Mais um episódio focado em Data, isso porque ele rendia alguns dos questionamentos mais instigantes da série. Quando uma comissão decide desmontar Data para investigar mais sobre sua origem e como o brilhante cientista Noonien Soong o criou, o próprio androide decide lutar contra isso e consegue uma audiência para provar que tem tanto direito quanto qualquer ser humano. 

Debates filosóficos sobre a natureza da humanidade e até o conceito de “alma” são o destaque de mais um roteiro afiado da série, sem contar mais um discurso memorável de Picard sobre o que nos diferencia das outras formas de vida.

“Meritíssimo, uma das missões da Frota Estelar é procurar novas vidas.
Bem, ali está uma delas!”

#03: ALL GOOD THINGS… (7ª Temporada, Episódio 25)

Star Trek tng finale

O último episódio da série é uma viagem através do espaço e tempo, tendo Picard como observador, assistimos o rumo da Enterprise, assim como o futuro de nossos personagens favoritos. All Good Things… é um desfecho apropriado para a série, entregando aos fãs uma sensação de conclusão, mas ao mesmo tempo a noção de que as aventuras continuam, independente da tripulação. 

Esse episódio também é bem importante para mostrar como Picard passou a maior parte da série distante de sua tripulação, os tratando de maneira profissional demais, tentando não se apegar. Quando percebe todas as coisas que perderia ao longo do caminho, decide finalmente aceitar participar de uma das partidas de pocker que a tripulação costuma jogar nos momentos de lazer. Melancólico, mas otimista, esse é um desfecho perfeito para uma série que passou a maior parte do tempo explorando não apenas o espaço, como novas culturas.

“O céu é o limite”

#02: THE BEST OF BOTH WORLDS Partes I e II (3ª Tem,, Ep. 26 / 4ª Tem, Ep. 01)

Picard Locutus

Picard é assimilado pelos borg, o maior cliffhanger da TV. Best of Both Worlds é um dos mais aclamados e premiados episódios de Star Trek, contando o primeiro embate oficial entre a Enterprise e o coletivo, que consegue derrotar Picard e criar o Locutus, um porta voz para a raça cibernética. O episódio duplo é uma corrida contra o tempo para a tripulação tentando descobrir como trazer seu capitão de volta. Os eventos desse episódio acabaram impactando todo o resto da série e foram os mais traumáticos para o personagem, que precisou lidar com isso aos poucos. 

Talvez a melhor atuação de Patrick Stewart em Star Trek, e uma das melhores da TV, Best of Both Worlds é uma experiência impossível de esquecer. 

“Resistir é inútil”

Antes de chegar o número um, que você provavelmente já imagina qual seja, devo fazer algumas menções honrosas aos episódios Yesterday’s Enterprise, The Offspring, Sarek, Cause and Effect e a dobradinha Chain of Command. Esses seriam facilmente introduzidos na lista, e saíram por pouco, já que decidi mencionar apenas os que considero indispensáveis. E por falar nisso, vamos ao vencedor:

#01: THE INNER LIGHT (5ª Temporada, Episódio 25)

Picard toca sua flauta

Em apenas 45 minutos temos uma aula de roteiro, direção e atuação com o excelente episódio The Inner Light, facilmente um dos melhores episódios da série, e na minha opinião, o melhor. A história envolve Picard acordando em um pequeno vilarejo, sendo membro de uma comunidade pacata que sofre com uma escassez de água e outros problemas menores. Mas algo está errado, Picard não lembra quem é e atua como um fazendeiro que acredita ter atuado no espaço, mas considera isso apenas uma enganação de sua própria cabeça.

Enquanto passa uma vida inteira nessa vila, descobrimos que a passagem de tempo na Enterprise foi de apenas alguns minutos. Toda a tripulação tenta entender o que aconteceu com seu capitão, que permanece fisicamente na nave, mas tem seus pensamentos em outro lugar. Tudo está ligado a um plano de uma raça que precisa da ajuda de Picard para manter sua história viva.

É um episódio lindo, com reviravoltas e sequências impressionantes, um roteiro que marcou a história da série e também acabou influenciando o personagem permanentemente, e eu nem vou mencionar o desfecho porque acho brilhante e quem ainda não viu merece assistir. 

“Aprecie o tempo, Meribor. Viva o agora. Faça-o sempre a hora mais importante. O agora jamais voltará”

Então, concorda ou discorda?
Qual o seu episódio favorito da Next Generation?

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Rick and Morty – Edge of Tomorty: Rick Die Rickpeat | S04E01

Rick and Morty é uma das animações mais aclamadas da TV. Mesmo não sendo reconhecida em seus primeiros anos, começou a ganhar enorme atenção no Brasil assim que teve seus episódios disponibilizados pelo serviço de streaming Netflix. A estréia da quarta temporada aconteceu no dia 10 de novembro, com o episódio Edge of Tomorty: Rick Die Rickpeat.

Continuando a tradição de usar trocadilhos e fazer referência a outros filmes e séries no título, geralmente tendo alguma ligação com o episódio, seja na premissa ou nos temas, o dessa semana é uma clara brincadeira com o longa estrelado por Tom Cruise e Emily Blunt, Edge of Tomorrow (traduzido para o português como No Limite do Amanhã), e seu subtítulo Live. Die. Repeat. Aqui Rick and Morty pega emprestada a premissa básica do filme, na qual Cage, o personagem de Cruise, revive o mesmo dia toda vez que acaba morrendo no meio de uma invasão alienígena. 

Tudo começa quando Rick leva Morty para um planeta que contém cristais capazes de revelar as possíveis mortes de quem o estiver tocando. Embora Rick tenha alertado sobre os riscos, Morty esconde um dos cristais na intenção de descobrir o caminho que deve tomar para ter uma morte pacífica ao lado de Jessica, a menina por quem é apaixonado. Como esperado, isso cria uma linha de eventos que terminam catastroficamente.

Rickty

Dirigido por Erica Hayes, responsável por trabalhar nos storyboards do excelente episódio Out to Sea, da segunda temporada de Bojack Horseman, Edge of Tomorty compensa o tempo de espera dos fãs por novos episódios, isso porque temos uma animação cada vez mais detalhada, principalmente nas sequências de ação, e eu nem mencionei a tonelada de piadas e referências em segundo plano.

Além de usar Edge of Tomorrow como base para uma trama na qual Rick morre constantemente e acorda em uma nova realidade onde plantou um clone para sua consciência, há uma ligação com o anime Akira, de Katsuhiro Ôtomo, quando Morty toma uma forma assustadora no clímax do episódio, e como resultado Jerry proíbe Rick de levar seu filho em aventuras que lembrem animes. 

Muitas das piadas e reviravoltas são a parte mais divertida de cada episódio, por isso evito falar todas, mas se tiver que escolher a sequência e as gags recorrentes mais engraçadas, provavelmente são as do bully tentando intimidar Morty enquanto questiona a lógica das regras do filme Viva: A Vida é uma Festa (2017), e Rick acordando sempre em uma nova realidade dominada por uma regime totalitário, um comentário sobre a ascensão de movimentos fascistas no mundo e uma pequena crítica sarcástica aos fãs mais extremos, o que fica evidente quando Morty pede para Rick parar de tentar fazer meta-comentários e seguir com o que “todos querem”. 

Rickty

Depois de uma terceira temporada com recepções mistas, se esse episódio for uma indicação de como esse ano será para Rick and Morty, podemos ficar mais confortáveis e esperar um equilíbrio entre aventuras despretensiosas e grandes revelações da trama principal, o que agora não precisa ser feito com pressa já que a série foi renovada por setenta episódios.

Essa foi uma resenha rápida apenas para ambientar algumas pessoas, mas se quiser continuar sabendo mais sobre a série, toda semana você pode ler sobre Rick and Morty aqui no Primeiro Contato.

Até a próxima. 

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Watchmen | If You Don´t Like My Story, Write Your Own – S01E04

Mais uma semana de Watchmen e mais reviravoltas. Finalmente conhecemos Lady Trieu, interpretada com uma mistura de arrogância e impaciência por Hong Chau, e as coisas parecem ficar cada vez mais difíceis para Angela e Laurie. Esse episódio foi dirigido por Andrij Parekh, mais conhecido por seu trabalho como diretor de arte em filmes como Blue Valentine (2010). Sua bagagem cuidando da fotografia contribuiu muito bem para o episódio, principalmente quando cria transições dinâmicas entre as cenas, como faz com uma máquina de waffles dar lugar ao portão de Looking Glass, ou criando a passagem de tempo através do porta-malas de Angela.

Há também alguns elementos recorrentes que podem ficar bastante óbvios, como os ovos em destaque, mas isso provavelmente está mais ligado ao tema geral de legado que esse episódio carrega, falando sobre genética com os bebês de Adrian (chego nessa loucura em breve), ancestralidade com Angela ou no discurso de Trieu, que menciona diretamente o que estou falando. Em um dos documentos do PeteyPedia, uma matéria de jornal menciona como Adrian nunca teve filhos, o que serve para mostrar que ele deve ser o último de seu nome, e o único capaz de representar um legado. 

Antes de ir para as referências e teorias, vale mencionar rapidamente os arquivos do PeteyPedia, um dos mais recentes datado em 24 de Abril e 1995, onde Laurie é interrogada pelo FBI e descobrimos um pouco mais sobre o destino de Dan Dreiberg, o Coruja. Depois dos eventos do quadrinho, ele começou a comandar uma empresa chamada MerlinCorp, responsável por armas e tecnologia para a polícia (o que explica a polícia ter sua própria nave Arquimedes). De acordo com Laurie, ele também construiu o pênis de Manhattan que ela carrega em sua maleta, tudo isso por um ataque de ciúmes. 

Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Teorias e referências
  • Começamos o episódio com a visita de Lady Trieu a um casal. Trieu faz uma proposta curiosa, de comprar aquela casa nos próximos três minutos, e em troca pode dar ao casal o que sempre quiseram, um bebê. O interessante nessa cena é o fato deste não ser apenas um bebê, mas uma criação de Trieu utilizando o gene do casal, que não podia conceber. Trieu revela ser trilionária e que o Relógio do Milênio é mais que apenas um relógio. Mais tarde no episódio, descobrimos que ela e sua criação estão bem mais ligadas a Adrian do que imaginamos.
Lady Trieu
  • Depois disso, voltamos para Angela, que está cada vez mais confusa com as revelações recentes sobre Will ser o seu avô. Ela vai até o Centro de Herança Cultural de Greenwood depois do horário de funcionamento e investiga sua árvore [holográfica] genealógica. Lá descobre mais sobre seu bisavô, O.B.Williams e Ruth Robeson, mas não consegue ficar por muito tempo porque escuta o som de seu carro, que foi “abduzido” no final do segundo episódio, caindo do céu ali perto. Ela vê Laurie rindo na frente do carro destruído e revista o veículo por pistas, mas tudo que encontra são as pílulas de Will. 
A árvore genealógica
  • No dia seguinte, Angela visita Wade Tillman, o Looking Glass, em seu bunker, que usa como estúdio de revelação para suas fotografias das lulas que caíram na chuva do primeiro episódio. Angela pede ajuda para esconder o traje da Klu Klux Klan que encontrou na casa de Judd, assim como as pílulas de Will, isso porque não quer que Laurie faça perguntas.

    Quando vai embora, joga uma mala no caminhão do lixo, mas descobre estar sendo observada por um homem misterioso vestido em um collant branco da cabeça aos pés. Angela o persegue, mas o homem derrama alguma substância lubrificante em seu corpo e desliza para dentro de um bueiro. 
  • Angela chega na delegacia para reportar o “Homem-Lubrificante”, mas ao sair do elevador se depara com o senador Keene, que faz questão de não chamar Angela como Sister Night. Isso pode implicar que ele continua com os mesmos interesses de seu pai, determinado em acabar com os mascarados. Angela também recebe a notícia de que a nova chefe do departamento é Laurie, apresentando pistas sobre o passado de Will: “ele foi um policial em Nova York, nas décadas de 40 e 50, mas se aposentou jovem e sumiu do mapa”.

    Petey entra na sala e sussurra algo nos ouvidos de sua chefe, então as duas saem em direção ao Relógio do Milênio. No caminho, podemos ouvir a música You´re My Thrill, de Billie Holiday, a mesma que toca na nave Arquimedes nos quadrinhos quando Dan e Laurie resgatam os moradores de um prédio em chamas. 
  • No Relógio do Milênio temos várias revelações e pistas. Angela e Laurie são recebidas por Bian, a filha de Lady Trieu, que os guia pela instalação, dizendo como o monumento será a primeira maravilha de um novo mundo, “mil milhas distante do oceano mais próximo, fortalecido contra qualquer atividade sísmica ou ataque, a não ser uma explosão nuclear”.

    Finalmente se encontram com Trieu, que declara sua admiração por Adrian Veidt através de uma escultura em seu escritório: “Muito de meu sucesso cresce da semente de sua inspiração”. Seria isso uma indicação de que Adrian e Trieu estejam trabalhando juntos, ou que ela seja a responsável por enviar novos clones para seu mentor, ou – indo mais longe – ela pode ser uma criação do próprio Veidt, mesmo que isso talvez entre em contradição com as ideias de Adrian em ser o último de seu nome.

    Durante a conversa, Angela e Trieu tem um rápido diálogo em vietnamês sobre as pílulas de Will. Essa interação abre espaço para várias interpretações sobre a relação de Trieu, Veidt e Will. Estariam os três trabalhando juntos?
  • E por falar em Adrian, vamos novamente para as partes mais bizarras de todos os episódios até agora. Assistimos o homem mais inteligente do mundo pescando o que parecem ser caixas contendo bebês prematuros. Ele seleciona alguns, devolve o resto para o mar e volta para seu laboratório, onde tem uma máquina capaz de desenvolver os bebês e transformá-los em adultos em questão de segundos. Assim fica confirmada a origem de todos os clones do Sr. Phillips e a Sra. Crookshanks, e seguimos a rotina de Adrian, que precisa de novos assistentes já que aparentemente assassinou vários em uma “noite ruim”.

    No dia seguinte, Adrian continua com seus experimentos, dessa vez testando sua catapulta, jogando corpos de clones descartáveis em direção aos céus, e o mais bizarro nisso tudo – como se já não fosse o suficiente – é que os corpos desaparecem ao atingir certa altura. Seria estranho assumir que Adrian esteja em um tipo de cúpula contra a sua vontade, mas uma de suas falas pode ter entregue onde está (mais ou menos): “Eu achava que isso seria um paraíso, mas é uma prisão. Finalmente poderei escapar desse lugar maldito!”. 
  • Por fim, temos mais uma cena com Lady Trieu, acalmando Bian, que teve um pesadelo sobre estar em uma vila pegando fogo e ser obrigada a caminhar por tanto tempo que seus pés doem até acordada (seria isso um sonho sobre as invasões aos campos durante a ocupação do Vietnã?). Quando Bian se acalma, se despede de Will, que estava sentado na sala de Trieu o tempo todo.

    Trieu repreende Will por não dizer logo a Angela o que está acontecendo ao invés de espalhar pistas, como as pílulas no carro, mas ele responde dizendo que Trieu faz o mesmo com sua filha. Ainda é cedo para afirmar, mas talvez Bian seja uma de suas criações e não uma filha natural. Antes de Will ir embora, Trieu revela que faltam apenas três dias, mas para o quê?

    Os dois olham para o céu e Will repete “tic toc, tic toc”.

Parece que as coisas vão fazer sentido em breve, estamos na metade da temporada. O que tem achado até agora?

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Watchmen | She Was Killed By Space Junk – S01E03

Leia sobre os episódios anteriores e a HQ aqui.

O enterro de Judd Crawford está próximo, mas as investigações dos mascarados não parecem ser o suficiente, o que faz com que o FBI envolva-se no mistério do assassinato do capitão de polícia. Para o caso, o bureau delega a tarefa à Laurie Blake (Jean Smart), que sabe bem mais do que todos imaginam, mas ainda assim ela leva um assistente, o agente Petey (Dustin Ingram). É nesse ínterim que assistimos o senador Keene revelar suas verdadeiras intenções com os “heróis”, mostrando que continua o legado de seu pai, também temos Angela em sua própria missão e finalmente temos a confirmação de que o homem na mansão é Adrian Veidt, o que era bem óbvio, mas ainda não sabemos o quanto dessa série é distração ou não. 

Algumas peças do quebra-cabeça começam a fazer sentido, enquanto outras ficam ainda mais complicadas de se encaixar, mas antes de chegar nas teorias e referências, vou falar um pouco sobre o episódio em si. Para começar, a direção agora é por conta de Stephen Williams, companheiro de longa data do showrunner Damon Lindelof, com quem trabalhou na série Lost. Williams constrói algumas cenas com uma tensão crescente que casa muito bem com o episódio, como as sequências do assalto ao banco ou basicamente qualquer momento em que algum personagem conversa com Laurie, um atestado do talento de Jean Smart para entregar uma personagem complexa, que pode intimidar, mas é carismática em sua atitude despretensiosa, também frágil quando precisa lidar com o passado. Um detalhe da personagem que chamou a atenção foi sua compulsão por corrigir a gramática das pessoas, o que rende alguns diálogos interessantes.

Por falar em Laurie Blake, para quem não tem muita afinidade com as HQs ou o filme, essa é Laurie Juspeczyk, que atuou como a heroína Espectral durante a era Watchmen. Ela é filha de Sally Jupiter, que também foi uma vigilante, e de quem tirou o nome de seu alter ego. Pelo que vemos na série, Laurie não está mais em um relacionamento com Dan Dreiberg, o Coruja, e decidiu assumir o sobrenome de seu pai, Edward Blake, o Comediante (cujo assassinato acaba sendo o ponto de partida para a HQ). Então, já que estamos mencionando as ligações com o material original, vamos para as teorias e referências. 

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen
  • A primeira cena mostra Laurie em uma cabine telefônica peculiar, azul e com o símbolo de Manhattan. Essa cabine serve para fazer ligações diretas entre a Terra e Marte. Laurie tenta entrar em contato com Manhattan, o que não parece estar dando certo, mas por ser uma ex-amante dele, talvez tenhamos uma conversa em breve. Mas o mais estranho não está nessa possível interação, e sim na logo que surge antes da ligação ser feita.

    Trieu é o nome que surge na tela antes da ligação de Laurie. Aparentemente, uma empresa chamada Trieu criou essa cabine, mas com que intenção? Uma das pistas está no diálogo entre Laurie e o agente Petey quando sobrevoam Tulsa, na qual ele menciona como as Indústrias Veidt foram compradas por uma magnata chamada Lady Trieu, em 2012, assim que Adrian desapareceu e foi dado como morto.

    Lady Trieu ainda não apareceu na série, mas está presente através de menções e pela menina que compra as revistas do jornaleiro no segundo episódio. Essa figura misteriosa não deve ser apenas uma personagem rica, mas sim uma das peças mais importantes para entender os planos de Adrian. Além disso e de criar a cabine, o que é bastante estranho em um mundo onde todos adquiriram um tipo de tecnofobia por conta dos eventos da HQ, Trieu é responsável por construir o monumento Relógio do Milênio, que também pode ser visto durante o voo de Laurie e Petey. 

    As coincidências e ligações com Adrian não param aí, porque a parte verdadeiramente assustadora é que, de acordo com Petey (e eu demorei para notar que esse era o Petey que reúne as informações do site de bastidores da HBO), antes de inaugurar o monumento, Lady Trieu mencionou diretamente Ozymandias –  não o herói, mas o poema que inspirou o seu nome, escrito por Percy Shelley, sobre um homem antes poderoso que teve seu legado esquecido pelo tempo, tendo apenas uma estátua abandonada no deserto como lembrança.

    Será que Trieu trabalha para Adrian, ou com ele… ou contra ele? Ainda é cedo demais para saber.

    O trecho do poema mencionado:
    “Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperem-se”
  • Continuando com Laurie, o episódio mostra a personagem em trabalho, atuando como uma agente do FBI tentando capturar vigilantes agindo fora da lei – parece que a atividade voltou a ser crime, pelo menos nas grandes cidades. Chegando em casa, Laurie tenta ouvir sua música em paz, um pouco de Devo nunca é demais (eles dão o nome do episódio com a música Space Junk), alimenta sua coruja de estimação (novamente, referências ao Coruja) e abre uma maleta com um conteúdo que só é revelado no fim do episódio (brinquedos sexuais inspirados em Manhattan). Sua rotina é interrompida pela visita do senador Keene, que a parabeniza pelo excelente trabalho.

    Ele diz que o assassinato de Crawford não pode ter sido ato da Kavalaria, já que eles têm o costume de se vangloriar por cada policial que matam. Isso deixa Laurie ainda mais intrigada. Ao fundo, uma pintura no estilo Andy Warhol representando o Coruja, Adrian e Manhattan chama a atenção, enquanto Laurie cobre seu próprio rosto com a cabeça. Isso pode ser uma das várias alusões à piada da personagem na abertura do episódio, onde fala sobre três homens tentando entrar no céu, mas são mandados para o inferno. O que Deus não esperava era a presença de uma garota que passou despercebida. 
Laurie e seu Andy Warhol
  • No bureau, uma reunião sobre os eventos recentes em Tulsa é o que motiva Laurie. Durante a apresentação, um dos slides mostra uma página do diário de Rorschach, exatamente na parte em que ele relata sua visita ao Veidt. O responsável pela apresentação questiona o agente Petey, que incluiu essa página para “contexto”, mas aparentemente “ninguém liga para o Rorschach”. Durante a apresentação também podemos ver que o FBI já sabe a identidade secreta de todos os policiais mascarados. 
Diário de Rorschach
  • Temos o retorno de Pirate Jenny, Red Scare e Looking Glass, que dessa vez é o interrogado por uma Laurie sem rodeios sobre a instalação secreta que comandam, onde todos os “potenciais supremacistas” são fichados para futura referência.É engraçado ver a agente pegando o controle de Looking Glass e fazendo piadas sobre seu “detector de racistas”. Esse tipo de humor é uma das coisas que Alan Moore faz muito bem nas HQs e ficou faltando na adaptação cinematográfica, então isso é mais um ponto positivo para a série. Além disso, é revelado o verdadeiro nome do personagem de capuz reluzente: Wade Tillman.
O detector de racistas
  • Se até esse ponto já não estava óbvio, Laurie é a protagonista do episódio. Então continuamos seguindo o seu cotidiano, até mesmo sua estadia em um hotel chamado Black Freighter, mais uma das várias referências que o Cargueiro Negro vem recebendo na série. Essa nem é a única vez em que a HQ dentro da HQ é aludida no episódio, porque uma bandeira de caveira pirata recebe bastante atenção da câmera quando observamos Adrian em sua “caçada”. Seriam esses exemplos apenas menções ao quadrinho ou uma ligação maior?
  • Depois, vamos ao enterro de Judd Crawford, e mesmo com um membro da Sétima Kavalaria invadindo o evento com uma bomba conectada ao coração, o que me deixou curioso mesmo foi a música cantada por Angela durante seu tributo. The Last Round-Up, do filme The Singing Hill, de 1941, é a canção cantado pelo cowboy Gene Autry, durante o enterro de um dos moradores de uma pequena cidade invadida por um magnata. A premissa do filme pode não parecer relevante até agora, talvez o filme e a música sejam mencionados apenas por conta do enterro, mas como ainda não se sabe muito sobre o passado de Crawford e as últimas informações não parecem convencer Angela, é mais um dos casos onde é cedo demais para dizer. 
  • Agora vamos para Ozymandias, onde sempre encontramos as sequências mais bizarras da série até o momento. A câmera atravessa a sala da mansão de Adrian, revelando bustos do imperador Alexandre, discos em vinil de Lee Perry, maquetes, uma pequena catapulta, pesquisas sobre lulas (novamente?) e muitas, MUITAS plantas e mapas. A loucura do momento é uma vestimenta que, pelo que tudo indica, não teve o resultado esperado pelo homem mais inteligente do mundo, o que resulta em mais uma casualidade entre seus clones e muita frustração.

    Mas Adrian não desiste e segue com seus planos, partindo para a caça, literalmente, atirando em um búfalo-americano, provavelmente para usar sua carcaça como base para mais uma vestimenta. O CGI dessa cena é pouco impressionante, considerando o que a HBO já conseguiu fazer com efeitos especiais em séries como Westworld, mas tudo bem. O que realmente chama a atenção é a revelação de mais uma figura misteriosa, em um cavalo, que atira aos pés de Adrian e o proíbe de capturar sua presa.

    Voltando para sua mansão, mais uma vez impaciente, Adrian tenta meditar, mas é interrompido por sua assistente, Crookshanks, que carrega uma carta selada com um carimbo de caveira (Cargueiro Negro, mais uma vez), provavelmente da figura misteriosa. A carta fala que Adrian precisa respeitar as “condições de seu cativeiro”, e que suas ações podem acarretar em “sérias consequências”. Ainda que tenha um teor ameaçador, o remetente agradece Veidt pelos tomates (vistos no episódio anterior, crescendo em uma árvore, o que indica alterações genéticas) e se intitula como um “humilde servo, o Guarda-Florestal”. Adrian pede para Crookshanks voltar à máquina de escrever e redigir uma resposta, na qual deixa claro que suas ações são de natureza recreacional. No fim, ele assina a carta com seu nome, confirmando que esse tem sido Veidt o tempo inteiro, então ele dispensa sua assistente e comemora se vestindo como Ozymandias, usando seu uniforme original.

    Toda essa sequência entrega bastante informação, o que é curioso. Ver Ozymandias uniformizado enquanto um relâmpago ilumina seu rosto pode parecer brega com a intenção de distrair o público. O jeito é esperar. 
  • Logo depois, temos uma conversa séria entre Angela e Laurie, mais uma vez levantando o questionamento sobre o passado de Crawford. Laurie volta para o motel Cargueiro Negro, encara o conteúdo de sua mala, dorme com seu assistente e voltamos para a cabine telefônica. Ao sair de lá, ela encara o céu e espera uma resposta de Manhattan, o que recebe de certa maneira através de um carro caindo das alturas. Dessa vez, Will, o centenário na cadeira de rodas, não está dentro dele. 

E a trama fica ainda mais bizarra, o que eu adoro!
O que tem achado da série até agora? Quais as suas teorias? Não esqueçam de visitar o PeteyPedia porque já foram liberados materiais novos e comprometedores para os personagens, incluindo evidências sobre o assassinato de Crawford. 

Vamos continuar debatendo. Até a próxima semana!

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Watchmen | Martial Feats Of Comanche Horsemanship – S01E02

Chegamos ao segundo episódio da série Watchmen, com mais revelações, mas também muito mais mistérios. Nicole Kassel retorna para a direção, construindo a tensão e estabelecendo alguns elementos que provavelmente serão essenciais para compreender a “grande conspiração” prenunciada por Will Reever, o centenário em cadeira de rodas aparentemente responsável pela morte de Judd Crawford. 

Agora Watchmen parece estar mais ligada ao seu material original, com referências diretas aos quadrinhos, além de começar a revelar o possível caminho que seguirá até o fim da temporada, dando maior espaço para os acontecimentos de Tulsa em 1921 e o drama pessoal de Angela, que descobre informações importantes sobre seu próprio passado. 

Podemos ver Looking Glass em ação novamente, dessa vez tentando conversar com Night (alter ego de Angela) sobre o assassinato de Crawford, o que a deixa desconfortável. Red Scare também recebe atenção, mesmo que superficialmente. Entendemos porque seu uniforme é vermelho (ele se considera um comunista) e vemos seu ódio pela Kavalaria ou os apoiadores de Nixon. 

Não houveram grandes mudanças em tom do primeiro episódio para esse, apenas na música de Trent Reznor e Atticus Ross, que ficou ainda melhor e mais experimental, então para não perder tempo, vamos logo para as referências e teorias.  

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen
  • Retornamos a Tulsa, e podemos ver como o passado será um ponto chave para compreender a temporada. Podemos ver mais uma vez o pequeno Will Reever, lendo o panfleto com as regras para os negros em tempos de guerra. O episódio abre com um oficial alemão pedindo para que sua secretária datilografe uma mensagem em inglês direcionada aos soldados negros.

    Essa cena não é ficção, a mensagem é real e ainda há cópias digitalizadas do panfleto em alguns museus dos EUA. Ainda não sabemos o paradeiro do bebê encontrado por Will, mas algo me diz que ele pode ter algo a ver com a “nave” que surge na conclusão do episódio e leva o centenário embora. Abaixo, você pode ver uma réplica do panfleto.
  • Uma das grandes ligações diretas aos quadrinhos é a banca de jornal do Mr. News, onde temos o jornaleiro Seymour conversando com o entregador, uma clara alusão ao personagem Bernard, dono de uma banca que observa e conhece todos em volta. Na HQ, Bernard está sempre conversando com um jovem que senta na calçada e lê a nova edição do Cargueiro Negro (quadrinho dentro do universo de Watchmen), mas é apenas no fim que descobre o nome do jovem, o mesmo que o seu.

    Na série, podemos ver que o jornal New Frontiersman e a revista Nova Express continuam em atividade. Ao fundo, é visível um estabelecimento chamado Mac Mcgee, mais uma referência musical da série, dessa vez à cantora Janis Joplin e sua música Me and Bobby McGee, presente na HQ e na trilha do filme de Zack Snyder, de 2009.
  • Antes dessa cena, há outra referência aos quadrinhos, um detalhe pequeno mas que prova a atenção da série aos detalhes. Entre a transição das cenas de Angela e do jornaleiro, podemos ver uma silhueta marcada na parede de um casal de beijando, e essa mesma imagem pode ser vista nos quadrinhos.
  • No episódio, Angela tenta descobrir a verdadeira identidade de Will, então decide ir ao centro cultural de Greenwood, onde é recebida por uma mensagem digital do secretário do tesouro nacional, Henry Louis Gates Jr, que na vida real é um editor, escritor e acadêmico envolvido nos estudos sobre o passado histórico da comunidade negra.
Watchmen
  • Uma coisa curiosa foi ver a forma como alguns repórteres e paparazzi fazem seu trabalho no mundo da série. Quando Night, Looking Glass e Red Scare chegam para ajudar a polícia na cena do crime de Judd Crawford, um homem com asas mecânicas cai no capô de um carro, enquanto outro pode ser avistado sobrevoando o local com uma câmera. Red Scare chama esses repórteres de “moths”, ou “traças”, em português. Essa pode ser uma menção ao personagem Byron Lewis, dos quadrinhos, que atuava como o herói Mothman, do grupo Minutemen (os Watchmen originais), traduzido por aqui para Traça.
Watchmen
  • E por falar nos Minutemen, finalmente acontece a estréia do programa American Hero Story, contando a história de heróis clássicos atuando contra o crime. O episódio foca na jornada do Justiça Encapuzada, um dos primeiros justiceiros em atividade, e o mais misterioso. Além do que parece ser uma homenagem aos primeiros minutos do filme Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, a série dentro da série parece estar parodiando o estilo de filmagem do diretor Zack Snyder, enchendo as cenas de câmera lenta e violência gratuita.

    Eu já mencionei por aqui, mas para quem esqueceu, Snyder dirigiu a adaptação para o cinema de Watchmen, em 2009, e essas são algumas de suas marcas registradas. Além disso, a série faz uma comparação entre os eventos do clímax do quadrinho e o pandemônio causado pelo diretor Orson Welles em 1938, quando decidiu narrar os acontecimentos do livro Guerra dos Mundos ao vivo em uma rádio pública. A descrição de uma invasão alienígena causou uma comoção enorme entre os ouvintes, muitos acabaram correndo pelas ruas ou ligando para a emergência pedindo ajuda.
Watchmen
  • Uma das coisas mais curiosas do episódio é uma cena envolvendo o garoto Thoper Abar, interpretado por Dylan Schombing, que pode ser visto construindo um tipo de castelo gravitacional com peças magnéticas de um conjunto chamado Magna-Hattan Blocks. Além da óbvia ligação do nome Magna-Hattan com Manhattan, essa pode ser uma cena importantíssima para a série, isso porque a ligação não está apenas em palavras, mas visualmente.

    No primeiro episódio, Manhattan é transmitido na TV tentando construir um castelo bastante parecido com o de Topher. Estariam os dois ligados de alguma maneira? E se formos ainda mais ousados, será que há alguma conexão com o castelo de Adrian Veidt?
  • Por falar em Veidt, voltamos ao seu castelo escondido do mundo, onde Adrian parece estar tentando recriar seus dias como em uma peça teatral, o que ele já está fazendo com seus funcionários, tentando trazer para a luz sua tragédia O Filho do Relojoeiro, uma dramatização da história de origem do Dr. Manhattan (com direto à Cavalgada das Valquírias, de Wagner, como trilha sonora – outra ligação com o filme de Snyder).

    Essa é uma das sequencias mais absurdas do episódio, revelando que todos os funcionários de Adrian são clones. Isso faz sentido se lembrarmos que ele é um dos nomes mais importantes do mundo quando se fala em tecnologia e ciência, tanto que seu animal de estimação nos quadrinhos, Bubastis, era uma criatura geneticamente modificada, então nada mais justo para o personagem do que evoluir sua pesquisa para seres humanos. E por falar em Bubastis, Adrian tem agora outro animal de estimação, um cavalo chamado Bucéfalo, inspirado no cavalo de mesmo nome do imperador “Alexandre, O Grande”, o maior ídolo de Veidt.
  • É na casa de Judd Crawford que recebemos algumas das reviravoltas e informações mais importantes do episódio, mesmo que ainda não esteja claro se são reais ou fabricadas por alguém tentando sujar a imagem do oficial. A primeira informação é o quadro Martial Feats of Comanche Horsemanship, que pode ser encontrado na sala de Judd. A pintura de 1984 dá nome ao episódio e representa as primeiras batalhas entre os índios e a cavalaria, talvez uma referência temática aos membros da Kavalaria que usam máscaras de Rorschach.

    A segunda é a introdução do personagem Joe Keene, o filho (talvez neto) do senador Keene, responsável pela lei de 1977 que proíbe a atividade de heróis com identidade secreta na HQ. Tudo indica que ele será o principal concorrente de Robert Redford nas próximas eleições, e do jeito que as coisas vão, parece que vai ser uma disputa difícil.

    Tirando a revelação final da sequencia em que um traje da Klu Klux Kan é encontrado no armário de Judd, a série continua tentando nos convencer de que ele era o Coruja o tempo inteiro, e aí entra a terceira informação importante, quando Angela encontra um par de óculos capazes de visão raio-x bastante similares aos óculos de leitura infravermelha de Dan Dreiberg, o Coruja, nos quadrinhos.
  • Mesmo em um episódio com clones e fotógrafos alados, o mais estranho mesmo foi o imã gigante que veio dos céus para resgatar (?) Will. Até o momento a minha teoria para isso é que… a série é louca mesmo. Admito não lembrar de nada assim nos quadrinhos, mas entre as sombras podemos ver que há uma hélice, que deve fazer parte de alguma nave de recolhimento. Vai saber ¯\_(ツ)_/¯
Watchmen

Antes de terminar esse texto, uma boa dica para quem quer saber ainda mais sobre os bastidores de Watchmen é o PeteyPedia, um site mantido pela HBO, onde cataloga notícias e documentos importantes como se fosse parte da série, assim como o próprio Alan Moore fez entre as edições da HQ original, quando aproveitava as páginas de publicidade para criar mais conteúdo sobre o universo que criou.

Parece que as coisas vão ficar muito mais confusas daqui pra frente, então não se esqueça de voltar na próxima semana para continuarmos debatendo a série. Até lá!

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Watchmen | It’s Summer and We’re Running Out of Ice – S01E01

Com roteiro de Alan Moore e arte de Dave Gibbons, a graphic novel Watchmen é lançada em 1986, pela DC Comics, em doze volumes. Ela é um enorme sucesso, vendendo muito bem e sendo elogiada por todos. Duas décadas depois, a HQ é destacada como um dos melhores romances do século pela revista Time, fazendo com que a obra de Moore e Gibbons receba novo fôlego e atenção até daqueles não interessados na arte sequencial.

É 2009 e Hollywood consegue finalmente adaptar Watchmen para o cinema. Dirigido por Zack Snyder, o longa tem uma recepção mista da crítica, mas a bilheteria não impressiona. Ainda assim, todos parecem interessados em desenvolver suas próprias histórias se aproveitando das doze edições originais da HQ. A própria DC tenta uma prequel em quadrinhos, intitulada Antes de Watchmen, reunindo diversos artistas com o intuito de contextualizar um universo que, alguns diriam, não necessitava disso. Mesmo sem sucesso, a editora insiste em inserir os personagens em seu selo padrão, criando a saga Doomsday Clock.

Estamos em 2019: Damon Lindelof, co-criador de séries como Lost The Leftovers, decide liderar uma adaptação de Watchmen para a HBO. O primeiro episódio é lançado no dia 20 de Outubro. Hoje, eu escrevo a resenha.

É verão e estamos ficando sem gelo.

Watchmen Trailer Looking Glass

A primeira sequência do episódio talvez seja a mais importante para estabelecer o tema principal dessa série, que promete utilizar o contexto político e social dos quadrinhos para desenvolver uma crítica mais pertinente ao crescimento de grupos fascistas e supremacistas brancos nos EUA. Tudo começa em 1921, durante a rebelião racial de Tulsa, na qual a comunidade negra de Oklahoma é covardemente atacada por brancos intimidados com o crescimento de distritos como Greenwood, um dos mais ricos do estado, habitado por negros. No meio do tumulto e dos linchamentos, seguimos um casal tentando salvar seu filho o enviado em uma carruagem com uma mensagem no bolso.

Em seguida, somos introduzidos ao ano 2019 da série, que mesmo sendo uma versão alternativa do nosso, se passando no mesmo universo dos quadrinhos (aparentemente, o filme não será levado em conta), comenta a realidade fora da tela. Depois dos eventos do quadrinho, que termina com o personagem Rorschach entregando seu diário contendo os planos de Adrian Veidt, o Ozymandias, e todos os outros integrantes do grupo Watchmen, a série explora as sequelas da despedida do Dr. Manhattan, assim como a catastrófica solução de Veidt para trazer a paz mundial.

Talvez a decisão mais radical da série, ainda que faça total sentido (eu vou explicar na parte de spoilers), é transformar Rorschach em uma figura de resistência para um movimento de supremacistas brancos chamado Seventh Kavalry (seria apenas uma referência ao regimento dos EUA ativo em grandes guerras, ou uma ligação mais forte com um diálogo dos quadrinhos onde Veidt menciona a cavalaria como contraste para o apocalipse?). No 2019 de Watchmen, é a vez da polícia usar máscaras e se auto-intitular a vigilante máxima da sociedade, respondendo o questionamento em latim “Quis custodiet ipsos custodes”, traduzido por Alan Moore para “Quem vigia os vigilantes”. Mas ainda há obstáculos para a própria polícia, que precisa de códigos de segurança mais restritos quando envolve o uso de armas, que agora tem uma trava liberada apenas por autorização geral.

Entre os policiais, ainda há vigilantes encapuzados, como Angela Abar (Regina King) e Looking Glass (Tim Blake Nelson), que procuram trabalhar na margem da lei, mas dessa vez de maneira mais organizada.

Além de uma boa construção de mundo e um ótimo elenco (Regina King e Jeremy Iron prometem ser a maior força dramática da série), esse primeiro episódio, dirigido por Nicole Kassell, tem um excelente trabalho do departamento de direção de arte, com uma bela fotografia que apresenta a iconografia dos quadrinhos, com ovos que formam o rosto sorridente do bóton do Comediante ou a gota de sangue caindo no distintivo de um dos personagens, sem contar as composições que tentam replicar o formato de um relógio de bolso e seus ponteiros. Vale mencionar a composição musical da dupla Trent Reznor (da banda Nine Inch Nails) e Atticus Ross, responsáveis por filmes como A Rede Social e Garota Exemplar, aqui aumentando a força da narrativa com uma atmosfera mais sombria e tensa através do piano melancólico de Reznor.

It’s Summer and We’re Running Out of Ice é um ótimo começo para a série, estabelecendo muita coisa dos quadrinhos e desenvolvendo outras que prometem colocar o dedo na ferida. Alan Moore já abordou em Watchmen alguns tópicos relevantes do nosso 2019, como os direitos LGBTQ+ ou o risco de acreditar na carisma de figuras fascistas, mas a atenção da série ao debate racial pode ser um ângulo intrigante capaz de transformar a série em algo próprio, ao contrário de outros materiais que tentaram apenas recriar a sensação do quadrinho original.

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen

Como é apenas o primeiro episódio da série, vou deixar apenas algumas das coisas curiosas que achei enquanto assistia o episódio.

  • O livro SOB O CAPUZ, a autobiografia de Hollis Mason (primeiro Coruja, do grupo Minutemen, os heróis que atuavam antes dos Watchmen), pode ser visto na mesa do escritório de Judd Crawford. E por falar em Crawford, o episódio dá alguns indícios de que ele possa ser o segundo Coruja, Dan Dreiberg, como sua caneca em formato de coruja ou o fato de utilizar a Arquimedes, nave do herói nos quadrinhos. É claro que ele poderia simplesmente estar usando um de seus nomes falsos depois dos eventos da HQ, mas depois da revelação final do episódio fica difícil continuar acreditando que ele seja o Coruja.
Watchmen Sob o capuz
  • A CHUVA DE LULA que acontece enquanto Angela Abar está trazendo seu filho da escola é uma clara referência ao clímax causado pro Adrian Veidt nos quadrinhos, na qual ele desenvolve uma lula mutante para aterrorizar a humanidade orquestrando um falso ataque alienígena. Isso deixa evidente que a série é uma sequencia da HQ e não do filme. Falando nisso, na cena anterior podemos ver um quadro com a imagem dos principais presidentes dos EUA, e um deles é Robert Redford, uma piada com a última página do quadrinho, onde brincam com a possibilidade de um ator na casa branca.
Watchmen Polvo
  • O personagem JUSTIÇA ENCAPUZADA tem bastante destaque na série, sendo o “rosto” principal nos anúncios do futuro documentário sobre os Minutemen, aparecendo em uma propaganda de ônibus e nos comerciais da TV. Na própria HQ, Hollis Mason diz em sua autobiografia que ninguém sabe a verdadeira identidade do Justiça Encapuzada, mas por conta de sua roupa, idealizada com uma corda em forma de forca no pescoço e um capuz roxo como máscara, a principal teoria é que seja um homem negro (possivelmente homossexual, isso de acordo com Hollis). Assistindo ao episódio não pude deixar de imaginar que o idoso da cadeira de rodas, que aparece lendo seu jornal e fazendo comentários aleatórios para Angela (e no fim revela-se o garoto com o bilhete da sequencia de abertura), é o verdadeiro Justiça Encapuzada. E isso faz total sentido, considerando a camisa roxa, a idade e as suposições de Hollis.
  • Uma das coisas que mais aguardo na série é o retorno de Adrian Veidt, que tem poucos minutos no episódio, mas já revela estar trabalhando em uma peça, uma tragédia em cinco atos — o que provavelmente será mais um de seus planos para trazer a paz mundial que tanto almeja. Um dos indícios de que Adrian pode estar mais uma vez por trás de uma grande conspiração é uma rápida tomada na qual podemos ver um jornal com a manchete que diz “Veidt é Oficialmente Declarado Morto”. Ou esse é o primeiro passo para seu esquema mirabolante, ou a série está experimentando com uma narrativa não-linear, o que não seria surpresa agora que tantas séries estão fazendo isso, como a própria Westworld, da HBO.
Watchmen Veidt Morto
  • Entre todos os nomes mencionados no episódio, o que achei mais curioso foi PIRATE JENNY, utilizado por uma vigilante trabalhando ao lado de Judd Crawford, pilotando a Arquimedes. Pirate Jenny é o título de uma música (macabra) da cantora Nina Simone, uma das favoritas de Alan Moore, tanto que ele utiliza a letra da canção como inspiração para os Contos do Cargueiro Negro, uma história dentro da história de Watchmen. Para ser mais exato, o Cargueiro Negro é um quadrinho sobre piratas que os jovens leem no universo de Watchmen, já que heróis encapuzados são uma realidade, quadrinhos como da Marvel e DC não fazem sentido. Um trecho da letra traduzida: “Há um navio, o Cargueiro Negro. Com uma caveira em seu mastro. Eles estão chegando”. Ouça a música.
Watchmen Pirate Jany
  • O aspecto mais polêmico do episodio envolve Rorschach e os Supremacistas Brancos. Eu entendo quem talvez tenha se incomodado com isso, mas eu considero um dos grandes acertos do episódio. Tirando o fato do grupo de supremacistas generalizar seu preconceito, se estendendo também aos policiais, a inspiração deles é em um personagem claramente preconceituoso — e não me entenda errado, adoro o personagem, mas posso gostar dele e não gostar de suas atitudes ao mesmo tempo (ponto para o roteiro de Alan Moore, como sempre). Nas HQs, Rorschach está constantemente fazendo comentários sexistas e homofóbicos sobre seus companheiros de trabalho, como chamar Veidt de homossexual, por exemplo. Isso sem contar que o personagem é um ávido leitor do jornal The New Frontiersman, direcionado ao público mais reacionário. Há várias outras menções na HQ, mas a mais gritante é quando uma das vizinhas de Rorschach o chama de “pervertido nazista”. Essa parte pode ser polêmica, mas não infundada.
The Watchman HBO
Watchmen Rorshach Mark Hill/HBO
  • Para fechar os meus destaques (há outros, mas não quero deixar isso muito grande e outros ainda precisam ser confirmados), é bom saber que algumas coisas nunca mudam e Alan Moore ainda não aceita ser creditado em nenhuma adaptação de suas obras, deixando todo o crédito para o artista Dave Gibbons.
Watchmen Final

Essas foram algumas das minhas considerações sobre o primeiro episódio da série de Watchmen, It’s Summer and We’re Running Out of Ice. Deixe nos comentários o que achou do episódio e das mudanças.

Nos vemos na próxima semana.

Tick, tock, tick tock.

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Arquivo X | “Home”: O Episódio mais arriscado da série.

A televisão da década de 1990 foi o começo do que alguns consideram uma revolução para o formato, com o surgimento de clássicos como Twin Peaks, co-produzida por David Lynch, um (excelente) diretor de cinema que decidiu investir em séries, ou Os Sopranos, criada por David Chase, que fechou a década transformando a HBO em uma das produtoras de conteúdo mais renomadas do mercado e inspirando gerações de roteiristas com o drama familiar de Tony Soprano, um chefe da máfia que acabou inspirando outros personagens como o próprio Walter White, de Breaking Bad. Mas a TV também não seria a mesma sem a presença da dupla de agentes do FBI, Mulder e Scully, de Arquivo X.

Toda semana, Arquivo X prometia trazer algo novo e bizarros para o público. Com uma premissa envolvendo dois agentes responsáveis por investigar os casos mais inexplicáveis da humanidade, temos o contraste perfeito nos protagonistas Fox Mulder e Dana Scully, interpretados respectivamente por David Duchovny e Gilliam Anderson.

Enquanto Mulder liga a maioria dos casos à atividades extraterrestres, isso porque acredita ter presenciado a abdução de sua irmã mais nova, Samantha, ainda na infância; do outro lado, temos Scully, uma agente mais cética que confia apenas no que a ciência pode explicar. Foi a interação entre os personagens e suas tentativas em resolver casos cada vez mais perigosos que fez dessa série um marco da televisão, rendendo onze temporada (até o momento) e dois filmes, um em 1998 e depois em 2008. 

Ainda que explore diversos temas por conta de elementos como alienígenas, distorções temporais, conspirações corporativas e muito mais, é curioso notar como um dos episódios mais aclamados da série se passa quase inteiramente dentro e na varanda de uma casa, no segundo episódio da quarta temporada, intitulado Home

Arquivo X

No episódio, Mulder e Scully investigam a descoberta de um cadáver enquanto um grupo de crianças jogava basebol. O que deixa o mistério ainda mais intrigante é que o cadáver foi enterrado vivo, e era um bebê. Os principais suspeitos são a família Peacock, constituída de irmãos com severa deformação genética, que mora na casa decrépita próxima a cena do crime.

Home marca o retorno dos roteiristas Glen Morgan e James Wong, que saíram da série na segunda temporada para desenvolver seu próprio programa. O que eles fizeram é considerado até hoje um dos episódios mais brutais e arriscados da história da TV, não só pela violência gráfica, mas pelos temas abordados, como incesto e estupro.

Talvez uma das maiores inspirações para o roteiro seja o documentário Brother´s Keeper, de 1992, que traça algumas similaridades com os eventos do episódio, envolvendo uma personagem desfigurada e um misterioso assassinato. Home também busca referências no cinema de terror slasher da década de 70, com uma ambientação similar a de filmes como O Massacre da Serra Elétrica, de 1874. Os elementos de terror, junto do excelente trabalho da equipe de direção de arte, recriando uma casa antiga da Guerra Civil, fizeram desse episódio um dos mais memoráveis da série. 

Home é um marco na história da TV, chegando a ser banido e ter sua reprise retirada da programação pela própria emissora por conta de seu teor violento, mas os debates que abre através dos questionamentos sobre maternidade de Scully, do sarcasmo de Mulder para mascarar o horror do que o ser humano é capaz ou até a maneira como a câmera foca em fechaduras e maçanetas para mostrar que o mundo não é o lugar seguro e belo como alguns imaginam, provam que o episódio é mais do que apenas um banho de sangue. 

Arquivo X é uma das séries mais criativas da ficção científica, sempre procurando por respostas e mostrando que talvez as maiores ameaças (ou monstros da semana) já estejam entre nós, não precisamos procurar a verdade lá fora. 

Arquivo X
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Undone | Experimentando com a realidade

Após terem escrito o sucesso Bojack Horseman, da Netflix, os roteiristas Kate Purdy e Raphael Bob-Waksberg (também showrunner da série), decidiram desenvolver uma nova produção, com um formato diferente e para outro serviço de streaming, dessa vez a Amazon Prime Video. A minissérie Undone é um drama peculiar em sua apresentação, envolvido em elementos de ficção científica.

Alma Winograd-Diaz (Rosa Salazar, de Alita: Anjo de Combate) está insatisfeita com a sua vida e não aguenta mais a rotina, até que um dia sofre um acidente de carro, causado por uma visão de seu falecido pai, Jacob (Bob Odenkirk), que descobriu uma maneira de manipular o tempo e mudar os eventos do dia de sua morte, mas vai precisar da ajuda de sua filha para que o plano dê certo.

Em oposição à Bojack HorsemanUndone utiliza um método de animação chamado rotoscopia, onde as filmagens com atores são aproveitadas para que novos quadros sejam desenhados “por cima delas”, criando um visual distinto que, de acordo com Kate Purdy, pode “brincar com a flexibilidade da realidade”.

Essa não é uma técnica nova, na verdade é bastante conhecida, presente no cinema e na TV há décadas, mas tem sido abordada de uma maneira ainda mais direta, onde há uma unidade maior entre as filmagens e a animação, o que pôde ser visto em filmes como O Homem Duplo ou Acordar Para a Vida (aquele com o “monólogo” sobre as formigas), ambos de Richard Linklater. Ainda assim, foi por conta do filme Cobain: A Montage of Heck, que Undone encontrou seu animador e diretor, Hisko Hulsing.

Undone

Com algumas sequências impressionantes, principalmente quando a série nos leva ao subconsciente dos personagens, onde carros congelam no tempo durante um diálogo ou a realidade é moldada num estalar de dedos, a narrativa se beneficia do formato e alterna entre diferentes linhas temporais, o que faz a alegria de qualquer fã de Philip K Dick (autor da obra que deu origem ao filme O Homem Duplo) e ficção científica em geral. Mas a série não se apoia apenas em apelo visual, tendo um roteiro inteligente, onde debates sobre identidade e o próprio conceito de realidade ficam em primeiro plano.

Por conta da ascendência mexicana de Alma, a série aborda também temas sobre preconceito racial, como a dificuldade da protagonista em se conectar com o noivo de sua irmã ou os comentários sarcásticos que ela faz sobre o passado que os EUA tenta apagar. A representatividade em Undone é bastante orgânica, como a figura de Sam (Siddharth Dhananjay), o namorado indiano de Alma, que chega a fazer uma piada sobre isso. Os diálogos também soam naturais, mesmo quando tentam brincar um pouco com as palavras, fazendo um trocadilho ou outro.

Essa é uma série curta, tendo apenas oito episódio, mas de ritmo lento, passando a maior parte do tempo desenvolvendo os laços familiares e explicando as regras da “viagem para o passado”. A ficção científica fica no banco de trás na maior parte do tempo, servindo mais para justificar a premissa, deixando o drama no volante, felizmente bem interpretado por um ótimo elenco.

O que Undone faz é entregar uma experiência arriscada, capaz de distrair e distanciar alguns não acostumados ou satisfeitos com a técnica (o que não é o meu caso), mas que ainda funciona muito bem como a jornada de uma jovem descobrindo sua própria identidade enquanto encara o desafio da aceitação.

Agora imagine uma adaptação da HQ Promethea nessa estilo!
Agora imagine uma adaptação da HQ Promethea nessa estilo!
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O Problema de The I-Land e os originais Netflix

The I-Land é uma das piores séries que eu já assisti.
Essa afirmação pode parecer hiperbólica, mas em apenas alguns episódios podemos ver como a nova série da Netflix não apenas possui uma total falta de noção na execução da narrativa, como sequer se deu ao trabalho de procurar por uma premissa original. Neste texto pretendo falar um pouco sobre essa série desastrosa e alguns outros lançamentos “originais” do serviço de streaming para o público amante de ficção científica. A maioria desses, no mínimo, decepcionante.

Em The I-Land (o título desnecessariamente estilizado já é um indício do que podemos esperar), um grupo se encontra perdido e sem memória em uma ilha misteriosa, eles não lembram seus próprios nomes mas precisam se unir para descobrir uma maneira de voltar para casa. Se você já ouviu essa premissa antes é porque provavelmente assistiu Lost, mas não se engane, ao contrário da aclamada série produzida por J.J. Abrams, Jeffrey Lieber e Damon Lindelof, The I-Land tem um enorme diferencial: pouquíssimos dos elementos apresentado funcionam de verdade.

Não faltam produções com propostas similares, e ter um conceito batido não seria ruim se a série ao mesmos soubesse executá-lo. Nos primeiros minutos há uma clara falta de organização, talvez culpa de um roteiro mal elaborado, o que poderia ser salvo pela direção, mas tirando as tomadas competentes que estabelecem o ambiente, e o CGI bem feito, o que The I-Land tenta fazer na maior parte do tempo é fornecer cenários cada vez mais forçados para tentar instalar tensão e desenvolver o drama entre os personagens.

The I-Land
The I-Land

Em vários momentos eles se deparam com alguma pista claramente colocada em seu campo de visão propositalmente, mas o grupo ignora cada uma delas e se prontifica a retornar para suas intrigas mal elaboradas. Isso, somado ao péssimo desempenho dos atores, travados e sem dimensão alguma (por vezes caracterizados por apenas um traço de personalidade, já que tudo o que precisam ser é apenas uma máquina de informação conveniente), deixa a experiência de assistir essa série uma das mais desconfortáveis desse ano.

Voltando ao roteiro e as formas óbvias na qual se manifesta, preciso falar da estrutura narrativa, o que realmente me deixou incomodado (até o momento, achava essa série apenas uma piada). O uso de números espalhado pela ilha para criar paranoia, a corporação misteriosa e os flashbacks que revelam, aos poucos, o passado dos personagens, são traços da história claramente influenciados por Lost. A falta de interesse da série em ao menos se distanciar disso revela como The I-Land é preguiçosa.

Além disso, os esforços para se apoiar no núcleo dramático dos personagens é uma aula de como não escrever um roteiro. Se há uma placa no meio da ilha que claramente os alerta de que algo maior está acontecendo, o que eles fazem é começar um debate sem sentido, o que na cabeça do roteirista talvez seja considerado “desenvolvimento de personagem”, mas o resultado é vergonhoso. Não há uma cena onde um diálogo acontece sem que algum tipo de intriga ou desentendimento aconteça, tirando da série qualquer respiro do enredo, isso faz com que o fascínio pelo lugar e o envolvimento do público com a história seja comprometido.

Infelizmente, esses problemas são só alguns dos que vem me incomodado bastante em algumas produções “originais” da Netflix — para deixar claro, eu sempre coloco assim porque a maior parte do conteúdo que o streaming considera original, ele apenas distribui. Se focarmos apenas nas produções de ficção científica, temos esses mesmos pontos negativos em séries como Outra Vida (estrelada por uma Katee Sackhoff em modo de piloto automático), onde temos igualmente um grupo que vive se desentendendo, sem mencionar algumas reviravoltas similares como a morte de um membro que causa comoção e animosidade entre a protagonista e o resto dos personagens.

Agora, se formos para o lado dos filmes, a realidade é ainda mais triste, com várias produções superficiais e estereotipadas, como IOExtinçãoPróxima Parada: ApocalipseO SilêncioTauSpectral ou ARQ, para mencionar alguns, que utilizam elementos batidos de subgêneros FC mas não sabem o que fazer com eles, vide The I-Land. É claro que há exceções, por exemplo, o filme I am Mother ou a excelente série The OA, sem contar os não-originais da Netflix, tais como Riqueza Tóxica ou Terra à Deriva.

Terra à Deriva
Terra à Deriva

Com a ascensão de serviços de streaming como Prime VideoHBO GO e Hulu (esse último apenas nos EUA), sem contar a poderosa Disney+, cada vez mais próxima, a Netflix produz e compra paulatinamente mais conteúdo para manter uma programação própria, mas ela tem um sério problema na hora de escolher esse conteúdo, muitas vezes pegando uma enxurrada de produtos mais baratos e de qualidade “duvidosa”, sem contar sua forma quase desleixada de divulgar novos filmes e séries, dando atenção apenas ao que já é aclamado, sem tentativa alguma de prestigiar material relevante para os próprios assinantes, no caso, os fãs de ficção científica que muitas vezes recebem por outras fontes a notícia de que filmes como Terra à Deriva estavam no catálogo.

Eu sei que o streaming não tem obrigação alguma em divulgar o que não interessa a ele, mas assim algumas oportunidades acabam sendo perdidas e a sua credibilidade com uma parcela do público pode ser afetada. Continuando com Terra à Deriva como exemplo, esse foi um filme que marcou a história do cinema chinês e do mercado cinematográfico asiático, batendo recordes de bilheteria que superaram até filmes da Disney / Marvel (eu falo mais sobre isso na minha crítica do filme), então seria mais do que justo utilizar informações como essa para instigar o público, muitas vezes parado por horas na frente da TV sem saber o que escolher para assistir.

É uma pena ver mais uma série Sci-Fi chegando na netflix e ter um resultado tão negativo, mas esse parece ser o caminho que a Netflix decidiu seguir quando se trata de produções do gênero. Espero que seja passageiro e as coisas melhores, até lá continuamos caçando coisas boas no catálogo.

¯\_(ツ)_/¯

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O começo de uma Jornada nas Estrelas

É impossível não gostar da tripulação da Enterprise, principalmente a da série original. Kirk, Scotty, McCoy, Uhura, Sulu, Chekov e Spock. Por isso é curioso lembrar que por pouco não tivemos um elenco bastante diferente. O episódio piloto da série, The Cage, foi ao ar em 1965 pela NBC, e mesmo que o responsável pela programação da emissora, Mort Werner, tenha se interessado , a série correu o risco de ter sido cancelada prematuramente por ser considerada “muito cerebral”.

No livro Inside Star Trek: The Real Story (1997), Herbert F. Sollow, produtor da Desilu, e o diretor assistente Robert H. Justment, atraíram atenção para os costumes e morais da América na época como a principal razão de a série não ter seguido em frente logo de início. Enquanto séries que eram queridinhas do público retratavam a mulher em sua maior parte cozinhando, reclamando ou sendo apenas uma “boa esposa”, Jornada nas Estrelas tinha uma oficial competente e independente, recebendo um bom espaço em tela sem cair nos estereótipos da época.

Número Um era como a personagem de Majel Barret foi chamada, provavelmente sabendo que a emissora poderia questionar um nome feminino nos estágios de produção do episódio. Primeira oficial, inteligente e extremamente capacitada, Número Um teria enorme destaque entre os protagonistas, mas logo após a exibição de The Cage, precisou ser cortada do elenco. Por ser bem querida entre os produtores, a atriz foi mantida durante a série original, mas como outra personagem sem tanto destaque, a enfermeira Christine Chapel.

O começo de uma Jornada nas Estrelas

As mudanças e cortes não pararam na Número Um. A primeira opção para capitão da nave não era William Shatner e sim Jeffrey Hunter. Antes mesmo de Kirk, existia Christopher Pike. Hunter, confrontado com a insatisfação e a não aprovação do piloto de Jornada nas Estrelas, decidiu largar a série, mas o personagem não foi apagado da cronologia, sendo usado mais tarde, no episódio duplo The Menagerie, da primeira temporada, onde décadas após os incidentes ocorridos no piloto, encontramos um Capitão Pike velho, cansado e desfigurado, interpretado por Sean Kenney. Esta também foi uma boa forma dos produtores manterem The Cage dentro da continuidade oficial da série, criando uma forma de retcon para alguns acontecimentos.

Mesmo sendo rejeitada pela emissora na primeira tentativa, Jornada nas Estrelas conseguiu algo sem precedentes: uma segunda chance. Pela primeira vez na história da televisão, uma série recebeu autorização para um segundo piloto, e Where no Man Has Gone Before foi o que oficializou e garantiu a primeira temporada.

As mudanças de um piloto para outro envolveram em sua maior parte o elenco. A saída de personagens como o doutor Boyce (John Hoyt), que mesmo bem interpretado, não trazia o carisma que DeForest Kelly carregava, dando lugar à McCoy, foram decisões que acabaram melhorando a dinâmica entre os personagens na série, mesmo que não fossem a primeira opção dos criadores.

Com os novos personagens, a tripulação ficou mais diversificada, fazendo com que as relações e os diálogos da série se tornassem bem mais interessantes quando tocavam em outros assuntos fora da trama principal de ficção científica.

Equipe Star Trek

Um dos grandes apelos de Jornada nas Estrelas era poder contar com seus personagens sempre que necessário; quando a ameaça principal do episódio não estava intrigante o suficiente, sempre poderíamos contar com os momentos mais íntimos dos tripulantes da Enterprise, como o desentendimento constante entre um lógico Spock e um temperamental McCoy, as pausas para uma bebida e um conselho de amigo de Scotty, e a esperteza de Kirk sob pressão, sempre elaborando um plano ou forma brilhante de escapar.

A série original é até hoje conhecida por quebrar várias barreiras culturais. Além de Uhura, uma personagem negra com destaque positivo na televisão (você pode ler mais sobre ela nesse especial que fiz), outras etnias tiveram seu espaço, como o personagem do nipo-americano George Takei, o oficial Hikaru Sulu, ou o russo Pavel Chekov, interpretado por Walter Koening. É importante lembrar que escolher um personagem russo no auge da guerra fria foi uma das várias decisões arriscadas de Roddenberry.

Pode ter sido um começo cheio de obstáculos e a série ainda continuou sofrendo com baixa audiência e cancelamentos da emissora, mas com o tempo transformou-se em uma das maiores e mais fortes franquias que o mundo já viu, audaciosamente indo!