Com narrativas muito bem construídas, confinando tópicos intrigantes e personagens envolventes. Não foi muita surpresa que Arrival, o seu lançamento de 2016, tenha me conquistado, mas não só pela qualidade técnica (que sempre é mais do que competente) e sim por trazer um frescor para um gênero muitas vezes surrado, que sofre na mão de outros diretores que tentam se levar muito mais a sério do que deveriam, entupindo seus trabalhos com camadas de elementos complexos em uma narrativa vazia.
Arrival é estrelado por Amy Adams, que interpreta a linguista Louise Banks. Após o inacreditável e o repentino surgimento de enormes figuras no céu e a possibilidade de uma visita extraterrestre em diferentes extremos do planeta, Louise é convocada pelo governo norte americano para estudar as novas formas de vida e analisar seu meio de comunicação, para que tudo seja resolvido da maneira mais pacífica possível.
O que Villeneuve entrega é um dos melhores filmes do ano, com um roteiro provocativo, que na superfície pode abordar vários tópicos recorrentes da parte “científica” do gênero, mas decide focar sua atenção na parte emocional. É este aspecto que o diretor tenta tocar, em algum nível, na maioria de suas obras, seja com o drama familiar no meio de todo o mistério de Os Suspeitos (2013) ou com o medo recorrente de sucumbir para seus pontos fracos em meio a toda “confusão” de O Homem Duplicado (2013). Em Arrival, temos uma protagonista reservada, completamente envolvida com seu trabalho, mas ao mesmo tempo passando por conflitos internos (os quais não vou entrar em detalhes para não comprometer a experiência de quem assistir pela primeira vez).
O que Villeneuve faz com o drama pessoal de seus personagens e a trama geral é criar uma ligação direta, um meio de mostrar como tudo se comunica e avança de acordo com as ações de cada indivíduo da história. Isso pode ser encontrado em outras obras, mas o roteiro de Arrival não apenas flui muito bem como possui uma harmonia entre todas as suas partes que poucos filmes conseguem atingir, principalmente no cinema atual, que deve ser feito e entregue cada vez mais rápido.
Ambientação também é algo importante. Se alguns filmes traziam visuais com panoramas incríveis e efeitos de tirar o fôlego, Villeneuve troca tudo isso por algo menor. Por mais que ainda tenha que se entregar aos truques digitais para criar peças importantes, o filme depende muito mais da direção firme e concentrada com a colaboração da cinematografia de Bradford Young e a música de Jóhann Jóhannsson, que compõe um de seus melhores trabalhos, cheio de urgência e impacto durante as cenas de maior tensão, mas com uma melancolia incômoda envolvendo toda a obra. É um sentimento forte importantíssimo para o longa, e ele pode passar um tempo com você depois de sair do filme.
A velocidade com a qual Villeneuve trabalha é impressionante e talvez uma das razões para ter sido confirmado em dois remakes de grandes clássicos da ficção científica: Blade Runner 2049 e Duna. Ambos carregam enorme peso, com Blade Runner (1982) sendo a adaptação de Ridley Scott do livro de Philip K Dick, um dos maiores clássicos da ficção científica; Já Duna nada mais é do que o projeto impossível de adaptar os livros de Frank Herbert, um sonho do diretor Alejandro Jodorowski que nunca foi para frente (vale muito a pena dar uma assistida no documentário Duna de Jodorowski (2013), que conta a jornada do diretor chileno em busca da equipe perfeita para o filme perfeito). Vale lembrar que Duna teve uma adaptação por David Lynch em 1984, mas este foi um fracasso.
Assim como Ridley Scott, Villeneuve parece ser o novo nome em evidência para os fãs de ficção científica. Talvez seja cedo para dizer se ele fará ou não um bom trabalho com estes dois projetos, mas se depender do que recebemos até agora, as coisas parecem estar indo muito bem e por enquanto não encontro formas de me preocupar. Arrival é um trabalho maravilhoso, e por favor, vamos reconhecer a atuação de Amy Adams.