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Watchmen | An Almost Religious Awe – S01E07

Chegando mais próximo de sua conclusão, a primeira temporada de Watchmen vem mostrando como é capaz de mesclar o material original de Alan Moore com seus derivados pela DC Comics e o longa de Zack Snyder, mas criando algo novo e impactante. Em An Almost Religious Awe, sétimo episódio da temporada, Angela ainda lida com seu passado, enquanto a investigação de Laurie fica mais arriscada e Adrian Veidt prepara sua defesa. 

As alternâncias entre passado e presente continuam importantes, e se formos considerar as revelações desse episódio, a noção de tempo talvez seja o detalhe que devemos prestar mais atenção. Mas antes de irmos para as teorias e referência, preciso mencionar algumas informações relevantes listadas no PeteyPedia (o site onde o agente Petey cataloga suas evidências). 

A primeira informação é um indício forte da revelação final do episódio: em um arquivo secreto sobre a origem de Sister Night, Petey menciona filmes famosos por parodiar ou homenagear a cultura de super-heróis, e um deles se chama O Superman Negro, uma paródia de Dr. Manhattan. No relatório, também é mencionado um crítico chamado Mr. Ebert, uma referência ao famoso crítico cinematográfico Roger Ebert, que morreu em 2013 mas mantém um legado através de seu site.

Petey termina seu texto dizendo que Will Reeves comprou o cinema onde esteve quando o ataque de Tulsa tomou conta, e vem passando o filme Sister Night desde 2017, quando Angela começou a usar a máscara. Ele menciona o termo “milagre termodinâmico”, algo que Jon dizia nos quadrinhos, mas na série ele provavelmente ouviu de Laurie durante a viagem de carro que fizeram até o Relógio do Milênio alguns episódios atrás. 

O segundo documento, ainda mais estranho, é um relatório médico de 2009, no nome de Calvin Jelani, o marido de Angela. No preenchimento do relatório, podemos ver que Cal apenas conheceu seu pai, que de acordo com ele morreu de um ataque cardíaco e tinha alzheimer, mas quanto à mãe e os avós, nada sabe. Ele também não tem filhos ou irmãos. 

Mas fica mais curioso quando lemos a descrição do médico sobre o estado de Cal, escrevendo que ele foi encontrado por Angela visivelmente confuso, com uma pequena contusão na testa (não mais visível), e agora apresenta lapsos de memória e sintomas de transtorno dissociativo e perda de identidade. Nas anotações finais, diz que o paciente é passivo e quieto, e gostou muito de um boneco de Dr. Manhattan que estava na sala de consulta. 

Se você terminou esse episódio na dúvida, o PeteyPedia com certeza deixou as coisas mais claras. Então, vamos para…

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • O episódio abre com um documentário sobre a origem de Jon Osterman, que viria a se tornar Dr. Manhattan, e seu envolvimento na guerra do Vietnam. É revelada uma imagem de Jon quando criança, além da calçada onde a loja de seu pai ficava, além de seu impacto cultural, criando a bateria de lítio capaz de manter a energia renovável que Veidt tanto almejava. É logo em seguida que temos o primeiro vislumbre de Manhattan atuando na guerra.

    A câmera se distancia do documentário, revelando uma locadora em Saigon, onde uma jovem Angela Abar tenta comprar um filme da onda blaxploitation chamado Sister Night, o que deixa clara a principal inspiração da personagem para seu alter ego fantasiado. Entre os filmes da locadora também temos uma adaptação do livro Fogdancing, escrito por Max Shea, um personagem da HQ que também é responsável por escrever várias edições do quadrinho Cargueiro Negro.

    Nas ruas de Saigon, Angela caminha ao som de Living in America, de James Brown, entre as pessoas fantasiadas de Manhattan durante uma comemoração do “herói”, e fica assistindo uma pequena apresentação envolvendo um fantoche do cientista azul. Essa imagem faz referência a um diálogo nos quadrinhos entre Jon e Laurie, onde ele comenta como todos somos fantoches, mas ele consegue ver suas cordas. Isso também pode ser uma alusão visual à capa da oitava edição do quadrinho The Doomsday Clock, a mais recente tentativa da DC em inserir Watchmen no seu universo padrão. 
  • Voltamos ao presente, onde Angela continua seu tratamento para tirar os resíduos de Nostalgia da sua corrente sanguínea e de seu cérebro. Lady Trieu e ela conversam bastante sobre o verdadeiro propósito do Relógio do Milênio, o que descobrimos no fim do episódio. Mas o que eu quero ressaltar aqui é uma outra referência aos quadrinhos, mais voltada para sua iconografia, com a personagem Bian fazendo um teste de empatia com Angela usando cartões, o que é bem similar ao tratamento de Rorschach pelo Dr. Malcolm Long na HQ. Na cena, Angela lembra quando começou a sonhar em trabalhar na polícia.

    Nesse ínterim, Pirate Jenny e Red Scare ficam de tocaia esperando por Angela, enquanto Cal tenta visitá-la, mas é barrado na entrada. Cortamos para Petey, que investiga o bunker de Looking Glass e encontra o grupo da Kavalaria que tentou pegá-lo de surpresa, mas não contavam com a inteligência do personagem. Além disso, Laurie visita a Sra. Crawford e acaba capturada pela Kavalaria. 
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  • Agora, para o “365º dia em julgamento do Povo contra Adrian Veidt”. Adrian espera pelo Guarda, que agora atua como o juiz de seu caso. A Madame Promotora é, obviamente, uma das várias Sra. Crookshanks, e através de sua apresentação para o júri, o público que não tem afinidade com os quadrinhos pode descobrir ainda mais informações sobre o plano de Veidt que causou o clímax da HQ, envolvendo a lula gigante e o assassinato de milhões de pessoas.

    Quando o juiz percebe que os clones presentes não podem julgar Adrian por seus atos, pede para que tragam uma vara de porcos para definir o destino do acusado, que é declarado culpado. A cena é bizarra, como todas envolvendo o personagem, e parece ter saído direto do filme Chinatown, onde um pastor invade um tribunal com suas ovelhas (essa provavelmente não é uma referência, mas lembrei na hora). O mais curioso da cena, na verdade, é que Adrian parece realmente decepcionado pelo resultado do julgamento, o que é estranho considerando como ele parecia ter tudo ensaiado e sob controle o tempo inteiro. 
  • Angela procura por seu avô, mas acaba encontrando o que não deveria, mas parece estar cada vez mais perto da verdade. Descobrimos o destino de Laurie, que vai parar no esconderijo da Kavalaria. Lá, o senador Keene começa seu discurso sobre uma América cada vez mais “distante de suas origens” e como “é extremamente difícil ser um homem branco na América agora” ¬¬’. Laurie revira os olhos para os comentários idiotas do senador, mas não deixa de ficar preocupada com o verdadeiro plano da Kavalaria: capturar Dr Manhattan e transformar os membros supremacistas em novos “deuses”, assim como Jon
  • Mais uma volta ao passado, dessa vez temos o retorno de June, a ex-esposa de Will e avó de Angela. Assistimos June tirando Angela do orfanato e prometendo uma vida diferente para a criança, mas para continuar a onda de desgraça na vida da personagem, a idosa colapsa no meio da rua assim que pede um táxi para levar a menina para casa.

    Angela se desconecta dos cabos que Lady Trieu estava usando para drenar a Nostalgia de Angela e colocar em um elefante (?). Essa cena é indicada no começo do episódio, quando entre os filmes da locadora em Saigon, há uma fita de um desenho animado chamado Trunky, sobre um bebê elefante. Agora não lembro de elefantes nos quadrinhos, a não ser que você considere a logo do restaurante de comida indiana Gunga Dinner, que é basicamente um elefante rosa. Rorschach vivia comendo lá.

    Investigando o Relógio do Milênio, Angela encontra uma sala escura onde Lady Trieu guarda todas as gravações de todas as caixas telefônicas que espalhou pelo mundo para que as pessoas pudessem mandar suas orações para o Dr. Manhattan. Além da referência visual aos quadrinhos, no qual Adrian e Manhattan conversam separados por um globo, a conversa entre Trieu e Angela traz a maior revelação da temporada, de que Jon está entre nós, caminhando em Tulsa. Isso não parece impressionar Angela, que vai embora. 
  • Chegando em casa, Angela conversa com Cal, e temos a reviravolta de que seu marido era esse tempo todo o próprio Dr. Manhattan, ou um representação dele, já que nos quadrinhos o personagem diz que no futuro pretende criar novas formas de vida. Angela acerta a cabeça de Cal com um martelo e retira de lá um pequeno símbolo de hidrogênio, o mesmo que Manhattan carrega desenhado em sua testa.

    Enquanto assistia, imaginei que Cal fosse apenas uma pessoa criada por Manhattan e que Angela estivesse falando com ele através do marido, mas se observarmos com atenção, no reflexo do olhar de Angela, podemos ver a silhueta de Cal, agora brilhando com uma forte luz azul, se levantando do chão lentamente, confirmando que ele é na verdade o próprio cientista. 

Você esperava por essa reviravolta?
Em retrospecto, agora faz ainda mais sentido não termos revelações sobre o tal “acidente” de Cal, ou porque o casal não teve filhos biológicos, e coloca bastante sentido na cena em que Laurie comenta para Angela sobre uma visita que fez a sua casa e achou Cal “interessante”. Parece que a série foi mais esperta do que eu imaginei (coloquei todas as minhas fichas no garoto Topher, que estava literalmente fazendo uma construção igual a do Manhattan em um episódio), e estou adorando o caminho que ela está tomando.

Semana que vem tem mais. Faltam apenas dois episódios.
Nos vemos em breve.
Tic. Toc. Tic. Toc.

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Watchmen | This Extraordinary Being – S01E06

Se Little Fear of Lightning impressionou o público com uma abordagem mais íntima do cotidiano de Looking Glass, This Extraordinary Being volta ao passado para mostrar as origens do avô de Angela, Will Reeves. Dirigido por Stephen Williams, o mesmo de She Was Killed by Space Junk, o episódio dessa semana prova que Watchmen tem mais ambição do que ser apenas uma continuação da obra original de Alan Moore, criando uma narrativa que se aproveita dos temas do quadrinho mas cria algo completamente novo, ainda mais político do que antes (e não se engane, se acha que quadrinhos e política não se misturam, preciso dizer que você nunca leu um quadrinho).

Com uma montagem e direção impressionantes, esse episódio alterna entre o colorido e o preto e branco com a intenção de criar um ritmo mais dinâmico, inserindo elementos que não fazem parte do período em cena. É engraçado ver como nos primeiros minutos temos mais um momento inspirado em Zack Snyder para exibir um trecho da série American Hero Story, e como ao longo do episódio são usadas técnicas comuns do diretor, como a câmera lenta e agitada durante as sequências de ação, mas com o diferencial de que aqui Stephen Williams utiliza a técnica com propósito narrativo, congelando a cena para criar uma interação dramática entre Angela e seu marido, mas ao mesmo tempo, Angela e Will. O uso de plano sequência e transições através de portas e janelas são algumas das decisões que fizeram esse episódio tão bom.

This Extraordinary Being deixa de lado todas as tramas paralelas e se dedica a jornada de Will, um policial negro atuando em um EUA tomado pela tensão racial. A série tem abordado o tema de legado constantemente, e aqui podemos ver como as ações de uma pessoa podem influenciar e começar uma reação em cadeia difícil de ignorar, e é por isso que a série tem dado tanto destaque para a maquiagem no rosto de Angela, um paralelo com o que seu avô fez décadas atrás. São pequenos detalhes como esse que deixam Watchmen mais envolvente. Mas vamos falar mais disso nas teorias e referências. 

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

  • A primeira referência que merece ser mencionada é a própria logo da série, que através da fumaça de um cigarro vai de Watchmen para Minutemen, o primeiro grupo de heróis formados nos quadrinhos. Depois disso, temos Justiça Encapuzada sendo interrogado por dois agentes, abordando seu envolvimento com Nelson Gardner, o Capitão Metrópole. É claro que estamos assistindo um trecho da série American Hero Story, porque logo em seguida, Justiça Encapuzada dá um salto por cima da mesa e espanca os agentes. 
  • Voltamos para Angela, que está em uma cela, alucinando por conta das pílulas de Nostalgia que tomou no episódio anterior. Ela entra em coma e começa a reviver o passado de seu avô, Will. Primeiro, temos um jovem Will, interpretado por Jovan Adepo, recebendo seu distintivo da polícia, junto de um alerta misterioso para tomar cuidado com os “Ciclopes”. Mais tarde, Will janta com June (Danielle Deadwyler), e conversam sobre seus traumas passados, e como ele ainda não abandonou sua raiva, o que pode influenciar negativamente seu trabalho na força. Mesmo negando, Will continua tendo pequenos choques de realidade, confundindo passado e presente. 
  • Durante uma de suas patrulhas noturnas, Will passa em uma banca e vê as notícias de que os nazistas estão avançando para o oeste. Continuando sua caminhada, se depara com um homem (interpretado por Glenn Fleshler), visivelmente bêbado, ateando fogo em um estabelecimento comandado por uma família judaica. Will o confronta, descobre que o nome do homem é Fred, mas não parece nem um pouco preocupado em ser levado para a delegacia. E é lá que vê pela primeira vez um dos oficiais fazendo um sinal acima da testa, representando o olho do ciclope. 
  • De volta às ruas, Will vê um homem lendo a primeira edição de Action Comics, o quadrinho que deu origem ao Superman. Esse é um detalhe curioso já que, assim que os heróis como Minutemen e Watchmen surgem naquele mundo, o interesse do público em ficção com super heróis cai, por isso uma das HQs mais vendidas é uma aventura envolvendo piratas. Isso é o contrário do que aconteceu em nossa realidade, já que o primórdio dos quadrinhos foi composto por piratas e criaturas, mas isso foi abandonado por homens em colã e cueca por cima da calça. 
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  • Mais tarde, Will é abordado pelo mesmo grupo de policiais que acabou liberando Fred. Eles espancam Will, além de cobrir seu rosto e tentar enforcá-lo, mas liberam ele com um aviso de que não deve mais se envolver com seus assuntos. Machucado, e cheio de raiva, Will caminha pela noite com uma corda em seu pescoço, até escutar um casal gritando por ajuda. O jovem policial cobre seu rosto e parte para cima dos criminosos, começando assim suas atividades como vigilante, confirmando que ele era esse tempo todo o Justiça Encapuzada.
  • Chegando em casa, Will e June conversam sobre o filme que o inspirou a se tornar um policial, Trust in the Law, o mesmo que assistiu durante os protestos em Tulsa quando criança, no primeiro episódio. Os dois conversam sobre a possibilidade de Will ser um vigilante, então decidem esconder sua identidade pintando o rosto para que não entregue sua cor. 
  • Em sua primeira patrulha como Justiça Encapuzada, Will encontra um dos esconderijos dos ciclopes, além de um livro que estiveram usando sobre Mesmerismo, uma forma de hipnotismo, mas desenvolvida por Franz Mesmer e com aplicações reais para colocar as pessoas em um estado de transe. Na série, isso é usado pelo KKK contra a comunidade negra, e mais tarde, por Will.
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  • E Capitão Metrópole faz sua primeira aparição. Em seus trajes civis, como Nelson Gardner, visita a casa de Will e tenta recrutá-lo para os Minutemen. Não demora para também vermos a relação mais íntima dos dois, conversando na cama sobre os futuros projetos do grupo de heróis. Ao voltar para casa, Will descobre que June está grávida e é confirmado que ela era o bebê do primeiro episódio. 
  • No primeiro encontro de Justiça Encapuzada com os Minutemen, Will tem a triste surpresa de notar como o grupo está mais interessado em aparências e publicidade, ao invés de realmente combater o crime, e um cartaz do Dollar Bill capturando um homem negro em defesa do Banco Nacional não ajudou a situação. O mais estranho nessa sequência é como Capitão Metrópole parece mais confiante do que sua versão nos quadrinhos, porque mesmo sendo o líder do grupo, sempre teve mais interesse em salvar as pessoas, tanto que foi isso que o deprimiu durante os encontros com os Watchmen. 

    É nessa cena que Metrópole menciona pela segunda vez o nome do vilão Moloch, um dos arque-inimigos do Comediante. Na HQ, Rorschach visita Moloch, agora aposentado e respondendo por seu nome civil, Edgar Jacobi. Ele acaba sendo uma das vítimas do plano de Veidt.
  • Voltando ao seu trabalho de policial, Will entra em um cinema onde um grupo de negros foi atacado violentamente por seus próprios companheiros. Will acha isso estranho e investiga o caso, descobrindo que os ciclopes estão usando projetores de filme para induzir mensagens de violência contra a comunidade negra através do mesmerismo. Isso o deixa irado e faz com que decida fazer justiça com as próprias mãos, então vai ao armazém dos ciclopes, atira em cada um deles e queima o local. 
  • Anos se passam e confirmamos mais uma teoria com Will usando sua lanterna (e a técnica do mesmerismo) para convencer Judd Crawford a se enforcar. As memórias e o pesadelo de Angela termina quando acorda ao lado de Lady Trieu, no que parece ser o Relógio do Milênio.

Esse foi um episódio mais contido, mas ainda assim revelou MUITA coisa que ainda estava em aberto na série. Vamos ver se semana que vem, com o julgamento de Veidt, descobrimos ainda mais.

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Rick and Morty | The Old Man and The Seat – S04E02

Em The Old Man and The Seat, segundo episódio da quarta temporada de Rick and Morty, temos duas linhas narrativas aparentemente distintas, mas mais uma vez unidas pelo tema principal do episódio, e esse tenta ser o mais claro possível com o conceito abstrato mais complexo de todos: amor. 

Rick tem um estagiário chamado Glootie, dublado por Taika Waititi (What We Do In The Shadows). Ele tem tanta vontade de criar um aplicativo com alguém que Rick precisa tatuar um aviso na testa de Glootie para que ninguém aceite seu convite. Mas é óbvio que Jerry fica com pena do estagiário e aceita desenvolver um aplicativo de relacionamento chamado LoveFinderrz, capaz de conectar a pessoa que melhor combinar com você. Enquanto isso, Rick, que considera uma pessoa envergonhada na hora de “fazer o número dois”, vai a outro planeta para desfrutar do silêncio e conforto de seu próprio banheiro ao ar livre, uma privada em um bosque colorido, mas descobre que alguém esteve ali usando seu trono, isso faz com que ele saia em uma caçada para acabar com o responsável por invadir seu espaço. 

Enquanto a trama envolvendo LoveFinderrz é uma clara piada com as várias ferramentas de relacionamento que você encontra em qualquer loja virtual, como Tinder (uma das ideias originais de Jerry era chamar o aplicativo de CUPIDR), a de Rick e sua privada é mais um momento importante para o desenvolvimento do personagem, que culmina em uma das cenas mais depressivas da série, mesmo que esse tenha sido um episódio bem positivo em um aspecto, a interpretação do conceito de amor.

Se em temporadas passadas Rick and Morty considerou o amor apenas uma “reação química que permite o acasalamento humano”, em The Old Man and The Seat recebemos uma mensagem contrária, e é onde as duas tramas convergem, mostrando como é impossível conviver com alguém apenas por conta de gostos similares ou pequenas afinidades, e o verdadeiro amor se constrói através de tentativa e erro, e temos isso nos personagens de Jerry e Beth, que mesmo tendo se divorciado na temporada anterior, acharam um jeito de se amar – por enquanto. 

Rick and Morty

Mas não é apenas de relacionamentos amorosos que estamos falando, mas de amizade também. Quando Rick encontra o violador de sua privada, Tony, dublado por Jeffrey Wright (Westworld), também descobre que o homem não se importa com a possibilidade de ser assassinado por Rick, isso porque ele perdeu sua esposa e agora não encontra significado na vida.

Durante a primeira conversa dos dois, Tony diz: “Sabe o que alguém quer dizer quando precisa defecar discretamente? É uma desculpa para mostrar quem está no controle. Você quer tomar conta da única parte da vida que considera ser sua e quer proteger de um universo que pega tudo o que quer. Pegou a minha esposa, e claramente pegou algo seu”. Isso atinge Rick com tanta força que os dois começam uma bizarra relação onde a privada de Rick continua sendo violada, e ele chega a se vingar colocando Tony em uma simulação na qual se reencontra com sua mulher em um paraíso repleto de vasos sanitários. Descobrimos que Rick não teve coragem de matá-lo, então Tony faz um convite de amizade, que não é aceito. 

Rick continua planejando maneiras de se vingar de Tony, mas quando vai visitá-lo no trabalho para entregar chocolates com -algum tipo de- laxante, recebe a notícia de que ele morreu enquanto tentava viver a vida ao máximo esquiando. Rick fica sem reação e volta para sua privada, onde instalou uma mensagem holográfica como pegadinha para quando Tony fosse invadir seu espaço novamente, assim ele senta em seu trono, deprimido, enquanto assiste a si mesmo dizendo o quão patético e solitário é. 

Rick and Morty

Sabemos que Rick perdeu alguém no passado (provavelmente um Morty, o que é indicado no episódio Get Schwifty, da segunda temporada), então seguiu a mesma visão anarquista sobre o universo que Tony aceita depois da morte de sua esposa. A relação dos dois homens existe por conta de suas perdas traumáticas, são visões parecidas de mundo e realidade, o que nesse caso, ao contrário dos aplicativos de namoro, podem criar uma forma amizade. É uma coisa complexa demais para alguém como eu, que não tenho uma bagagem filosófica expressiva, mas podemos ver como os temas do episódio parecem indicar uma mudança na abordagem da série, um pouco menos niilista, comentando sobre seu próprio papel entre outras séries que exploram questionamentos similares. 

É engraçado ver o contraste entre a humanidade e a raça do estagiário Glootie, comandada pelo líder e a rainha Monogatron (a piada sobre monogamia está pronta já no nome), que parecem ser bem ajustados e avançados em departamentos que envolvem relacionamento, tendo como principal ambição a conquista da água de nosso planeta, mas é claro que nem eles tem um casamento perfeito.

“Como uma civilização pré-aplicativo, o valor do seu amor é definido pela escassez. Vocês são altamente treinados para procurá-lo, e vocês não têm ideia alguma de como mantê-lo. Se tivessem se dedicado a compreender o amor, teriam aprendido que é tão abundante quanto água. Mas sabe o que não é abundante? Água. Essa porcaria acaba”.

Agora, para algumas referências:

  • Uma coisa que adoro é tentar adivinhar os atores convidados para fazer as vozes de alguns personagens, então fiquei bem feliz em reconhecer a voz de Dan Harmon, o criador da série, como uma mosca gângster chamada Vermigurber. Sem contar que ele adora fazer piada metalinguísticas sobre o andamento da trama e as possibilidades que o universo de Rick and Morty pode abrir, e isso fica evidente quando ele diz: “Eu achei que isso fosse sobre drogas ou armas, ou pelo fato de eu ser uma mosca comandando um restaurante para sapos. Há uma milhão de coisas interessantes sobre mim, mas nenhuma delas envolve um sanduíche”.
Rick and Morty
  • Uma referência que pode passar batida para alguém assistindo o episódio no idioma original é a cena em que Rick menciona a abertura da série clássica A Família Buscapé (The Beverly Hillbillies, no original), onde um personagem atira com sua escopeta e encontra petróleo jorrando dentro de um lago. Rick compara a sequencia com o que vai acontecer assim que Tony tomar os seus laxantes em forma de chocolate, dizendo que tudo vai ficar parecendo um “Texas tee”, ou “chá do Texas”, que é como a música tema da série de 1962 chama o petróleo.
     
  • A segunda vez que Rick volta para seu laboratório e apaga o registro de Tony invadindo sua privada, escutamos uma música bastante sugestiva tocando na caixa de som, chamada “My Shit”, de A-Boogie Wit Da Hoodie. Escute.
Rick and Morty
  • O título do episódio é uma referência ao livro de Ernest Hemingway, O Velho e o Mar, sobre um velho pescador sem sorte que é encorajado por um amigo a pescar mais uma vez. 
  • Na cena pós crédito, o que parece ser algo recorrente nesta temporada, Jerry abre sua geladeira e nela podemos ver uma caixa de leite com uma imagem da criança que enfrentou Morty no episódio anterior, ou seja, ela está desaparecida. Ao lado da caixa, também é visível o servo robô que Rick criou com o único propósito de “passar manteiga”.
Rick and Morty

O que achou do episódio?
Parece que as coisas estão seguindo um rumo positivo até demais, o que pode indicar que as coisas vão ficar bem ruim. Vamos ver.

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Watchmen | Little Fear of Lightning – S01E05

Um episódio impactante: finalmente tivemos a revelação da grande conspiração que todos mencionam (ou é o que querem que pensemos), e seguimos a rotina de Looking Glass, com sua história de origem e mais sobre suas motivações, o grupo de apoio e até vida romântica. Dirigido por Steph Green, a diretora responsável por episódios de The Americans e O Homem do Castelo Alto, Little Fear of Lightning é o episódio mais tenso até agora, revelando muito mais informação do que esperávamos, ainda assim criando novos mistérios.

O título do episódio vem de uma citação do autor Jules Verne, na qual ele diz que “Se não houvesse o trovão, os homens teriam pouco medo do relâmpago”. Essa afirmação está ligada diretamente aos temas desse episódio, com Looking Glass revelando que ainda é paranóico sobre a chuva de lula e mostrando como a maior arma de Adrian, o medo, venceu a humanidade e será utilizada mais uma vez para que uma possível utopia seja alcançada. 

Mas aconteceu tanta coisa que eu vou pular direto para…

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen
  • Começamos na cidade de Hoboken em 1985, o dia em que a lula mutante de Adrian Veidt caiu dos céus e causou pânico e destruição por quilômetros, causando assim uma “trégua” entre EUA e Rússia durante a guerra fria. Assistimos um ônibus parar em frente a um parque de diversões, quando um grupo de testemunhas de Jeová desce com o propósito de espalhar a palavra de Deus para todos os “pecadores”.

    Um dos membros da caravana é um jovem Wade Tillman, o Looking Glass, que parece questionar sua presença ali, até que ser convidado por uma menina para o salão de espelhos e promete sexo para o jovem. É claro que tudo foi uma pegadinha e ela foge com as roupas de Wade, o que o traumatiza, mas alguns segundos depois algo ainda mais traumatizante acontece: a lula mutante gigante de Adrian. Assim temos a história de origem de Looking Glass e da paranoia de Wade, o protagonista desse episódio.

    Enquanto Wade caminha pelo parque, podemos ver várias referências aos quadrinhos, como a revista sobre fisiculturismo de Adrian Veidt, a Veidt Metod, o pôster da banda Pale Horse, e alguns de seus fãs, os Knot Tops, uma gangue que serve como os skinheads do universo de Alan Moore. Mais tarde no episódio, também descobrimos que Steven Spielberg lançou um filme chamado Pale Horse que, de acordo com a descrição de um dos personagens sobre uma menina usando roupas vermelhas em um filme inteiramente preto e branco, aparentemente serve como o Lista de Schindler daquela realidade.

    No fim da cena, quando Wade já está nu em meio aos destroços, a câmera se distancia e revela a lula gigante que Adrian teleportou até Nova York. 
  • Voltamos para o presente, no meio de um comercial que serve para convidar as pessoas de volta para Nova York, mostrando que o terror espacial não faz mais parte do cotidiano. Entre um dos motivos para visitar a cidade, temos uma breve imagem de um casal saindo de uma peça da Broadway sobre o físico Oppenheimer, diretor do Projeto Manhattan, responsável pela bomba atômica durante a Segunda Guerra Mundial. Os cartazes dizem ser um sucesso tremendo, talvez a biografia de Oppenheimer seja o Hamilton daquele mundo.

    Logo é revelado que o comercial está sendo assistido por um grupo de foco, uma daquelas técnicas de marketing onde um bando de cidadãos comuns são convidados aleatoriamente para opinar sobre um produto ou serviço. Atrás do vidro, observando todos, está Wade, que trabalha como consultor para as empresas, utilizando suas habilidades para detectar mentiras para dizer o que o público realmente achou dos produtos. 
  • Voltamos para a delegacia, onde Laurie faz uma conferência com os oficiais e diz que todos estão procurando pelo ângulo errado, focando em descobrir quem são os membros da Kavalaria, ao invés de onde se escondem. Na sequência, temos o retorno do alface que serve de evidência desde o assassinato do policial negro no primeiro episódio. Red Scare usou um pouco do vegetal para seu sanduíche, o que rendeu uma bronca de Looking Glass.

    Continuando a rotina de Wade, o personagem chega em casa, senta em seu sofá e come feijão enlatado (assim como Rorschach) enquanto assiste um episódio de American Hero Story, desta vez representando um dos rumores mais comuns sobre o Justiça Encapuzada, de que ele era gay e estava tendo um relacionamento com outro membro dos Minutemen.

    No bunker de Wade podemos ver um diploma para um curso chamado “Ciência de Lulas Extraterrestres”, e depois ele liga para uma companhia reclamando sobre sua “unidade de segurança”, um tipo de alerta para possíveis manifestações alienígenas. No fim da ligação, Wade confirma o pedido de mais um rolo de “reflectatina” (o material que serve para fazer sua máscara). O atendente agradece e diz trabalhar para o Sistema de Segurança Extradimensional, um dos vários serviços que surgiram por conta da paranoia coletiva envolvendo o ataque de 1985.
  • No dia seguinte, Wade vai até a empresa Forever Pets, onde cientistas pegam o DNA do seu animal de estimação favorito e cria uma réplica perfeita. Wade vai ao balcão e pede para falar com Cynthia Tillman, mas esquece que não está mais casado com ela e corrige para Cynthia Bennet. Ela confirma ter analisado as pílulas que Will deixou para Angela, elas são chamadas Nostalgia, uma cápsula capaz de induzir memórias, mas foi proibida por causar psicose. Nos quadrinhos, Nostalgia é mais um dos produtos da vasta linha de cosméticos de Adrian Veidt e sua companhia.

    No mesmo dia, Wade se encontra com seu grupo de apoio e conhece Renee. Os dois vão para um bar, mas na hora de ir embora, Renee pega carona com um amigo em uma picape. Quando o veículo vai embora, deixa cair um alface. Wade segue os dois e encontra o esconderijo da Kavalaria, mas tudo foi um plano para trazê-lo até eles e revelar uma grande conspiração. No esconderijo, Wade encontra a igreja, uma máquina capaz de abrir portais e até o senador Keene.

    Keene conta para Wade que vem tentando guiar a Kavalaria para manter a paz entre eles e a polícia, mas há algo mais misterioso acontecendo, então deixa um controle remoto nas mãos de Wade e oferece uma resposta definitiva sobre o ataque de 1985 através de um vídeo gravado pelo próprio Adrian Veidt confirmando seu plano para uma paz mundial forçada. Keene também confirma que estão usando uma Janela Teletransportadora CX924, a mesma usada nos eventos do clímax da HQ, então faz um trato com Wade, pedindo para que ele arranje uma maneira de afastar Angela do caso, senão ela e sua família inteira será assassinada. 
  • Assim, visitamos Adrian mais uma vez em sua “prisão”, agora completamente vestido com a armadura que estava construindo esse tempo todo. Ele fica pronto e é catapultado para o céu, revelando que realmente estava em algum tipo de redoma bem próxima do que parece ser a lua. Lá, Adrian utiliza os restos mortais de seus antigos assistentes e forma uma mensagem: “Salve-me, D”. Quem é D? Não sei, mas pode ser Dr. Manhattan ou até mesmo a Trieu.

    Adrian comemora dizendo “I did it!”, uma referência visual aos quadrinhos, quando festeja sua vitória. Mas a comemoração é interrompida quando ele é puxado de volta pelo Guarda-Florestal, que o alerta que não pode mais perdoar as ações de seu Mestre. Isso implica que Adrian pode não voltar tão rápido quanto imaginávamos. 
  • Retornamos para Wade ao som de Careless Whisper, do cantor George Michael. A música toca três vezes ao longo do episódio, cada uma delas com harmonia diferente e representando um ponto importante na vida do personagem. Na delegacia, escuta Red Scare e Panda debatendo sobre os poderes de Manhattan e Justiça Encapuzada, então um deles menciona a possibilidade de Manhattan em viajar no tempo. Seria isso um foreshadowing?

    Na conclusão do episódio, assistimos Wade entregar os segredos de Angela para Laurie através de um cacto que a agente do FBI usa como escuta (“Não é pessoal. Eu sou do FBI, colocamos escutas em qualquer coisa”), e Angela não reage bem, o que faz com que pegue as pílulas de Will e vire o frasco inteiro em sua boca, engolindo várias delas – de acordo com o teaser do próximo episódio, ela não vai gostar do resultado.

    Will volta para casa, triste por ter entregado sua amiga, e recebe o pacote que pediu do Sistema de Segurança Extradimensional. Ele pensa em jogar fora, mas desiste, então entra em casa, sem notar que um grupo de membros da Kavalaria acabou de segui-lo. 
Watchmen as pílulas de Will

O que achou do episódio?
As coisas estão ficando ainda mais loucas, então vamos ver se no fim tudo faz sentido ou se Lindelof estava apenas brincando conosco.

Até a próxima semana.
Vida longa e próspera!

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Os Melhores Episódios de Star Trek: The Next Generation

Com a chegada da série Picard, muitos fãs de Jornada nas Estrelas se empenharam em assistir as aventuras do capitão da Enterprise-D novamente, o que eu também fiz recentemente. Mas nem todos tem tempo de ver as sete temporadas (e os filmes) até a estréia, então decidi fazer uma lista com os melhores episódios de Next Generation.

Vale mencionar que esses são os meus favoritos, então como toda lista, é subjetiva e depende do gosto de quem está fazendo. Além disso, estarei listando apenas os episódios da série, já que pretendo falar sobre cada filme com mais detalhe no futuro. A Next Generation teve 176 episódios e foi exibida entre os anos 1987 e 1994, com altos e baixos (a maioria dos baixos presentes na primeira temporada, já que a série demorou um pouco para encontrar sua própria voz), felizmente não faltam exemplos de ótimos episódios, então vamos lá!

#10: Q WHO (2ª Temporada, Episódio 16)

Riker e Worf no cubo borg.

A entidade Q retorna à Enterprise para atormentar o capitão Picard, dessa vez como um arauto de eventos futuros capazes de acabar com a federação, possivelmente a galáxia. Q leva a Enterprise a um dos pontos mais distantes da galáxia, onde apresenta Picard aos Borg, a raça que mescla componentes biológicos e mecânicos, além de fazerem parte de uma consciência coletiva.

Esse é um episódio essencial para Star Trek, principalmente para a futura série de Picard, que já confirmou estar retomando tramas envolvendo os Borg. Não só temos um Picard mais vulnerável, tendo que aceitar trabalhar ao lado de Q, como a introdução de um dos, se não o maior, adversário da franquia, o coletivo Borg. Mesmo que hoje a situação do coletivo seja mais complexa do que isso, as coisas que eles já conseguiram fazer impactaram a série de maneira permanente. Mais sobre isso em breve. 

“Con permiso, Capitão. O salão foi alugado, a orquestra está pronta. Só falta saber se você consegue dançar”

#09: Elementary, Dear Data (2ª Temporada, Episódio 03)

Geordi e data entrando no holodeck

Data é um dos personagens mais envolventes e curiosos de Next Generation. Por ser um andróide, tenta emular e compreender a humanidade como pode, e uma das maneiras de sempre se manter em contato com o que as pessoas gostam, passa boa parte no holodeck praticando peças de Shakespeare e resolvendo mistérios tirados das obras de Arthur Conan Doyle, o autor responsável pelas aventuras de Sherlock Holmes. 

Em uma de suas reproduções das investigações do detetive mais famoso do mundo, o engenheiro Geordi Laforge nota que Data não tem um verdadeiro desafio, já que está apenas recriando o que já conhece, então pede para que o holodeck crie um mistério novo e quase impossível de resolver. Isso faz com que Moriarty, o arqui-inimigo de Sherlock, descubra uma maneira de ameaçar a própria Enterprise ao tomar uma forma “física”. 

Se levarmos em consideração a suspensão de descrença necessária para aceitar alguns elementos da trama, esse é um episódio mais leve em tom, mas um dos primeiros a mostrar como Data está realmente empenhado em conseguir atingir uma forma de humanidade, e o contraste com Moriarty é um dos pontos altos do roteiro. E também coloquei nos favoritos porque adoro as histórias do holodeck, geralmente uma representação bastante eficaz dos dilemas dos personagens. 

“Para sentir a emoção da vitória, primeiro deve haver a possibilidade de derrota”

#08: UNIFICATION I e II (5ª Temporada, Episódios 07 e 08)

Spock

Next Generation trouxe de volta alguns atores da série clássica original interpretando seus personagens mais uma vez, como o doutor Leonard McCoy, de DeForest Kelley, ou o engenheiro-chefe Montgomery Scott, de James Doohan, sem contar a presença de Majel Barrett-Roddenberry, que esteve no piloto original de Star Trek, The Cage, como a “Número Um”, depois na série clássica como a enfermeira Christine Chapel, e por fim como Lwaxana Troi e a voz da Enterprise em futuros spin-offs. Mesmo com tantos nomes conhecidos dos fãs, nenhum foi tão impactante quanto o de Leonard Nimoy, que retorna como Spock para o episódio duplo Unification

No episódio, o pai de Spock, o embaixador Sarek, está morrendo. Mas Spock não está presente, e tudo que indica que isso tenha a ver com a guerra envolvendo os Cardassianos. Não demora para que Picard encontre Spock, que está agindo como um agente duplo, mas por motivos que não deseja revelar. Esse é um episódio tenso e cheio de revelações que contribuem para um desenvolvimento importante dos personagens, principalmente o meio humano, meio vulcano. As interações entre Spock e Data são alguns dos pontos altos. 

“Os tempos estão mudando, e os líderes que se recusam a mudar com eles… não mais serão líderes”

#07: I BORG (5ª Temporada, Episódio 23)

Picard, Geordi, Crusher e hugh

Mais um episódio importante para compreender a evolução da relação entre a Enterprise e os Borg, dessa vez apresentando o primeiro borg separado de seu coletivo. Aos poucos, o ser começa a mostrar traços de individualidade, assumindo até mesmo um nome, Hugh, mas a presença de um borg na nave deixa a tripulação desconfortável, principalmente depois dos eventos de Best of Both Worlds, o episódio no qual Picard foi assimilado. 

Esse é mais um ponto importante para compreender o desenvolvimento do capitão e dos borg, e esse episódio acaba sendo outro que você precisa rever antes da série Picard, já que o ator Jonathan Del Arco, intérprete de Hugh, está confirmado no elenco.

“Capitão, eu não quero esquecer de ser Hugh”

#06: THE DRUMHEAD (4ª Temporada, Episódio 21)

Picard com a Almirante

Esse é um daqueles episódios onde podemos ver a integridade de Picard, arriscando sua própria segurança e privacidade para ajudar alguém que considera ter sido acusado injustamente de traição por conta de uma conspiração. Com a presença da almirante Norah Satie na Enterprise, a vida de Picard fica ainda mais difícil, isso porque Satie acredita haver ainda mais traidores escondidos à bordo. 

Comentando sobre a ascensão do fascismo e o medo coletivo, esse é um dos episódios mais marcantes da série, um que nos trouxe o excelente discurso de Picard sobre liberdade e confiança, sem medo de mencionar o pai de Norah, Aaron Satie, como um exemplo que ela deixou de seguir. Com ótimas atuações e um roteiro inteligente, Drumhead é um daqueles episódios que você assiste sempre.

“Sabe, há algo que lembro desde que sou um garoto: ‘Com o primeiro elo, a corrente é forjada. Quando o primeiro discurso é censurado, o primeiro pensamento é proibido, a liberdade é negada, isso nos acorrenta, irrevogavelmente.’ Essas palavras foram ditas pelo juiz Aaron Satir, como uma pérola de sabedoria, mas também um alerta. A primeira vez que a liberdade das pessoas é pisoteada, todos somos afetados. Eu sinto isso hoje”

#05: DARMOK (5ª Temporada, Episódio 02)

Darmok e Picard in Tanagra

Eu gosto tanto desse episódio que fiz até um texto apenas sobre ele, então se alguém estiver surpreso com sua presença tão próxima do pódio, é porque Darmok representa muito bem tudo que Star Trek significa. 

Picard tenta sua abordagem diplomática rotineira ao encontrar uma raça chamada Filhos de Tamar, mas é transportado pelos tamarianos para um planeta próximo acompanhado de Dathon, o capitão da nave dos Filhos de Tamar. Tudo parece uma grande armadilha para que Picard e Dathon combatam até a morte, mas aos poucos descobrimos as verdadeiras intenções da raça e a importância em escolher Picard para o “combate”. 

A importância da comunicação é o tema principal de Darmok, que mostra como podemos mudar nosso pensamento por conta de um encontro com outra cultura. Excelente atuação de Patrick Stewart tentando assimilar o padrão de comunicação da raça e enquanto conta a épica história de Gilgamesh para seu novo amigo. 

“Darmok e Jalad em Tanagra!”

#04: THE MEASURE OF A MAN (2ª Temporada, Episódio 09)

Picard e Data

Mais um episódio focado em Data, isso porque ele rendia alguns dos questionamentos mais instigantes da série. Quando uma comissão decide desmontar Data para investigar mais sobre sua origem e como o brilhante cientista Noonien Soong o criou, o próprio androide decide lutar contra isso e consegue uma audiência para provar que tem tanto direito quanto qualquer ser humano. 

Debates filosóficos sobre a natureza da humanidade e até o conceito de “alma” são o destaque de mais um roteiro afiado da série, sem contar mais um discurso memorável de Picard sobre o que nos diferencia das outras formas de vida.

“Meritíssimo, uma das missões da Frota Estelar é procurar novas vidas.
Bem, ali está uma delas!”

#03: ALL GOOD THINGS… (7ª Temporada, Episódio 25)

Star Trek tng finale

O último episódio da série é uma viagem através do espaço e tempo, tendo Picard como observador, assistimos o rumo da Enterprise, assim como o futuro de nossos personagens favoritos. All Good Things… é um desfecho apropriado para a série, entregando aos fãs uma sensação de conclusão, mas ao mesmo tempo a noção de que as aventuras continuam, independente da tripulação. 

Esse episódio também é bem importante para mostrar como Picard passou a maior parte da série distante de sua tripulação, os tratando de maneira profissional demais, tentando não se apegar. Quando percebe todas as coisas que perderia ao longo do caminho, decide finalmente aceitar participar de uma das partidas de pocker que a tripulação costuma jogar nos momentos de lazer. Melancólico, mas otimista, esse é um desfecho perfeito para uma série que passou a maior parte do tempo explorando não apenas o espaço, como novas culturas.

“O céu é o limite”

#02: THE BEST OF BOTH WORLDS Partes I e II (3ª Tem,, Ep. 26 / 4ª Tem, Ep. 01)

Picard Locutus

Picard é assimilado pelos borg, o maior cliffhanger da TV. Best of Both Worlds é um dos mais aclamados e premiados episódios de Star Trek, contando o primeiro embate oficial entre a Enterprise e o coletivo, que consegue derrotar Picard e criar o Locutus, um porta voz para a raça cibernética. O episódio duplo é uma corrida contra o tempo para a tripulação tentando descobrir como trazer seu capitão de volta. Os eventos desse episódio acabaram impactando todo o resto da série e foram os mais traumáticos para o personagem, que precisou lidar com isso aos poucos. 

Talvez a melhor atuação de Patrick Stewart em Star Trek, e uma das melhores da TV, Best of Both Worlds é uma experiência impossível de esquecer. 

“Resistir é inútil”

Antes de chegar o número um, que você provavelmente já imagina qual seja, devo fazer algumas menções honrosas aos episódios Yesterday’s Enterprise, The Offspring, Sarek, Cause and Effect e a dobradinha Chain of Command. Esses seriam facilmente introduzidos na lista, e saíram por pouco, já que decidi mencionar apenas os que considero indispensáveis. E por falar nisso, vamos ao vencedor:

#01: THE INNER LIGHT (5ª Temporada, Episódio 25)

Picard toca sua flauta

Em apenas 45 minutos temos uma aula de roteiro, direção e atuação com o excelente episódio The Inner Light, facilmente um dos melhores episódios da série, e na minha opinião, o melhor. A história envolve Picard acordando em um pequeno vilarejo, sendo membro de uma comunidade pacata que sofre com uma escassez de água e outros problemas menores. Mas algo está errado, Picard não lembra quem é e atua como um fazendeiro que acredita ter atuado no espaço, mas considera isso apenas uma enganação de sua própria cabeça.

Enquanto passa uma vida inteira nessa vila, descobrimos que a passagem de tempo na Enterprise foi de apenas alguns minutos. Toda a tripulação tenta entender o que aconteceu com seu capitão, que permanece fisicamente na nave, mas tem seus pensamentos em outro lugar. Tudo está ligado a um plano de uma raça que precisa da ajuda de Picard para manter sua história viva.

É um episódio lindo, com reviravoltas e sequências impressionantes, um roteiro que marcou a história da série e também acabou influenciando o personagem permanentemente, e eu nem vou mencionar o desfecho porque acho brilhante e quem ainda não viu merece assistir. 

“Aprecie o tempo, Meribor. Viva o agora. Faça-o sempre a hora mais importante. O agora jamais voltará”

Então, concorda ou discorda?
Qual o seu episódio favorito da Next Generation?

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Rick and Morty – Edge of Tomorty: Rick Die Rickpeat | S04E01

Rick and Morty é uma das animações mais aclamadas da TV. Mesmo não sendo reconhecida em seus primeiros anos, começou a ganhar enorme atenção no Brasil assim que teve seus episódios disponibilizados pelo serviço de streaming Netflix. A estréia da quarta temporada aconteceu no dia 10 de novembro, com o episódio Edge of Tomorty: Rick Die Rickpeat.

Continuando a tradição de usar trocadilhos e fazer referência a outros filmes e séries no título, geralmente tendo alguma ligação com o episódio, seja na premissa ou nos temas, o dessa semana é uma clara brincadeira com o longa estrelado por Tom Cruise e Emily Blunt, Edge of Tomorrow (traduzido para o português como No Limite do Amanhã), e seu subtítulo Live. Die. Repeat. Aqui Rick and Morty pega emprestada a premissa básica do filme, na qual Cage, o personagem de Cruise, revive o mesmo dia toda vez que acaba morrendo no meio de uma invasão alienígena. 

Tudo começa quando Rick leva Morty para um planeta que contém cristais capazes de revelar as possíveis mortes de quem o estiver tocando. Embora Rick tenha alertado sobre os riscos, Morty esconde um dos cristais na intenção de descobrir o caminho que deve tomar para ter uma morte pacífica ao lado de Jessica, a menina por quem é apaixonado. Como esperado, isso cria uma linha de eventos que terminam catastroficamente.

Rickty

Dirigido por Erica Hayes, responsável por trabalhar nos storyboards do excelente episódio Out to Sea, da segunda temporada de Bojack Horseman, Edge of Tomorty compensa o tempo de espera dos fãs por novos episódios, isso porque temos uma animação cada vez mais detalhada, principalmente nas sequências de ação, e eu nem mencionei a tonelada de piadas e referências em segundo plano.

Além de usar Edge of Tomorrow como base para uma trama na qual Rick morre constantemente e acorda em uma nova realidade onde plantou um clone para sua consciência, há uma ligação com o anime Akira, de Katsuhiro Ôtomo, quando Morty toma uma forma assustadora no clímax do episódio, e como resultado Jerry proíbe Rick de levar seu filho em aventuras que lembrem animes. 

Muitas das piadas e reviravoltas são a parte mais divertida de cada episódio, por isso evito falar todas, mas se tiver que escolher a sequência e as gags recorrentes mais engraçadas, provavelmente são as do bully tentando intimidar Morty enquanto questiona a lógica das regras do filme Viva: A Vida é uma Festa (2017), e Rick acordando sempre em uma nova realidade dominada por uma regime totalitário, um comentário sobre a ascensão de movimentos fascistas no mundo e uma pequena crítica sarcástica aos fãs mais extremos, o que fica evidente quando Morty pede para Rick parar de tentar fazer meta-comentários e seguir com o que “todos querem”. 

Rickty

Depois de uma terceira temporada com recepções mistas, se esse episódio for uma indicação de como esse ano será para Rick and Morty, podemos ficar mais confortáveis e esperar um equilíbrio entre aventuras despretensiosas e grandes revelações da trama principal, o que agora não precisa ser feito com pressa já que a série foi renovada por setenta episódios.

Essa foi uma resenha rápida apenas para ambientar algumas pessoas, mas se quiser continuar sabendo mais sobre a série, toda semana você pode ler sobre Rick and Morty aqui no Primeiro Contato.

Até a próxima. 

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Watchmen | If You Don´t Like My Story, Write Your Own – S01E04

Mais uma semana de Watchmen e mais reviravoltas. Finalmente conhecemos Lady Trieu, interpretada com uma mistura de arrogância e impaciência por Hong Chau, e as coisas parecem ficar cada vez mais difíceis para Angela e Laurie. Esse episódio foi dirigido por Andrij Parekh, mais conhecido por seu trabalho como diretor de arte em filmes como Blue Valentine (2010). Sua bagagem cuidando da fotografia contribuiu muito bem para o episódio, principalmente quando cria transições dinâmicas entre as cenas, como faz com uma máquina de waffles dar lugar ao portão de Looking Glass, ou criando a passagem de tempo através do porta-malas de Angela.

Há também alguns elementos recorrentes que podem ficar bastante óbvios, como os ovos em destaque, mas isso provavelmente está mais ligado ao tema geral de legado que esse episódio carrega, falando sobre genética com os bebês de Adrian (chego nessa loucura em breve), ancestralidade com Angela ou no discurso de Trieu, que menciona diretamente o que estou falando. Em um dos documentos do PeteyPedia, uma matéria de jornal menciona como Adrian nunca teve filhos, o que serve para mostrar que ele deve ser o último de seu nome, e o único capaz de representar um legado. 

Antes de ir para as referências e teorias, vale mencionar rapidamente os arquivos do PeteyPedia, um dos mais recentes datado em 24 de Abril e 1995, onde Laurie é interrogada pelo FBI e descobrimos um pouco mais sobre o destino de Dan Dreiberg, o Coruja. Depois dos eventos do quadrinho, ele começou a comandar uma empresa chamada MerlinCorp, responsável por armas e tecnologia para a polícia (o que explica a polícia ter sua própria nave Arquimedes). De acordo com Laurie, ele também construiu o pênis de Manhattan que ela carrega em sua maleta, tudo isso por um ataque de ciúmes. 

Sem mais delongas, vamos ao que interessa.

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Teorias e referências
  • Começamos o episódio com a visita de Lady Trieu a um casal. Trieu faz uma proposta curiosa, de comprar aquela casa nos próximos três minutos, e em troca pode dar ao casal o que sempre quiseram, um bebê. O interessante nessa cena é o fato deste não ser apenas um bebê, mas uma criação de Trieu utilizando o gene do casal, que não podia conceber. Trieu revela ser trilionária e que o Relógio do Milênio é mais que apenas um relógio. Mais tarde no episódio, descobrimos que ela e sua criação estão bem mais ligadas a Adrian do que imaginamos.
Lady Trieu
  • Depois disso, voltamos para Angela, que está cada vez mais confusa com as revelações recentes sobre Will ser o seu avô. Ela vai até o Centro de Herança Cultural de Greenwood depois do horário de funcionamento e investiga sua árvore [holográfica] genealógica. Lá descobre mais sobre seu bisavô, O.B.Williams e Ruth Robeson, mas não consegue ficar por muito tempo porque escuta o som de seu carro, que foi “abduzido” no final do segundo episódio, caindo do céu ali perto. Ela vê Laurie rindo na frente do carro destruído e revista o veículo por pistas, mas tudo que encontra são as pílulas de Will. 
A árvore genealógica
  • No dia seguinte, Angela visita Wade Tillman, o Looking Glass, em seu bunker, que usa como estúdio de revelação para suas fotografias das lulas que caíram na chuva do primeiro episódio. Angela pede ajuda para esconder o traje da Klu Klux Klan que encontrou na casa de Judd, assim como as pílulas de Will, isso porque não quer que Laurie faça perguntas.

    Quando vai embora, joga uma mala no caminhão do lixo, mas descobre estar sendo observada por um homem misterioso vestido em um collant branco da cabeça aos pés. Angela o persegue, mas o homem derrama alguma substância lubrificante em seu corpo e desliza para dentro de um bueiro. 
  • Angela chega na delegacia para reportar o “Homem-Lubrificante”, mas ao sair do elevador se depara com o senador Keene, que faz questão de não chamar Angela como Sister Night. Isso pode implicar que ele continua com os mesmos interesses de seu pai, determinado em acabar com os mascarados. Angela também recebe a notícia de que a nova chefe do departamento é Laurie, apresentando pistas sobre o passado de Will: “ele foi um policial em Nova York, nas décadas de 40 e 50, mas se aposentou jovem e sumiu do mapa”.

    Petey entra na sala e sussurra algo nos ouvidos de sua chefe, então as duas saem em direção ao Relógio do Milênio. No caminho, podemos ouvir a música You´re My Thrill, de Billie Holiday, a mesma que toca na nave Arquimedes nos quadrinhos quando Dan e Laurie resgatam os moradores de um prédio em chamas. 
  • No Relógio do Milênio temos várias revelações e pistas. Angela e Laurie são recebidas por Bian, a filha de Lady Trieu, que os guia pela instalação, dizendo como o monumento será a primeira maravilha de um novo mundo, “mil milhas distante do oceano mais próximo, fortalecido contra qualquer atividade sísmica ou ataque, a não ser uma explosão nuclear”.

    Finalmente se encontram com Trieu, que declara sua admiração por Adrian Veidt através de uma escultura em seu escritório: “Muito de meu sucesso cresce da semente de sua inspiração”. Seria isso uma indicação de que Adrian e Trieu estejam trabalhando juntos, ou que ela seja a responsável por enviar novos clones para seu mentor, ou – indo mais longe – ela pode ser uma criação do próprio Veidt, mesmo que isso talvez entre em contradição com as ideias de Adrian em ser o último de seu nome.

    Durante a conversa, Angela e Trieu tem um rápido diálogo em vietnamês sobre as pílulas de Will. Essa interação abre espaço para várias interpretações sobre a relação de Trieu, Veidt e Will. Estariam os três trabalhando juntos?
  • E por falar em Adrian, vamos novamente para as partes mais bizarras de todos os episódios até agora. Assistimos o homem mais inteligente do mundo pescando o que parecem ser caixas contendo bebês prematuros. Ele seleciona alguns, devolve o resto para o mar e volta para seu laboratório, onde tem uma máquina capaz de desenvolver os bebês e transformá-los em adultos em questão de segundos. Assim fica confirmada a origem de todos os clones do Sr. Phillips e a Sra. Crookshanks, e seguimos a rotina de Adrian, que precisa de novos assistentes já que aparentemente assassinou vários em uma “noite ruim”.

    No dia seguinte, Adrian continua com seus experimentos, dessa vez testando sua catapulta, jogando corpos de clones descartáveis em direção aos céus, e o mais bizarro nisso tudo – como se já não fosse o suficiente – é que os corpos desaparecem ao atingir certa altura. Seria estranho assumir que Adrian esteja em um tipo de cúpula contra a sua vontade, mas uma de suas falas pode ter entregue onde está (mais ou menos): “Eu achava que isso seria um paraíso, mas é uma prisão. Finalmente poderei escapar desse lugar maldito!”. 
  • Por fim, temos mais uma cena com Lady Trieu, acalmando Bian, que teve um pesadelo sobre estar em uma vila pegando fogo e ser obrigada a caminhar por tanto tempo que seus pés doem até acordada (seria isso um sonho sobre as invasões aos campos durante a ocupação do Vietnã?). Quando Bian se acalma, se despede de Will, que estava sentado na sala de Trieu o tempo todo.

    Trieu repreende Will por não dizer logo a Angela o que está acontecendo ao invés de espalhar pistas, como as pílulas no carro, mas ele responde dizendo que Trieu faz o mesmo com sua filha. Ainda é cedo para afirmar, mas talvez Bian seja uma de suas criações e não uma filha natural. Antes de Will ir embora, Trieu revela que faltam apenas três dias, mas para o quê?

    Os dois olham para o céu e Will repete “tic toc, tic toc”.

Parece que as coisas vão fazer sentido em breve, estamos na metade da temporada. O que tem achado até agora?

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Watchmen | She Was Killed By Space Junk – S01E03

Leia sobre os episódios anteriores e a HQ aqui.

O enterro de Judd Crawford está próximo, mas as investigações dos mascarados não parecem ser o suficiente, o que faz com que o FBI envolva-se no mistério do assassinato do capitão de polícia. Para o caso, o bureau delega a tarefa à Laurie Blake (Jean Smart), que sabe bem mais do que todos imaginam, mas ainda assim ela leva um assistente, o agente Petey (Dustin Ingram). É nesse ínterim que assistimos o senador Keene revelar suas verdadeiras intenções com os “heróis”, mostrando que continua o legado de seu pai, também temos Angela em sua própria missão e finalmente temos a confirmação de que o homem na mansão é Adrian Veidt, o que era bem óbvio, mas ainda não sabemos o quanto dessa série é distração ou não. 

Algumas peças do quebra-cabeça começam a fazer sentido, enquanto outras ficam ainda mais complicadas de se encaixar, mas antes de chegar nas teorias e referências, vou falar um pouco sobre o episódio em si. Para começar, a direção agora é por conta de Stephen Williams, companheiro de longa data do showrunner Damon Lindelof, com quem trabalhou na série Lost. Williams constrói algumas cenas com uma tensão crescente que casa muito bem com o episódio, como as sequências do assalto ao banco ou basicamente qualquer momento em que algum personagem conversa com Laurie, um atestado do talento de Jean Smart para entregar uma personagem complexa, que pode intimidar, mas é carismática em sua atitude despretensiosa, também frágil quando precisa lidar com o passado. Um detalhe da personagem que chamou a atenção foi sua compulsão por corrigir a gramática das pessoas, o que rende alguns diálogos interessantes.

Por falar em Laurie Blake, para quem não tem muita afinidade com as HQs ou o filme, essa é Laurie Juspeczyk, que atuou como a heroína Espectral durante a era Watchmen. Ela é filha de Sally Jupiter, que também foi uma vigilante, e de quem tirou o nome de seu alter ego. Pelo que vemos na série, Laurie não está mais em um relacionamento com Dan Dreiberg, o Coruja, e decidiu assumir o sobrenome de seu pai, Edward Blake, o Comediante (cujo assassinato acaba sendo o ponto de partida para a HQ). Então, já que estamos mencionando as ligações com o material original, vamos para as teorias e referências. 

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen
  • A primeira cena mostra Laurie em uma cabine telefônica peculiar, azul e com o símbolo de Manhattan. Essa cabine serve para fazer ligações diretas entre a Terra e Marte. Laurie tenta entrar em contato com Manhattan, o que não parece estar dando certo, mas por ser uma ex-amante dele, talvez tenhamos uma conversa em breve. Mas o mais estranho não está nessa possível interação, e sim na logo que surge antes da ligação ser feita.

    Trieu é o nome que surge na tela antes da ligação de Laurie. Aparentemente, uma empresa chamada Trieu criou essa cabine, mas com que intenção? Uma das pistas está no diálogo entre Laurie e o agente Petey quando sobrevoam Tulsa, na qual ele menciona como as Indústrias Veidt foram compradas por uma magnata chamada Lady Trieu, em 2012, assim que Adrian desapareceu e foi dado como morto.

    Lady Trieu ainda não apareceu na série, mas está presente através de menções e pela menina que compra as revistas do jornaleiro no segundo episódio. Essa figura misteriosa não deve ser apenas uma personagem rica, mas sim uma das peças mais importantes para entender os planos de Adrian. Além disso e de criar a cabine, o que é bastante estranho em um mundo onde todos adquiriram um tipo de tecnofobia por conta dos eventos da HQ, Trieu é responsável por construir o monumento Relógio do Milênio, que também pode ser visto durante o voo de Laurie e Petey. 

    As coincidências e ligações com Adrian não param aí, porque a parte verdadeiramente assustadora é que, de acordo com Petey (e eu demorei para notar que esse era o Petey que reúne as informações do site de bastidores da HBO), antes de inaugurar o monumento, Lady Trieu mencionou diretamente Ozymandias –  não o herói, mas o poema que inspirou o seu nome, escrito por Percy Shelley, sobre um homem antes poderoso que teve seu legado esquecido pelo tempo, tendo apenas uma estátua abandonada no deserto como lembrança.

    Será que Trieu trabalha para Adrian, ou com ele… ou contra ele? Ainda é cedo demais para saber.

    O trecho do poema mencionado:
    “Contemplem minhas obras, ó poderosos, e desesperem-se”
  • Continuando com Laurie, o episódio mostra a personagem em trabalho, atuando como uma agente do FBI tentando capturar vigilantes agindo fora da lei – parece que a atividade voltou a ser crime, pelo menos nas grandes cidades. Chegando em casa, Laurie tenta ouvir sua música em paz, um pouco de Devo nunca é demais (eles dão o nome do episódio com a música Space Junk), alimenta sua coruja de estimação (novamente, referências ao Coruja) e abre uma maleta com um conteúdo que só é revelado no fim do episódio (brinquedos sexuais inspirados em Manhattan). Sua rotina é interrompida pela visita do senador Keene, que a parabeniza pelo excelente trabalho.

    Ele diz que o assassinato de Crawford não pode ter sido ato da Kavalaria, já que eles têm o costume de se vangloriar por cada policial que matam. Isso deixa Laurie ainda mais intrigada. Ao fundo, uma pintura no estilo Andy Warhol representando o Coruja, Adrian e Manhattan chama a atenção, enquanto Laurie cobre seu próprio rosto com a cabeça. Isso pode ser uma das várias alusões à piada da personagem na abertura do episódio, onde fala sobre três homens tentando entrar no céu, mas são mandados para o inferno. O que Deus não esperava era a presença de uma garota que passou despercebida. 
Laurie e seu Andy Warhol
  • No bureau, uma reunião sobre os eventos recentes em Tulsa é o que motiva Laurie. Durante a apresentação, um dos slides mostra uma página do diário de Rorschach, exatamente na parte em que ele relata sua visita ao Veidt. O responsável pela apresentação questiona o agente Petey, que incluiu essa página para “contexto”, mas aparentemente “ninguém liga para o Rorschach”. Durante a apresentação também podemos ver que o FBI já sabe a identidade secreta de todos os policiais mascarados. 
Diário de Rorschach
  • Temos o retorno de Pirate Jenny, Red Scare e Looking Glass, que dessa vez é o interrogado por uma Laurie sem rodeios sobre a instalação secreta que comandam, onde todos os “potenciais supremacistas” são fichados para futura referência.É engraçado ver a agente pegando o controle de Looking Glass e fazendo piadas sobre seu “detector de racistas”. Esse tipo de humor é uma das coisas que Alan Moore faz muito bem nas HQs e ficou faltando na adaptação cinematográfica, então isso é mais um ponto positivo para a série. Além disso, é revelado o verdadeiro nome do personagem de capuz reluzente: Wade Tillman.
O detector de racistas
  • Se até esse ponto já não estava óbvio, Laurie é a protagonista do episódio. Então continuamos seguindo o seu cotidiano, até mesmo sua estadia em um hotel chamado Black Freighter, mais uma das várias referências que o Cargueiro Negro vem recebendo na série. Essa nem é a única vez em que a HQ dentro da HQ é aludida no episódio, porque uma bandeira de caveira pirata recebe bastante atenção da câmera quando observamos Adrian em sua “caçada”. Seriam esses exemplos apenas menções ao quadrinho ou uma ligação maior?
  • Depois, vamos ao enterro de Judd Crawford, e mesmo com um membro da Sétima Kavalaria invadindo o evento com uma bomba conectada ao coração, o que me deixou curioso mesmo foi a música cantada por Angela durante seu tributo. The Last Round-Up, do filme The Singing Hill, de 1941, é a canção cantado pelo cowboy Gene Autry, durante o enterro de um dos moradores de uma pequena cidade invadida por um magnata. A premissa do filme pode não parecer relevante até agora, talvez o filme e a música sejam mencionados apenas por conta do enterro, mas como ainda não se sabe muito sobre o passado de Crawford e as últimas informações não parecem convencer Angela, é mais um dos casos onde é cedo demais para dizer. 
  • Agora vamos para Ozymandias, onde sempre encontramos as sequências mais bizarras da série até o momento. A câmera atravessa a sala da mansão de Adrian, revelando bustos do imperador Alexandre, discos em vinil de Lee Perry, maquetes, uma pequena catapulta, pesquisas sobre lulas (novamente?) e muitas, MUITAS plantas e mapas. A loucura do momento é uma vestimenta que, pelo que tudo indica, não teve o resultado esperado pelo homem mais inteligente do mundo, o que resulta em mais uma casualidade entre seus clones e muita frustração.

    Mas Adrian não desiste e segue com seus planos, partindo para a caça, literalmente, atirando em um búfalo-americano, provavelmente para usar sua carcaça como base para mais uma vestimenta. O CGI dessa cena é pouco impressionante, considerando o que a HBO já conseguiu fazer com efeitos especiais em séries como Westworld, mas tudo bem. O que realmente chama a atenção é a revelação de mais uma figura misteriosa, em um cavalo, que atira aos pés de Adrian e o proíbe de capturar sua presa.

    Voltando para sua mansão, mais uma vez impaciente, Adrian tenta meditar, mas é interrompido por sua assistente, Crookshanks, que carrega uma carta selada com um carimbo de caveira (Cargueiro Negro, mais uma vez), provavelmente da figura misteriosa. A carta fala que Adrian precisa respeitar as “condições de seu cativeiro”, e que suas ações podem acarretar em “sérias consequências”. Ainda que tenha um teor ameaçador, o remetente agradece Veidt pelos tomates (vistos no episódio anterior, crescendo em uma árvore, o que indica alterações genéticas) e se intitula como um “humilde servo, o Guarda-Florestal”. Adrian pede para Crookshanks voltar à máquina de escrever e redigir uma resposta, na qual deixa claro que suas ações são de natureza recreacional. No fim, ele assina a carta com seu nome, confirmando que esse tem sido Veidt o tempo inteiro, então ele dispensa sua assistente e comemora se vestindo como Ozymandias, usando seu uniforme original.

    Toda essa sequência entrega bastante informação, o que é curioso. Ver Ozymandias uniformizado enquanto um relâmpago ilumina seu rosto pode parecer brega com a intenção de distrair o público. O jeito é esperar. 
  • Logo depois, temos uma conversa séria entre Angela e Laurie, mais uma vez levantando o questionamento sobre o passado de Crawford. Laurie volta para o motel Cargueiro Negro, encara o conteúdo de sua mala, dorme com seu assistente e voltamos para a cabine telefônica. Ao sair de lá, ela encara o céu e espera uma resposta de Manhattan, o que recebe de certa maneira através de um carro caindo das alturas. Dessa vez, Will, o centenário na cadeira de rodas, não está dentro dele. 

E a trama fica ainda mais bizarra, o que eu adoro!
O que tem achado da série até agora? Quais as suas teorias? Não esqueçam de visitar o PeteyPedia porque já foram liberados materiais novos e comprometedores para os personagens, incluindo evidências sobre o assassinato de Crawford. 

Vamos continuar debatendo. Até a próxima semana!

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Watchmen | Martial Feats Of Comanche Horsemanship – S01E02

Chegamos ao segundo episódio da série Watchmen, com mais revelações, mas também muito mais mistérios. Nicole Kassel retorna para a direção, construindo a tensão e estabelecendo alguns elementos que provavelmente serão essenciais para compreender a “grande conspiração” prenunciada por Will Reever, o centenário em cadeira de rodas aparentemente responsável pela morte de Judd Crawford. 

Agora Watchmen parece estar mais ligada ao seu material original, com referências diretas aos quadrinhos, além de começar a revelar o possível caminho que seguirá até o fim da temporada, dando maior espaço para os acontecimentos de Tulsa em 1921 e o drama pessoal de Angela, que descobre informações importantes sobre seu próprio passado. 

Podemos ver Looking Glass em ação novamente, dessa vez tentando conversar com Night (alter ego de Angela) sobre o assassinato de Crawford, o que a deixa desconfortável. Red Scare também recebe atenção, mesmo que superficialmente. Entendemos porque seu uniforme é vermelho (ele se considera um comunista) e vemos seu ódio pela Kavalaria ou os apoiadores de Nixon. 

Não houveram grandes mudanças em tom do primeiro episódio para esse, apenas na música de Trent Reznor e Atticus Ross, que ficou ainda melhor e mais experimental, então para não perder tempo, vamos logo para as referências e teorias.  

Sob o Capuz: Referências e Teorias (SPOILERS)

Watchmen
  • Retornamos a Tulsa, e podemos ver como o passado será um ponto chave para compreender a temporada. Podemos ver mais uma vez o pequeno Will Reever, lendo o panfleto com as regras para os negros em tempos de guerra. O episódio abre com um oficial alemão pedindo para que sua secretária datilografe uma mensagem em inglês direcionada aos soldados negros.

    Essa cena não é ficção, a mensagem é real e ainda há cópias digitalizadas do panfleto em alguns museus dos EUA. Ainda não sabemos o paradeiro do bebê encontrado por Will, mas algo me diz que ele pode ter algo a ver com a “nave” que surge na conclusão do episódio e leva o centenário embora. Abaixo, você pode ver uma réplica do panfleto.
  • Uma das grandes ligações diretas aos quadrinhos é a banca de jornal do Mr. News, onde temos o jornaleiro Seymour conversando com o entregador, uma clara alusão ao personagem Bernard, dono de uma banca que observa e conhece todos em volta. Na HQ, Bernard está sempre conversando com um jovem que senta na calçada e lê a nova edição do Cargueiro Negro (quadrinho dentro do universo de Watchmen), mas é apenas no fim que descobre o nome do jovem, o mesmo que o seu.

    Na série, podemos ver que o jornal New Frontiersman e a revista Nova Express continuam em atividade. Ao fundo, é visível um estabelecimento chamado Mac Mcgee, mais uma referência musical da série, dessa vez à cantora Janis Joplin e sua música Me and Bobby McGee, presente na HQ e na trilha do filme de Zack Snyder, de 2009.
  • Antes dessa cena, há outra referência aos quadrinhos, um detalhe pequeno mas que prova a atenção da série aos detalhes. Entre a transição das cenas de Angela e do jornaleiro, podemos ver uma silhueta marcada na parede de um casal de beijando, e essa mesma imagem pode ser vista nos quadrinhos.
  • No episódio, Angela tenta descobrir a verdadeira identidade de Will, então decide ir ao centro cultural de Greenwood, onde é recebida por uma mensagem digital do secretário do tesouro nacional, Henry Louis Gates Jr, que na vida real é um editor, escritor e acadêmico envolvido nos estudos sobre o passado histórico da comunidade negra.
Watchmen
  • Uma coisa curiosa foi ver a forma como alguns repórteres e paparazzi fazem seu trabalho no mundo da série. Quando Night, Looking Glass e Red Scare chegam para ajudar a polícia na cena do crime de Judd Crawford, um homem com asas mecânicas cai no capô de um carro, enquanto outro pode ser avistado sobrevoando o local com uma câmera. Red Scare chama esses repórteres de “moths”, ou “traças”, em português. Essa pode ser uma menção ao personagem Byron Lewis, dos quadrinhos, que atuava como o herói Mothman, do grupo Minutemen (os Watchmen originais), traduzido por aqui para Traça.
Watchmen
  • E por falar nos Minutemen, finalmente acontece a estréia do programa American Hero Story, contando a história de heróis clássicos atuando contra o crime. O episódio foca na jornada do Justiça Encapuzada, um dos primeiros justiceiros em atividade, e o mais misterioso. Além do que parece ser uma homenagem aos primeiros minutos do filme Crepúsculo dos Deuses, de Billy Wilder, a série dentro da série parece estar parodiando o estilo de filmagem do diretor Zack Snyder, enchendo as cenas de câmera lenta e violência gratuita.

    Eu já mencionei por aqui, mas para quem esqueceu, Snyder dirigiu a adaptação para o cinema de Watchmen, em 2009, e essas são algumas de suas marcas registradas. Além disso, a série faz uma comparação entre os eventos do clímax do quadrinho e o pandemônio causado pelo diretor Orson Welles em 1938, quando decidiu narrar os acontecimentos do livro Guerra dos Mundos ao vivo em uma rádio pública. A descrição de uma invasão alienígena causou uma comoção enorme entre os ouvintes, muitos acabaram correndo pelas ruas ou ligando para a emergência pedindo ajuda.
Watchmen
  • Uma das coisas mais curiosas do episódio é uma cena envolvendo o garoto Thoper Abar, interpretado por Dylan Schombing, que pode ser visto construindo um tipo de castelo gravitacional com peças magnéticas de um conjunto chamado Magna-Hattan Blocks. Além da óbvia ligação do nome Magna-Hattan com Manhattan, essa pode ser uma cena importantíssima para a série, isso porque a ligação não está apenas em palavras, mas visualmente.

    No primeiro episódio, Manhattan é transmitido na TV tentando construir um castelo bastante parecido com o de Topher. Estariam os dois ligados de alguma maneira? E se formos ainda mais ousados, será que há alguma conexão com o castelo de Adrian Veidt?
  • Por falar em Veidt, voltamos ao seu castelo escondido do mundo, onde Adrian parece estar tentando recriar seus dias como em uma peça teatral, o que ele já está fazendo com seus funcionários, tentando trazer para a luz sua tragédia O Filho do Relojoeiro, uma dramatização da história de origem do Dr. Manhattan (com direto à Cavalgada das Valquírias, de Wagner, como trilha sonora – outra ligação com o filme de Snyder).

    Essa é uma das sequencias mais absurdas do episódio, revelando que todos os funcionários de Adrian são clones. Isso faz sentido se lembrarmos que ele é um dos nomes mais importantes do mundo quando se fala em tecnologia e ciência, tanto que seu animal de estimação nos quadrinhos, Bubastis, era uma criatura geneticamente modificada, então nada mais justo para o personagem do que evoluir sua pesquisa para seres humanos. E por falar em Bubastis, Adrian tem agora outro animal de estimação, um cavalo chamado Bucéfalo, inspirado no cavalo de mesmo nome do imperador “Alexandre, O Grande”, o maior ídolo de Veidt.
  • É na casa de Judd Crawford que recebemos algumas das reviravoltas e informações mais importantes do episódio, mesmo que ainda não esteja claro se são reais ou fabricadas por alguém tentando sujar a imagem do oficial. A primeira informação é o quadro Martial Feats of Comanche Horsemanship, que pode ser encontrado na sala de Judd. A pintura de 1984 dá nome ao episódio e representa as primeiras batalhas entre os índios e a cavalaria, talvez uma referência temática aos membros da Kavalaria que usam máscaras de Rorschach.

    A segunda é a introdução do personagem Joe Keene, o filho (talvez neto) do senador Keene, responsável pela lei de 1977 que proíbe a atividade de heróis com identidade secreta na HQ. Tudo indica que ele será o principal concorrente de Robert Redford nas próximas eleições, e do jeito que as coisas vão, parece que vai ser uma disputa difícil.

    Tirando a revelação final da sequencia em que um traje da Klu Klux Kan é encontrado no armário de Judd, a série continua tentando nos convencer de que ele era o Coruja o tempo inteiro, e aí entra a terceira informação importante, quando Angela encontra um par de óculos capazes de visão raio-x bastante similares aos óculos de leitura infravermelha de Dan Dreiberg, o Coruja, nos quadrinhos.
  • Mesmo em um episódio com clones e fotógrafos alados, o mais estranho mesmo foi o imã gigante que veio dos céus para resgatar (?) Will. Até o momento a minha teoria para isso é que… a série é louca mesmo. Admito não lembrar de nada assim nos quadrinhos, mas entre as sombras podemos ver que há uma hélice, que deve fazer parte de alguma nave de recolhimento. Vai saber ¯\_(ツ)_/¯
Watchmen

Antes de terminar esse texto, uma boa dica para quem quer saber ainda mais sobre os bastidores de Watchmen é o PeteyPedia, um site mantido pela HBO, onde cataloga notícias e documentos importantes como se fosse parte da série, assim como o próprio Alan Moore fez entre as edições da HQ original, quando aproveitava as páginas de publicidade para criar mais conteúdo sobre o universo que criou.

Parece que as coisas vão ficar muito mais confusas daqui pra frente, então não se esqueça de voltar na próxima semana para continuarmos debatendo a série. Até lá!

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Branco Sai Preto Fica | O trauma da perda de identidade

Adirley Queirós é hoje uma das maiores referências do cinema de Brasília, cidade natal do diretor e cenário para todos os seus filmes. Corajoso em seus comentários, sem deixar de lado a eloquência, costuma traduzir sua experiência de vida crescendo na cidade-satélite Ceilândia para suas obras, debatendo questões arriscadas, mas pertinentes. Em ação desde 2005 com o curta Rap, O Canto da Ceilândia, foi apenas em 2014 que finalmente conquistou a atenção do público através de seu longa Branco Sai, Preto Fica.

A inspiração principal para o filme vem de um incidente da década de 1980, quando policiais invadiram um ginásio referência para os cidadãos chamado Quarentão, onde os jovens costumavam se divertindo fazendo um baile de música negra. A violência dos policiais resultou em várias pessoas machucadas, além de acabar amputando a perna de um dos moradores e deixar outro paralítico.

As duas vítimas, Marquim da Tropa e Shokito (depois chamado de Sartana), assumem a responsabilidade de reviver o trauma atuando no filme, que procura uma forma de reparação ao apresentar uma trama na qual os dois descobrem uma maneira agressiva de se vingar do estado, mesmo que esse tenha adquirido características mais fascista por conta da decisão do diretor em utilizar elementos de ficção científica para transformar a cidade em uma distopia, com direito a passaportes para transitar entre os distritos e guerras entre facções.

Branco Sai, Preto fica

Queirós usa arquétipos da ficção científica para fortalecer algumas das suas críticas, chegando a inserir no filme o viajante temporal Dimas, que precisa reunir informações capazes de influenciar o futuro de 2073, no qual uma “vanguarda cristã” toma o poder do estado. Isso logo deixa evidente como a obra não se acanha em apontar culpados e ir direto aos seus alvos, o que o próprio diretor não tem vergonha de assumir, ostentando uma postura radical que talvez seja essencial para que possa provar seu ponto.

Para Queirós, o Quarentão foi um dos maiores polos de formação de identidade da cidade, e essa é uma das razões pela qual a polícia decidiu destruir o lugar, para perpetuar uma narrativa de segregação racial e social. Até mesmo o título, Branco Sai, Preto Fica, tem um duplo sentido para o diretor, no qual ele recebe um significado ligado diretamente a abordagem dos oficiais na década de 1980, mas também é uma forma de representar uma dívida histórica que não só o estado, mas o país precisa admitir.

O filme é uma mescla entre meta-documentário e ficção científica, o que em questão de enredo funciona bem, mas não é sempre que esses elementos casam perfeitamente na montagem. A proposta inicial do diretor era de fazer um documentário sobre os eventos no Quarentão, mas ao ver como a história começava a apresentar contornos mais fabulosos, abraçou a ficção científica, não só na distopia do texto, mas no visual, criando ambientes quase cyberpunk, mas com uma individualidade marginal, sem a glamourização tecnológica quase fetichizada de Hollywood, aqui enchendo um estúdio de gravação musical com fios e cabos elétricos espalhados ou mostrando a importância de uma instalação onde um dos personagens recicla e conserta próteses para a comunidade.

Ainda que Branco Sai, Preto Fica tenha um excelente trabalho fotográfico com a luz natural em contraste com os ambientes cobertos em metal distorcido, e saiba aproveitar o baixo orçamento como poucos (a nave interplanetária do viajante do tempo é apenas um contêiner, por exemplo), a mudança na abordagem original do diretor, de fazer um documentário, acaba se manifestando por conta da falta de interação entre alguns núcleos e o tom que pode destoar um pouco em alguns momentos.

Branco sai, preto fica

Ainda assim, esse é um filme que merece ser exaltado pelas suas vitórias, a maior delas é contar uma história muitas vezes negligenciada, fazendo com que a sociedade use uma de suas armas mais poderosas, a arte, para acabar com a ascensão de uma mentalidade fascista, mesmo que literalmente.

Branco Sai, Preto Fica é atrevido e ao mesmo tempo melancólico, uma obra que divide opiniões mas não esquece de nos instigar constantemente.