Se fosse realizado por algum grande estúdio de Hollywood, talvez O Homem Ideal tivesse uma sensibilidade completamente diferente da que temos na adaptação de Maria Schrader, baseada no conto de Emma Braslavsky. Há uma mistura estranha de drama, ficção científica e comédia que funciona bem, muito disso por conta do excelente roteiro de Jan Schomburg e a própria Schrader, e as atuações de Maren Eggert e Dan Stevens. O espectador também pode encontrar similaridades na premissa com filmes como Ex Machina, de Alex Garland, ou o episódio Be Right Back, da segunda temporada de Black Mirror (quando ainda era criativa e a Netflix não forçava temporadas com mais episódios).
A proposta de O Homem Ideal é tão simples quanto a execução, e é por conta disso que o resultado soa tão genuíno. Alma (Maren Eggert), é uma arqueóloga que precisa de recursos para finalizar sua pesquisa, então aceita participar de um experimento no qual passa a conviver com o robô humanoide, Tom (Dan Stevens), programado com a principal função de fazer Alma feliz. Quase uma comédia romântica na superfície, o filme surpreende com a maneira que explora cada aspecto da vida de Alma, e os diversos debates levantados por conta da sua relação com Tom.
Felizmente, esse é um dos raros casos onde souberam aproveitar o talento de Dan Stevens, um ator que fez papéis memoráveis, como na série Legion, ou o filme O Hóspede, mas muitas vezes é escalado para personagens que ficariam ótimos se ele tivesse mais liberdade para explorá-los, e é aqui que Maria Schrader mostra sua força como diretora, construindo um enredo inteligente em volta de atuações mais complexas do que a premissa parece indicar.
Tom começa como um companheiro perfeito para Alma, citando poetas como Rilke, respondendo toda pergunta com um elogio e dançando rumba com a precisão que apenas uma máquina como ele poderia ter, embora o charme de Dan Stevens dê uma dimensão maior para a personagem. Isso faz com que cenas como a tentativa do robô em comprar um café seja uma das mais engraçadas do filme, mas também há momentos mais dramáticos, como quanto precisa lidar com o comportamento avesso de Alma, que não está confortável lidando com uma mudança tão drástica do seu cotidiano, bem mais agitado, de apartamento bagunçado e uma rotina de trabalho pouco saudável, sem contar que, por baixo de toda a frustração de Alma, há um trauma que o roteiro lida com bastante cuidado, e fortalece o drama de um jeito orgânico, sem atrapalhar o humor e o romance que foram estabelecidos anteriormente.
Como mencionei, no começo as interações entre Tom e Alma parece algo saído de uma comédia romântica previsível (algumas são ótimas, mas convenhamos que outras são muito fracas), e realmente não há muitas surpresas na forma como a trama se desenrola, mas cada novo diálogo e cena revela uma enorme evolução na dinâmica entre eles, e por conta da habilidade do robô em evoluir através de experiências frustradas, assim como uma inteligência artificial, o filme passa a apresentar debates mais existenciais, questionando as limitações fundamentais de Tom, as implicações morais e éticas de sua relação com Alma e a dificuldade cada vez maior de definir a humanidade.
O Homem Ideal escapa da possibilidade de sofrer por conta de sua mistura de ficção científica, romance e comédia, e encontra uma maneira de consolidar personagens, enredo e temas com sucesso. Um dos destaques do ano, e muito disso por conta do excelente trabalho de direção de Maria Schrader e sua sensibilidade para explorar tantos elementos de uma forma simples, mas emocionante.
Finalmente, DUNA está entre nós. A adaptação de Denis Villeneuve, do clássico livro de Frank Herbert, já liberou a sua primeira parte. O filme é um épico, mas será que foi tão perfeito quanto esperávamos?
Você está procurando o que assistir no catálogo da HBO MAX? Então sente aí e assista essa lista com TODAS as séries de ficção científica no serviço de streaming da Warner. São mais de 10, incluindo live actions e animações!
Flash Gordon é um dos filmes mais conhecidos da ficção científica, principalmente por adaptar toda a aventura divertida e despretensiosa dos quadrinhos. Essa pode não ser a maior obra da história do cinema, mas o mais impressionante desse filme é a trilha sonora da banda Queen, um dos motivos para, até hoje, esse filme ser lembrado e adorado por tantos.
Nesse vídeo, vamos lembrar do filme de Flash Gordon, os bastidores do longa e da gravação do álbum da banda Queen, que criou uma das melhores trilhas sonora do cinema e da ficção científica.
É impressionante como o departamento de animações da Sony se renovou nos últimos anos, ou parece estar seguindo esse caminho. Depois do sucesso crítico de Homem-Aranha no Aranhaverso, que foi um filme INCRÍVEL, a próxima grande animação do estúdio é mais um projeto com a dupla Phil Lord e Christopher Miller.
Com uma mistura de comédia, road trip e ficção científica, “A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas” nos apresenta Katie Mitchell, uma jovem apaixonada por cinema, que está prestes a partir para a faculdade, e está bastante animada porque não aguenta mais se desentender com seu pai, Rick. Depois de uma briga, ele tenta se redimir com uma viagem de carro em família, o que irrita Katie, já que vai perder sua primeira semana na faculdade, mas eles acabam indo mesmo assim.
Todos finalmente começam a se divertir na viagem planejada pelo pai, mas a jornada é interrompida quando os robôs inteligentes da gigante corporação Pal se rebelam contra a humanidade, que foi quase completamente capturada. Os únicos sobreviventes são os Mitchell, que acabam sendo a única chance de derrotar as máquinas.
Produção original do estúdio Paramount, A Guerra do Amanhã, dirigido por Chris McKay, reúne um elenco conhecido e grande orçamento em um blockbuster de ação e ficção científica. Mas por conta da pandemia de Covid-19, o longa foi vendido para o serviço de streaming Amazon Prime Video, por 200 milhões de dólares, onde conseguiu distribuição mundial.
Em A Guerra do Amanhã, o mundo inteiro é surpreendido com o surgimento de um portal que revela um grupo afirmando ter vindo do ano 2051, trazendo a mensagem de que trinta anos no futuro, a humanidade está perdendo a guerra contra uma espécie alienígena. Para virar o jogo, precisam recrutar soldados e civis do presente e transportá-los para o futuro, onde terão a chance de mudar a história. Isso faz com que o professor Dan Forester, interpretado por Chris Pratt, seja um dos escolhidos para a missão – e assim ele pode salvar o futuro para sua filha, enquanto tenta se reconciliar com dramas do passado.
Com uma premissa simples e um conceito promissor, tudo depende da execução. E ela não é das melhores.
O primeiro grande passo em falso são os diálogos expositivos, que entregam muita informação inicialmente aleatória, mas que claramente servem para resolver um conflito ou entregar alguma revelação no futuro da trama, como acontece com as conversas entre o protagonista e sua filha, ou uma sequência conveniente em que um aluno está ansioso demais para falar sobre um tópico pelo qual é apaixonado, e o espectador pode confirmar que isso fará parte do clímax do filme. Por conta de coisas como essa, o filme torna-se mais previsível do que o necessário.
O tom irregular também prejudica a experiência. Humor, drama e ação não casam bem aqui. Falta foco, e nada é aproveitado como deveria. A ação, isolada, é ótima, então talvez ela te segure, mas não espere muitas surpresas, vá pela diversão apenas, e o elenco carismático. O núcleo dramático fica reservado para a relação entre o protagonista e sua filha, tanto que o longa procura explorar uma dinâmica similar a de filmes como Interestelar, de Christopher Nolan, mas não tem sucesso em carregar o mesmo peso dramático, muito disso por conta do próprio Chris Pratt, um ator com timing cômico impecável, mas quando o filme exige uma atuação mais séria dele, não espere muita coisa.
Felizmente, e infelizmente, Berry Gilpin está no elenco fazendo a esposa do Pratt, e ela é uma ótima atriz, recebendo cada vez mais reconhecimento, mas aqui ela possui pouco tempo em tela e serve apenas como a típica esposa que apoia o protagonista e não possui mais características além disso. E outro estereótipo do gênero está na personagem de Yvonne Strahovski, que atua como uma mulher cientista sem tempo para vida pessoal e que tem toda a personalidade moldada na relação com o pai. Ah, e o J.K.Simmons está no elenco, mas só por alguns poucos minutos, e servindo apenas para tentar criar um apelo emocional na história do protagonista.
A direção é de Chris McKay, mais conhecido por animações, como Lego Batman, e a série Robot Chicken. Tendo isso em mente, faz sentido as cenas de ações serem o ponto alto da obra, com efeitos visuais competentes e um bom conceito para as criaturas alienígenas, que podem ser visualmente genéricas, mas tem uma funcionalidade interessante, com poderes e habilidades específicos, mesmo que passem a maior parte do tempo seguindo a cartilha de criatura monstruosa derrubando tudo e fazendo aquele mesmo som alienígena, que parece um estalar, encontrado em filmes como Sinais ou Um Lugar Silencioso.
Quanto ao roteiro de Zach Dean, não tem muito o que fazer. É previsível e repetitivo, sem contar que todo o sistema de viajar no tempo é muito mal aproveitado. Tiveram a chance de criar algo como Arrival e transformar essa premissa envolvendo um portal capaz de nos levar para o futuro em um enredo com teor sócio-político muito interessante, ou ao menos conceitos de paradoxo bem criativos, mas nada disso acontece. A Guerra do Amanhã é o tipo de filme que você provavelmente vai se divertir bastante assistindo, mas apenas se não colocar muita expectativa no enredo, que tenta criar drama em cima da ação, mas não dá atenção o suficiente para desenvolver as histórias dos personagens além de suas características básicas. Mesmo assim, ele tem ótimos visuais, criaturas bem desenhadas e um elenco carismático.
No dia 13 de abril foram anunciados os finalistas para uma das principais premiações de ficção científica e fantasia da indústria, o prêmio Hugo (ou Hugo Awards), que leva esse nome por conta de Hugo Gernsback, inventor e editor da revista Amazing Stories, a primeira com foco total em narrativas de ficção científica. Desde sua primeira edição, em 1953, temos uma seleção do que há de melhor no gênero, passando pela literatura, quadrinhos, filmes, séries, e pela primeira vez, jogos.
Os votos são feitos pelos membros da World Science Fiction Society (ou Worldcon) e os finalistas de 2021 foram anunciados pelos autores e pesquisadores Sheree Renée Thomas, Malka Older e Ulysses Campbell. Vamos aos indicados da 68ª edição dos Hugo Awards, com alguns comentários rápidos sobre o conteúdo que assisti, e onde você pode encontrá-los.
Melhor Romance
* Alguns dos livros já foram lançados ou possuem distribuição confirmada no Brasil, então esses foram deixados com a editora original e a editora nacional, em itálico.
Black Sun, Rebecca Roanhorse (Gallery / Saga Press)
The City We Became *, N.K. Jemisin (Orbit) – Editora SUMA
The Relentless Moon, Mary Robinette Kowal (Tor Books)
Comentários: Da lista de indicados, dois romances já possuem distribuição confirmada no Brasil. A primeira delas é The City We Became, de N.K. Jemisin, que tem sido premiada praticamente todos os anos por conta de sua série A Terra Partida, que foi lançada por aqui pela editora Morro Branco. Mas dessa vez, a autora será publicada pela editora Suma, que tem focado no mercado de ficção especulativa com mais atenção nos últimos anos.
Além de Jemisin, Susanna Clarke e seu Piranesi foram confirmados pela editora Morro Branco, que tem feito um ótimo trabalho de trazer autores novos e relevantes para o público. Os outros livros ainda não possuem distribuição confirmada, mas dá pra ver que duas séries continuam fazendo bastante sucesso com o público, como Network Effect, da aclamada série de livros Murderbot Diaries, e The Relentless Moon, da série Lady Astronaut. Ambos tem estado presente nos últimos anos das principais premiações do gênero, e me surpreende que ainda não foram confirmadas por alguma editora por aqui.
Melhor Novela
Come Tumbling Down, Seanan McGuire (Tor.com)
The Empress of Salt and Fortune, Nghi Vo (Tor.com)
Finna, Nino Cipri (Tor.com)
Ring Shout, P. Djèlí Clark (Tor.com)
Riot Baby, Tochi Onyebuchi (Tor.com)
Upright Women Wanted, Sarah Gailey (Tor.com)
Melhor Noveleta
Para as noveletas disponíveis gratuitamente, é só clicar nos links. Todas estão na língua original.
Comentários: Com exceção da polêmica Helicopter Story, originalmente intitulada “I Sexually Identity as an Attack Helicopter”, e The Pill, que está disponível apenas de forma paga na coletânea Big Girl, da autora Meg Elison, todas as outras noveletas estão disponíveis para o público.
Melhor Conto
Para os contos disponíveis gratuitamente, é só clicar nos links. Todos estão na língua original.
The Daevabad Trilogy, S.A. Chakraborty (Harper Voyager)
The Interdependency, John Scalzi (Tor Books)
The Lady Astronaut Universe, Mary Robinette Kowal (Tor Books/Audible/Magazine of Fantasy and Science Fiction)
The Murderbot Diaries, Martha Wells (Tor.com)
October Daye, Seanan McGuire (DAW)
The Poppy War, R.F. Kuang (Harper Voyager)
Comentários: Mais uma vez, temos as séries Lady Astronaut e Murderbot Diaries nas mais aclamadas do ano, mas também temos John Scalzi com seu The Interdependency. Ainda não tive acesso aos outros da lista, mas parecem bem interessantes.
Melhor Artigo / Ensaio
Para os artigos e ensaios disponíveis gratuitamente, é só clicar nos links. Todos estão na língua original.
Beowulf: A New Translation, de Maria Dahvana Headley (FSG)
CoNZealand Fringe, de Claire Rousseau, C, Cassie Hart, Adri Joy, Marguerite Kenner, Cheryl Morgan, Alasdair Stuart
FIYAHCON, L.D. Lewis–Director, Brent Lambert–Senior Programming Coordinator, Iori Kusano–FIYAHCON Fringe Co-Director, Vida Cruz–FIYAHCON Fringe Co-Director, and the Incredible FIYAHCON team
Comentários: Desta lista, dá pra ver que temos um livro sobre Octavia Butler, o que é sempre bom, e o reconhecimento de alguns eventos relevantes, além de uma tradução nova de Beowulf e um artigo sobre a polêmica envolvendo a George R.R.Martin apresentando a premiação em 2020, que contou com o escritor de Game of Thrones errando o nome de participantes e cometendo outras gafes. A maior surpresa aqui é o vídeo de Jenny Nicholson, uma criadora de conteúdo que adoro, mas fiquei impressionado em ver reconhecimento por sua análise da comunidade de fãs adultos da série animada My Little Pony. Sério, vale a pena assistir, é um ótimo vídeo.
Melhor Narrativa Gráfica (Quadrinho)
DIE, Volume 2: Split the Party, de Kieron Gillenn, Stephanie Hans e Clayton Cowles (Image Comics)
Ghost-Spider vol. 1: Dog Days Are Over, de Seanan McGuire, Takeshi Miyazawa e Rosie Kämpe (Marvel)
Invisible Kingdom, vol 2: Edge of Everything, de G. Willow Wilson e Christian Ward (Dark Horse Comics)
Monstress, vol. 5: Warchild, de Marjorie Liu e Sana Takeda (Image Comics)
Once & Future vol. 1: The King Is Undead, de Kieron Gillen, Dan Mora, Tamra Bonvillain e Ed Dukeshire (BOOM! Studios)
Parable of the Sower: A Graphic Novel Adaptation, de Octavia Butler (livro original), Damian Duffy e John Jennings (Harry N. Abrams)
Comentários: A prova de que eu estou completamente atrasado nas minhas leituras de quadrinhos é que, dessa lista, reconheci apenas três nomes, e só li um, o ótimo Monstress.
Melhor Dramatização, Longa (Melhor Filme)
Aves de Rapina / Birds of Prey (and the Fantabulous Emancipation of One Harley Quinn), de Cathy Yan (Warner Bros.)
Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga, de David Dobkin (European Broadcasting Union/Netflix)
A Velha Guarda / The Old Guard, de Gina Prince-Bythewood (Netflix / Skydance Media)
Palm Springs, de Max Barbakow (Limelight / Sun Entertainment Culture / The Lonely Island / Culmination Productions / Neon / Hulu / Amazon Prime)
Soul, de Pete Docter e Kemp Powers (Pixar Animation Studios/ Walt Disney Pictures)
Tenet, de Christopher Nolan (Warner Bros./Syncopy)
Comentários: Algumas ótimas escolhas, outras nem tanto. Por mais que o conceito seja interessante, Tenet foi Christopher Nolan demais pra mim, e não no bom sentido. Eurovision é divertido, mas assim como A Velha Guarda, poderiam ter dado espaço para filmes menores e melhores. Soul é ótimo, e Aves de Rapina foi um filme surpreendentemente equilibrado e bem dirigido em um DCEU cada vez mais confuso, mas de longe, a minha escolha de favorito para essa lista vai claramente para o divertido e criativo Palm Springs, que trouxe um enredo bem construído e um elenco ótimo, com Andy Samberg e Cristin Milioti, sem contar um hilário J.K Simmons.
Melhor Dramatização, Curta (Melhor Episódio de Série)
Doctor Who, “Fugitive of the Judoon”, escrito por Vinay Patel e Chris Chibnall, direção de Nida Manzoor (BBC) – GLOBOPLAY
The Expanse, “Gaugamela”, escrito por Dan Nowak, dirigido por Nick Gomez (Alcon Entertainment / Alcon Television Group / Amazon Studios / Hivemind / Just So) – AMAZON PRIME VIDEO
She-Ra and the Princesses of Power, “Heart” (parts 1 and 2), escrito por Josie Campbell e Noelle Stevenson, direção de Jen Bennett e Kiki Manrique (DreamWorks Animation Television / Netflix) – NETFLIX
The Mandalorian, “Chapter 13: The Jedi”, escrito e dirigido por Dave Filoni (Golem Creations / Lucasfilm / Disney+) – DISNEY+
The Mandalorian, “Chapter 16: The Rescue”, escrito por Jon Favreau, dirigido por Peyton Reed (Golem Creations / Lucasfilm / Disney+) – DISNEY+
The Good Place, “Whenever You’re Ready”, escrito e dirigido por Michael Schur (Fremulon / 3 Arts Entertainment / Universal Television, a division of Universal Studio Group) – NETFLIX
Comentários: Podemos ver que a premiação tem alguns favoritos. Não é a primeira vez que vemos essas séries por aqui, e com exceção de Doctor Who, porque estou bastante atrasado nas temporadas, assisti todos os indicados. A segunda temporada de Mandalorian foi muito divertida, assim como She-Ra e as Princesas do Poder, que teve um final maravilhoso. Por falar em final, terminei recentemente a série The Good Place, então está bem fresca na memória e posso dizer que aquele final foi bem emotivo, mas sem perder a graça. E para quem me conhece, sabe que vou soar como um disco arranhado, mas The Expanse é incrível, e Gaugumela foi uma aula de roteiro e direção, sem contar que foi, de longe, o episódio com as melhores atuações da série.
Se você quiser saber mais sobre as MELHORES SÉRIES de 2020, temos um vídeo no canal do Primeiro Contato com a retrospectiva das melhores e piores séries de ficção científica do último ano:
Melhor Jogo (Video-game)
Essa é uma nova categoria.
Animal Crossing: New Horizons (Publisher and Developer: Nintendo)
Blaseball(Publisher and Developer: The Game Band)
Final Fantasy VII Remake (Publisher Square Enix)
Hades(Publisher and Developer: Supergiant Games)
The Last of Us: Part II (Publisher: Sony Interactive Entertainment / Developer: Naughty Dog)
Spiritfarer(Publisher and Developer: Thunder Lotus)
Comentários: Eu admito que não sou muito fã dos jogos atuais, principalmente aqueles com grande detalhe gráfico. Sou do tipo “jogo de plataforma 2d direto ao ponto”, então alguns dessa lista não posso opinar, e outros eu nem conheço ou tenho dinheiro pra jogar (adeus, Animal Crossing, saudade do que nunca tive).
Prêmio John W. Campbell Award para Melhor Escritor Estreante
Lindsay Ellis (primeiro ano elegível)
Simon Jimenez (primeiro ano elegível)
Micaiah Johnson (primeiro ano elegível)
A.K. Larkwood (primeiro ano elegível)
Jenn Lyons (segundo ano elegível)
Emily Tesh (segundo ano elegível)
Lodestar Award para Melhor Livro YA (Young-Adult)
* Alguns dos livros já foram lançados ou possuem distribuição confirmada no Brasil, então esses foram deixados com a editora original e a editora nacional, em itálico.
Cemetery Boys, de Aiden Thomas (Swoon Reads) – Galera Records
A Deadly Education, de Naomi Novik (Del Rey)
Elatsoe, de Darcie Little Badger (Levine Querido)
Legendborn, de Tracy Deonn (Margaret K. McElderry/ Simon & Schuster Children’s Publishing) – Intrínseca
Raybearer, de Jordan Ifueko (Amulet / Hot Key)
A Wizard’s Guide to Defensive Baking, de T. Kingfisher (Argyll Productions)
Este foi mais um ano em que o Hugo Awards tem uma lista de indicados bastante diversa. É interessante ver a quantidade de mulheres nas principais categorias, o que mostra como a premiação segue um caminho mais aberto para representações e pontos de vista diferentes. Assim que os vencedores saírem, voltamos com a lista atualizada!
Mike Cahill é um daqueles diretores com poucos trabalhos no currículo, isso porque ele costuma ter uma visão bem definida do que pretende colocar em seus filmes, a maioria deles sendo narrativas com elementos de ficção científica, mas indo além disso, com uma atenção maior para o componente humano. Seu primeiro longa, A Outra Terra (Another Earth, 2011), uma produção independente com conceitos criativos envolvendo o surgimento de um novo planeta idêntico ao nosso, e um enredo com temas bem estabelecidos sobre redenção. Cahill continuou sua combinação de ficção científica carregada de drama e debates íntimos sobre a condição humana em O Universo no Olhar (I, Origin 2014), onde trouxe um elenco maior e uma proposta mais ambiciosa, sem contar que repetiu a sua parceria com a excelente Brit Marling, atriz que também ficou conhecida por seu trabalho escrevendo o roteiro da série The OA (cancelada cedo demais após apenas duas temporadas).
Então, para aumentar ainda mais a escala, o diretor trouxe Bliss: Em Busca da Felicidade (apenas Bliss no original), com um elenco principal de rostos conhecidos e uma narrativa sobre… bem, sobre tópicos familiares para os fãs de ficção científica, mas que podem ser considerados spoilers pesados. Então, para essa crítica, deixarei os spoilers separados em uma categoria própria, assim você pode ler antes e depois de assistir ao filme. Vamos ao que interessa:
Greg Wittle e seus pensamentos
Preso em um trabalho monótono e sem saída, Greg Wittle (Owen Wilson) passa a maior parte de seu tempo desenhando e imaginando novos mundos onde pode descansar sua mente e não precisa lidar com seu recente divórcio ou a dificuldade para se conectar com os filhos. Mas depois de ser demitido, ou quase, Greg conhece Isabel Clemens (Salma Hayek), uma mulher misteriosa e convencida de que o mundo à sua volta não passa de uma simulação. Mesmo relutante, ele decide ouvir a mulher e ver até onde ela acredita em sua teoria, mas não demora para que Greg comece a perceber padrões e coincidências na conspiração que Isabel criou sobre sua realidade.
Antes mesmo de assistir ao filme, a primeira coisa que me pareceu estranha foi a decisão de ter Owen Wilson e Salma Hayek como os personagens principais. São dois atores competentes, cada um já teve sua parcela de ótimos filmes (Owen com Meia Noite em Paris e Salma com Frida) e alguns desastres (Owen em Gênios do Crime e Salma em Gente Grande), mas nunca os imaginei protagonizando um filme desses. E talvez eu nunca tenha pensado nisso por um motivo, porque a dupla não consegue oferecer tudo que seus personagens precisam em algumas partes.
Salma até consegue um bom trabalho alternando entre uma pessoa extravagante e intimidadora, indo para uma personagem mais contida; mas Wilson mantém seu tom ao longo do filme, e não é como se ele estivesse apenas mantendo a consistência de um personagem com ansiedade. Ele é constantemente bombardeado por novas revelações e, mesmo quando chega em um ponto de completa realização pessoal, nunca parece deixar isso claro. Mas há a chance de tudo isso estar ligado à temática da obra, o que eu não descarto, mas ainda assim não vejo como uma justificativa forte o suficiente.
O que Cahill faz é entregar uma ambiguidade entre realidade e fantasia, revelando sequências absurdas, mas ao mesmo tempo contrabalanceando com pequenos momentos capazes de estabelecer de forma “objetiva” o que estamos vendo, e mesmo assim, não há certeza (talvez consistência seja uma palavra melhor) em qualquer uma das duas perspectivas. Em certo ponto, assistimos Greg se livrar de um grupo de criminosos de uma forma que literalmente desafia as leis da física, mas o próprio enredo do longa estabelece que isso pôde ser realizado por conta de um produto que, aparentemente, Isabel é uma das poucas pessoas capazes de conseguir. Ao mesmo tempo que o filme define uma regra para seus eventos mais absurdos, ele também apresenta uma terceira camada, quase como uma incerteza causada pela própria regra que estabeleceu.
Esse é o tipo de abordagem que eu espero de um diretor como Shane Carruth (do independentíssimo Primer; e o menos independente, mas também menos conhecido Upstream Color), que também adora se aproveitar de narrativas especulativas ou fantasiosas para criar um drama maior através de metáforas e símbolos (falarei deles mais pra frente). Mas enquanto Carruth abraça completamente o abstrato, o que talvez fizesse mais sentido para a ambiguidade que Bliss tenta propor, Cahill chega a flertar com sequências oníricas e jogos de câmera que tentam representar a confusão dos personagens, mas a tentativa de conciliar o drama do protagonista com a dúvida causada pela trama deixa a verdadeira proposta do filme mais óbvia do que o necessário, e em certo ponto surge a sensação de estarmos assistindo um truque de mágica longo demais porque, em algum momento no meio do caminho, acabamos descobrindo como o truque é feito.
Ao Regresso Infinito: Os Temas e as Referências de Bliss
(Spoilers, pule para a Conclusão se quiser evitá-los)
Por mais que na superfície a proposta caminhe em um território fantasioso, não demora para ficar claro que estamos lidando com um roteiro que utiliza a ficção científica de forma simbólica, um pano de fundo para debater tópicos mais delicados, nesse caso, o vício. Na primeira cena podemos ver Greg tomando pílulas controladas, e pelo que seu diálogo indica, elas acabaram. Além disso, o protagonista sofre ao tentar manter-se limpo das drogas, mas acaba tendo uma recaída ao encontrar Isabel, que o induz a tomar cristais capazes de fazê-lo “acordar da falsa realidade em que vive”.
Por mais que o filme aparente criar uma certa estabilidade na forma como suas sequências mais surreais são apresentadas, o diretor nunca nos deixa sozinhos tempo o suficiente com nossos pensamentos. A intenção é clara e tudo com o que ficamos é a incerteza sobre as regras daquele mundo e a percepção de realidade do protagonista, mas quando essa dúvida é rapidamente deixada de lado (logo na cena em que os dois são liberados da prisão, podemos ver a entrada para um centro de reabilitação), o filme continua com sua estrutura de procurar nos deixar (desnecessariamente) em uma área mais nebulosa, alternando entre a jornada de Greg e o desespero de sua filha em ajudá-lo.
Outro tema bastante explorado por Bliss é o argumento da regressão infinita, envolvendo uma batalha entre nosso conhecimento e crenças, e assim Greg está constantemente questionando sua realidade, mas ao mesmo tempo, tentando justificá-la. Em uma cena-chave temos uma personagem interpretada pelo divulgador científico Bill Nye, que menciona a expressão “Turtles all the way down”, que é basicamente uma das principais representações desse conceito, envolvendo uma tartaruga apoiada no casco de outra tartaruga, e depois outra, e por aí vai. Essa ideia do constante retorno, da tentativa de justificar algo com um argumento que apenas dificulta a compreensão do que foi estabelecido originalmente é uma que já foi interpretada em outras mídias, como em It: A Coisa, de Stephen King, ou os livros da série Discworld, de Terry Pratchett.
E já que estou mencionando participações especiais (Bill Nye interpreta uma personagem, mas é basicamente ele), uma que me pegou de surpresa foi a do filósofo Slavoj Zizek, que aqui está em um de seus monólogos sobre ideologia social, mas como um holograma na “verdadeira realidade” apresentada por Isabel. Na cena, ele menciona como talvez o conceito de inferno não seja tão ruim quanto dizem, e continua com seus maneirismos, o que foi bem divertido de ver, sem contar que ele não poderia fazer uma ponta no filme sem mandar um de seus “And so on”.
Conclusão
O envolvimento de Cahill no projeto me deixou animado para o que esse filme pudesse ser, e o fato de ele estar por trás do roteiro fez com que tudo parecesse ainda mais seguro. Por mais que os temas sejam genuinamente interessantes, é a forma como o filme trabalha seus símbolos que realmente me fez considerar esse um de seus trabalhos mais fracos. Ainda há muito o que ser aproveitado aqui, como a trama principal da filha de Greg o procurando pela cidade, ou a perseguição nos minutos finais, mas a tentativa de transformar uma narrativa especulativa em uma metáfora para assuntos mais delicados não terminou bem, e ficamos com uma execução rasa e previsível para o que poderia ser um estudo de personagem bem mais envolvente.
Não desistirei de Mike Cahill tão fácil, mas talvez seja hora dele lembrar porque seus filmes menores foram tão queridos, e não foi pelo elenco mais famoso ou um maior orçamento, mas pela forma inteligente com que conduzia seu enredo.
“Bliss: Em Busca da Felicidade” está disponível na Amazon Prime Video
Poucos projetos são tão ambiciosos quanto absurdos como Biosphere 2, uma empreitada comandada por um grupo de artistas engajados em desenvolver uma comunidade capaz de conscientizar as pessoas sobre os desastres ambientais do planeta, e para isso idealizaram uma redoma gigante que abrigava uma réplica do ecossistema terrestre. Em setembro de 1991, com a ajuda do investimento milionário de um herdeiro da indústria do petróleo, uma equipe de oito pessoas entrou na redoma, onde viveriam por dois anos, para poder testar a possibilidade do ser humano sobreviver no espaço. O que parecia a premissa de uma obra de ficção científica tornou-se um dos eventos mais comentados da década, principalmente com o envolvimento da imprensa, que além de observar cada passo da equipe, também começou a questionar suas intenções e o aspecto de culto em volta dos membros – a maior parte deles sem qualquer conhecimento científico – e seu líder carismático, John Allen.
O documentário, dirigido por Matt Wolf, conta com entrevistas de quase todos os envolvidos no projeto original e constrói uma linha temporal que apresenta, em sua maior parte de forma bem linear, o encontro desse grupo de artistas duas décadas antes do evento, quando ainda eram apenas hippies em moradia coletiva, até o dia em que seu grande projeto foi posto em ação. Por mais envolvente que seja a primeira metade do longa, onde conhecemos melhor cada membro do projeto, o que realmente chama a atenção do espectador são os obstáculos encontrados pela equipe assim que entram na Biosphere 2. O problema está na demora para o filme realmente abordar a proposta principal, que chega quase na metade da duração, e infelizmente não explora o suficiente do isolamento social, o que além de extremamente atual durante tempos de Covid-19, era facilmente a parte mais interessante de todo o documentário.
Algumas das filmagens de arquivo são muito boas, mostrando a equipe em sua rotina de trabalho, cuidando das plantações e animais, mas também seu momento de lazer, tentando cozinhar utilizando o mesmo alimento por dias. E as coisas se complicam quando diversos contratempos começam a surgir, então seria uma boa decisão se tivéssemos mais disso, mas sem comprometer o que foi introduzido anteriormente. Não é como se houvesse pouco conteúdo para ser explorado, já que apenas nos minutos finais o longa decide debater as consequências do projeto, que foi parar nas mãos de pessoas com uma intenção completamente diferente da originada pelo grupo, e isso já seria suficiente para mais uma hora de rodagem. Uma montagem mais dinâmica poderia ter ajudado no ritmo e na divisão da linha temporal, mas mesmo que seja uma oportunidade perdida, o que temos é o suficiente para compreender a missão de John Allen e seus seguidores.
Independente da estrutura, Missão Planeta Terra vai além de uma jornada previsível sobre um grupo de idealistas tentando mudar o mundo com sua atitude positiva e trabalho em equipe para ter seus sonhos despedaçados por ganância corporativa. O que Matt Wolf procura está na forma como nossas ambições se tornaram cada vez menores, e nosso pessimismo tem se tornado algo quase recorrente. Em certo ponto do documentário, um dos entrevistados diz não culpar a imprensa e seus questionamentos, isso porque logo temos uma figura que representa o verdadeiro antagonista do longa, e sua atitude é apenas um reflexo de porque temos menos empreitadas como essa.
John Allen e sua equipe podem não ter sido as pessoas ideais para o projeto, mas o filme não tenta julgá-los ou os responsabilizar completamente por todos os problemas. Assim, ficamos com uma sensação quase melancólica de como somos rápidos em julgar tudo de forma cínica quando poderíamos contribuir para uma melhora significativa. É triste ver como nosso fascínio pela exploração espacial e o futuro da humanidade foram rapidamente tomados por um pessimismo tão grande, mas será que ainda há espaço para qualquer otimismo ou estamos apenas esperando pelo fim?
Esse pode ser um documentário simples e bem objetivo em sua proposta, mas ainda assim vale a pena a indicação por conta dos temas que consegue explorar e os entrevistados, que entregam alguns comentários relevantes sobre a situação, criando um paralelo com sua situação e os últimos anos tomados por uma pandemia, o que também afetou profundamente nossas vidas.