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Nova Ordem Espacial (Seungriho, 2021) | Encontrando a humanidade nos destroços

No ano de 2092 o planeta Terra está morrendo cada vez mais rápido, tomado por toda a poluição e o caos de outros desastres, sejam eles naturais ou não. Uma grande corporação, conhecida pela sigla de UTS, consegue desenvolver uma colônia espacial habitável, mas ela não está disponível para todos. Assim, grande parte da população precisa descobrir uma maneira de sobreviver em plataformas e outros ambientes menos favoráveis, como a tripulação da Victory, uma nave coletora de lixo. Tentando sobreviver com o pouco que ganham em suas missões, Tae-Ho (Song Joong-Ki), a Capitã Jang (Kim Tae-ri), Tiger Park (Jin Seon-Kyu) e o robô Bubs (dublado por Yoo Hae-jin) encontram um enorme obstáculo quando acabam acidentalmente em posse de um andróide infantil perigoso, que tem poderes misteriosos e pode se transformar em uma arma de destruição em massa.

Em uma decisão desesperada para conseguir algum dinheiro, a tripulação da Victory aproveita o enorme interesse de todos na criança e se arrisca em um território dominado por criminosos do mercado negro, agentes do governo e até uma organização secreta conhecida por tomar medidas drásticas contra seus inimigos. Mas não é como se a equipe fosse tão amadora assim, isso porque Tae-Ho já serviu como comandante da Guarda Espacial, Park escapou da Terra e de uma sentença de morte por liderar um cartel de drogas e o robô Bubs largou suas atividades como militar para seguir seu sonho de uma pele orgânica. Mas dos quatro, a mais perigosa é Jang, que deixou de lado sua carreira como oficial do Pelotão das Forças Especiais para criar sua própria organização pirata e planejar o assassinato de James Sullivan (Richard Armitage), o presidente da UTS. 

Personagens e Elenco

Atores Jin Seon-Kyu, Yoo Hae-jin e Song Joong-Ki investigando uma nave perdida no filme Nova Ordem Espacial

A premissa de Nova Ordem Espacial (Seungriho, no original) tem diversos elementos interessantes, e por mais que a proposta também pareça um pouco derivada de outros filmes do gênero, ela acaba fazendo bastante sentido com o drama dos personagens, essa sim, a verdadeira força do enredo. Com um elenco carismático, cada membro da Victory possui uma característica básica muito bem estabelecida, então quando o longa precisa oscilar entre drama e comédia, tem um resultado bastante natural. Tae-ri e Seon-Kyu seguem a fórmula de capitã durona e brutamontes de grande coração, respectivamente, e por mais que Bubs renda algumas piadas engraçadas por conta de seu humor mais arrogante, é Joong-Ki quem fortalece o núcleo dramático do filme, com seu Tae-Ho que consegue ir de um líder cheio de lábia para um perdedor atrapalhado, mas quando o roteiro depende da subtrama de um passado traumático para a personagem, o ator aproveita cada momento de introspecção e catarse emocional.

Embora tenha acertado em cheio com seu elenco principal, que por vezes chega a lembrar um pouco a dinâmica entre os caçadores de recompensa do anime Cowboy Bebop (excelente obra, estou devendo um texto sobre ela), não é em todas que se ganha, e o filme está dividido em dois núcleos narrativos: o eixo espacial e o micro-universo da colônia da UTS, essa segunda sem metade do impacto de seu contraposto espacial. Por um lado foi uma decisão esperta colocar um elenco que realmente representasse algumas nações, como incluir atores norte-americanos ou latinos no papel de personagens da respectiva nacionalidade, mas ainda que tenham conseguido um ator competente como Richard Armitage (mais conhecido por interpretar Thorin na trilogia O Hobbit) para interpretar o principal antagonista, também há quase um desinteresse em desenvolvê-lo além do estereótipo de vilão com um claro complexo messiânico de salvar a humanidade na típica abordagem “os fins justificam os meios”. Com exceção de sua voz, não sobra muita coisa para o vilão usar como ferramenta de intimidação. 

Apesar de ter elogiado o núcleo espacial, seria injusto deixar de mencionar alguns tropeços nessa parte, mas eles são mais questão de oportunidades desperdiçadas do que problemas estruturais. Quando o longa decide se dedicar à novas subtramas (apenas mencionadas rapidamente através de diálogos anteriormente) na sua segunda metade de rodagem, há uma sensação de que outras tramas foram comprometidas, mas poderiam render bem mais do que o superficial. Foi um ponto alto do filme tentar criar um dilema na personagem de Tae-Ho, que precisa escolher entre um passado incerto e a possibilidade de uma redenção por conta de novas oportunidades, mas isso roubou um pouco do espaço que poderia ser dado para a subtrama do robô Bubs, que comenta a importância de sua operação para que finalmente possa ter a liberdade de assumir sua identidade de gênero por completo, interna e externamente. É um elemento pouco aproveitado do roteiro, que nos últimos minutos da obra perde um pouco do impacto já que passou grande parte do filme de lado para priorizar outras histórias. 

Efeitos visuais se destacam

A atriz Kim Tae-ri atuando como a capitã da nave Victory no filme Nova Ordem Espacial disponível na Netflix

Quando saímos um pouco do debate sobre as personagens, podemos focar um pouco na parte técnica. A direção fica por conta de Sung-hee Jo, e ele tem a chance de experimentar bastante com os efeitos especiais, o que ele faz nas tomadas de perseguição e batalha espacial, com direito a naves passando por enormes estruturas fazendo manobras impossíveis, mas bem criativas para uma sequência de ação. É esperado que um filme como esse tenha um ritmo dinâmico, e é o que acontece, mas também é preciso tomar cuidado para que essa necessidade por visuais impactantes não contribua para uma poluição visual desnecessária. Se por um lado é divertido assistir toda a ação no meio dos detritos espaciais, em alguns momentos o espectador pode ficar um pouco perdido na geografia da cena, sem saber quem é quem. Felizmente, isso acontece pouco. Mas quando se trata dos segmentos onde a ação exige um combate corpo a corpo, a câmera tremida e a montagem picotada não são o suficiente para esconder uma coreografia fraca. Em certo ponto, temos uma perseguição seguida por uma cena de ação com tantos cortes desnecessários que distraem ao ponto de incomodar. 

Nova Ordem Espacial é uma ficção científica que parece não ter muito para oferecer de início, mas logo conquista com efeitos especiais bem feitos e um elenco carismático ao ponto de fazer com que você esqueça o enredo batido. Produção coreana, esse filme me lembrou um pouco o recente Terra à Deriva, uma produção chinesa que também chamou bastante a atenção por conta de seu elenco e efeitos visuais, tanto que acabou se tornando uma das maiores bilheterias da história do país. Depois de sofrer um adiamento por conta da pandemia de COVID-19, com a adição de Nova Ordem Espacial no catálogo da Netflix, talvez esse filme ganhe mais atenção.